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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Tintino - O Espetáculo Continua-Francisco Cândido Xavier

 

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TINTINO

O ESPETÁCULO CONTINUA...

Francisco Cândido Xavier

Francisca Clotilde

Conteúdo resumido

Em Tintino conforme lembra Meimei, no prefácio, Francisca Clotilde reconstitui a saga autêntica de um palhaço sensível e afetuoso. Nessa "história-poema" encontramos a narrativa da vida de Tintino na Terra e sua continuidade no Plano Espiritual, quando recebe o salário dos Céus, destinado aos que distribuem no Mundo coragem e esperança, paz e alegria.

PREFÁCIO

Quando Francisco Clotilde, a educadora, acabou de contar a história de Tintino, num de nossos serões espirituais, o enternecimento nos tomara, de todo.

- Escreva, Francisco, escreva algumas notas sobre o nosso herói de vida simples - solicitou uma de nossos companheiros - transmita alguma notícia dele aos nossos irmãos do mundo físico. Esse é um episódio em que se reconhecera o salário dos Céus aos que distribuem na Terra coragem e esperança, paz e alegria.

No dia imediato, estávamos a postos, em companhia da instrutora, junto do médium que nos acolhia.

A nobre amiga, depois da nossa prece, passou a escrever, mediunicamente, a história-poema que te colocamos nas mãos, agradecendo a bondade de Deus.

Quando terminou a narrativa, reconstituindo a saga autêntica de um palhaço sensível e afetuoso, a autora mostrava os olhos iluminados de profunda alegria, relembrando a figura de Tintino que os arquivos da memória lhe colocavam a frente do coração.

Quanto a nós, acompanhando-lhe as páginas simples e belas, tínhamos a alma dominada, de novo, pela emoção, sem conseguir articular palavra.

Meimei

Uberaba, 2 de setembro de 1976

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Segue Tintino doente,

Segue sempre, rua em rua.

Nem ele sabe onde mora,

Só sabe que continua...

Continua caminhando

Com vontade de chegar...

Chegar aonde?!... Sozinho,

Não tem a porta de um lar...

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Escora se unicamente

No cajado a que se aferra.

Guarda noventa janeiros

No corpo inclinado à terna.

Todo o rosto encarquilhado

Parece em rugas de cerra.

Fora somente palhaço,

Em muitos circos vivera...

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Nesse dia, estava aflito,

Sentia dores sem conta.

Tinha mais frio, mais febre,

Trazia a cabeça tonta.

Ah! Se tivesse - anotava

Tristemente a refletir -

Uma esteira e um cobertor

Num quarto para dormir!...

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Lembrava a infância risonha

No rancho humilde e bem posto.

O pai cultivando a roça,

A mãe a beijar-lhe o rosto!...

De manhã, café à mesa,

Pão com manteiga em sacola;

Depois, as rixas alegres

Entre os colegas da escola...

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Após a morte dos pais,

Levados por Deus ao Céu,

Fez-se menino de circo,

Servindo de déu em déu.

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Criou-se nele um palhaço...

Brincava de cena em cena.

Agora rememorava

As piruetas de arena...

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Deram-lhe um nome: Tintino...

Isso talvez porque usasse,

Toda vez que se exibia,

Diversas tintas na face.

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Recordava as grandes noites,

A música alvoroçada,

As palmas, chapéus em flores

E os gritos da petizada...

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Quando mais ampla era a festa,

Quanto aplauso, quanta gente!...

Depois...Enfermo e cansado,

Era Tintino somente.

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Começara a chuva leve...

Sob indomável temor,

Decidiu-se a procurar

Quem lhe desse um cobertor.

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Vinha a noite...Sob a ponte,

Em que, há muito, residia,

Enfrentaria, decerto,

Geada com ventania.

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Foi ao próximo armazém,

Pediu, recebendo um “não”.

E o dono ainda acentuou:

- Saia daqui, beberrão!...

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- Cachaça? Nunca bebi...

Disse o pobre amargamente.

Mas o chefe replicou:

- Caia fora, siga em frente!...

Um homem que observava

Acrescentou do balcão:

- Este velho é conhecido,

Era palhaço e ladrão.

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Não se ouviu qualquer resposta

Do infortunado pedinte...

Foi se Tintino, em silêncio,

Bater à casa seguinte.

Respeitoso, pôs-se à porta

De Dona Estela, a viúva;

Pediu, em nome de Deus,

Mostrou receio da chuva...

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Dona Estela resmungou:

- Vá-se, patife indecente;

Você viveu na folia,

Sem folia que se agüente!...

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O pobre mudou de rumo,

Foi ao bar de João da Lua;

Mas João disse aos empregados:

Joguem Tintino na rua!...

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Um moço de corpo enorme,

O lutador Marturino,

Tomou de grande vassoura

E avançou sobre Tintino...

Tintino arrastou-se a custo,

Pôs-se, ao longe, na calçada;

Recebera nas costelas

Vigorosa vassourada.

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Caíra a noite chuvosa,

Quantos carros em vai-vem!...

Tintino queria amparo,

Mas não surgia ninguém.

Meia-noite... Trevas densas...

Sobre a pedra, fraco e mudo,

O pobre não mais se erguera;

O vento gelava tudo.

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Se pudesse, gritaria,

Em vão, tentava falar!...

Quem lhe traria remédio

À dor do peito sem ar?

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Por fim, dormiu e sonhou

Que estava como queria.

Renovado e bem disposto

Numa noite de alegria.

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Escutou alguém cantando...

Que linda voz!... De quem era?

Viu-se em noite enluarada

Com cheiro de primavera.

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A roupa nova, que usava,

De tão bela parecia

Toda tecida de prata,

Mais clara que a luz do dia.

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Seguia estrada entre flores,

Admirado por vê-las...

E, andando, achou-se ante um circo

Todo enfeitado de estrelas.

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Pediu entrada e ouviu logo

As palmas de muito povo;

Crianças vinham em bando

Para abraçá-lo de novo.

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Onde estaria? - indagava -

Em que formoso país?

E, embora seguindo a esmo,

O pobre ria feliz.

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Ouviu-se música em festa...

Quis trabalhar, prazenteiro;

Entretanto, a criançada

Vibrava no picadeiro.

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Um moço surgiu à frente

E falou, dando-lhe a mão:

- Tintino, você chegou

A grande libertação.

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Você construiu no circo,

Servindo de bom humor,

A senda que o trouxe agora

Ao reino de paz e amor.

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- Que vejo? - gritava ele...

E o brando amigo explicava:

- São as crianças da Terra

A quem você consolava.

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Mais além,e a multidão,

Que trabalhava e sofria,

Para a qual você levava

O pão de luz da alegria.

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O Céu vela sobre todos,

Não há serviço infecundo;

Eu sei que você chorava

Embora alegrando o mundo...

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Há quem reclame dos outros

Recreações sem medidas,

Sem ver que os outros caminham

Por lágrimas escondidas.

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O circo pagou a graça

Que você distribuiu.

Mas Deus lhe premia agora

As dores que ninguém viu.

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Tintino em pranto indagou

Ao moço vestido em luz:

- Diga, senhor!... quem me fala?...

Ele disse: - Eu sou Jesus!...

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Tintino abraçou-se a ele

E ele abraçou-se a Tintino...

No alto fez se uma estrada

Aberta em fulgor divino.

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Amparado por Jesus,

Ia-se o terno palhaço,

Crendo fitar nas estrelas

Trapézios soltos no espaço...

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Vozes cantavam, de manso,

No caminho em brilho e flor:

- Deus engrandeça na vida

A fonte eterna do amor!...

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No outro dia, uma senhora

Viu Tintino olhando o alto.

Mas verifica: - o mendigo

Morrera à beira do asfalto.

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No rosto imóvel pairava

Uma expressão de criança

Que tivesse adormecido,

Numa festa de esperança.

Fim