www.autoresespiritasclassicos.com
Francisco Candido Xavier
Espíritos Diversos
Jovens no Além
Conteúdo Resumido
O livro Jovens no Além, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier na década de 70, é o relato individual de 4 jovens que faleceram em pleno vigor da idade:
Sumário
Prefácio / 05
Apresentação / 07
Traços Biográficos / 09
Francisco Candido Xavier
Traços Biográficos / 12
Augusto César Netto
Como a família César chegou até Chico Xavier
1º Mensagem
Comentários
2º Mensagem
Comentários
3º mensagem
Comentários
4º Mensagem
Comentários
5º Mensagem
Comentários
Traços Biográficos / 36
Carlos Alberto da Silva Lourenço
Como os pais de Carlos Alberto chegaram até Chico Xavier
1º Mensagem
Comentários
2º Mensagem
Comentários
Traços Biográficos / 53
Jair Presente
Como a família presente teve notícias do Jair após sua morte
1º Mensagem
Comentários
2° Mensagem
Comentários
3º Mensagem
Comentários
4º Mensagem
Comentários
5º Mensagem
Comentários
Traços Biográficos / 79
Wady Abrahão Filho
Encontro da família Abraão com Francisco Cândido Xavier
1º Mensagem
Comentários
2º Mensagem
Comentários
3º Mensagem
Comentários
4º Mensagem
Comentários
5º Mensagem
Comentários
6º Mensagem
Comentários
7º Mensagem
Comentários
Considerações Finais / 117
A
Raul César e Yolanda César; Severino Domingos Lourenço e Dirce Pessoa da Silva Lourenço; José Presente e Josefina Basso Presente;
Wady Abrahão e Jandira do Amaral Abrahão, bem como aos demais familiares dos jovens desencarnados, autores espirituais deste livro, o nosso reconhecimento pela decidida cooperação nas entrevistas em que obtivemos os dados e esclarecimentos que possibilitaram a elaboração dos Traços Biográficos e dos comentários complementares às mensagens psicografadas.
Prefácio
Amigo leitor:
Para nós, efetivamente, não existem na Terra jovens ou velhos.
Em qualquer parte, encontramos companheiros de trabalho e de experiência, nos mais diversos marcos de tempo.
Em razão disso, tantas vezes, no mundo, somos defrontados por meninos-sábios e sábios-meninos.
*
Amigos que se transferiram para as nossas vivências espirituais, no verdor da força física, escreveram este livro. Formaram-no, página a página, consagrando-as aos familiares e afeiçoados da Terra, identificando-se de modo a informá-los com segurança. Para isso, bastas vezes, quiseram empregar linguagem própria, esbatendo choques em brandas consolações, transformando surpresas em advertências, saudades em bênçãos e lágrimas em sorrisos.
*
E as mensagens desses irmãos queridos da juventude vertem do Além para a Terra, não somente para os corações amados a que se vinculam. Chegam igualmente em nossa direção, auxiliando-nos a escolher o melhor caminho e a pensar com acerto, em qualquer ângulo espacial a que nos ajustemos ou em qualquer faixa etária de nossa evolução.
*
Leitor amigo:
Que este recipiente de sensatez e alegria, paz e renovação que te ofertamos, em forma de livro, possa beneficiar-te e reconfortar-te, onde quer que te encontres, são os votos do servidor que, como sempre, roga à Divina Providência a todos nos ilumine, sustente, fortaleça e abençoe.
Emmanuel
Uberaba, 06 de julho de 1975
Apresentação
Jovem amigo:
Nosso caro Emmanuel se dirigiu à estimada comunidade de todos os leitores. De nós mesmos, falaremos a você em particular.
Este livro é o depoimento de quatro jovens desencarnados que retornam pela mediunidade, de Francisco Cândido Xavier para dizer que estão vivos.
Todos faleceram recentemente
Augusto, em fevereiro de 1968;
Wady, em julho de 1973;
Jair, em fevereiro de 1974;
Carlos Alberto, em setembro de 1974.
Como você pode observar, estão há bem pouco tempo no Mundo Espiritual e suas impressões da morte ainda são muito vivas, tão vivas quanto a saudade que os unem aos familiares queridos.
Mas, voltado às preocupações do estudo, aos devaneios e também ao trabalho para o provimento de seus compromissos mais imediatos, você talvez nos pergunte:
- A que vem essa idéia de lhe apresentarmos jovens que já deixaram este Mundo? Já não bastam as nossas próprias lutas na Terra? Não será melhor deixar que os mortos cuidem dos mortos?
- Por que macular o seu natural entusiasmo de jovem, os seus dias muitas vezes despreocupados, com informações de uma outra vida tão distante e impalpável?
A resposta não é difícil.
Ocorre que os jovens que voltaram do Além não estão mortos. Vivem e têm idéias e sugestões a trocar com você da Terra. A saudade dos familiares queridos os fez voltar para o papo informal com os pais, através da mediunidade abençoada de Chico Xavier.
E, além do reencontro dos entes queridos, preocuparam-se eles em transmitir na sua linguagem clara e sem rodeios as suas impressões sobre a morte que na verdade não existe.
Mais do que a transmissão de sensações, de como chegaram ao Lado de Lá, sentimos neles o anseio de dizer a você que as responsabilidades do jovem não podem ser esquecidas, em função de sonhos temporários; que enfrentaram lá no outro lado da vida a necessidade do trabalho, do estudo e da revisão de muitos conceitos à luz de uma compreensão mais ampla.
Por isso, meu amigo, é que nós o colocamos frente-a-frente com os seus companheiros do Além. Têm eles muito a dizer.
A dor da separação e a ruptura de sonhos tão gostosos lhes forjaram no coração e no cérebro uma têmpera mais firme, de molde a serem as suas palavras amadurecidas pela experiência maior que vêm acumulando, desde que deixaram seus corpos nos túmulos frios dos cemitérios.
Ouça-os e medite!
Pedimos-lhe, jovem amigo, ainda um favor. Se em seu relacionamento fácil e comunicativo, você souber de pais que amargam na Terra as dores da separação pela morte dos filhos queridos, procure-os para dizer que a morte não existe, que seus filhos estão muito perto deles e, como os jovens autores deste livro, também lhes transmitem as suas mensagens de amor e reencontro, através dos diálogos do pensamento.
Caio Ramacciotti
São Bernardo do Campo, 06 de julho de 1975
Traços Biográficos
FRANCISCO CANDIDO XAVIER
Mineiro de Pedro Leopoldo, nasceu a 2 de abril de 1910.
Funcionário aposentado do Ministério da Agricultura, reside atualmente em Uberaba.
Em 1932, Francisco Cândido Xavier assombrava o País com o lançamento de seu primeiro livro - PARNASO DE ALÉM TÚMULO - antologia assinada por poetas que já haviam atravessado a porta da sepultura.
Insulado na pequena cidade mineira de Pedro Leopoldo, onde nascera em 1910, às voltas com grave enfermidade ocular, que lhe reduzira acentuadamente a visão, sem recursos e sem tempo para a leitura de obras literárias, como poderia o jovem de 22 anos escrever - senão pela mão espiritual dos autores - as jóias poéticas que mereceram elogios de intelectuais como Humberto de Campos, então Presidente da Academia Brasileira de Letras, de Monteiro Lobato, de Afonso Schmidt, de Edgard Cavalheiro, de Olegário Mariano e de tantos outros bastiões de nossa Literatura?
E desde o lançamento do Parnaso sua mediunidade tem pontificado na abençoado exemplo pessoal.
Cento e trinta livros, quatro milhões de exemplares, dos mais variados gêneros, desde a poesia até ao romance histórico, com importantes produções de cunho filosófico e um sem número de trabalhos de exegese evangélica, à luz do Espiritismo.
Os autores espirituais que se manifestaram por seu intermédio chegam à casa dos 600!!! Seiscentas cabeças a escreverem pelas mãos de Chico Xavier em estilos próprios, como podemos facilmente observar no Parnaso de Além Túmulo, em que Castro Alves, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Cruz e Souza, Alphonsus de Guimaraens, Antero de Quental, Artur Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, etc., etc., etc., estão presentes...
Atendendo à multidão que o procura diuturnamente, Chico dispõe de reduzido tempo para o repouso, trabalhando desde o início de suas atividades mediúnicas em 1927 - há quase 50 anos - até altas horas da noite, na imperativa preocupação de a todos atender, de atualizar a correspondência - cerca de 60 cartas por dia! - e de psicografar os seus livros e mensagens de elevado conteúdo moral.
Falar de Chico Xavier é encargo dificílimo. Tantos são os fatos a relatar, em sua longa vivência apostólica, tão exuberante é a fenomenologia mediúnica que o cerca, de molde a ser unanimemente considerado o mais completo médium de toda a História do Espiritismo, tão grande tem sido o seu papel na catálise do movimento espírita do Brasil e do Planeta e na exemplificação do Evangelho de Jesus entre nós, que sua vida e sua obra estão a desafiar a ousadia cios mais intrépidos biógrafos.
Se até o início da década 70 sua popularidade já era incontestável, de 1971 para cá, com suas participações em programas de nossa Televisão e com o recebimento dos inúmeros títulos de cidadania - mais de quarenta até o momento - que importantes capitais e cidades brasileiras, e mesmo um Estado, lhe concederam, seu nome passou a ser uma legenda em milhões de lares brasileiros, a simbolizar a mensagem do Cristo, na extensão toda da sabedoria que caracteriza suas respeitosas ponderações.
Do homem afável, amigo, compreensivo, igual, ao médium brilhante, ao mesmo tempo psicógrafo, clarividente, clariaudiente e de efeitos físicos, Chico Xavier é gente, muito gente, a demonstrar-nos que o amor e a sabedoria não se divorciam da simplicidade.
Neste livro, enfileiramos algumas das muitas mensagens, que, nos últimos anos, Chico Xavier tem recebido de espíritos recém-desencarnados, sobretudo, de jovens que voltaram pela sua psicografia, para o consolo dos pais saudosos.
Para bem situar o leitor nas páginas que se seguem é oportuno lembrar que de todos os fatos e revelações contidos nas mensagens, o médium não tinha absolutamente conhecimento, ficando, muitas vezes, tão surpreso quanto os pais dos jovens, com a citação de nomes e ocorrências que o leitor encontrará à farta no desdobrar das páginas seguintes.
Traços Biográficos
AUGUSTO CÉSAR NETTO
São Paulo
- 27 de setembro de 1942 - Praia Grande.
- 27 de fevereiro de 1968.
Filho de Raul César e Yolanda César
Irmãs:
- Maria Otília César Toscano, casada com o Sr. Walter Toscano.
- Zuleica César Carvalho, casada com o Dr. Antonio Celso Mesquita Carvalho.
- Marly César de Almeida, casada com o Dr. Paulo Roberto Bourgogne de Almeida.
Às 12 horas e 30 minutos daquela terça-feira de carnaval, 27 de fevereiro de 1968, o telefone tilintou na residência da Rua Marcos Lopes, Vila Nova Conceição São Paulo.
Preocupada com o encaminhamento do almoço, de que participariam as filhas e o então único genro, desataviada, alegre, D. Yolanda César não deu atenção ao telefonema que lhe iria mudar radicalmente o curso da vida nos anos seguintes. O genro Walter Toscano atendeu à ligação de Santos e convocando, de imediato, D. Yolanda, alegando outros motivos paliativos, para lá se dirigiram.
Augusto, naquela manhã, bem cedo, junto de amigos partira para a Praia Grande, com a promessa de retornar pouco depois das 13 horas, quem sabe para o almoço. Alto, forte, atleta de formação, habituado aos exaustivos exercícios físicos, comedido, jamais se suporia que, afogado nas águas da Praia Grande, naquela manhã cálida de fevereiro, iria deixar o nosso mundo, em viagem para a Vida Espiritual, transpondo as gélidas barreiras da morte.
Chegando à Santa Casa de Santos, D. Yolanda, que esperava encontrar, em sua cândida ingenuidade de mãe, o filho recebendo socorros pelo pretenso acidente de automóvel - em versão conciliatória elaborada pelo genro - teve à vista outro quadro.
O rabecão vindo da Praia Grande trazia o corpo de Augusto, frio, definitivamente morto.
Natural de São Paulo, Augusto César Netto nasceu a 27 de setembro de 1942 e faleceu a 27 de fevereiro de 1968, cinco meses após completar 25 anos.
Desde o curso primário estudou no Liceu Eduardo Prado, bem perto de sua Vila Nova Conceição, onde sempre residiu. Completou os estudos básicos e, no próprio Liceu, formou-se em Química Industrial.
Trabalhou até quatro meses antes de sua morte nos Laboratórios Squibb, tendo deixado este emprego para dedicar-se com o pai e com o cunhado à extração -de areia em sítio localizado na BR-2 (atual BR-116) km 64, estrada perigosa, motivo de preocupações constantes de parte do pai carinhoso, Sr. Raul César, que, encontrando-se em Goiânia no dia do falecimento do filho, ao receber a notícia, imediatamente associou o infortúnio à movimentada rodovia que liga a capital paulista a Curitiba.
Muito alegre, sem maiores preocupações além do trabalho exaustivo e do convívio familiar intenso, como de hábito na família brasileira, Augusto era esportista de nomeada, com participação efetiva nas atividades do Clube Ipê, a tradicional agremiação do Ibirapuera.
Sua morte mereceu dos amigos do Ipê uma página tão candente, assinada na revista do clube por Camilo Guimarães, que reproduziremos a seguir as últimas palavras do articulista:
"...Março chegou de novo! O campeonato vai começar. Os times se formaram e nenhum de nós aprovou o seu contrato (referindo-se ao Augusto) com o Senhor dos Espaços Infinitos, pois sabemos que você jogará num gol de estrelas, defendendo com segurança as nossas lembranças, segurando com firmeza os ‘pênaltis’ de nossa saudade. Augusto César Netto! Até Quando? Até Sempre! Adeus!"
Após o sepultamento na quarta-feira de cinzas, a família se voltou para uma nova realidade. A dor, o luto, a tristeza imensa fecharam as portas daquela casa dantes alegre e jovial, para que os amigos e vizinhos não pudessem ver os olhos sempre úmidos de D. Yolanda, o desespero do Sr. Raul e a angústia das filhas que, quais pássaros desorientados, procuravam, engolindo as lágrimas, devolver aos pais um pouco de alento e reconforto.
Sendo católicos, absolutamente distantes de qualquer informação a respeito do Espiritismo, sem conhecer Francisco Cândido Xavier, como chegaram a Uberaba quatro meses mais tarde, para o primeiro contato com o querido médium que lhes descortinaria um panorama novo, construindo para aqueles pais desesperados uma estrada firme, assentada na certeza absoluta da sobrevivência do Espírito?
Como a família César chegou até Chico Xavier
Sem o Augusto, começaram no lar os intermináveis monólogos com as sombras, as longas insônias que tranqüilizantes e hipnóticos não conseguiam debelar. Amigos se aproximaram da família, buscando de toda sorte atenuar os duros padecimentos.
Alguém sugeriu que D. Yolanda tomasse passes e, com a sua anuência cortês, antes por respeito que por convicção, um pequeno grupo de senhoras do Lar do Amor Cristão, entidade espírita beneficente do Ipiranga, passou a freqüentar regularmente a casa, ministrando passes e fazendo preces que, segundo a mãe do Augusto, nada trouxeram de paz e refazimento, face à atribulação mental tão grande de que se via possuída.
Aos poucos, com a natural amizade decorrente das reuniões, a dirigente do grupo, Senhora Acácia Maciel Cassanha, sugeriu ao casal que fosse até Chico Xavier. Quem sabe o querido Chico poderia dar-lhes uma palavra de alento e esperança?
Quatro a cinco meses após a morte do Augusto, o Sr. Raul e D. Yolanda, num sábado pela manhã, chegam a Uberaba. Terminava uma reunião matinal com a presença de companheiros de outras cidades, e, num contato brevíssimo, apenas puderam dizer ao Chico que sofriam muito com a perda recente de um filho. Chico lhes pediu que voltassem para a reunião pública da noite, quando então poderiam conversar um pouco.
No reencontro da noite, entre o atendimento de imensa fila de companheiros, amigos, e sobretudo de pessoas desconhecidas que o procuravam, Chico Xavier disse a D. Yolanda - sem mesmo saber o nome do filho morto - que "era um pouco cedo para notícias do Augusto, mas que ela se tranqüilizasse que ele estava bem, no Plano Espiritual, sendo assistido pelo seu avô Augusto".
Algo descrente, por que não dizer decepcionada, D. Yolanda conjeturou consigo mesma que alguém dos presentes teria dito o nome do filho ao Chico, embora não conhecesse e não tivesse conversado com qualquer pessoa presente àquela reunião. Mas, apesar da descrença, não escondia sua curiosidade; como adivinhara o Chico o nome do filho e do avô, e como sabia que o avô Augusto estava desencarnado?
Ao término das tarefas da noite, Chico voltou a conversar com D. Yolanda e disse-lhe que ficara preocupado com a sua descrença, mas o Augusto lhe mandava dizer que ele era mesmo o seu Augusto e o Augustinho dos outros familiares.
No lar, apenas D. Yolanda e uma das filhas chamavam o filho por Augusto, a despeito dos outros todos o tratarem por Augustinho.
De posse dessas curiosas revelações, o casal passou a visitar regularmente o Chico, fazendo-o mesmo todos os meses e, nessa rotina de visitas, quatro anos se passaram até que surgisse a primeira mensagem psicografada.
Conotação importante é observarmos quão variável é o período decorrente entre o falecimento e a primeira comunicação dos jovens autores espirituais deste livro. Augusto o fez após 4 anos; Carlos Alberto após 4 meses; Jair Presente, 42 dias depois Wadyzinho, ao cabo de 6 meses.
Ensinam-nos os Espíritos que não é fácil à comunicação conosco após a morte, antes que fatores vários sejam superados. Compreende-se que, despojado do corpo físico, retornando o espírito ao convívio direto dos entes queridos, pode desesperar-se por encontrar condições que o preocupem, sem que possa atuar diretamente no grupo familiar pelas limitações impostas com a ausência do corpo material.
Devemos também considerar que muitas vezes o espírito desencarnado passa no Além por um período de recuperação mais ou menos longo que nós devemos respeitar e, mais do que isso, abreviar com nossas preces e pensamentos construtivos, evitando levar até eles o nosso desespero e o nosso sofrimento, pois os entes queridos permanecem ligados conosco após a morte, como se entre nós e eles existisse indestrutível cordão umbilical, de modo que choram, sorriem, sofrem ou permanecem felizes, conforme o nosso próprio estado de espírito.
Passemos às mensagens do Augusto, escritas aos pais, pela psicografia do Chico.
1º Mensagem
janeiro de 1974
Querida mamãe, aquele abraço e aquela prece de sempre a Jesus por sua fortaleza e paciência.
Seu coração pede uma palavra e me arranca, na medida do possível, para trazer ao seu carinho aquele alô de todos os tempos, enviando a você e a meu pai com as meninas e o nosso pessoal o beijo de sempre.
Estou fazendo força e melhorando. Hoje uma lição, amanhã a experiência inesperada, e a gente vai indo...
Parece que estamos todos de mãos dadas subindo a montanha. De quando em quando, um de nas parece despencar de cima. O companheiro tropeça, rola e se fere um bocado, mas a turma agüenta e o caldo se levanta a fim de seguir para a frente.
Não podia ser de outro modo. E, o pessoal daqui é a cópia melhorada do grupo terrestre, ou melhor, Mãozinha, aí no mundo somos a cópia piorada da equipe que segura a caminhada do lado de cá. É muita gente mesmo, tanto de nossa parte quanto da parte dos colaterais. Mas é isso. Sigamos com otimismo e fé Viva em Deus. O ponto para ser alcançado é a felicidade de todos.
Fale à Maria Otília para se alegrar. Tudo vai bem com ela e com o Walter. Tratamento do corpo é necessidade. Imposição da vida. Devem atender a isso, mas a maternidade com ela vai sendo muita bem amparada. O amigo que veio e voltou precisa refazer-se. Essa o a verdade. Não posso bancar a criança, dando uma de abelhudo, mas o tempo dirá quem é esse generoso amigo que procura voltar pelos braços dela com as mãos firmes do nosso Walter.
Zuleica (3) está sob forte auxílio, mas não deve descuidar-se. A ela e ao Celso, à Maria Otília e ao Walter, à Marly e ao Paulo (4), o meu carinho de sempre.
Nosso pessoal por aí costuma tratar a gente por mortos. Isso, às vezes, dificulta o intercâmbio. Mas com a experiência da vida tudo vai melhorando. Mãezinha, diga ao meu pai que a vida é luta. Luta da pesada, para perdermos os pesos que nos afastam da Espiritualidade Superior. Rogo a ele não chorar ao ler esta carta. Da vez passada, quase que entrei em grande aperto com as lágrimas do pessoal. Quando minhas pobres notícias foram abertas, fiquei tão emocionado com o carinho de meu pai molhando o papel com o pranto forte (5).
Felizmente, mamãe, o seu coração, embora golpeado de saudade, estava firme. E quando as lágrimas brilhavam nos seus olhos, lembro-me de que você procurava fixar meu retrato, fazendo força para alegrar-se.
Tudo vai passando. Aqui está nossa Acácia (6). Nosso grupo (7) é uma família de paz e amor com serviço e realização, chamando-nos a testes incessantes. D que puderem fazer no terreno do bem, façam. O que puderem suportar com paciência, suportem. Aqui é o que a gente fez de si mesmo, pelo que fez aos outros ou pelos outros é o que vale. Nossa oficina de modelagem espiritual está funcionando. Todos podemos transformar-nos, construindo em nós mãos de paz se espalharmos a paz, verbos de luz se cultivarmos a luz em nossas palavras, pés de alegria se soubermos caminhar no rumo do bem, olhos e ouvidos de bênçãos se nos dispusemos a abençoar sempre.
Paro aqui. Este assunto de citação é pesado para seu filho. Aluno que não deu a lição não pode ensinar. Mãozinha, tio Casimiro (8) está bem e nossa irmã Thereza (9), a quem devemos tanto carinho, prossegue feliz, embora com a saudade extravasando em forma de lágrimas. Nosso Godoy vem recebendo muito amparo. E vamos caminhando.
Agradeço o seu carinho em favor das crianças. (10) É a verdade, mamãe. Trabalhando é que se progride. Auxiliando é que a gente se auxilia. Dar é a forma de receber. E receber sempre mais.
Quem diz aqui que o relógio não existe de nosso lado? Lembranças explodem e as palavras querem tomar forma no lápis, mas o nosso caro Doutor Bezerra (11) me diz calmo: "agora, meu filho, já chega". Não devo internar-me em novos assuntos. Mas termino, mãozinha, pedindo a sua serenidade e paciência. Sua saúde melhorará cada vez mais com a sua calma crescendo e com a sua compreensão avançando para cima.
Creia em nossa união de todos os dias. E abrace este rapaz que o seu carinho colocou neste mundo. Não e o melhor, mas é seu.
Não chegou a ser o que a sua ternura esperava, mas é seu amor, companheiro de seus passos tanto quanto é para o nosso caro amigo de todas as horas - o nosso herói e meu querido pai - o sócio e o Companheiro de trabalho e de luta.
Peço às meninas que não me exijam o nome do pessoal miúdo nesta carta (12). Seria uma fila acrescida dos nomes de todos aqueles que amamos.
Querida mãezinha, a mensagem está pronta, mas a saudade é um problema que não foi resolvido. Entretanto, estamos felizes. Temos fé e esperança e isso é muito no Tudo que é Deus, no amor com que nos amamos. Muito carinho e aquele beijo do seu filho
Augusto
Comentários
Para situar o leitor amigo na mensagem, vamos acompanhá-la de breves elucidações, obedecendo à sua seqüência cronológica. Em essência, encontramos a preocupação da família, entrecortada de ponderações oportunas. Aliás, o próprio Augusto se trai nessas ponderações, ao lembrar que "aluno que não deu a lição não pode ensinar". De fato, segundo sua mãe, quando na Terra, não era grande a sua preocupação religiosa. Católico, esporádicas vezes freqüentava o culto, mas denotava respeitosa religiosidade, não obstante mais ligado, como jovem, ao estudo, aos entretenimentos, ao namoro e ao trabalho.
Contudo, compreendamos que a desencarnação fez o seu espírito retomar conhecimentos que nos são intrínsecos, por termos vivido na Terra em outras reencarnações, no passado, acumulando experiências, definitivamente gravadas em nossos arquivos mentais.
Vejamos a mensagem:
1 - colaterais - refere-se aos outros espíritas presentes à reunião.
2 - Maria Otília sua irmã Maria Otília César Toscano, esposa de Walter Toscano, citado a seguir. Referindo-se à irmã, Augusto procura alentá-la de problemas que enfrentou, com o insucesso de duas gestações interrompidas. Adiante Augusto diz à irmã que "o amigo que veio e voltou precisa refazer-se", referindo-se ao espírito cuja tentativa de reencarnar não foi levada a termo, por duas vezes consecutivas.
3 - Zuleica outra irmã de Augusto, em estágio avançado de gestação, daí dizer o Augusto estar ela ‘sob forte auxilio mas deve descuidar-se’.
4 - Os nomes citados se referem a:
Zuleica César Carvalho e seu marido o Dr. Antônio Celso Mesquita de Carvalho; Marly César de Almeida e o esposo Dr. Paulo Roberto Bourgogne de Almeida, residentes na capital paulista.
5 - Augusto refere-se a mensagem anterior de sua autoria, também psicografada pelo Chico, recebida em 03 de fevereiro de 1973 - um ano antes da mensagem que estudamos. O leitor encontrará a citada página no livro "Entre Duas Vidas", de Francisco Cândido Xavier e Elias Barbosa. Conta-nos D. Yolanda que o Sr. Raul César, ao ler a mensagem em casa, pois não fora a Uberaba daquela feita, não pôde conter o pranto convulsivo, enquanto que ela realmente procurava fixar o retrato do filho que se destaca na sala de visitas da residência. Certamente em espírito o Augusto consolava o pai em pranto e a mãe em prece naquele reencontro no próprio lar.
6 - Acácia - Acácia Maciel Cassanha, a abnegada amiga que sugeriu a D. Yolanda que fosse até o Chico, após a morte do Augusto.
7 - Nosso Grupo - trata-se do Lar do Amor Cristão, instituição que D. Yolanda, fortalecida pela consolação espírita, passou a freqüentar.
8 - Tio Casimiro - Casimiro César Carlos, falecido alguns meses antes.
9 -Irmã Thereza - vizinha de D. Yolanda, Thereza Motta Godoy, desencarnada em 28 de setembro de 1973. "Nosso Godoy" é seu marido Boanerges Bueno Godoy.
10 - Comovida com as consolações recebidas, D. Yolanda, renovada espiritualmente, passou a dedicar-se ao socorro de crianças necessitadas; daí a menção do filho.
11 - Doutor Bezerra - personalidade conhecida nos meios espíritas, o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, viveu no Rio de Janeiro no século passado, destacando-se como médico e político, sendo também um dos grandes batalhadores da Doutrina Espírita em terras brasileiras. Desencarnou em 1900.
Aqui se faz presente o espírito alegre e brincalhão de Augusto: assim se expressa porque na mensagem anterior, psicografada em fevereiro de 1973 e citada neste comentário, as irmãs estranharam o fato de Augusto lhes não mencionar o nome, reclamando, mesmo, jocosamente, com a mãe. O jovem ouviu-lhes do outro lado à observação e, na presente mensagem, nomeou-as a todas, bem como aos maridos, mas pediu-lhes que não exigissem também o nome dos sobrinhos...
2º Mensagem
02 novembro de 1974
Querida Mamãe, é a hora de começar a nossa conversa falando em Deus. Não se pode mudar uma entrada assim tão clara e tão boa. Repito: Deus nos proteja.
Sou eu mesmo. Seu Augusto. Para servir só? Não. Para dizer que amo você, Mãezinha, cada vez mais.
Gostei de sua decisão (1) Acabar com os impedimentos e aparecer por aqui, de modo a termos a idéia de que a gente melhora na comunicação. E só a idéia. Porque união mesmo é em qualquer lugar. Nossa Vila (2) é aquele negócio de amizade e beleza. Todos irmanados, quase que pensando com uma cabeça só. Mas, hoje é um dia triste para quem coloca a imagem da morte na frente da vida. E tanta lágrima nessa .fronteira que se exprime por passagem de um estado a outro, que fiquei contente de pintar nesta sala para aquele abraço. E isso ai.
Problemas não faltam. Perguntas sobram. E a saudade parece sete pontas de punhal retalhando a alma principalmente quando gritam ai por nós como se estivéssemos mortos e encalcados na Terra, sem recurso de alteração. Graças a Deus, não estamos nessa.
A onda para nós é confiança e amor.
Amor que não muda e confiança em que Deus é a base firme.
Agradeço, Mamãe, por tudo.
Compreendo. Sei que o seu carinho queria e não queria a mensagem de hoje (3). Queria porque a falta que sentimos uns dos outros é uma espécie de doença crônica, sem tranqüilizante que agüente. E ao mesmo tempo você não esperava por mim, porque desejava que as nossas amigas recolhessem palavras dos filhos que vieram também para cá, assim como acontece a tantos de nós.
Temos, porém, aqui diversos companheiros. Uma curriola de moços, como diria o Jair Presente (4), meu colega de incursão hidráulica. Entretanto, não sei se as mágoas do dia de hoje estão virando nuvens grossas de pensamentos amargos em torno da rapaziada. O certo é que fui considerado veterano para rasgar os obstáculos e dizer qualquer coisa. Por eles e por mim.
O Cristiano e o Gabriel (5) estão realmente aqui, lembrando pássaros ansiosos de pouso. Pouso no coração dos pais, que é sempre para nós um ninho de socorro infalível. Entretanto, não puderam reorganizar forças e enfileirar pensamentos para sustentar o lápis neste bailado das letras a que me vou habituando. Ainda assim, recomendam a este pobre estafeta da Vida Espiritual para transmitir-lhes as lembranças e os agradecimentos. Ambos sorriem e choram ao mesmo tempo. É aquela emoção de calouros da nova estrada, contentes por se verem na memória dos pais queridos e encucados no regime de carência afetiva a que nos submetemos. Enfim, a situação é esta mesma.
Ninguém pode alterar o inalterável. E, para transformar o que deve ser transformado, em coisas que fogem ao nosso bedelho, qual acontece com a vida e com a morte, só Deus consegue modificar o que consideramos como coisa necessitada de mudança. Querer estar aí com todos, a qualquer hora, e ligar prá vocês como quem toca telefones e campainhas, a gente quer mesmo. No entanto, é preciso esperar e esperar.
Este é preciso parece fatalidade. É preciso nascer e é preciso morrer, é preciso lutar por melhoria e é preciso melhorar sempre. Seqüência de imposições benéficas que a pessoa agradece porque não há saída melhor para estes assuntos e casos de evolução. Mas não se impressionem com isto. Não. Continuem auxiliando a gente com o pensamento de paz e amor. Isso é importante. Qualquer cara por aqui tem necessidade disso. Não é fácil esquecer o que ficou prá trás. Somos alunos felizes porque nos achamos resignados e contentes na escola da vida diferente a que fomos trazidos; contudo, somos ainda presos, muito presos ao carinho de vocês. Falo aqui, Mãezinha, a todos os presentes.
A indesejada (6) vai chegando e ataca de gigante, colhendo pessoas aqui e ali, deitando-as e levantando-as ao mesmo tempo. A gente entra à força na idéia de que está fazendo istripitisi. É aquele clamor de arrasar igualmente a qualquer um. Depois dessa operação obrigatória em, que a criatura é deslocada em definitivo de seu próprio encaixe, começa a luta maior pela adaptação. Vocês aí, fazendo força para nos reencontrar e nós daqui arrebentando energia para dar prá vocês a certeza de que ninguém morre... Mas tudo deve estar certo. Eu não posso andar invocado com problemas que não são para mim. Falo em saudade, falem outros com explicações. Dou, porém, uma voz à saudade e com ela peço a coragem de que não devemos estar desligados a fim de vencer a chuva parada de nossas indagações molhadas de lágrimas e prosseguir prá frente, dando duro no melhor por fazer.
Você, Mãezinha, leve a meu pai o carinho de sempre e fique animada. Corpo terrestre é máquina de costura em mãos do alfaiate, enxada nos braças do lavrador. Qualquer coisa de precioso que se deve conservar. A senhora tem que segurar a apito por muito tempo ainda e, por isso, deve dar uma revisada na .saúde física a fim de sabermos qual é o melhor remédio para a enquadração no equilíbrio das forças (7).
É preciso (outra vez a “é preciso”) viver a vida tanto quanto seja possível na Terra para que se retire o máximo da escola do mundo. Às vezes encontro você matutando coisas. Será? Não será? Tenho ainda muito tempo no mundo? O seu pensamento me busca longe e eu fico mais perto de você para auxiliar as suas idéias no reajuste. Viver sim, Mãezinha, e viver feliz como o figurino recomenda (8).
Otília, Zuca (9), Marli e a meninada estão chamando... Papai é nosso, um gigante de trabalho e de bondade, a pedir sempre mais atividade para ser mais útil. E nós não podemos ir para ao brejo do desânimo. Com os nossos de casa, temos nossos amigos e eles todos formam hoje uma família só em nosso favor. Sigamos pra Alto, que pra Alto é que a gente se manda com segurança. Mas isso tem que ser devagar. Pouco a pouco. A subida será por deveres cumpridos e por bênçãos do amor ao próximo. O melhor negócio é trabalhar com todos os necessitados do caminho por sócios ativos em nossas dividendos, por menores que sejam.
Mãezinha, hoje é um dia de aniversário geral. Todos lembrados nos dois planos da vida.
Muito grato por sua presença com os nossos laços do coração nas preces de hoje. Convertam vocês aí ás flores das homenagens em apoio aos que sofrem mais que nós mesmos. Teremos três benefícios juntos: pouparemos as flores em seus ninhos de origem, cooperaremos em favor de irmãos matriculados na penúria inesperada e prestaremos serviço a nós mesmos. Porque, como se vê na prece famosa "é dando que se recebe " (10)
Mãezinha, continuemos dando ao papai todo aquele apoio. Diga a ele que não estou ausente. Cada vez mais em casa para melhorar-me aprendendo amor e dedicação com vocês todos.
Agora, é aquele beijo do filho reconhecido. A carta pronta, as datas lembradas, aniversários em dias (11) e avisos colocados entre nós para dizer que não há sinal vermelho nas estradas de nossa fé. Agora é me arrancar para outras tarefas. Não para outras ligações, que não as tenho maiores do que a nossa.
Deixamos, companheiros e eu, muito carinho e muitas lembranças para os amigos presentes.
Quanto a nós dois, querida Mamãe, é aquele mundo deflores do coração que entrego em seus braços. Flores de ternura e de gratidão. Desculpe seu filho pela pobreza. Tudo o que tenho de melhor é o seu amor e o amor dos nossos. Com esse amor peço aceite o seu rapaz que você criou com tantos mimos e que não aprendeu a criar mimo algum para o seu carinho. Mas sei que você, querida Mamãe, não quer tanto a que eu lhe pudesse trazer com as mãos repletas e .sim espera o amor, acima de tudo o nosso amor, que trago nas mãos vazias. São vazias ? Nós dois sabemos que não. Essas mãos, as mãos que Deus me concedeu, me trazem para o seu coração.
Sim, sou eu mesmo. Abrace-me. Estou com muitas saudades, embora sem desespero. Quero você, Mãozinha, estar com você e com meu pai, e dar-lhes a certeza de que estou vivo. Recebam todo o meu agradecimento em meu amor inalterável. E abençoe seu filho, sempre mais seu. E tudo de mais belo que espero sempre é a sua bênção.
Com todo o meu coração, entrego a você, mamãe, aquele abração do seu, sempre seu,
Augusto
Comentários
Eivada de revelações do total desconhecimento de Chico Xavier, temos a sensação nesta mensagem, como de resto nas outras todas, de que Augusto, acompanhando sua mãe no próprio lar e na intimidade de seus pensamentos, foi recolhendo as impressões recônditas, as preocupações e os anseios, para, através de Chico, pela psicografia, devolver-lhe ao coração materno as respostas correspondentes.
Por exemplo, sentiu as dificuldades que enfrentou o coração materno, no dia de Finados, ao trocar a visita ao túmulo do filho no cemitério, junto de outros familiares, pela viagem a Uberaba.
Anotou também a prece-súplica de D. Yolanda, quando junto de duas mães, profundamente abaladas pela perda recente de seus filhos, Cristiano e Gabriel, rogou a Jesus, que se fosse possível, a despeito do desejo de receber mais uma mensagem do Augusto, que um dos dois jovens se comunicasse em seu lugar, para consolo de suas mães.
Em seu convívio espiritual com a genitora, Augusto surpreende ainda o abatimento físico, aconselhando os cuidados médicos e lhe suplica para não dar pouso em seu espírito a doenças fantasmas. D. Yolanda passou alguns meses alimentando a idéia de que se via prestes a morrer, pois se julgara muito doente... E Augusto, em sua mensagem insiste: "É preciso viver a vida tanto quanto seja possível na Terra para que se retire o máximo da escola do mundo. Às vezes encontro você matutando coisas. Será? Não será? Tenho ainda muito mais tempo no mundo?"
Outros elementos recolhemos a esta mensagem do Augusto e que anotaremos por ordem de aparecimento no texto.
1 - Ver comentário acima.
2 - Nossa Vila - Vila Nova Conceição, bairro da capital paulista, onde Augusto sempre residiu.
3 - Refere-se ao desejo de D. Yolanda, de todo contraditório em seu espírito pela saudade do filho, de ceder a vez, se o pudesse fazer, ás outras mães presentes, como já comentamos.
4 - Jair Presente - um dos jovens autores deste livro; presente à reunião ora considerada. Colega de Augusto de incursão hidráulica, porque ambos morreram afogados.
5 - Cristiano e o Gabriel - Cristiano Ricardo Vilaça Lopes, filho de Joaquim Coelho Lopes e Lenira Vilaça Lopes, residentes em São Paulo, faleceu em acidente de automóvel na Estrada Curitiba-Ponta Grossa, com 14 anos apenas, no dia 10 de janeiro de 1974; Gabriel Casemiro Espejo, 25 anos, filho de Gabriel Espejo Martinez e de Irene Casemiro Espejo Martinez, residentes em Campinas, desencarnou, com meningite, em 27 de junho de 1974.
As mães desses jovens estavam presentes à reunião em Uberaba quando da psicografia desta mensagem.
6 - A indesejada - a morte.
7 - Conselhos de Augusto a D. Yolanda a respeito de sua saúde.
8 - Como no item 7 ver nossos comentários iniciais neste capítulo.
9 - Zuca - apelido íntimo de Zuleica, irmã de Augusto, pouco conhecido fora círculos domésticos.
10 - Oração de São Francisco.
Augusto refere-se à passagem de aniversário de nascimento a 27 de setembro, pouco mais de um mês antes da psicografia desta mensagem.
3º mensagem
11 fevereiro de 1975
Obrigado, Mamãe. Seu filho está igualmente em prece por sua felicidade.
A saudade agora é uma oração de esperança. E a esperança é um caminho de amor. Ao trilhar essa estrada bendita de reencontro, você me aparece constantemente em tudo o que vejo de mais belo.
Melodias que me alcançam lembram suas cantigas de embalar e flores que afago trazem à memória o seu carinho.
No regaço das mães que contemplamos, à cabeceira dos filhos, sinto de novo o calor de sua ternura e nas crianças que nos sorriem revejo o meu próprio retrato, quando chegava em casa, depois da fuga para os brinquedos, e você me abraçava, perguntando aflita e surpreendida: - "Onde estava você, meu filho?"
Tanta inquietação pela ausência de minutos como que nos contava alguma coisa da separação que viria depois e das nuvens de saudade em que tatearíamos, chorando, na busca incessante de um coração para o outro. Deus, porém, já dissipou todas as sombras e as nossas lágrimas assemelham-se hoje ao orvalho do amanhecer. Tudo é luz, confiança, alegria e trabalho anunciando vida nova.
Neste dia diferente em que nos encontramos, de alma para alma, tenho . a impressão de ver a Terra, como sendo imenso jardim, onde todas as mães brilham, quais estrelas que ofuscassem o próprio Sol. Vejo-as todas. Todas são mensageiras do Céu clareando o mundo. Volto-me, no entanto, para o seu colo, imagino-me novamente criança e olhando para o Alto, em minha oração de jubiloso agradecimento, digo sem palavras, com todas as forças do coração:
- "Meu Deus, de todas as mães, na Terra, aquela que me deste é, com certeza, a mais linda!"
Augusto
Comentários
A terça-feira de carnaval traz a D. Yolanda um turbilhão de reminiscências, ligadas à trágica morte de seu filho.
Por isso, nesse poema em prosa, vemos o coração do filho envolvê-la com palavras caridosas, num cântico maravilhoso em homenagem às mães.
Recordamos de uma estória infantil em que ao procurar a mãezinha perdida, o filho pequeno, sem maiores recursos para caracterizá-la, simplesmente a define como a mãe mais bonita do mundo. E Augusto, lembrando que mãe é atributo do espírito de mulher, sempre nobre, transbordando o seu significado a qualquer limitação social, encerra sua prece-poema dizendo:
"Meu Deus, de todas as mães, na Terra, aquela que me deste é com certeza a mais linda!"
Na noite em que Francisco Cândido Xavier recebeu esta mensagem, horas antes, alguns amigos presentes, entre os quais D. Yolanda, foram acompanhar o querido médium a uma visita a famílias paupérrimas de um bairro afastado, em Uberaba.
Ali, durante a visita, as crianças presentes, aglutinadas em uma pequena bandinha cantaram uma canção em homenagem a D. Yolanda. Augusto, presente em espírito, anotou as homenagens e em suas mensagens refere-se ao fato, dizendo:
"Melodias que me alcançam lembram cantigas de ninar."
4º Mensagem
21 Abril de 1975
Paquerei o mundo, procurando o ouro do Céu. E caminhei curtindo maravilhas.
Achei meu pai, o amigão que me pôs prá jambrar. Guardei prá mim uma gente bacana chamada família e mandei a bola prá frente.
Saquei amizades que me colocaram nas jogadas e me ensinaram a sacudir a carola, tirando sarros.
Peguei uma nota comprida e gastei grana uma barbaridade.
Adorei máquinas lindas e ouvi ninfas geniais quase entrando pelos canos da vidração.
Aprendi a sair bem de grudes e zebras, de confas e pintas bravas.
Bati papos badalados, na crista da marola.
Mas quando o conta-viela se mandou prá cima de mim, empacotando o meu corpo num tremendo barato de praia, é que achei o tesouro do Céu que eu procurava:
- O coração de minha mãe, porque o coração do minha mãe e um pedaço de Deus.
Augusto
Comentários
"Paquerei o mundo, procurando o ouro do céu..."
Nesta mensagem vazada em gíria objetiva e bem colocada, Augusto se dirige aos jovens do mundo, fazendo um pequeno resumo de sua passagem pela Terra.
Nascido em berço de paz, recebendo dos pais o carinho e apoio de um lar bem estruturado, sem maiores problemas com o dinheiro, viveu muito em toda a extensão do termo. O fascinante mundo dos jovens não lhe foi vedado, até que o conta-vida se mandou para cima dele...
No idioma característico dos jovens, Augusto definiu o drama que enfrentamos no mundo, sem a compreensão de seus verdadeiros valores. Somos frágeis e, sem a mensagem da Vida Eterna que Jesus nos trouxe, corremos o risco de, surpreendidos pela morte prematura, chegar do lado de lá, ainda à procura cios tesouros de Deus, quando aqui mesmo os podemos encontrar, se entendermos as nossas responsabilidades e o papel que nos é destinado nas lutas planetárias.
Meditemos sobre esta autobiografia do Augusto.
5º Mensagem
19 Maio de 1975
Meu caro Flávio (1) prezado amigo Duda e outros primos.
Deus nos inspire a conversa em casa. Papo informal querendo aproximação. É muita gente esperando por nós com vestido de anjo e muitos ficam abilolados quando percebem que somos aqueles mesmos rapazes frajolas de pouca roupa.
Não corram de nós e fiquem na meditada com nossas madres.
Quando pintei por aqui julguei que iria pendurar as chuteiras, e o que achei foi os esculachos do lesco-lesco. O negócio é isso. Acordei birutado e tive de organizar muitas daquelas de puxação com gente de bem para ver a melhora. Perguntaram qual era o meu plá. Olhem prá mim. Fiquei naquela de agitado, depois dei o clarão e parti para outras. Era preciso sair do chá-de-cadeira e comecei a mudança.
Por isso, cupinchas meus, venho até vocês para dizer que não encontrei super-pai nem tutu-man. Fiz minha observada e vi todo mundo no basquete. Procurei meu lugar, dando início a coisas diferentes. Pega daqui, pega dali, dureza prá burro e vida nova.
Caso vocês queiram fornecer prá mim aquela escutada de irmãos, não fiquem no mais-prá-lá-do-que-prá-cá. Esqueçam traçados e goiabinhas. Tiro-a-esmo e bocas-quentes, comeretes e beberetes servem só para fajutar.
Não acreditem que eu esteja fazendo cafonália ou anotando aqui alguma de Nostradamus. Nem estou também com os macacos. O negócio é que não há caras mortos. O pessoal e as patotas, o grupinho e as turmas estão aqui. Ninguém sobe dando guinadas de foguetes. Nem os astronautas, porque os astronautas, foram obrigados a voltar para manjar forças novas. Estamos como éramos e ainda somos, procurando caminhos de renovar.
Vocês aí se estiram nas camas cada noite e morrem um pouco na mágica do sono e levantam-se cada manhã com o mesmo cenário; um céu muito azul quando está sem nuvens convidando a pensar e se chumbam no chão para dar o serviço. Nós aqui, despertamos, fitando um céu muito mais azul, chamando para cima, entretanto, somos atraídos para baixo, a fim de trabalharmos em favor das cucas, especialmente dos amigos que ainda moram aí nas furnas do solo. O difícil é que temos o dever de plantar novas idéias nas cucas de que falo, como se fôssemos horticultores, cultivando plantas de Deus nesses vasos vivos. Temos, porém, tantos grilos no pensamento, que não é fácil desengrilar as idéias dos outros.
Vocês não fiquem parados aí, quando estamos entregando a vocês tantas palas. Entrar no batente do bem aos que se esforçam por um mundo melhor, para não entrarmos em canas. Por aqui, pitongueiros é o que não falta. Visitamos juntos os irmãos separados em grades (2) e aqueles outros que esperam a felicidade brotar para ter alegria. Crianças vimos pedindo, com os olhos, braços que as sustentem e muitas mães enxergamos, como se fossem nossas escravas, embalando os que estão nascendo para o futuro.
Primos e amigos, larguemos copos e copas, bocas de sombra e redes mansas e coloquemos nossas mãos nessa construção de paz e amor. Ninguém nasce feliz, ninguém nasce sábio. Tudo é produto de esforço que nos cabe guiar para o melhor em auxílio a todos.
Prá frente com o programa de melhoradas corretas. Somos aqui uma turma que engrossa a corrente. Grupo de paz e amor formado pelos que se cansaram de canja e água refrigerada.
Permitem os professores que se fale como nos entendemos, mas sem fofocagem e sem pornô. Inventamos canais de comunicação para alcançar vocês e estamos contentes, porque muitos companheiros estão ouvindo. Quanto possível, façamos força para aderir.
Compreendemos vocês. Não somos realmente os filhinhos desmamados, lembrando chupeta. Olhem aí, porém! porque continuamos e devemos continuar filhos de Deus, nas obras de Deus com nossos pais e com nossas mães. Ponham freio nas fantasias e procuremos agarrar a enxada do bem a todos e com todos (3)
É muito a conversar e o tempo está dividido. Acabou-se a parcela de que dispunha e preciso pintar noutras bandas.
Agradeço à minha mãe ter trazido vocês. É verdade, ela güenta as pontas com vocês aí, carreando com alegria os corações amigos para as nossas preces e o servidor ainda muito fraco que sou busco usar o sarrafo e quebrar os galhos. Boa vontade só.
Aquele beijo para mamãe - o meu pedaço de bom caminho para a Vida Superior - e para vocês todos, tchau. Até outra vista. Fiquem com Deus que tenho outros encontros na paróquia. Muito reconhecido, o primo pobre e o filho rico.
Augusto
Comentários
1 - Flavão - Flávio Rotta, primo de Augusto. Duda é o Eduardo Trindade Ferreira, amigo do Flavão. Ambos foram levados a Uberaba pela D. Yolanda, no sentido de buscar para eles uma orientação espiritual, a propósito dos problemas que vêm enfrentando.
2 - "Visitamos juntos os irmãos separados em grades" na tarde que precedeu o recebimento da mensagem, Chico Xavier e algumas famílias presentes, incluindo o Flavão e o Duda, foram visitar os presos da Cadeia de Uberaba, visita que, próximo ao Dia das Mães, o querido Chico faz de rotina, aos presidiários da cidade, numa embaixada de luzes, em homenagem às suas mães anônimas, muitas certamente já desencarnadas.
3 - Este parágrafo todo se destina ao Flavão, que por várias vezes se dispôs a deixar o lar. Augusto o adverte de suas responsabilidades de filho.
A par desses elementos de revelação em que podemos identificar a pureza da mensagem transmitida pelo Chico, com a citação do apelido dos jovens, sem que dele tivesse conhecimento, encontramos alguns esclarecimentos a ambos em particular e aos jovens que de modo geral se envolvem nas ilusões da Terra, buscando o esquecimento de suas responsabilidades no álcool, no tóxico, no jogo e na ociosidade.
Embora vamos encontrar a gíria como recurso de linguagem mais comum no outro autor espiritual do livro Jair Presente nesta página do Augusto vemo-lo dirigir-se ao primo Flavão e ao Duda em identificação precisa com a linguagem destes jovens.
D. Yolanda disse-nos mesmo que não era hábito do Augusto prender-se às palavras e expressões aqui arroladas, sendo sua gíria mais suave e identificável com a mensagem anterior, a que denominou "Pedaço de Deus". Ocorre que o Flavão e o Duda, bem como seus companheiros, se mostraram bem familiares com o linguajar do Augusto, que, em esforço de comunicação, buscou sintonizar-se na faixa de compreensão dos jovens ali presentes.
Aliás, é o próprio autor espiritual que nos diz quase ao término da mensagem, para justificar suas palavras
"Inventamos canais de comunicação para alcançar vocês e estamos contentes, porque muitos companheiros estão ouvindo."
Mencionemos também conceitos expostos nesta mensagem, exemplos objetivos de como é encarada a vida no Plano Espiritual.
Assim, na sua simplicidade de expressão, Augusto diz que julgou que iria "pendurar as chuteiras" quando pintou por lá, mas encontrou muito trabalho. Mais adiante afirma que sem querer dar uma de Nostradamus*, "o negócio é que não há caras mortos".
* Nostradamus - Miguel de Notredame, ocultista francês do século XVI.
Cremos que do corpo da mensagem uma pérola de expressão merece ser separada, pela profundidade de seu significado. É quando Augusto diz: "Nós aqui despertamos fitando o céu muito mais azul, chamando para cima; entretanto, somos atraídos para baixo, a fim de trabalharmos em favor das cucas, especialmente dos amigos que ainda moram aí nas furnas do solo".
Como vemos, o amor liga definitivamente as criaturas e dessa lei divina não nos podemos afastar. Quantos espíritos sublimados descem à Terra para redimir almas queridas, ainda presas aos charcos do mundo. É o amor eterno unindo-nos uns aos outros na sustentação recíproca das forças espirituais.
Ao encerramento da mensagem, Augusto diz: "muito reconhecido, o primo pobre e o filho rico".
Primo pobre, entendemos, por não estar mais na Terra, na abençoada oportunidade de abraçar as lutas redentoras no mundo, e filho rico, por ter recebido de Deus o tesouro que sua mãe representa em amor e abnegação.
Traços Biográficos
CARLOS ALBERTO DA SILVA LOURENÇO
Santos
- 25 de junho de 1956
São Bernardo do campo – 17 de setembro de 1974
Filho único de Severino Domingos Lourenço e Dirce Pessoa da Silva Lourenço.
17 de setembro de 1974. Fim de Primavera, ainda que timidamente, assomava nas florações primeiras e o sol do meio-dia aquecia São Bernardo do Campo.
Àquela hora, a Faculdade de Engenharia Industrial - a F. E. I. - se via tumultuada por súbita ocorrência que fazia regurgitar de alunos e professores a quadra de esportes. A pequena multidão inerme presenciava um quadro doloroso.
Um jovem aluno do l.° ano de Engenharia Mecânica jazia, pela rutura de um aneurisma cerebral, apesar dos primeiros socorros ministrados pelo diligente professor de Educação Física da escola, Nélson Menoni, que buscava, ansioso, pela massagem cardíaca e pela respiração boca-a-boca, devolver a vida ao jovem alto, corpo atlético, que até há poucos minutos se empolgava na disputa de uma partida de basquetebol.
Dali para os cuidados hospitalares pouco se passou, sem que, contudo, seus pais, chamados à pressa de Santos, o vissem reintegrado à vida. Carlos Alberto estava morto...
Seu pai, o Sr. Severino, já há três meses andava angustiado, triste, pois sonhara, então, com a morte do filho, impressão que não se apagava de sua mente.
Natural de Santos, onde residia, Carlos Alberto da Silva Lourenço nascera a 25 de junho de 1956.
Desenvolveu sua escolaridade pré-universitária no tradicional Colégio Santista, onde, desde o primário até à conclusão do curso colegial, se destacou como um dos mais brilhantes alunos.
Com 17 anos foi aprovado nos vestibulares da Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo do Campo, optando pela especialização em Engenharia Mecânica. Estudioso, afável, amigo de todos, dominava fluentemente o Inglês, cujo curso, na Cultura Inglesa, de Santos, estava por concluir.
A par de suas atividades vinculadas ao estudo, era anonimamente um dos colaboradores da Instituição Braille de Santos, onde lecionava Braille. Dizemos anonimamente porque seus pais sequer sabiam de sua ligação com os cegos, a quem devotava especial carinho, não somente com relação ao ensino do Braille - o que, convenhamos, é insólito para um jovem que jamais teve qualquer problema ligado à visão como também no trato dos problemas da Instituição de cujas campanhas beneficentes sempre participava, junto com dois grandes amigos, o José Maria Piva e o Iwaldo Ferreira Martins.
Pouco depois de completar 18 anos, desencarnou de modo aparentemente inexplicável, deixando no coração de seus pais e amigos a saudade da separação compulsória, felizmente temporária, pois quatro meses mais tarde, Carlos Alberto retornaria pelo lápis de Francisco Cândido Xavier, sacudindo os pais ainda enevoados no aturdimento natural da saudade, com revelações irrefutáveis a respeito da sobrevivência do Espírito. E, como se deu esse reencontro?
Como os pais de Carlos Alberto chegaram até Chico Xavier
Os pais de Carlos Alberto, Severino Domingos Lourenço e Dirce Pessoa da Silva Lourenço, pelo inusitado da situação, vendo seu único filho partir, descontrolaram-se de tal modo, a viver D. Dirce sob constante ação medicamentosa.
A solidão, a tristeza, substituíram as alegrias constantes daquele lar até há poucos dias feliz e sem problemas. Não obstante seus esforços ingentes, o Sr. Severino, superando-se a si mesmo, não conseguia devolver à esposa o desejo de viver, de retomar o curso de suas atividades.
De formação católica, desconhecendo os ensinamentos do Espiritismo em torno da sobrevivência da alma, não poderiam supor jamais que a despeito de morto, Carlos Alberto nunca estivera tão perto.
O cunhado do Sr. Severino, Dr. Danilo Caldas Vaz, que também não era espírita, quatro dias após a desencarnação do sobrinho, visitou-lhe os pais, dizendo que iria levá-los a Uberaba, para conhecerem Chico Xavier, por sugestão de seu amigo José da Fonseca, espírita residente em Santos, que muito se sensibilizara diante dos sofrimentos que abalavam os pais de Carlos Alberto.
Esta deliberação do Dr. Danilo veio de encontro às ponderações da Sra. Alzira Bonfim da Silva Vitorino, irmã de D. Dirce, de que deviam realmente procurar o Chico, animada que fora pela Sra. Guiomar de Oliveira Albanese, dedicada dirigente espírita na capital paulista.
Entorpecidos pelas altas doses de medicamentos tranqüilizantes, sem mesmo atinar com o significado da viagem, foram a Uberaba conhecer Francisco Cândido Xavier.
No primeiro contato, sem maiores explicações, Chico informou aos pais que Carlos Alberto se encontrava hospitalizado na Espiritualidade e pediu-lhes que aguardassem alguns meses ainda para possíveis notícias do filho. Voltaram a Uberaba mais três vezes e na quarta viagem, em fevereiro de 1975, quatro meses após a desencarnação do filho, eis que alguns fatos preliminares prenunciavam grandes consolações para os pais desalentados.
A reunião pública da sexta-feira - 7 de fevereiro - estava se encerrando às seis horas da manhã do sábado (!!!), com o Chico atendendo ininterruptamente desde as 19 horas da véspera a aluvião de pessoas que o procuravam. Às despedidas, Chico de oitiva perguntou ao pai de Carlos Alberto quem era o avô Lourenço que estava ao lado do jovem, ali presente em espírito. Inquiriu ainda de D. Dirce se ela poderia identificar um sacerdote de baixa estatura, calvo e gordo que também acompanhava o jovem desencarnado. Surpresas, informaram tratar-se de seu bisavô paterno, que falecera no ano de 1932, em Santos, e do Padre Galdino Viliotto, Professor de Química no Colégio Santista, bastante amigo de Carlos Alberto e desencarnado em 1973.
A propósito do avô Lourenço, nem o Sr. Severino o conhecera em vida, pois nascera um ano após a morte do avô. Não é fácil cogitar, desse modo, que os pais de Carlos Alberto estivessem no momento sequer pensando no avô Lourenço, há muito mergulhado no campo das raras recordações familiares.
Ressalte-se também que a descrição feita pelo Chico do Padre Galdino coincidia totalmente com sua aparência física quando na Terra, de tal forma que qualquer de seus ex-alunos do Colégio Santista o identificaria através dessa foto falada.
Combinando o reencontro com o Chico na sessão pública de logo mais às 19 horas, os pais de Carlos Alberto despediram-se já alimentando o desejo, em secreta intuição, de rever pelo lápis o filho querido.
E isso realmente ocorreu. Com a riqueza de revelações do absoluto desconhecimento de parte de Chico Xavier, Carlos Alberto da Silva Lourenço, pela psicografia do querido médium, trazia naquela noite - 8 de fevereiro de 1975 - sua primeira mensagem.
Os pais, que já vinham apresentando paulatino processo de recuperação, face às consolações que buscavam, em suas rápidas viagens até o Chico, após o recebimento da mensagem do filho, voltaram a sorrir. Nós, presentes à reunião, pudemos testemunhar naqueles dois gigantes a superação da grande batalha travada com a morte e com a separação.
Dois meses após o recebimento da primeira mensagem, em reencontro junto de Chico Xavier, vemo-los transformados, procurando no consolo de alheios sofrimentos homenagear a lembrança do filho querido que partiu antes para o Plano Espiritual, mas que despojado do corpo físico, vela e socorre seus pais, na continuidade daquela família enriquecida pelas ligações profundas e indestrutíveis do espírito.
1º Mensagem
08 fevereiro de 1975
Querida Mamãe, querido Papai, querida tia Amélia (1) estou aqui e peço a Deus proteção e bênção para nós todos.
Querida Mamãe, não chore mais; Papai, conformação é o nosso caminho; tia Amélia, ajude este seu sobrinho que é também seu filho do coração. Mãezinha, estou agradecido a tanto amor. Tenho suas lágrimas por bênçãos de sofrimento. Bênçãos de carinho e tristeza, de luz e sombra, de paz e tempestade. Peço ao seu coração querido, querida Mãezinha - não chore mais, assim como se estivéssemos separados para sempre.
O que tenho experimentado em aflição para falar ou escrever, não há tinta que conte. Desde que despertei nos braços de meu avô Lourenço e no carinho daquela que conhecemos aqui por nossa vovó Pessoa ou vovó Maria, luto com as reações difíceis que não sei descrever. Via a senhora por dentro de mim, querida Mãezinha e tia Amélia, a outra mãezinha que Deus nos deu, perguntando por mim... Escutava Papai chamando e o nosso bom amigo Dr. José Marins a buscar-me no silêncio, nos lugares de nossos passeios (2) e conversações ou nas preces que ambos tentavam articular.
Penso que o estado de alguém. que acorda aqui, de repente, assim corno me sucedeu, é uma espécie de loucura consciente em que nos conhecemos e passamos a desconhecer, porque somos nós e os que pensam em nós, e se os que pensam em nós estão envolvidos em pranto e aflição, a aflição e o pranto estão igualmente conosco, mesmo quando procuremos ser fortes ou não queiramos chorar. Sabia que me achava longe de casa, mas via você, Mãezinha, procurando meus retratos, cartões, lembranças, roupas, objetos e escritos.(3)
Oh! meu Deus, não creio que a gente aí possa compreender o amor profundo de nossos pais, porque você, Mamãe, procurava lembrar seu filho, desde a praça de esportes até o lugar último em que as últimas recordações de seu filho se conservaram...(4) Agradecia e chorava também e, por mais que os nossos protetores daqui me reconfortassem, queria voltar e reviver, para que você quisesse viver e para que meu pai não desanimasse. Pouco a pouco, vamos melhorando com as melhoras uns dos outros.
Tia Amélia, você que me foi também mãe pelo coração, você que partilhou com Mãezinha tudo o que pude ser em dias tão ligeiros, console meus pais por mim! Não os deixe tristes, desalentados. Você e Regina (5) me auxiliarão. Preciso renovar-me e reeducar-me para trabalhar e servir.
Papai, naquele dia de setembro, nada aconselhava que fosse ao médico. Fiz meus exercícios na véspera, revisei lições e prometi aos companheiros um forte ensaio (6). Apenas alma dor de cabeça muito ligeira me dava a idéia de algum comprimido que pudesse me restituir toda a força. A queda do corpo foi rápida. Quis controlar-me mas não pude. Alguma coisa estava diferente em meu cérebro. Tentei estudar a mim mesmo, pois parecia estar caindo num choque de encontro a um muro desconhecido...
Ouvi os companheiros de bola gritando por mim.. Alguém se ajoelhava, procurando meu corpo para massagens, no entanto, escutava os chamamentos de carinho e sentia várias mãos em meu peito (7), mas a voz morrera na garganta e chorei... Chorei passando a um sono que me pareceu vir de uma injeção de anestésicos. Então dormi muito, mas sonhei que fui ao encontro da nossa casa e do nosso caro Dr. Marins caminhando livre, mas desorientado pela praia do Embaré e ao longo de outras praias, como se eu fosse feito de um material muito leve e flutuante, a transferir-me de um lugar para outro conforme a minha própria vontade. Em seguida, apaguei-me e nada senti senão repouso sem nenhuma recordação.
Mais tarde, vim a saber por meu avô e por antigo e querido professor padre (9), que conheci no Colégio Santista e reencontrei aqui, que me achava de pensamento liberto, num estado diferente que as definições do mundo ainda não podem apreender.
A desencarnação violenta deslocava meu pensamento para longe e o meu pensamento, em tudo, eram vocês, os entes queridos que me via forçado a abandonar.
De então para cá, estou melhorando com as melhoras de meus queridos pais e de meus amigos queridos. Peço ainda auxílio e paz.
Mãezinha, as suas orações à frente de nossas relíquias da fé em casa são atendidas (10). Ore por seu filho! Ouço suas vozes quando pretende chamar-me em silêncio, encerrada no quarto, com as minhas lembranças e com as nossas lágrimas. Uma vida nova está surgindo para nós. Estamos conhecendo um mundo diverso daquele em que nos amávamos sempre mais e, no entanto, em que hoje vejo, estávamos mais sozinhos.
Mãezinha, você e mãezinha Amélia, papai e os outros, nosso caro Dr. Marins e tantos outros corações queridos auxiliem aos outros rapazes, meus irmãos que tenho também noutros lares - rapazes necessitados de amparo, de entendimento, de carinho e de bênçãos... Ajudem-me a estender essa família bendita que o amor de Jesus descobre aos nossos olhos, agoniados de saudade e de pranto... O sol da caridade seca as lágrimas onde apareça Mãezinha; confio em você e espero em você, Mãezinha Dirce, esse apoio de que necessito afim de melhorar-me a servir. Ore por mim sempre, abençoe-me e una-se à Mãezinha Amelinha para nos sentirmos mais juntos nas tarefas do bem.
Quando eu sarar da saudade que é angústia e doença, vou estudar e continuar para frente para ser útil. A Engenharia em seu filho estará aqui também, renascendo em trabalho maior. Não posso ser mais extenso. Relaciono todos os meus amigos no agradecimento que deixo aqui.
Tia Amélia, receba os meus pensamentos de carinho e de gratidão.
Mãezinha Dirce e meu pai Severino, abençoem seu Tato (11) e abracem-me ... Tenho frio ainda o frio que é a saudade entre nós e que Jesus afastará para sempre, porque, com esta carta, vocês saberão que estou vivo! E recebam no meu abraço de filho em recuperação, aquele amor e aquele agradecimento de todos os dias que me restitui ao meu querido Pai e à minha querida Mãezinha como sendo o companheiro de todas as horas e o filho reconhecido, sempre de vocês e sempre cada vez mais reconhecido.
Carlos Alberto
Comentários
Esta primeira mensagem de Carlos Alberto é rica de elementos de identificação, particularmente importantes ressaltemos pelo desconhecimento de parte do médium Francisco Cândido Xavier, a respeito.
Sua psicografia, no intervalo do continuado mister de atender a todos quantos o procuram, antes e depois das sessões públicas, transmitiu a mensagem do filho aos pais, sem que houvesse condições para que o querido Chico se fixasse particularmente na problemática daquela família, uma entre centenas das que vão ao médium em busca de consolo e esclarecimento.
Habituados pela seqüência dos anos, a esse singular contato de Chico Xavier com o público, temos observado em sua exemplificação evangélica fatos mediúnicos preciosos que decerto envolveriam novos livros, nascidos à sua simples catalogação.
Necessário, contudo, destacar a total impossibilidade de tempo para o Chico acercar-se de modo mais detalhado dos familiares que o procuram nos rápidos contatos das reuniões públicas de Uberaba.
Dos próprios familiares - e observamos esse fato na entrevista das famílias dos quatro jovens autores espirituais deste livro - destaca-se, por outro lado, o desejo de omitirem, em seus contatos com Chico, nomes, datas ou acontecimentos ligados aos filhos mortos, para crerem integralmente na eventual comunicação mediúnica, com que sejam aquinhoados, seja essa comunicação simples recado ou uma página psicográfica.
Assim, da mensagem primeira do Carlos Alberto separamos as seguintes elucidações:
1 - Tia Amélia - Amélia da Silva Bonfim, tia materna de Carlos Alberto, residente em Santos.
2 - "Escutava papai chamando e o nosso bom amigo Dr. José Marins a buscar-me no silêncio, nos lugares de nossos passeios..." - Dr. Marins, médico psiquiatra em Santos, amigo de Carlos Alberto.
O Dr. Marins muitas vezes, após a morte do jovem, procurava, em passeios solitários pela Praia do Embaré, rememorar lembranças de Carlos Alberto, em monólogos inaudíveis, refazendo as caminhadas que ambos - ele e Carlos Alberto empreendiam realmente, antes do falecimento do estudante em São Bernardo do Campo. Dupla revelação na mensagem psicográfica: a lembrança dos passeios, que o jovem e o Dr. Marins faziam ao longo do Embaré, e a afirmativa de que na Espiritualidade, Carlos Alberto acompanhava as meditações do médico, vendo-o caminhar pelas areias da praia.
3 - "Via você, mãezinha, procurando meus retratos, cartões, lembranças, roupas, objetos e escritos" - realmente D. Dirce confirma que após o sepultamento, começou a revolver os pertences do filho, no desespero de rever tudo o que lhe dissesse respeito.
4 - "Último lugar em que as últimas recordações de seu filho se conservaram" - Diz a mãe de Carlos Alberto ser a Rodoviária de Santos, onde se viram pela última vez no dia da morte do jovem, às 6 horas da manhã, antes de Carlos Alberto tomar o ônibus para São Bernardo do Campo.
5 - Regina - Regina Célia da Silva Bonfim Mariana, prima de Carlos Alberto, chamada por todos de Célia, sendo que apenas o jovem costumava chamá-la por Regina. (Como o Chico poderia saber disso?)
6 - Forte ensaio segundo os colegas da FEI, Carlos Alberto se referia à aula programada para aquele dia, aula de recordação de matéria que o jovem daria aos companheiros de estudo.
7 - Tal qual relatou o professor de Educação Física que assistiu Carlos Alberto após sua queda na quadra de basquetebol.
8 - O Dr. Marins na hora aproximada da morte de Carlos Alberto se encontrava no Embaré, em Santos, dirigindo-se para sua casa, quando subitamente se viu envolto em profunda ligação mental com o jovem, a ponto de desorientar-se e quase bater o carro. No impacto da morte, buscava Carlos Alberto, em espírito, a lembrança dos familiares e amigos queridos, tendo o Dr. Marins captado as imagens vivas do pensamento do jovem. "A desencarnação violenta deslocava meu pensamento para longe e o meu pensamento, em tudo, eram vocês, os entes queridos que me via forçado a abandonar".
9 - Refere-se ao avô Lourenço e ao Padre Galdino Viliotto citados, já anteriormente, quando se comentou sobre os antecedentes da recepção desta mensagem.
10 - D. Dirce tomou como rotina marcante fazer suas orações diante dos objetos rememorativos da lembrança do filho, daí a referência na mensagem.
11 - Tato - Apocorístico de Carlos Alberto, pouco conhecido além das fronteiras familiares.
No início da mensagem, Carlos Alberto faz menção ao avô Lourenço e à vovó Pessoa ou vovó Maria. O avô Lourenço - Sr. Severino Lourenço - já foi apresentado ao leitor. Sobre a vovó Pessoa ou vovó Maria há esclarecimentos na mensagem seguinte.
2º Mensagem
19 abril de 1975
Mãezinha Dirce, meu Pai Severino, meus queridos, peço a Deus nos abençoe.
Quem recebe socorro deve agradecer tão depressa quanto possível. E o que faço, rogando aos nossos Benfeitores para que concedam aos meus pais queridos e a todos os nossos a felicidade que me deram.
Mãezinha querida, o primeiro laço de prisão que me libertou foi aquele do momento de sua comunicação telefônica com a minha querida vovó Deolinda (1). Quando o seu coração e o dela se misturaram no fio com as mesmas alegrias e com as mesmas lágrimas, reconhecendo que eu não havia desaparecido, aquela emoção das duas funcionou em mim por mão bendita a desatar-me para a vida. Achava-me livre daquela nuvem de pranto e de aflição que nos aguilhoava os pensamentos na mesma sombra. E daí em diante, desde as nossas conversações em casa até às surpresas na faculdade (2), entre os companheiros e professores, a existência ,foi se modificando.
Estou melhor, mais forte, experimentando novas forças e novas alegrias no coração.
E agradeça. Agradeço aos queridos pais, à vovó Deolinda, à tia Amelinha, ao tio Olavo (3) e a todos os corações inesquecíveis, tudo de bom que estou recebendo em tranqüilidade e esperança. Agradeço ao tio Alberto e à tia Olga (4) e a todos - todos os que me fazem sentir que a morte se fundiu na vida, como a neblina se dissipa diante do Sol.
Agora compreendo que a sombra do corpo sem alma é assim quais o frio e a treva. Surgindo o calor e a claridade, frio e treva simplesmente não existem.
Louvado seja Deus que nos arranca da dúvida para a certeza, da saudade para a esperança! Felizmente, as impressões últimas desapareceram e estou íntegro em minhas faculdades.
Hoje, diante das lições que estou assimilando, reconheço que certas dificuldades orgânicas representam as lembranças derradeiras de desajustes que nós mesmos criamos em nós, em nosso corpo espiritual. Muitas vezes, cometemos determinadas faltas, prejudicando a nós próprios, regressamos à Espiritualidade com os traços desses gestos infelizes e retomamos o corpo no renascimento com as marcas dessas atitudes com que assinalamos as peças de nosso envoltório orgânico. É por isso que eu trazia a luta congênita que me impôs a desencarnação violenta (5).
Felizmente, a provação terminou e tenho hoje os meus recursos perfeitos no cérebro com que renascera, carregando o ponto enfermiço que se exteriorizou por fim, constrangendo-me à partida súbita, e com as bênçãos da compreensão de que hoje me felicito com os sentimentos renovados da querida família, estou transformado para seguir adiante, buscando valores que ainda não tenho, a fim de ser-lhes mais útil. Vovó Pessoa ou vovó Zezé (6) está comigo nestes momentos e agradece-lhes igualmente por mim.
Mãezinha Dirce, sejamos felizes. Deus colocará em suas mãos e nas mãos de meu querido papai Severino tudo aquilo de que necessitamos para auxiliar àqueles que atravessam dificuldades e lutas maiores do que as nossas.
Um novo mundo se descortina aos meus olhos. Penso na Engenharia, cujos estudos espero rearticular; no entanto, com ela, reconheço presentemente que é necessário estudar a ciência do amor para que venhamos a praticá-la. Começo os meus exercícios nas aulas de casa. Primeiro, meus pais queridos, incluindo os meus queridos tio Olavo e tia Amelinha, por vovó Deolinda e por todos os nossos, mas já posso dizer que estou igualmente cooperando na paz e na alegria de nossa Regina, de nossa Miriam, de nosso Celso (7), e de outros companheiros da minha faixa de tempo, de vez que é preciso ajudar para sermos ajudados.
Mãezinha Dirce e meu pai Severino, muito obrigado por havermos enxugado os olhos para fitar a Terra que não conhecíamos: a Terra dos que se arrastam em duros problemas da vida material, dos que choram sem esperança, dos que se perderam nas sombras do pessimismo, dos que experimentam abandono por moléstias que lhes carcomem as forças, dos que caminham a sós, rogando a Deus um lugar dentro da noite que lhes permita o repouso sem maior aflição...
Deus de bondade, quantos ensinamentos é preciso que a morte nos aponte! Benditas sejam assim as nossas dores, porque todas elas, em nossa separação, funcionaram por medicamentos da alma; ensinando-nos a usar as fibras mais profundas do coração!
Estou feliz, porque senti em todos os entes amados essa renovação que experimentei! Não é o adeus que a morte nos impõe e sim a luz da vida que ela nos descerra, ensinando-nos a ver - a ver por dentro de nós, com os olhos do coração.
Temos aqui muitos amigos que nos prometem sustento e cooperação, apoio e auxílios constantes. Nosso amigo Augusto (8) e nosso amigo Senhor Abreu (9) me recomendam dizer às nossas irmãs Dona Yolanda e Dona Laura que eles se encontram aqui e agindo sempre para que as estradas do dia-a-dia se façam sempre mais claras.
Vovó Bonfim (10), uma abnegada amiga e benfeitora devotada que vim a conhecer aqui com o meu avô Severino, abraça ao querido tio Olavo, de quem beijo as mãos na condição, não só de sobrinho, mas também de seu filho espiritual. Somos tantos neste recinto, mas, acima de tudo, todos me dizem: Tato, o maior de nós que está presente em nossos grupos de prece é Jesus, sempre Jesus, representado pelos Benfeitores que nos amparam e nos socorrem a vida. Que Jesus, assim nos abençoe e nos fortaleça.
Paizinho Severino e mãezinha Dirce, mãezinha Amelinha e paizinho Olavo, façam por mim as lembranças e agradecimentos a todos os nossos. Meu afeto e meu reconhecimento a todos os caros amigos da FEI. O carinho que me dedicaram muito me enternece; entretanto, reconheço que nada sou ainda e não fiz o que devo fazer para merecer tantas bênçãos. Recebo, porém, tantas manifestações de bondade por empréstimo de recursos para o trabalho de hoje, a fim de resgatar amanhã os débitos que vou contraindo.
Queridos meus, minha querida vovó Deolinda, recebam todo o meu amor e todo o meu reconhecimento. Rogo me perdoem as omissões. Queremos lembrar nomes nos lápis e marcar notas de gratidão pessoal; entretanto, ao escrevermos, as letras vão saindo do coração, sem que a memória, por vezes, consiga entrar naquilo que fazemos.
Mãezinha Dirce e meu pai Severino, com todos os nossos, peço guardarem o meu carinho de todos os instantes. Que Deus nos conserve nas vibrações de .fé e alegria a que fomos conduzidos pela bondade dos nossos amigos da Vida Espiritual, a fim de crescermos em esperança e amor, serviço e construção nos valores da alma, são os meus votos.
Aos meus queridos, corações abençoados do meu coração, o abraço do filho, sempre reconhecido e cada vez mais filho e amigo nas bênçãos de Deus.
Carlos Alberto (tato)
Comentários
Novamente as revelações desconcertantes Além. Detalhes aparentemente simples, fatos ocasionais do cotidiano e citações fartas são o cartão de visitas do jovem que se materializa aos pais nas palavras candentes de quem, despojado do corpo físico, não consegue fixar sua imagem na retina de nossos olhos.
Em sua mensagem anterior, Carlos Alberto surpreende-nos quando se refere à sua prima, ausente da reunião em Uberaba, chamando-a por Regina, como o fazia quando "vivo", embora os outros familiares a tratem por Célia. Alerta-nos a atenção ao pedir aos pais que abençoem o seu Tato, apelido íntimo e carinhoso vedado aos familiares mais chegados. Observa recônditas recordações do Dr. Marins e fala de sua morte.
Nesta mensagem, anotamos os seguintes elementos dignos de citação citada na mensagem anterior. Muito queridos do jovem que os considerava como aos próprios pais.
1 - Vovó Deolinda - Deolinda Glianda da Silva, avó materna de Carlos Alberto, residente em Santos. O jovem refere-se claramente ao telefonema de D. Dirce à mãe, três dias antes de viajar para Uberaba, dizendo de sua certeza na sobrevivência do filho, documentada na primeira mensagem e, porque não, falando da esperança em novo encontro com a mediação do querido Chico.
2 - Surpresas na Faculdade - entende D. Dirce, a mãe de Carlos Alberto, ser referência à surpresa de que se viram acometidos os colegas da FEI, quando foram visitados pelos pais do ex-estudante daquela Faculdade. Dada a disputa pela palavra do "morto" que seus pais levavam através da mensagem psicografada pelo Chico Xavier, viram-se obrigados os colegas de Carlos Alberto a imprimir na própria FEI cópias da mensagem para satisfazer a todos.
3 - Tio Olavo - Olavo Jorge Bonfim, tio de Carlos Alberto, esposo de D. Amélia,
4 - Tio Alberto e Tia Olga - Alberto Pessoa da Silva e Olga Bonamini Pessoa da Silva, também residentes em Santos.
5 - Faz Carlos Alberto referência ao aneurisma cerebral, cuja rutura o levou para a Espiritualidade. Ao falar da fixação no corpo espiritual, ou perispírito, das falhas decorrentes de gestos infelizes de outras vidas, dá-nos exemplo vivo de como se processa a Justiça Divina.
Pelo livre arbítrio, incorporamos ao corpo espiritual essa ou aquela deficiência a se exteriorizar no corpo material em conseqüentes lesões ou mutilações.
Somos hoje o reflexo do que fizemos ontem, ensina-nos Emmanuel, como amanhã colheremos nossa plantação de hoje, de modo que a infinita bondade de Deus nos concede a oportunidade de refazermos, nas lutas da Terra, o nosso equilíbrio espiritual, através da experiência abençoada da reencarnação.
Os paroxismos da agressão ao corpo espiritual se revelam nas mutilações ou lesões congênitas graves, como ocorre nas paralisias cerebrais ou nas cardiopatias congênitas, onde as lesões físicas, correspondentes às lesões cio corpo espiritual, decorrem de compromissos assumidos em existências passadas, como por exemplo a morte antecipada pelo suicídio.
6 - Vovó Pessoa ou Vovó Zezé Maria Josefa Pessoa dos Santos, bisavó materna, desencarnada em Portugal há 70 anos, tempo suficientemente longo, cremos, para que sua lembrança fosse sequer fugaz entre os pais de Carlos Alberto, durante a recepção da mensagem pelo Chico.
7 - De nossa Regina, de nossa Miriam e de nosso Celso - Regina já foi identificada na mensagem anterior. Miriam e Celso são os primos Miriam Aparecida Pessoa da Silva, professora em São Vicente e Celso Alberto Pessoa da Silva, estudante em São Paulo.
8 - Augusto César Netto, um dos autores espirituais do livro.
9 - Sr. Abreu Serafim Pereira de Abreu, desencarnado em 1973, esposo de D. Laura Moreira de Abreu, residente cm São Paulo e presente à reunião.
10 - Vovó Bonfim assim era chamada quando na Terra a Senhora Alvarina Jorge Bonfim, mãe do tio Olavo. Vovó Bonfim faleceu em 1944.
Traços Biográficos
JAIR PRESENTE
Campinas – 10 de novembro de 1949
Americana – 03 de fevereiro de 1974
Filho de José presente e Josefina Basso presente
Deixou uma irmã – Sueli Presente.
Algo de especial tocava o coração da família Presente, naquela manhã de domingo. O calendário anotava 3 de fevereiro de 1974...
Sueli, a irmã, mal controlava o desejo incontido de ir à Praia Azul, distante alguns quilômetros de Campinas, no município de Americana; a mãe, D. Josefina, acordara angustiada, servindo-se do socorro de tranqüilizantes.
Na véspera, notificando os familiares de que iriam a um pesqueiro em Paulínia, às margens do Rio Atibaia, Jair Presente e seus amigos Carlos Roberto Ramos Fonseca e Sérgio Galgam, lá passaram a noite e, no domingo cedo, modificaram o programa, partindo sem que em Campinas ninguém soubesse - para a Praia Azul, distante 30 quilômetros do pesqueiro.
Ao fim da manhã do domingo, as angústias e pressentimentos de Sueli e sua mãe, abalaram também o pai, Sr. José Presente, com a notícia do afogamento do jovem Jair, antes de completar 25 anos, nas águas da Praia Azul.
Jair Presente nasceu em Campinas a 10 de novembro de 1949. Filho de José Presente e de Josefina Basso Presente, antigos moradores da cidade, deixou também uma irmã Sueli Presente, funcionária da Reitoria da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp.
Fez os cursos primário e colegial, em Campinas, respectivamente nos seguintes estabelecimentos:
Grupo Escolar Adalberto Nascimento, Colégio Salesiano, Liceu Nossa Senhora Auxiliadora e Colégio Estadual Barão de Ataliba Nogueira.
Em 1971, após brilhante vestibular, sendo aprovado em três faculdades de Engenharia - a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, a Escola de Engenharia de Itajubá e a Escala de Engenharia da Universidade Estadual de Campinas, optou pelo curso da Unicamp.
Quando a morte o levou - ou em expressão sua, quando o trem da mudança o despejou no outro lado da vida - cursava o 4.° ano de Engenharia Mecânica na Unicamp.
Alegre, jovial, aluno destacado, de atividades múltiplas, encontrava jeito para dividir seu tempo extracurricular com o trabalho para o sustento, lecionando em colégios de Campinas, com os inúmeros cursos de extensão universitária e com os concursos, de que era pertinaz candidato. Pela rama, vamos lembrar alguns dos cursos e concursos que Jair fez e prestou, não obstante o exíguo tempo de estudante universitário.
- Curso Livre de Acústica para Engenharia, em 1971, no Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas;
- Curso de Extensão Universitária de Psicologia, em 1971, na Universidade Católica de Campinas;
- Curso de Formação Política Brasileira, em 1972, pela Prefeitura Municipal de Campinas; Curso de Supervisão de Pessoal na Indústria, em 1972, no SESI;
- IV Ciclo Paulista de Estudos sobre Marketing e Propaganda, em 1972, na Universidade Católica de Campinas, promovido pelo Instituto de Artes e Comunicações e pela Associação Paulista de Propaganda;
- Curso de Mecânica, em 1972, no SENAI;
- Curso de Pequena Licenciatura em Matemática, em 1972, na Universidade Católica de Campinas;
- Curso de Pequena Licenciatura em Física, em 1972, na Universidade Católica de Campinas;
- Curso de Usinagem Racional nos Processos de Torneamento e Frezamento, em 1973, no Centro de Tecnologia da Unicamp.
Aprovado em concursos:
- Companhia Mogiana de Estradas de Ferro;
- Universidade Estadual de Campinas;
- Secretaria da Fazenda;
- Banco do Estado de São Paulo;
- Banco do Brasil.
Querido de toda Campinas, pela sua comunicação fácil, loquaz, dinâmico, cheio de vida, madrugava regularmente até as três ou quatro horas, estudando ou atualizando sua correspondência epistolar com amigos do Exterior.
Sua morte, deixou subitamente a família Presente diante de uma lacuna que sulcou de dor e sofrimento o coração do querido vendedor de frutas que, com sua banca no Largo do Rosário, conquistou a simpatia de tantos e tantos clientes. Foi essa amizade, nascida ao mais puro sentimento de respeito e apreço, que possibilitou ao Sr. José Presente reorganizar em nova têmpera seu lar combalido. Pouco mais de um mês após á partida de Jair, uma réstia de luz iluminou novamente aqueles três corações, aclarando-os em novas perspectivas de paz e trabalho...
Como a família presente teve notícias do Jair após sua morte
Como lembramos nas palavras anteriores foi a amizade espontânea do Sr. José Presente, pai do Jair, com os seus clientes que possibilitou o dealbar de uma nova vida para ele e familiares.
Embora aposentado, mantinha a entrega domiciliar de frutas para alguns de seus antigos clientes. Durante um mês, após a morte do Jair, o Sr. José permaneceu totalmente entregue ao desânimo, não trabalhando, entendendo que a partida do filho representava para ele também o fim de sua existência, que levava a custo, como se não houvesse mais sol a dissipar as brumas e o céu fosse constantemente escuro. Por insistência de sua esposa e de sua filha, após 30 dias assim passados, resolveu, em tentativa vacilante de reintegrar-se à vida, voltar a vender frutas.
Numa dessas visitas comerciais, a Senhora Wandir Dias, espírita, dirigente do Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa, no Bairro do Grameiro, em Campinas, ao observar tanto abatimento no semblante do Sr. José Presente, inquiriu a ele o porquê de semelhante condição. Ao saber de toda a verdade, buscou entusiasmá-lo com os ensinamentos espíritas sobre a morte e ofereceu-lhe o livro "Presença de Chico Xavier".
O Sr. José, de formação católica, como de resto toda a família, e sobretudo o filho querido, após a leitura da obra, entusiasmado, quis conhecer o Chico.
As observações da família foram inicialmente no sentido de que o Sr. José ainda se encontrava abatido, sendo oportuno evitar uma viagem a Uberaba, até que ele se recuperasse mais. No entanto, ninguém logrou demovê-lo do intento e, a 15 de março de 1974, 42 dias após a morte de Jair Presente, seus familiares estavam em Uberaba, à procura de um entendimento com Chico Xavier.
As apresentações foram rápidas, sem maiores detalhamentos, pedindo apenas Sueli ao Chico que consolasse se possível, seu pai, tão abatido com a morte do filho.
Durante as realizações das tarefas mediúnicas, programadas para a noite, Chico recebeu comovente mensagem assinada, para surpresa de todos, por Jair Presente.
1º Mensagem
15 março de 1974
Meu pai, minha mãe, minha querida Sueli, peço-lhes calma, coragem.
Não estou em situação infeliz, mas sofro muito com a atitude de casa. Auxiliem-me. É tudo, por agora, o que lhes posso dizer. Tenho a mente nublada. Consigo entender muito pouco aquilo que se passa em torno de mim. As lágrimas dos meus queridos me prendem.
Que há, meu Deus?
Não pensem que desapareci para sempre. Estarei, porem, com vocês na condição em que estiverem comigo.
Fortes, me fortalecerão. Desanimados, me farão esmorecer.
É muita coisa para observar, entretanto, não posso ainda. Creio apenas que perder o corpo mais pesado, não é desvencilhar-se do peso de nossas emoções e pensamentos, quando nossos pensamentos e emoções jazem nas sombras da angústia.
Eu encontrei muito amparo, mas a não ser o meu avô Basso (1), a quem me ligo pelo coração, não tenho ainda memória para funcionar aqui; minha faculdade de lembrar esta com vocês, assim à maneira de um balão escravizado. Ajudem-me. Preciso ver e ouvir aqui para retomar-me como sou.
As vozes de casa chegam ao meu coração e, como se continuássemos juntos, vejo-os no quarto, guardando-me as lembranças como se devesse chegar a qualquer instante (2). E o meu pensamento não sai de onde me prendem. Agradeço, sim, o amor em suas lágrimas. Agradeço o carinho em suas preces, mas venho pedir-lhes para viverem. Viverem! E viverem felizes, porque assim também serei feliz.
Esqueçam o que sucedeu, ninguém me prejudicou, ninguém teve culpa.
Mal sabia eu que um passeio domingueiro era o fim da resistência física.
O coração parou, ao modo de um motor, de que não se descobre imediatamente o defeito.
Sou eu quem deu tanto trabalho aos amigos (3). Notei quando me chamavam, quando me abraçavam, massageavam e me faziam quase respirar sem conseguir.
Agradeço por tudo. Depois foi o sono, um sono profundo, do qual acordei para chorar com o pranto de meus pais e de meus afetos mais queridos.
Sueli, acalme-se e auxilie os pais queridos.
Nada de lamentações e reclamações.
Deixei o corpo num domingo, sem extravagâncias quaisquer.
Há quem pense em drogas quando se deixa à vida física assim qual me sucedeu (4). Mas não havia drogas, nem abuso da véspera. Estávamos sóbrios e brincávamos à maneira de pássaros descuidados.
Em qualquer lugar que me achasse, a queda de forças seria a mesma.
Estou saudoso de tudo, dos familiares queridos, dos companheiros, dos estudos e das aulas; entretanto, espero sarar e refazer-me. Para isso você, meu querido pai, e você, querida mãezinha, são as alavancas de que preciso para me levantar.
Aqui comigo estão o meu avô Basso e um coração de benfeitora a quem chamo Irmã Elvira (5). Estou bem, mas é preciso melhorar.
Encaremos a vida como deve ser a vida perante Deus e esperemos o futuro melhor. Creiam que estou fazendo muita força para não me acovardar.
Não posso aumentar-lhes os sofrimentos.
Agora, é o momento de pensarmos na fé, na fé viva que nos ergue o pensamento para a Vida Maior. Abençoem-me e ajudem-me.
Lembrem-me estudando e não morto, porque a vida não admite a morte. Por hoje nada mais consigo descrever.
A garganta, como se eu fosse falar, está constrangida, e as lágrimas estão contidas, a ponto de rebentar. Quero confiar em Deus e em vocês e por isso termino, com um abraço, deixando aqui a vocês aquele beijo de todos os dias, rogando a Deus para que nos fortaleça e nos abençoe.
Jair Presente
Comentários
Nesta mensagem psicografada 42 dias apenas depois da morte de Jair Presente, são trazidas à baila, como também veremos nas próximas mensagens, revelações completamente desconhecidas pelo médium. Seu contato superficial com a família do Jair, mal serviu para as identificações protocolares, de molde a aqui encontrarmos citações apenas compreendidas pelos familiares do jovem desencarnado. Assim, à semelhança dos comentários anteriores, arrolaremos alguns dados que mais diretamente chamam a atenção nesta mensagem
1 - Avô Basso - refere-se Jair ao avô materno, Vicente Basso, desencarnado há 12 anos em São Pedro - SP, com 84 anos de idade.
2 - "vejo-os no quarto guardando-me as lembranças como se devesse chegar a qualquer instante" - realmente D. Josefina e Sueli confirmam que pouco antes da viagem a Uberaba, estavam guardando os petrechos de Jair em seu quarto de estudo, quando lhes ocorreu à lembrança que o filho em espírito poderia estar naqueles momentos entrando no quarto, o que as deixou embaraçadas, posto que Jair não gostava que se mexesse em suas coisas.
3 - "Sou eu quem deu tanto trabalho aos amigos. Notei quando me chamavam, quando me abraçavam, massageando e me faziam quase respirar sem conseguir" - Esta afirmativa de Jair vem de encontro ao depoimento de Carlos Roberto Ramos Fonseca, um dos amigos que estavam na Praia Azul. junto dele, quando de sua morte. Carlos afirma que foi feito de tudo para que Jair se recuperasse: massagem cardíaca, respiração boca-a-boca, exatamente como informa Jair, confirmando os depoimentos de outros espíritos desencarnados no sentido de que presenciam todas as ocorrências com seu corpo cadaverizado, sendo essas impressões as primeiras que anotam em suas observações, logo após a passagem para o Plano Espiritual. Assim, nas primeiras horas após a morte, permanece o espírito ligado ao corpo, como se ainda o estivesse ocupando.
4 - Embora chocante, merece ser mencionada a afirmativa de Jair em sua mensagem, quando diz: "há quem pense em drogas, quando se deixa a vida física, assim qual me sucedeu. Mas não havia drogas, nem abusos de véspera. Estávamos sóbrios e brincávamos à maneira de pássaros descuidados". Informou-nos D. Josefina, mãe de Jair, de que fora advertida da possibilidade de Jair haver falecido envolto na atmosfera inebriante dos tóxicos, tendo lhe sido afirmado mesmo que de muitos dos jovens de hoje não se pode esperar situação diferente. Tal afirmativa descabida, para tantos quantos conheceram Jair Presente, muito chocou sua mãe. Jair, em espírito, desmentiu a aleivosia.
5 - A respeito de Irmã Elvira, encaminhamos o leitor para a mensagem seguinte, recebida 15 dias depois.
Logo no início de sua primeira página do Além, Jair faz uma afirmação absolutamente coincidente com relatos de outros espíritos, quando nos falam da vida no Plano Espiritual.
Diz Jair: "sofro muito com a atitude de casa".
Sem dúvida todos os espíritos que se comunicam conosco, comentam que recebem os pensamentos dos familiares encarnados com uma sensibilidade muito grande: se os pensamentos são vazados em anseios de conformação e alegria, sentem-se bem, mais reconfortados em sua nova condição. Contudo, se, em seu nome, lágrimas de desespero são derramadas, dores, saudades são rememoradas, sofrem muito por não poderem retornar ao lar saudoso e reintegrar-se ao convívio mais direto de seus familiares queridos.
A observação de Jair deve servir de alerta para todos nós que enfrentamos as difíceis situações criadas pela separação transitória, pois não devemos aumentar os tormentos daqueles que nos precederam na passagem para o Lado de Lá, com a exteriorização de nossas dores e lágrimas. Devemos, sim, animá-los com nossas preces e nossos pensamentos construtivos.
2° Mensagem
30 março de 1974
Oi Carlos (1), pedi vez e obtive.
Falar com vocês assim mesmo como sou! Vocês não me vêem, mas nunca fui Jair Presente como agora, presente apenas presente, para um abraço no rancho (2).
Cumé quié, e o Sérgio (3)?
Aquele negócio de Praia Azul no domingo, não deve meter medo de qualquer modo. O modo era aquele mesmo: dar uma de afogado, para não cair em outra de doente; porque doente nunca fui e afogado não fiquei sendo. Morem nisto aí se puderem.
Eu fico na curtição diferente; começar vida nova, observar e aprender. Ainda estou um tanto apagado mas vou me incrementar, a fim de apanhar as verdades daqui. Vocês não me perguntem muita coisa ou mesmo nada.
Falo e digo, agradeço o carinho que me deram; vocês leram as minhas palavras a meu pai, a minha mãe e a nossa querida Sueli. Escrevi escrevendo, mas vocês sabem, falar com professores não é conversar no grupinho; controlar tudo para não entrar bem, foi o que fiz.
Hoje pedi à tia Elvira (4) (mamãe faz questão que fale na tia e madrinha) e tive permissão, escreva como julgar melhor, disse a nova amizade, mas reclamou: cuidado. E concluiu: Jair, se você estivesse lá, e eles do lado de cá, você teria medo também. De fato nunca pensei que a morte fosse o que vi, tudo tão natural, vocês ocupados em me trazer ao corpo parado e eu a mover-me, escutando alguns caras gritando.
Depois Carlos, foi uma vertigem como quando um sujeito assusta e se apaga. O resto já sabem; leram o que pude escrever, não pude fazer mais.
Se vocês puderem e se tiverem gosto com isso, orem por mim. Jóia. A prece é um fio que esbarra na estação de destino, e a estação de destino agora sou eu. Se puderem, entrem na curtição de emissores. Nada de lágrimas. Legal!
É preciso viver e viver trabalhando. Agradeço a você, a Elenice (5) e a Cida (6) e a todos os corações amigos da família e da patota, presentes com os Presentes.
Estou bem, melhorando, preciso ficar mais ouriçado para trabalhar. Ainda estou muito borocochô e não posso ficar assim.
Gente boa aqui é muita; escola ao que ouço, não tem conta, mas no momento ainda tenho mais saudade de vocês, que vontade de renovação.
Entretanto, preciso disso: renovação. Liguem comigo e ajudem-me. Ligação é para estas horas.
Não sei quando poderei escrever novamente assim, eu mesmo com o aconchego do grupinho, mas vou esforçar para ficar em dia.
Não quero pensar em viagens à Lua pelo menos agora; desejo somente ser mais útil, refazer-me e ficar melhor, melhor para os outros a fim de ser melhor para mim.
Vou terminar afirmando a vocês que para mim a morte já era; o negócio é viver mesmo, viver de olho vivo em nós mesmos para que nossa vida seja feliz. Não me levem a mal se escrevi hoje um tanto adoidado; Deus é Pai de nós todos e sabe que as palavras são roupas de coração e o coração está quente de carinho e gratidão a vocês e por vocês todos.
Carlos, vocês ajudem meus Pais e Sueli; preciso! Contem comigo para quando eu possa transar fazendo o bem, de que vou cogitar seriamente. Por agora é só e creiam que já é muito. Peço para que vivam felizes fazendo o melhor que possam.
A vida está caminhando e o trem da mudança despeja caras e amizades aqui todos os dias. Desejo a todos vocês muita saúde e alegria, paz e vida longa; cultivemos o amor, aquele bom amor que melhora a gente, sem complicar ninguém e queiram-me bem, que eu estou cada vez mais vidrado em vocês.
Gama pura. Boa noite. Um beijão prá vocês. Falei (7).
Jair
Comentários
Fartos elementos de identificação encontramos nesta mensagem em que a mediunidade de Francisco Cândido Xavier mais uma vez pontifica.
Consolados, os familiares do Jair o reencontram 15 dias após a primeira comunicação, também mais tranqüilo, expressando-se já em seu linguajar típico de jovem atualizado na comunicação entre jovens. Para facilitar a compreensão de tanta riqueza de informações, vamos obedecer à seqüência da própria mensagem.
1 - Carlos - Carlos Roberto Ramos Fonseca, amigo de Jair, estava junto dele na Praia Azul, quando de sua morte. Colega de faculdade, freqüenta atualmente o 5.° ano de Engenharia Mecânica na Universidade Estadual de Campinas.
2 - "abraço no rancho" - Entrevistando Carlos a respeito do "abraço no rancho", contou-nos ele que era hábito entre os três amigos inseparáveis Jair, Carlos e Sérgio - abraçarem-se, como exteriorização do sentimento de amizade que os envolvia, e na véspera do domingo em que faleceu o Jair, os três se abraçaram efusivamente, no "rancho", onde passaram a noite de sábado, às margens do Rio Atibaia, em Paulínia.
3 – Sérgio citado acima Sérgio Galgam, também amigo chegado de Jair, aluno do 3.° ano de Administração de Empresas na Fundação Pinhalense de Ensino, em Pinhal SP.
4 - Tia Elvira - Cabe aqui uma observação curiosa a confirmar a impressionante autenticidade da comunicação mediúnica.
Na mensagem anterior recebida a 15 de março, Jair refere-se a Irmã Elvira, como se recorda o leitor. Sua mãe, de imediato identificou-a como sendo a Sra. Elvira Vanini Favoreto, sua tia e madrinha, de cuja morte não tinha conhecimento, pois D. Elvira residia em Brotas - SP e se afastara, pela distância, dos familiares de Campinas.
Ao voltar de Uberaba, entrando em contato com os familiares veio a saber que D. Elvira realmente havia falecida há três anos...
Ocorre que outros parentes não concordaram ter a mãe do Jair identificado em Irmã Elvira a Sra. Elvira Favoreto, como dissemos, sua tia e madrinha, alegando que Irmã Elvira poderia ser uma benfeitora que Jair encontrou no Plano Espiritual, sem - qualquer ligação familiar. Em sua segunda mensagem, 15 dias depois, Jair, referindo-se à Irmã Elvira, diz:
- "mamãe faz questão que fale na tia e madrinha"...
5 - Elenice - Elenice Santana, aluna particular do Jair e filha de seu amigo, o Professor Artêmis Santana
6 - Cida - Maria Aparecida Petrice, colega de trabalho de Sueli, na Unicamp.
7 – Falei - Interjeição típica no palavreado do Jair.
3º Mensagem
25 agosto de 1974
Oi, Gente! Vocês aí, vocês-mesmo, entocados nos bancos. Papai, minha mãe, Sueli, Carlos, Sérgio, Wilson e conexos.
Não coloquem a imagem desta mensagem no gibi de ensinar; isso é conversa de casa, fora da prensa de imprensa. Se eu não garanto já a jamegão (1) aqui deste modo, vocês estarão aí de olho cumprido e de espírito jururu. É duro isto, mas não fiquem matutando, encucados na idéia de que vou continuar assim; gíria não dá para nós, os que varamos o rio da mudança. Pedi favor para escrever assim, só para mostrar prá vocês que estou vivo, vivinho mesmo.
E quero dizer a meu pai que não fique de pensamento vidrado nas águas (2) se dei uma de peixe foi para nadar melhor. Fico abilolado quando meu pai começa a embarafustar na lembrança de Praia Azul. Papai tenha paciência. Voltei como vim. Não sabemos como é isso, não. Vamos deixar isso prá lá. Deus sabe tudo e em nossa moringa cabe somente alguma coisa.
Estou bem, estou melhorando, mas vou largar esse negócio de palavras giradas. Já saí da bananosa, começo a compreender que preciso educar meus impulsos. Educar impulsos é qualquer coisa de progresso. Não me lembro de haver dito isso, apesar dos livrocas que andei consultando. Isso quer dizer que já não me vejo com trutas que largam os deveres de mão para alfinetar o tempo e acabar com as horas.
Vocês aí!...Carlos que tu tás pensando? Não fique parado, não, depois de saber que o negócio não termina ali no meio das estátuas. Olhe rapaz, os dias vão correndo... Quando puder acompanhe minha mãe para dar serviço no serviço do bem (3). Aquelas amizades nas panelas de sopa estão certos e os caras que somos nós, quando longe deles, é que ficamos nas risadas do já era. Trabalhar, meu amigo, trabalhar pelos outros.
Sempre acreditei que mendicância seria preguiça, conversa mole, mas o problema é diferente. Se temos de mudar qualquer coisa, temos de começar mudando a nós mesmos. E só existe uma transformação que vale a pena: ajudar os que precisam mais do que nós para que larguem de precisar.
Você e Sérgio, venham também.
Wilson anda arrepiado num medo fora de série (4), mas já veio. Está batucando sem passar por cima da verdade. O moço está querendo mesmo transar diferente. Muitas vezes ele me sente perfeitinho junto dele, mas e a paúra? Ele diz que deseja me ver, mas se eu pintar mesmo diante de vocês, já sei que sairão pirandelando por aí. Não conte com isso, não. Essa de parecer fantasma já era mesmo.
Só aqueles caras gamados com casa e comida e que ficam aí, às vezes, até procurando esquecer tudo com umas e outras. Mas vocês já sabem. Essa de pinga não cola (5).
Gostamos da vida e fomos irmãos de alegria e de esperança; no entanto, nada sabemos de trampar com essa ou aquela prisa. Fomos e somos rapazes decentes e porque largamos cabelos nas caras para não ficarmos caretas, isso não é motivo para sermos espíritos adoidados, querendo o que não se deve querer.
Wilson, tu tás abilolado a toa. Não pense que tudo aqui seja concedido de mão beijada. Prato,feito acabou. Mentira não vale. Toda conquista pede tempo e suor, creio que mais suor do que tempo.
Mediunidade é transmissão. Tarei na onda certa creio que sim, embora não tenha as palavras para explicar. Vocês agora aí tão interessados em comunicação, saibam disto: cada um dá o que tem. Isto pode ser de coisa passada, mas é muito válido.
A gente aproxima do médium e quer falar, e aí temos de agüentar o assunto, porque só falamos em dupla; o médium quando não tem muito exercício nos passa prá trás e fala na frente. Vocês. ficam parados na fachada e esquecem a faixa em que nos achamos. Por isso, Wilson, é que nestes casos que hoje vemos é melhor que a cuca não fique botando banca. É hora do coração conversar. Não quero que você esteja santo, mas também não desejo que você ,fique esperto demais. Nem anjo, nem gato. Fique você mesmo e observe que a crista do problema é auxiliar outros para sermos auxiliados. Hoje vivo partindo para essas novas atitudes que me façam mais útil. Viver bem para encontrar o bem e ser melhor.
Se a gente morresse mesmo, era só seguir entre a preguiça e a rede; no entanto, a morte é uma passagem que parece aquela porta dos contos de fadas. Vocês abraçam a gente movimentando gritos e lágrimas e o cara não consegue falar bolacha. Estamos encantados pela bruxa que não se vê, mas posso dizer que é uma bruxa inofensiva, porque nem a vemos de leve. A morte chega e decerto bate aquela varinha em nossa cabeça; a gente dorme, acorda com vocês chamando e chamando, e aos poucos saímos do barro ou da pedra. O negócio é isso.
Quero que vocês todos fiquem aí até que o mofo espante vocês do saco de pele e ossos; peço a Deus que todos se arrastem de velhos, mas eu não sei se isso vai acontecer. De qualquer modo preparem-se, para vir algum dia. E saibam que só temos aqui o que damos e só sabemos o que colocamos por dentro de nós.
Em negócio de sexy, fiquem acesos para pensar melhor. Não brinquem com fogo, que o fogo nesse assunto queima muito mais do lado de cá.
O que vocês prometem cumpram (6).
E o que,fizerem no campo dos tratos saibam tratar, porque o amor é uma luz que não aparece em querosene de papagaiadas de conversa furada.
Estão abrindo a boca perto de mim, creio que os amigos estão cansados. Já escrevi muito. E se continuasse, o papel necessário, não está apontado no gibi. Vocês não se impressionem com o que digo. Vivam corretos e tarão certos. Não dou para ensinar porque não sou santo. Desculpem.
Mamãe e papai, concedam aí uma bênçãos ao filho agradecido.
Sueli, acertemos tudo no coração para fazer o bem.
Vocês, meus cupinchas, não fiquem rindo, não. Coloquemos a cuca para jambrar e busquemos o que estiver certo; Carlos, Sérgio, Wilson e nossa amiga, favoreçam este espírito de rapaz supostamente afogado com os pensamentos bons, com o que puderem dar aí para mim; vou melhorar, estou caminhando e caminhando para frente.
Hoje, escrevi adoidadamente, mas voltarei com siso e juízo. Não posso empregar palavras mais fortes neste tchau e é preciso acabar esta carta antes da matina.
Recebam o maior abraço da paróquia.
Falei mas não sei se disse.
Jair
Comentários
Aqui os nomes citados já nos são familiares. Há que se acrescentar o Wilson e conexos, mencionados no início da mensagem.
Wilson Carlos de Lima, também amigo do Jair, estuda juntamente com o Sérgio na Fundação Pinhalense de Ensino.
Em sua fala descontraída de jovem alegre, aludindo a "conexos", Jair designa duas jovens de Campinas que se encontravam com o grupo na reunião.
Vamos, para melhor situar a mensagem, destacar fatos e pormenores de que Chico não tinha conhecimento algum.
1 - Jamegão como "falei", palavra muito usada pelo Jair.
2 - "quero dizer a meu pai que não fique de pensamento vidrado nas águas" - O pai de Jair, Sr. José Presente, contou-nos que muitas vezes, à revelia dos familiares, ia até a Praia Azul, para saber de detalhes ligados à morte do filho. Jair em sua carinhosa advertência pede ao pai que assim não proceda mais.
3 - Após a primeira mensagem de Jair, sua mãe passou a colaborar na instituição dirigida por D. Wandir Dias, o Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa, conhecido como Casa da Sopa do Grameiro, bairro onde se localiza a Obra que oferece sopa aos necessitados.
4 - "Wilson anda arrepiado num medo fora de série" - fato confirmado pelo Wilson que afirma ver-se trânsido de medo muitas vezes, ao sentir a presença do Jair, como aliás o próprio Jair confirma na seqüência da mensagem, quando diz: "muitas vezes ele me sente perfeitinho junto dele, mas e a paúra?"
5 - "Essa de pinga não cola" - Advertência de Jair aos amigos Carlos, Sérgio e Wilson que contrariando os hábitos do grupo passaram a procurar nos goles de caninha o esquecimento da saudade que os torturava, após a morte de Jair.
6 - "O que vocês prometem cumpram" de fato, os jovens amigos de Jair, prometeram participar da sopa fraterna no Grameiro, em homenagem à memória do saudoso amigo, tão logo souberam que Jair havia dado comunicação através de Chico Xavier. Contudo, logo esqueceram a promessa e Jair veio lhes puxar as orelhas...
O fecho desta mensagem também identifica o estilo de Jair, quando "vivo". Aliás, outras palavras foram reconhecidas por sua irmã Sueli, como sendo de uso habitual pelo Jair. É o caso de "pirandelando", de uso incomum, que encontramos nesta mensagem e que, segundo Sueli, Jair usava habitualmente em casa.
Em sua correspondência epistolar numerosa, Jair falava muito em "antes da matina", (como fala no fim da mensagem), posto que suas cartas eram escritas geralmente às três ou quatro horas da madrugada.
4º Mensagem
16 novembro de 1974
Oi, Sueli, meu papai e mamãe, Gema (1) de lado, a nossa querida Gema de nossa amizade.
Sueli, você tá esperando papo .firme. E o manoca está no estudo. Vidrado nos livros. Parado nas observações. É preciso sair da avenida de vocês aí, deslanchar e seguir prá frente. Não é mole abraçar tarefas tão duras. Mas tou forte mesmo. Arregaçando mangas. Porque não vivo aqui de peixinho. Estou fazendo vida nova no caprichado.
Sei que você e nossas amizades lá no grupo esperam mensagens. E mensagens em bossa nova, em conversa bem animada, mas a vida aqui não é o que se pensa, nem o que se diz. É como é. A pessoa é obrigada a dar a si mesma em proveito dos outros, porque os outros todos fazem o mesmo. E devo estar super-incrementado para não cair em preguiça. Trouxe para cá unicamente o coração de rapaz que não tem muita chance para retomar o passado.
Muitos se levantam aqui lembrando e refazendo conhecimentos, mas, pelo menos agora estou em frias. Lutando muito para encucar a mim mesmo que devo estudar e renovar minha própria vida. Por aí, tudo era aquela água. Tudo no livro do tá feito e na lista do tá comprado. Aqui, fazer e comprar é com a gente mesmo. A pessoa tem o que vale para o próximo. Por isso é que tenho batido nessa de agir e servir. Vocês não se enganem. Exercício de caridade para recebermos caridade, onde estou e para onde vocês virão.
Ninguém precisa assustar porque não faço caveira alguma. Penso em melhorar o coreto para não perdermos tempo. Fui eu mesmo quem escreveu a mensagem com o pessoal do Grameiro (2). Não me meti em frias porque não estava certa se conseguiria pôr o lápis ou a palavra prá jambrar ,fazendo o bem.
Estou trabalhando. Dando duro se quiser ficar mais perto de vocês. Que há muita gente por aqui apenas procurando sacudir a carola, não tenham dúvida. É muita gente do contra. Se fosse pessoa de força religiosa, diria, muita gente anti-Cristo. Vocês, porém, vivam certos de que não posso largar a praça em que vocês me puseram com tanta oração e com tantas palavras boas. Não posso fugir do que presta e por isso vou indo pra frente da vida nova. Conhecer para fazer e fazer o melhor para chegar ao bem que é a luz de Deus.
Ainda preciso de vocês. A gente aqui continua ligado com quem se liga conosco. E precisamos do apoio daqueles em cujo amor estamos crentes. Continuar e continuar para estarmos firmes. Mesmo aqui, interrompo o que digo para cumprir ordens. Isso é bom para mim, porque meu curso agora é outro.
Amigos pedem para dizer que presentes conosco temos duas pessoas cuja palavra devo encaminhar com respeito. Duas pessoas de recado em regime de urgência. Um deles é um amigo de nome Aníbal (3) que pede ao pai tolerância e desculpa pela ocorrência em que foi vencido, pela própria insuficiência de forças. Abriu o portão do lado de vocês e veio para cá em dificuldade. Mas o entendimento paterno e as desculpas da família são para ele bênçãos de paz.
E outro aviso é de uma irmã que roga à irmã Lídia (4), oração e tranqüilidade, abençoando a amiga que voltou para cá nas condições a que nos referimos. Naturalmente que a irmã do nosso lado sofre ao pensar que a companheira possa imitar o gesto em que se fez mais doente. Ela agora pede sossego e bênção e a nossa irmã presente pode auxiliá-la procurando fortalecê-la com a sua paciência tocada de fé em Deus. A morte procurada encontra problemas fortes. A pessoa busca esquecimento e ganha memória, mas memória doente, porque a lembrança se transforma em aflição por não conseguir consertar de pronto o que ficou na incerteza.
Não sei se transmiti os recados de que me incumbiram. Entretanto, Sueli, nossos amigos aqui me falam que mensagem deve ter mensagem por dentro. E esses comunicados precisam chegar ao destino. Por hoje é parar no ponto justo. Não posso escrever tanto papel só para dizer que o trabalho é nosso.
Abracem nossos amigos por mim. Aqui somos um outro bando. A patota, porém, está iluminada com a fé em Deus e decidida a servir para aprender realmente a servir. O Wady amigo é também figura de prol. E temos outros. Estamos, fazendo um grupinho novo, com a tarefa de nos unirmos para Cristo, buscando, assim, a bem para nós mesmos.
Continuo pedindo preces. Sabem vocês que no campo de luta precisamos da torcida. Um pouco mais de bom ânimo para nós. Lembrem-nos para trabalhar. Chamem-nos se isso for possível. O negócio aqui é diferente. Na Terra pedimos trabalho para ganhar, aqui rogamos trabalho como sendo salário.
Vocês, aí! Preparem-se porque vão encontrar os mesmos programas, embora deva saber de minha parte que muitos de vocês já cooperam com Jesus de modo silencioso.
Ajudem-me para que me livre de mim para pertencer realmente a Jesus.
Meu pai, mamãe e querida Sueli, adeus por hoje. O pessoal aqui saberá perdoar o moço inexperiente que ainda sou.
Muito grato a todos. Tchau para cada um com aquele abraço. E escrevo aqui o ponto final, meio ouriçado e meio borocochô comigo mesmo, pedindo desculpas se não comuniquei meus pensamentos abitolados como desejava e realmente sem saber se falei.
Jair
Comentários
Mais familiarizado com o relacionamento mediúnico, através da psicografia, quase 10 meses após sua desencarnação, nesta mensagem encontramos o Jair em toda a pujança de sua comunicação, manejando - como o fazia em vida - as palavras e expressões de gíria com bastante facilidade.
Vemos também o jovem estudante de Engenharia superando as naturais inibições da adaptação a tão radical mudança: já não mais o lar querido com o quarto de estudos e de elucubrações continuadas; já não mais a Unicamp e os cursos que perseguia com a obstinação de quem buscava o seu pássaro azul.
Agora comparece para o diálogo entretecido nas saudades de tantas experiências em comum. Os espíritos são os mesmos: ele, Jair, os pais queridos, os amigos, mas a diferença de plano vibratório é flagrante: Jair, do Plano Espiritual, a utilizar-se dos recursos ilimitados de um médium abençoado para comunicar-se com os demais presos à matéria densa, envoltos em seus escafandros de carne.
Mas o fio do pensamento é absolutamente o mesmo. O mesmo Jair a mostrar que a mudança para o lado de lá não se acompanha de transformações milagrosas; há necessidade de estudar, de trabalhar, de viver ainda mais ligado às responsabilidades, posto que já não se pode mais alimentar ilusões quanto á nossa destinação ante os desígnios de Deus.
Assim, fala Jair: "Sueli, você tá esperando papo firme. E o manoca está no estudo. Vidrado nos livros." Mais adiante fala: "estou trabalhando. Dando duro se quiser ficar mais perto de vocês." Ao epílogo da mensagem diz: "Na Terra pedimos trabalho para ganhar; aqui rogamos trabalho como sendo salário."
Estas ponderações do jovem autor espiritual confirmam citações de outros espíritos consonantes com os conceitos espíritas da vida após morte, lembrando que a morte é apenas mudança de plano vibratório, pois, na Espiritualidade, como aqui, somos os mesmos.
Nesta sua 4.ª mensagem endereçada aos pais e amigos, encontramos as seguintes citações:
1 - Gema - Gema Cristina Galgam, estudante colegial, irmã do Sérgio Galgam, já apresentado.
2 - "Fui eu mesmo quem escreveu a mensagem com o pessoal do Grameiro" - Temos em nossas mãos esta página psicografada no Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa, no Bairro do Grameiro, em Campinas, assinada por Jair e endereçada à sua irmã que relutou em aceitar-lhe a originalidade. Tal mensagem foi recebida um mês antes (18 de outubro de 1974) da mensagem psicografada em Uberaba que neste capítulo consideramos. O próprio Jair, como vemos, sem que Chico o soubesse, vem dar cunho de autenticidade a uma comunicação sua ditada a outro médium, em outra cidade, um mês antes...
3 - Aníbal - Refere-se Jair a Aníbal Rodrigues, jovem suicida de Campinas que se atirou de um edifício da Avenida Francisco Glicério.
Com referência a essa citação cabe algum esclarecimento
O nome Aníbal grafado na página psicográfica de Chico Xavier causou espanto aos presentes á reunião. Ninguém conhecia o Aníbal. Diante da insólita ocorrência, o jornalista Mário B. Tamassia publicou no Correio Popular, de Campinas, edição de 21 de novembro de 1974, o recado de Aníbal aos pais, no intuito de verificar se a família era da cidade ou se, ao menos, algum leitor a conhecia. No dia seguinte, a família Presente foi procurada pela Sra. Maria Aparecida Rodrigues que se identificou como mãe de Aníbal, contando, então, o triste episódio que envolveu a morte do jovem campineiro, através do suicídio. Muito reconfortados, ela e o marido, comentou mais tarde a Sra. Maria Aparecida ter-lhe sido o recado do Aníbal um grande lenitivo ao seu coração de mãe que pôde compreender estar vivo o filho querido, a despeito de seu suicídio.
Lídia - trata-se de uma senhora presente à reunião e de quem a jovem desencarnada era muito amiga. Tendo sido Lídia surpreendida pelo suicídio recente da amiga (matara-se há três meses com um tiro no ouvido) foi a Uberaba, em busca da orientação do Chico, pois tencionava também dar cabo da vida. Chico de nada sabia, antes do recebimento desta mensagem...
A pedido de seu esposo, expresso em depoimento prestado ao Dr. Elias Barbosa, escusamo-nos de oferecer dados pessoais de D. Lídia.
5º Mensagem
29 março de 1975
Meu pai, minha mãe, Sueli e os mais.
Pedi vez para ter voz e papear qualquer coisa que possa dizer o que sinto, sem os meios de falar como desejo. Indaguei de minha tia e dos amigos se podia escrever sem botar banca, mas eu mesmo, passado a limpo segundo a nossa textologia. Posso. Desde que não crie problemas, nem espanque os bons costumes.
Sei que vocês vieram em reuniões passadas querendo palavras novas, e onde a onda em que pudesse entrar sem dificuldade? Nossos amigos novatos em mediunidade e serviço ao próximo desejavam que eu estivesse rente para identificar verdades, entregar o ouro daqui para glorificar os que já estão glorificados aí na Terra, querendo que Deus amoleça para que tomem as chaves do Céu. Digam, porém, aos nossos amizades para que não se fossem com as caretas de tantos caras ouriçados para guardar os hábitos em que se enquadraram há muito tempo.
Creiam na verdade se quiserem. A vida na Terra é isto aí. Uma escola. Cada qual carrega a sua carteira feita de ossos. Por mais que a bondade dos outros nos enfeite, a realidade não é diferente.
Acordei por aqui feliz da vida e há quem exija de mim, explique como foi. Expliquem eles primeiro como nasceram aí dos troncos em que florescem e esclarecerei, o que experimento, sem papo de contar o que vi.
De fato, larguei os freios nas águas, mas nada sei de presunto guardado em paletó de madeira. Apesar disso, estou na condicional e quem vive assim não muito longe de capucha não consegue nem escafeder pelos canos e nem roncar prosa, enviando amizades a pensões do Governo.
Estou faturando horrores, mas unicamente em matéria de lições que não sei transmitir. Não posso largar o trabalho a fim de paparicar esses muquiranas que não topam a verdade. Não .sei em que se escoram para sarcastizar médiuns e gritar contra nós, os espíritos, tão vivos quanto qualquer criatura viva, embora já não queiramos ser vivos, e, por isso mesmo, não será justo que esses debilóides da cultura para menos se manifestem contra nós, quando procuramos dar uma incorporada, com disciplina em nome das orações dirigidas a Deus.
Não sei porque assumem os ares de importância com que pintam por este mundo de escola no sem-fim. Geralmente dão o teco, esses ateus de palha, quando estão de olhos no copo ou quando se acham excitados depois de queimarem erva. São quase sempre passadores e fofoquentos, gerando barulho sem qualquer justificativa. Declaram-se contra a verdade e é isso aí. Tumulto, confusão, má fé e frioleiras de cucas desocupadas ou de moringas perturbadas de esquente.
Mas a vida é a vida mesmo e a morte é aquela de fera velha, pondo gritos nas bocas. De fera, porém, não temos qualquer vizinhança e vamos indo...
Agora, de meses para cá, somos muitos (1). Queremos trabalhar pelos companheiros perdidos no fumacê. Muita gente boa está dando esticadas por essas plagas de delírio, em que a mente enlouquece de corpo estirado. Precisamos servir e compreender. Não há tempo para dar bolas e fazer papos furados em que a conversa mole grita frases raras para desculpar a neurose e a bobagem nas quais tantos militam.
Digam aos amizades nossos para não darem no pé, com medo de trabalho. De trabalho bom é o bem que fica. Sei que muitos companheiros estão saindo de nossa avenida receando compromissos (2). Que não saiam dessa como pensam porque a prensa das provas dá logo presença e a hora de voltar soa na campainha do tempo, sem qualquer consideração.
Sueli, diz você que anda triste. Não faça isso. Fossa tem um nome e esse nome é o tédio, no que tanta gente perde o uniforme escolar no educandário do mundo para vagar aqui, entre aqueles que dão aquelas de fantasmas, sem ver a luz do dia, embora estejam fora da noite. A vida é ação e alegria. Ação de criar, renovação e bondade. Alegria de estender o bem e plantar a felicidade; e a felicidade, sabe você, é a única riqueza que podemos dar sem ter, porque mesmo ,sofrendo é possível erguer a felicidade dos outros.
Papai, minha mãe, abençoem o filho adoidado que ainda sou. Sueli, abrace o irmão que não a esquece. Lembre-me aos amigos. Continuo pedindo preces em meu favor.
Estou melhorando. E escrever com algum traçado de gíria não quer dizer que eu seja espírito obsessor. Apenas luto. Mas se firo quero fazer isso apenas a mim mesmo. A todos desejo paz e progresso e muita utilidade e vantagem no baú do coração para não serem apanhados nos flagórios da verdade quando chegarem aqui. Por hoje, tchau. O maior abraço da paróquia para a turma toda e que Deus nos abençoe.
Voltei a falar, mas agora estou procurando firmar-me para saber se disse.
Jair
Comentários
Logo no início, uma revelação importante.
Ao dizer "nossos amigos novatos em mediunidade e serviço ao próximo desejavam que eu estivesse rente para identificar verdades, entregar o ouro daqui..." Jair se refere a Nely Teixeira Vargas, sua conhecida, funcionária da Reitoria da Unicamp. Era preocupação de Nely que Jair viesse pela mão do Chico com um sem número de revelações comprobatórias da veracidade da mensagem. Com a observação de Jair, D. Nely se deu por satisfeita....
Encontramos ainda na mensagem frases para as quais cabe maior explicação:
1 - "Agora de meses para cá somos muitos" Como podemos também observar em mensagem do Wady Abrahão Filho, de uns tempos a esta parte os jovens desencarnados foram aglutinando-se para trabalho em equipe no Plano Espiritual, serviço de socorro aos jovens da Terra, vitimados pela ilusão dos vícios. Quatro desses abnegados jovens da Espiritualidade se encontram presentes neste livro, trazendo as mensagens dos JOVENS NO ALÉM para os companheiros da Terra.
2 - "Sei que muitos companheiros estão saindo de nossa avenida receando compromissos" ver observação de mensagem anterior em que Carlos, Sérgio e Wilson confessam estar abandonando compromissos assumidos com os serviços beneficentes na Casa da Sopa no Grameiro.
Traços Biográficos
WADY ABRAHÃO FILHO
São Paulo - 16 de fevereiro de 1956
São Paulo - 06 de junho de 1973
Filho de Wady Abrahão E Jandira do Amaral Abrahão.
Irmã - Axima Abrahão de Oliveira, casada com Wilson Benedito de Oliveira
Figura querida no Bairro da Água Rasa, na capital paulista, Wady Abrahão Filho se destacava surpreendentemente pelo apego a Jesus que procurava pregar e exemplificar em sua vida simples de adolescente.
A par de suas atividades escolares e das poucas incursões nos sonhos da juventude, pois faleceu com 17 anos apenas, Wadyzinho era o líder incontestável de todos os movimentos beneficentes que se organizavam no Bairro, para o socorro de famílias pobres e de instituições ligadas aos trabalhos sociais. Enfim, estava presente o dinâmico jovem, que trazia o Cristo nos lábios e no coração, em tudo o que significasse caridade e solidariedade humana.
Campanhas de inverno, de Natal, visitas periódicas a lares necessitados, eram parte obrigatória de sua agenda já tão onerada em compromissos que cumulava também junto à Comunidade Unida a Cristo, movimento jovem de inspiração católica, que sob a coordenação do Wady levava aos jovens desorientados a palavra de Jesus, através de reuniões e conferências.
Amoroso, filho alegre, simples, muitas vezes seu pai o surpreendia madrugada a dentro com o quebra-luz aceso, escamoteado, para não despertar os familiares - e também para fugir à admoestação paterna, preparando suas inúmeras conferências a serem proferidas nas reuniões da Comunidade. O Cristo era a tônica de todas as suas palestras.
O início do mês de julho de 1973 absorvia particularmente Wadyzinho devido à campanha de inverno programada para o sábado - 7 de julho. Wady era a empolgação viva a ultimar os preparativos. Contudo, algo prenunciava com surpreendente riqueza de dados que sua partida estava próxima...
Quinze dias antes de sua morte, a mãe passou a sentir indefinível angústia, que a não abandonou mais.
Dois dias antes de seu falecimento, Wadyzinho teve um sonho significativo, em que foi visitado por um anjo que abriu a janela de seu quarto e pediu ao jovem que voasse com ele. Fê-lo e pôde divisar a Terra imponente e bela do alto do Firmamento. Relatou aos familiares e amigos o sonho e disse-lhes que se ele - Wadyzinho - partisse, era para continuar a viver e não morrer!!!
Na véspera de sua morte, coordenando as últimas providências para a campanha de inverno de que falamos, no colégio, junto de seus colegas, disse-lhes que no fim daquela semana (era uma quinta-feira) ele iria partir para uma viagem muito longa.
A 6 de julho - sexta-feira - dia do falecimento do jovem, os prenúncios continuavam. O Senhor Wady. Abrahão chegou para o almoço, chamou o filho para um entendimento e pediu-lhe que tomasse muito cuidado, porque pressentia que alguma coisa iria acontecer com a família naquele dia. Pela insistência da recomendação, o próprio jovem advertiu carinhoso o pai: - o que é isso, meu pai? O senhor nunca foi supersticioso!...
Após o almoço, de hábito com a presença de muitos jovens, colegas de Wady nos trabalhos comunitários, seu pai, alegando indisposição, cancelou a viagem que faria naquela tarde para Sumaré. Foi para os escritórios da indústria, próximos da residência, e, ao sair, recomendou ao filho, mais uma vez, muito cuidado para atravessar as ruas...
D. Jandira, também indisposta, cancelou a visita programada à cabeleireira e Axima e o marido saíram a negócios, esquecendo, contudo, documentos que os obrigariam a voltar pouco depois...
Wadyzinho deixou sua casa às 13 horas e 30 minutos em direção ao Colégio Nossa Senhora de Lourdes, onde estudava, e às 15 horas estava morto, vítima de um mal súbito, definido no atestado de óbito como infamo do miocárdio.
O pai, na hora aproximada da ocorrência, sentiu em seus escritórios um mal estar inexplicável, que o obrigou a descer rapidamente as escadas do Edifício, sem, mesmo se utilizar do elevador, dirigindo seu carro em direção ao lar, sendo, entretanto, interceptado no caminho por pequena multidão que lhe comunicou estar o filho agonizante no colégio.
Levado ao Pronto Socorro próximo, apesar da massagem cardíaca e de outras técnicas de reanimação, o coração de Wadyzinho não pulsou mais. Eram 15 horas do dia 6 de julho de 1973. Com 17 anos Wady não pôde realizar a campanha de inverno que com tanto carinho programara para o dia seguinte. Seu sepultamento no Cemitério do Brás, apoteose autêntica de respeito e consideração, com centenas de pessoas rendendo-lhe as homenagens últimas, abriu para os familiares às páginas de um livro em branco onde a dor, a saudade e mais tarde o reencontro escreveriam palavras de imortal beleza.
Natural de São Paulo - Capital, nasceu a 16 de fevereiro de 1956. Fez o curso primário e ginasial no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, na Água Rasa, e ali freqüentava também o 1.° ano do curso colegial, quando a morte o colheu dentro do próprio colégio.
Encontro da família Abraão com Francisco Cândido Xavier
A vida naquela casa da Avenida Álvaro Ramos, 2.419 Água Rasa, era para todos uma tristeza continuada. O tempo como que parara e às libélulas de outrora sucediam lagartas que contemplavam aflitas o relógio estático*.
Veja-se a propósito a crônica "As Horas", do livro "Lagartas e Libélulas" de Humberto de Campos – 4ª Edição – 1939 Livraria José Olímpio Editora.
O Senhor Abrahão abandonara praticamente as atividades na indústria e desconsolado fazia pouso constante no túmulo do filho, no Cemitério da 4.a Parada. Durante o dia, ia com a esposa, que o aguardava do lado de fora do jazigo, enquanto que ele, sorrateiramente tirava a pedra tumular e se deitava na gaveta imediatamente superior à que abrigava o caixão do filho.
À noite, com muita freqüência, alegando que iria até Sumaré, para supervisionar a fábrica de tecidos ali situada, deixava o lar às 19 horas e buscava o cemitério, onde, ludibriando o vigia, repetia a mesma lúgubre operação: retirava a pedra de cobertura, penetrava no jazigo e se deitava na gaveta vazia contígua à do filho. Assim permanecia madrugada a dentro, fazendo companhia para o filho, pois supunha que seu Wadyzinho tinha medo de dormir sozinho, naquela lápide fria...
Por duas vezes foi surpreendido pelo zelador do Cemitério que ao observar a fumaça saindo do túmulo foi verificar o que ocorria e estupefato viu o Senhor Abrahão recostado dentro do jazigo. A partir dessa noite, o pai do Wadyzinho, por precaução, não mais fumou no cemitério...
De outra feita, sendo novamente surpreendido teve de dar satisfações à Rádio-Patrulha chamada para atender a singular ocorrência.
As visitas continuavam, a tristeza pairava sobre o conjunto familiar e a filha Axima se desdobrava em cuidados para devolver aos pais a paz de espírito enterrada com o filho.
Amigos da família sugeriram a Axima que levasse os pais até Chico Xavier, o que, de princípio, Axima considerou difícil por serem os pais católicos, sem qualquer conhecimento de Espiritismo. Ocasionalmente, dois meses após a morte de Wadyzinho, Francisco Cândido Xavier visitou o Centro Espírita Perseverança, próximo à Água Rasa e dirigido pela Sra. Guiomar de Oliveira Albanese. Axima convidou o pai para conhecer o Chico, naquela oportunidade.
Os cumprimentos foram rápidos e superficiais, devido à multidão que se aglomerava na Casa.
Sensibilizado pela bondade de Francisco Cândido Xavier a irradiar-se de suas palavras atenciosas para com todos que o procuravam, o Senhor Wady se animou a ir até Uberaba e conversar com o médium, fazendo-o em novembro de 1973 - 6 meses após a desencarnação do filho. Impôs como condição aos familiares que ninguém se abrisse com o Chico, para que uma eventual revelação fosse realmente verdadeira.
Reunião de sexta-feira prestes a terminar, com o Chico Xavier atendendo a um grupo de pessoas que dele se despediam, participando dessa fila a família Abrahão que não tivera ainda a oportunidade de cumprimentá-lo. Súbito, Chico começa a falar em voz alta: - Axima, Axima, Axima!!!
Axima e os familiares se aproximaram do Chico, adiantando-se na fila e D. Jandira disse-Ihe:
- Sr. Francisco, Axima é minha filha. Viemos aqui porque perdi meu filho, ao que o Chico retrucou:
- Não, a senhora não perdeu o filho. Seu filho é um apóstolo de Jesus. Não disse mais nada, além de convidá-los para a reunião mediúnica da manhã seguinte.
E, na manhã seguinte, 24 de novembro de 1973, a família se completava com a volta do filho querido que escreveu pelas mãos de Francisco Cândido Xavier longa mensagem de reencontro, seis meses após sua morte.
Como já dissemos, o livro de páginas brancas que se abriu com o falecimento do jovem seria agora preenchido com as suas candentes palavras, voltando para o passado as páginas umedecidas pelas lágrimas da saudade.
1º Mensagem
24 novembro 1973
Meu pai, querida mãezinha. Não chorem mais, não morri como pensam.
O que sinto é a névoa das lágrimas com que me acompanham. Lembremo-nos. É muita atividade a desenvolver: - os outros, papai, pensemos nos outros. Procure com mamãe, auxiliar aos outros rapazes.
Não chorem mais, imploro. Ainda não pude acomodar-me com o trabalho aqui. Melhoro em Espírito, quanto ao ânimo de que preciso para seguir adiante, mas ouço as vozes de meus pais queridos chamando-me em pranto...
Não queiram morrer para ver-me, encontrar-me. Esperar os desígnios de Deus, entregarmo-nos a Deus.
Tudo o que eu tinha era o amor de meus pais e de nossa querida Axima (1), com a fé viva que recebi em casa e não posso admitir que as nossas preces de antigamente sejam hoje lágrimas de inconformação. Estou contente, observando o amor com que procuram Jesus no Templo da Perseverança em Cristo (2), com a nossa irmã Guiomar (3). Também compareço às reuniões, também escuto as preleções e vou aprendendo novos ensinamentos.
Desde a manhã daquela sexta-feira, 6 de julho passado, estou sentindo uma grande transformação. Antes de o coração parar em meus entendimentos com os amigos, já me via como que deslocado do mundo...(4)
Não julguem que vim para cá antes da hora, que poderiam ter evitado o que sucedeu. Meus dias no corpo terrestre não podiam ser mais extensos. Agradeçamos a Deus. Tudo terminou tão bem - tão bem como começou, porque Deus me concede os melhores pais que eu não mereci e que poderia receber.
Meu pai, aqui está comigo o vovó Abrahão (5). Ele e eu pedimos para não Chorarem mais. Preciso melhorar, papai, seguir a vontade de Deus para mim.
Mãezinha, não pense em Natal triste. (6)
Vamos auxiliar as criancinhas o construir um Natal melhor que os anteriores.
Prometo fazer o que puder para ser útil.
Agradeçam por mim o carinho dos amigos no Colégio (7) e nas reuniões (8).
Estou bem.
Beija-lhes as mãos e reúne os dois com a irmãzinha querida em meu coração, o filho reconhecido.
Wady
Comentários
Mensagem-Reapresentação.
É o filho que volta para o abraço saudoso através da psicografia.
Como em todas as outras mensagens deste livro o médium nada sabia a respeito dos nomes e informações citados. Frizamos este aspectos da recepção da mensagem para que o leitor tenha idéia do valor da mensagem para que o leitor tenha idéias do valor da revelação espiritual contida nas páginas psicografadas aos jovens por Francisco Candido Xavier.
Como compreender a imensa relação de citações, revelações e esclarecimentos de problemas aos quais somente tinham acesso aos jovens desencarnados e seus respectivos familiares?
Como na véspera da recepção da mensagem, conforme vimos anteriormente, o Chico pôde pronunciar com insistência o nome Axima, nome próprio aliás pouco conhecido em nosso País?
Para situar o leitor amigo na página ora analisada vamos esclarecer algumas citações
1 - Axima - irmã do Wadyzinho, Axima Abrahão de Oliveira.
2 - Templo da Perseverança em Cristo refere-se o jovem ao Centro Espírita Perseverança, próximo da residência da família Abrahão, na capital paulista. Guiomar
3 - Guiomar de Oliveira Albanese, dirigente do centro acima referido.
4 - Antes do coração parar em meus entendimentos com os amigos, já me via como que deslocado do mundo..." - Estas palavras do Wady corroboram as informações dadas em seus TRAÇOS BIOGRÁFICOS, quando falamos de seu sonho e de sua afirmação aos amigos e familiares que iria partir. Vale mencionar outra passagem impressionante ocorrida na véspera de sua morte, no dia do aniversário da mãe, D. Jandira.
Diz-nos D. Jandira que comprou para o filho uma japona para que ele a usasse no domingo, quando de uma reunião programada com os jovens da querida comunidade. Ao experimentá-la, no dia 5 de julho quinta-feira, véspera de sua morte - a mãe observou estar a japona muito grande para ele e pediu que a tirasse, pois até domingo ela providenciaria a troca por outra menor. Solene, o filho respondeu que não havia razão para tirá-la, pois não sabia se até o domingo estaria vivo. E morreu na sexta-feira...
5 - Vovô Abrahão - Jorge Abrahão pai do Senhor Wady Abrahão. Desencarnou a 10 de agosto de 1945, em Sumaré-SP.
6 - "Não pense em Natal triste. Vamos auxiliar as criancinhas." - Era hábito do Wadyzinho promover campanhas de Natal para Instituições Beneficentes da região, daí o pedido ao pai para que não se esquecesse das criancinhas.
7 - Colégio Lourdes, estudou. Reuniões amigos da de que já gráfico do Wadyzinho.
- Colégio Nossa Senhora de na Água Rasa, onde sempre
- Refere-se - Refere-se às reuniões dos amigos da Comunidade Unida a Cristo comentamos no escorço biográfico do Wadyzinho.
2º Mensagem
16 fevereiro de 1974
Querida Mãezinha,
Meu querido pai,
Querida Axima,
Querido Wilson (1).
Nossa festa de aniversário (2) - a melhor de todas - realmente é aquela em que a oração se faz a nossa luz de alegria.
Vocês lembram o bolo simbólico. As velas acesas. Os doces. As saudações. Os presentes. Os sorrisos. E as bênçãos que Deus nos concede no mundo. Também estou nestas recordações. Entretanto, se posso, convido a todos para o aniversário do novo nascimento. 16 de fevereiro trocado por 6 de julho. Terra e Espiritualidade. Existência e Vida Maior. Ansiedade e realização. Estejamos, assim, alegres e felizes.
Agradeço-lhes o amor com que fizeram a romaria de ternura no dia de hoje. Estas flores de esperança e fé, alegria e paz que me trazem nunca fenecem. Recebo-as no coração em forma de perfume e felicidade.
A melhor notícia de que posso ser portador é a de que estou trabalhando. Minhas idéias se ampliaram. Tenho a certeza de que, com o amparo de Jesus, posso enxergar um tanto mais longe. Depois de haver dormido naquela fria sexta feira em que amanheci preparando lições (3), despertei na luz de conhecimentos mais dilatados - aqueles que hoje vamos entesourando. Mas quem diz meus amados, que o coração se desvincula do amor, quando o amor vem de Deus ?
Reconheci com meus pais e meus irmãos os assuntos novos por estudar, alusivos à morte e aos problemas de que se acompanha semelhante libertação; entretanto, o meu querido Colégio estava, quanto está como sempre, retratado em minha alma. As Irmãs veneráveis, os professores, os meus colegas, a nossa carinhosa Comunidade Unida a Cristo!... Ah! com que lágrimas de alegria, pude voltar a eles! E com eles encontrei outros amigos em minha condição, a servirem também!...
Senti-me tão pequeno, ante uma obra tão grande! A família de Jesus a buscar-nos!...
Os últimos do caminho carregando pesadas necessidades, os irmãos em problemas, os quase-suicidas, as vítimas das drogas descontroladas!...
Ouvi meu nome nas preces e nas lembranças e ajoelhei-me, como noutro tempo, rogando à Nossa Senhora e Nossa Mãe me fizesse digno de retornar à tarefa!...
E vi que as paredes de nosso querido educandário brilhavam de intensa luz!...
E novamente integrado com alguns corações de nossa família, em nosso plano, trabalho com saudade mas com bom ânimo, pequeno mas feliz!...
Louvo a Deus por havermos encontrado o Templo Espírita-Cristão da Perseverança em Jesus e louvo igualmente pela bênção do recomeço no meu Colégio...
Trabalhar e estudar, progredir e auxiliar para melhor servir sempre!...
Agradeçam por mim às Irmãs queridas e benfeitoras (4), digam ao passo querido Cláudio (5), o meu querido amigão e aos outros companheiros que é preciso continuar...
Falem que Deus é misericórdia para todos, que o amor salva sempre, que o serviço é a chave da elevação, que a humildade é a luz do caminho!
Pai querido, meu querido, papai, agradeço a sua transformação, querida mãezinha, não chore mais, Axima e Wilson, muito obrigado!
Aqui comigo meu avô Abrahão e minhas queridas tias Axima e Sara (6) se rejubilam também. A família não se acaba no túmulo. Tanto amor no lar não se destinaria às cinzas da terra! Ressurgimos! Ressurgimos! Não será este com Jesus o novo cântico de Aleluia?
Agradeço o Natal que me deram, distribuindo .felicidade com os protegidos de Jesus e de nossa venerada Maria Albertina (7) ! Agradeço a nossa irmã Guiomar por nos haver incentivado a todos a persistir no trabalho que foi começado! Santas Irmãs, todas essas, as que sustentam os colégios em que nos instruímos para a Terra e essas outras, quais a nossa irmã Guiomar, que nos ajudam para a vida diversa em que hoje respiro renovação!
Não choremos mais! Estamos felizes porque cremos, estamos tranqüilos porque o Senhor nos permite trabalhar para o bem.
Mãezinha, beijo as suas mãos. Ofereço ao seu carinho na data de hoje os anéis dos cabelos que as suas mãos educaram penteando em oração (8).
Obrigado, queridos meus!
Axima, querida irmã, peço a Deus para que você seja uma abençoada Mãe! Nossa Mãe Celeste guardará você em sua formosa missão. Faça nosso querido Wilson feliz. Não pense que me perdeu. Sou mais seu irmão, estamos mais juntos!
Agradeço por tudo, agradeço a Jesus e agradeço a todos.
Papai, não pense em morte, pense na vida e no bem que com a vida na Terra todos nós podemos fazer. Ajude os Amigos, papai, e ajude a todos! Do abençoado dinheiro que a sua bondade me punha nas mãos, sempre destaquei a parte para sustento de nossa querida Comunidade Unida a Cristo. Agradeço o que faz e o que fará por meus companheiros queridos. Não nos faltarão recursos para fazer o bem. Continue trabalhando, papai. Produza sempre. Trabalho em nossas mãos e dar trabalho aos outros é caridade sublime. Procuremos servir.
Queria tanto falar mais, escrever mais; entretanto, não posso, tenho tarefas ainda hoje com os amigos a me esperarem no 2.419 (9). Fiquem felizes, alegres.
Wilson, meu lugar hoje é seu. Prossiga dando a meus pais o amor de filho que você sempre Lhes deu. Oro por você, meu amigo e meu irmão! Abençoe a sua estrada de homem de bem, e sigamos com Jesus para a frente.
Escrevo ainda com os sentimentos que eu trouxe. Depois progredirei para falar melhor.
Meu pai querido, querida mãezinha, querida Axima e querido Wilson, vou terminar - mas terminar só no papel - porque prosseguiremos trocando idéias pelos fios do pensamento e do coração.
Deixo a todos o carinho e a saudade, o reconhecimento e a esperança, com todo amor do
Wady
Comentários
Esta mensagem impressionou-nos vivamente pela numerosa série de citações tão detalhadas que surpreenderam os familiares do Wadyzinho.
Vamos dispor estas citações em ordem de aparecimento na mensagem, facilitando, assim, a compreensão do leitor.
Muitos nomes já nos são familiares, como Axima, Colégio, Comunidade Unida a Cristo, Templo Espírita-Cristão da Perseverança de que já fizemos menção nas páginas anteriores.
Merecem, assim, destaque
1 - Wilson - Wilson Benedito de Oliveira, cunhado do Wadyzinho.
2 - “Nossa festa de aniversário” - 16 de fevereiro – data da recepção desta mensagem - é aniversário de nascimento do Wady.
3 - "Naquela fria sexta-feira em que amanheci preparando lições" Já nos reportamos às elucubrações do jovem que esperava os pais adormecerem para ligar seu quebra-luz e preparar suas palestras, sempre com o tema central girando em torno do Cristo.
4 - "Irmãs queridas e benfeitoras" - Dirigentes do colégio onde estudou o Wady.
5 - Cláudio Marcelino da Silva, realmente chamado pelo Wady, como vemos na mensagem, por amigão!!!
6 - Tias Axima e Sara - irmãs já desencarnadas do Senhor Wady Abrahão. Muito distantes na tela da memória do Senhor Abrahão, pois Axima Abrahão faleceu há 35 anos e Sara Abrahão morreu com apenas três meses de idade, sem que o pai do Wady a tivesse conhecido, pois era a filha mais velha da família...
Maria Albertina - Nome da Instituição para a qual o Wadyzinho programara uma festa de Natal naquele ano. O nome Maria Albertina é homenagem a jovem desencarnada, cujos pais muito favoreceram a entidade. Como nos fala Wady, Maria Albertina é, na Espiritualidade, protetora do referido lar.
Ocorre que os familiares do Wady não sabiam ser este o nome do lar de crianças que conheciam simplesmente como orfanato. Curiosos com o nome Maria Albertina que não conseguiam identificar, chegando a São Paulo, após a recepção desta mensagem, é que descobriram o seu significado.
8 - "Ofereço ao seu carinho na data de hoje os anéis dos cabelos que as suas mãos educaram penteando em oração" - Lembra nestas palavras o jovem desencarnado de um pormenor por demais conhecido do grupo familiar: D. Jandira sempre dizia ao filho que quando pequeno ela gostava muito de pentear os anéis de seus cabelos encaracolados.
9 - 2.419 - é o número da residência da família - Avenida Álvaro Ramos, 2.419!!!
3º Mensagem
06 julho de 1974
Queridos papai e mamãe, queridos irmãos Axima e Wilson.
De pensamento em preces gratidão a Jesus estou aqui.
Aniversário de queda comemorado em levantamento. Graças a Deus, não há motivo para lamentação.. Estou mais vivo do que naquele outro 6 de julho que já passou. E começo esta carta lembrando, acima deste aniversário, aquele outro de paz e amor - o aniversário da querida mãezinha que foi ontem e que será sempre. Querida mamãe, seu carinho perguntou naquela nossa primeira noite de renovação por que tanta alegria na véspera e tanta tristeza depois. Agora, é preciso sorrirmos todos e concluir que não havia razão para a dor.
Nossas flores de ternura e gratidão ao seu devotamento estão mais vivas. Quantos cravos e quantas rosas pude trazer ontem e hoje...
São tantos, querida Mãozinha, que eu mesmo não sei contar. São colhidos no jardim de Cristo e foram adubados com amor e orvalhados de lágrimas. Aquelas boas lágrimas de saudade que nos iluminam, porque nos aproximam de Deus. Venho pedir a todos os meus a continuação do auxílio em apoio de conformação e de paz. Nesse sentido, meu querido papai, não só em meu nome, mas em nome do vovô Abrahão rogo a sua serenidade e paciência.
Papai, auxilie o seu Wadyzinho. Afinal, o seu coração é meu apoio de sempre. Como seguir adiante sem cobertura espiritual? Quando a saudade aumentar, procure o meu resto na face dos rapazes cansados e quase sozinhos em luta pela construção do futuro melhor. Vá, papai, ao Colégio, ao grupo de nossos amigos, à casa de nossas crianças de Jesus e da nossa benfeitora Irmã Albertina, mas não somente passeie. Detenha-se, papai, ao ouvir os rapazinhos que precisam de um amigo e de um benfeitor paternal.
Agradeço as suas preces e as suas visitas ao cemitério. Afinal, temos ali um recinto de silêncio e meditação, mas não se demore tanto, meu paizinho, naquelas pedras respeitáveis mas frias. As vezes é preciso que Amigos Espirituais me procurem para buscá-lo. Ouço as suas palavras e perguntas, pedidos e reclamações. Mas providencio logo aquele abraço e aquele beijo para fazê-lo voltar à casa.
Não pode imaginar quanto dói em seu filho àquelas horas terríveis em que ficamos lutando mentalmente um com o outro. O senhor a sofrer e atormentar-se e eu a tentar consolá-lo sem conseguir. Lembre-se, papai. Seu filho amou a imortalidade e a fé no Cristo enquanto aí esteve. Levantei-me da morte com a ânsia de trabalhar com Cristo e pelo Cristo no exemplo que o senhor e mamãe sempre me deram. Ajude-me agora a destruir o coreto da morte e não apenas a balançá-lo.
Tantos caretas na terra a pregar negação e nós a confirmarmos o que eles dizem? Não se alarme se digo caretas. Não quero ofender a ninguém. No Colégio prometemo-nos uns aos outros, especialmente o amigão e eu, a usar o mesmo idioma dos nossos dias para melhorar a comunicação. E o serviço não é de crás-crás-crás. Tantos companheiros esbanjões de cultura fugindo à Verdade e tanta gente a morrer de fome espiritual!...
Sei que tanto caretas e caras, amizades e ligações, somos todos irmãos em Deus. Quem não crê em Cristo vai crer. Já sei. Não posso me iludir, quanto a isto. Entretanto, a nossa corrente aqui prossegue firme. Temos de trabalhar em renovação Somos muitos. Muitos irmãos unidos, qual acontecia com o Cláudio e seu filho, para levarmos adiante a nossa campanha.
As trevas são quadrilhas de irmãos que fogem de Cristo. Não temos laços para tolher-lhes os movimentos, porque Deus nos fez livres. Mas temos a luz do conhecimento para distribuir.
Não fique parado nas pedras, não, papai querido.
Liguemos pensamento e coração no melhor a fazer. Procuremos sair de nós mesmos. Nosso caro Wilson está entrando agora em mediunidade. Está ajudando e sendo ajudado. Mostra-se espiritualmente e vê em espírito caminhos novos. Papai querido, comunique-se também no grupo dos médiuns, com a experiência de nossa irmã Guiomar na frente dos assuntos.
Agradeço a alegria que me deu. Barbeou-se para o nosso encontro através do lápis e da oração. Seu rosto demonstra o seu revigoramento da alma. Continuemos aniversário sempre. Esqueçamos a morte para fixar-nos na vida. É preciso embarcar no rio da vida. Acontecer, papai, é participar. Viver é conviver. Tenha paciência e creia. Quanto mais conformação, mais ligação. Quanto mais entendimento, mais alegria. Ajude mamãe e Axima, Wilson e os nossos com a sua serenidade. Amamos tanto a você, papai querido, que é impossível ficarmos felizes sem a sua felicidade.
Axima está esperando gente nova. Sou tão pequeno ainda aqui que não posso e nem devo entrar neste assunto, mas precisamos ajudar a irmãzinha a ficar tranqüila. Peço a Deus para que a nossa festa de paz e amor em casa seja completa. Axima, não tema. Estamos com Jesus e Jesus não nos abandona. Descanse com algum exercício nos movimentos regulares. E com a oração e com tratamento dos passes, a assistência médica funcionará com segurança.
Mãezinha e papai, estejamos alegres e tranqüilos. Vejam Axima e Wilson conosco. Dois gigantes de carinho que nos trazem nos braços. Mãezinha, desculpe o papai, quando o papai se mostre aflito e agoniado. É saudade, mamãe, e saudade é doença, enquanto não a entregamos total no Amor Infinito de Deus. Eu também chorei, mas agora é esperança que cultivo em tudo.
Lembranças ao grupo do Colégio e muito amor à nossa Mocidade na luz do Perseverança.
Agradeço o fato de terem analisado o que eu disse. Também ainda estudo e vivo procurando conhecimento e progresso.
Mais uma vez muito carinho e gratidão pela festa de aniversário. Recebi tudo o que vocês leram com minhas pobres mãos. Quereria escrever mais, entretanto, é necessário respeitar as limitações.
Papai querido e querida mamãe, queridos irmãos Axima e Wilson, com as bênçãos de vovô Abrahão e da tia Sara que vieram comigo, peço receberem o coração - todo o coração daquele que sendo filho e irmão - está sempre em casa, tanto quanto possível, rogando ao Cristo nos proteja e nos abençoe.
Wadyzinho
Comentários
Voltado à preocupação de restituir o equilíbrio e a paz ao lar querido, aqui ainda vemos as palavras do Wadyzinho dirigidas ao consenso familiar. Nomes já nos são conhecidos, não havendo necessidade de maior identificação das personalidades envolvidas neste diálogo mediúnico.
Surpreendendo a gravidez incipiente da irmã e o desenvolvimento da mediunidade do cunhado, Wady é sempre o mesmo: carinhoso e solícito.
Quando da explicação sobre o encadeamento dos fatos que levaram a família até o Chico, comentamos as visitas do Senhor Abrahão à lápide do filho, com as noites intermináveis de excogitações à margem do caixão do filho querido. Mesmo após a primeira visita a Uberaba e conseqüente reencontro com o espírito do filho, o pai continuou em suas lúgubres permanências no cemitério. Nesta 3.a mensagem Wadyzinho vem pedir-lhe do Plano Espiritual para que assim não proceda mais, pois em inúmeras vezes ele, em espírito, ia despertar o pai, no próprio túmulo, pedindo que voltasse para casa... ("Às vezes é preciso que amigos espirituais me procurem para buscá-lo").
Sabendo, pelas numerosas informações dos espíritos, sobre as dificuldades que envolvem o retorno dos recém-mortos à Terra, sobretudo, ao contato de seus corpos cadaverizados, podemos entender a grandeza espiritual deste jovem que em sua existência fugaz apenas teve tempo para pregar entre nós a mensagem consoladora do Cristo.
Após o pedido explícito do filho, o Senhor Abrahão não voltou mais ao Cemitério da 4.ª Parada, senão para as visitas rotineiras da família.
Esta página foi psicografada no primeiro aniversário da desencarnação do Wadyzinho, um dia depois do aniversário de sua mãe, D. Jandira, daí no início da mensagem o lúcido espírito do jovem haver dito à mãe: "Querida mamãe, seu carinho perguntou naquela nossa primeira noite de renovação por que tanta alegria na véspera e tanta tristeza depois".
Aliás, podemos observar que nas duas primeiras mensagens o autor assina Wady e nesta Wadyzinho, atendendo a pedido de sua mãe, formulado em prece, sem que ninguém o soubesse.
D. Jandira sempre chamou o filho por Wadyzinho.
4º Mensagem
12 outubro de 1974
Queridos papai e mamãe, queridos Wilson e Axima, Deus nos conceda a sua bênção.
Apenas um bilhete. Umas palavras do coração. Ou será longa carta? Prossigamos na caminhada. Construindo. Fazendo o melhor ao nosso alcance. Não há empecilhos para as boas obras, quando elegemos as boas obras como sendo o nosso clima de lições.
Aqui, não paramos. O tempo está repleto. Atividade plena. Tarefas e deveres a cumprir em auxílio aos outros são alimentos para cada um de nós. "Meu alimento é fazer a vontade do Pai" - disse-nos Jesus. Depois de descer do carro do corpo, nas estradas da Vida Espiritual é que entendemos isso.
Desde o abençoado dia em que vocês perceberam que eu continuava existindo, tenho mais segurança. Estou grato a todos, conquanto ainda preocupado por meu pai querido, cujas tristezas repentinas ainda me alcançam. Sei que alguns centímetros de conformação para ele são muito mais difíceis que muitos quilômetros de serenidade para nós. A morte colheu papai com muito mais força do que a mim que sou o morto desta história de nosso intercâmbio entre dois mundos.
Papai, mais um passo à frente. Adiante, Axima e Wilson já estão na condição de enfermeiros do espírito, doando energias nos passes de socorro aos necessitados e doentes, como quem cede o próprio sangue para as transfusões nos hospitais. Troque a dor por esperança. E todo o tempo que tivermos a nosso favor, façamos dele a moeda do amor com que se compra a felicidade. A felicidade, papai, é dar felicidade aos outros. Sei que o senhor e mamãe fazem tudo por nós, no entanto peço-lhes mais. Ajude-me, ficando robustecido na fé.
Entendemos a importância de suas doações em socorro dos nossos irmãos do caminho. O dinheiro da beneficência circula no câmbio da paz espiritual. Muito mérito, papai, o seu mérito, mas de também a sua presença e palavra.
Coloque uma criança enferma nos seus braços como fazia com seu filho. Imagine-me naqueles que visitar, levando a sua palavra de reconforto e sigamos, papai, movendo as nossas mãos para auxiliar outras mãos. Mamãe, continuemos. O trabalho com Jesus é o que vemos, não só o que sentimos. O serviço do amor nos reformará todas as forças e seremos mais felizes. As oportunidades do Cristo são portas abertas. E abertas constantemente.
Axima e Wilson, não se entristeçam se a vinda do filhinho foi adiada. Foi melhor assim: Rogo à querida irmã para que não deixe a saudade doer tanto no coração.
Estou vivo, sempre mais vivo e, graças a Deus, trabalhando mais. Estamos na condição de trabalhadores de Jesus, nos dois lados da existência na Terra. Os homens cavam daí para cá e nós, os espíritos desencarnados que procuramos o apoio e a inspiração do Cristo, cavamos daqui no rumo de vocês. O túnel luminoso está sendo construído. Um dia, a verdade da vida imperecível será a luz de nosso encontro sem despedida, porque, onde estivermos para cá da morte ou para além do berço terrestre, tudo será vitória do amor para sempre.
Tenho o cérebro repleto de idéias e felizmente não tenho os braços desocupados. Agradeço a irmã Guiomar e aos Benfeitores da nossa casa de fraternidade e bênçãos o ensejo de trabalhar mais que nos foi concedido.
Mãezinha, receba as flores de mear afeto; papai, guarde a confiança em seu filho; Wilson, conte sempre com o meu abraço de irmão; querida Axima, deponho em sua fronte o meu beijo fraterno, agradecendo as suas preces em meu favor.
Continuem ligados na prece. A oração é a chama que não se apaga ante as ventanias do mundo, porque brilha na alma, nas entranhas de nosso próprio ser. E trabalhemos que o serviço é o melhor lugar para receber, sem qualquer extravio, as respostas e as concessões de Jesus.
Queridos meus, papai e mamãe, Axima e Wilson, amigos todos de quem sou devedor, a todos o meu agradecimento.
E recebam, amados meus, o meu tchau em forma de abraço, com todas as alegrias e esperanças do filho reconhecido e do irmão sempre grato,
Wadyzinho
Comentários
Página de transição entre as três anteriores, mais carregadas de apresentações e identificações a caracterizarem a autoria espiritual do jovem, e as três seguintes, onde, sobre os colóquios familiares, se fixam ensinamentos e exposições evangélicas.
Comentando com o Chico, a respeito das mensagens destes quatro valentes jovens, que arrostaram a morte para afirmar-nos que estão mais vivos do que nunca, o nosso querido amigo e orientador disse-nos entender suas mensagens como uma especialização de tarefas.
No Augusto a tônica e a família, abençoando recanto do Céu na Terra.
Carlos Alberto é a consolação, aproximando dois mundos separados, aliás, pelas nossas cristalizações no campo do materialismo.
Jair Presente é a revelação. É o próprio jovem que volta aos jovens da Terra com a farta identificação de sua presença e com a comunicação específica do linguajar giriesco e objetivo.
Wady é a doutrina. Seus conceitos, suas ponderações à luz do Evangelho de Jesus são a pregação autêntica do jovem voltado às questões do Espírito.
5º Mensagem
16 novembro 1974
É isso. Estudando os problemas do sexo nos encontramos. Cremos que unicamente os enfermos são excluídos. O quadro envolve a todos. Nós todos.
Achamo-nos aqui e com todo amor saúdo a meus queridos pais, e aos irmãos. Se pudesse, enfileirava os nomes numa lista em que a limitação desaparecesse. Entretanto, é preciso espalhar o coração e prestigiar o tempo.
Papai e mamãe, pedimos a Deus pela paz de nossa casa. Paz que nasça do coração. Essa paz com Jesus é semelhante à fonte. A corrente surge limpa e harmoniosa, mas depois aparecem as dificuldades; a visitação dos insetos e o assalto de animais grandes; a intromissão da terra e as mil surpresas desagradáveis que alteram o curso da água. Contudo, é possível a filtragem do líquido e mantê-lo com a pureza das horas iniciais. A filtragem no caso da tranqüilidade mais nossa há de ser feita no espírito de sacrifício, uns pelos outros. Renúncia que se defina em atos mesmo diminutos, em que a alegria dos que nos cercam se garanta através da nossa disposição de nos aplicarmos a Cristo, Nosso Senhor.
Pai, meu querido papai, ajude-nos com a sua calma e paciência. Sabemos: do coração paterno surge a segurança do lar. Paternidade é proteção e bênção. Não se aflija, querido papai. Felizmente, vamos superando os problemas. Tudo vai sendo facilitado, compreendido, vivido e aproveitado com a bênção de Jesus, entre nós. Agora, papai, rogo-lhe, como sempre, o apoio de seu carinho para que o seu carinho seja paz de nós todos.
Mãezinha precisa de sua proteção especial nesse sentido e os nossos queridos Wilson e Axima necessitam desse amparo de modo que a nossa paz se processe na base do trabalho que necessitamos desenvolver. E o trabalho, querido papai, é isso ai: luta abençoada em todos os dias pela vitória do bem. Do bem de todos que em seguida se transforma em nosso próprio bem.
Aqui, somos muitos. Vários companheiros anseiam falar. É como se tivesse um telefone nas mãos, expressando-me por muitos usuários dele que ainda não conseguem manejá-lo. Isso, porém, acontece, não porque eu seja melhor e sim porque o amor nos obriga à ginástica em que me vejo desde quando escrevi pela primeira vez, pela mediunidade. Alivio saudades e cumpro ordens.
O tema da manhã é sexo e amor. E nessa dupla se agiganta hoje no mundo uma guerra que congrega conflitos terríveis. Peçamos a Deus nos auxilie a vencer as sombras que obscurecem os problemas em nós e conosco. Tudo quanto pudermos fazer para que o sexo não nos atormente é obrigação. E o amor nos solicita provas de entendimento e abnegação todos os dias.
Realmente, o casamento, a nosso ver, não é apenas a união de duas pessoas, atendendo aos mais nobres fins na experiência Terrestre. Matrimônio é também a conjugação de nossas energias com as luzes das causas nobres que abraçamos. Em suma, estamos todos casados com a Obra de Cristo. Fidelidade e trabalho constituem as margens da estrada em que nos cabe seguir à frente. Enlacemo-nos todos na condição de irmãos em família, nascidos dessa bendita união entre Jesus e aqueles outros amigos que o aceitaram em suas próprias vidas, tutelando-nos por filhos das tarefas abençoadas de que se encarregaram.
Quanto ao estudo do sexo, propriamente considerado, tenhamos bastante força para homenagear o amor na sua mais bela expressão, sublimando as forças que talvez estejamos inclinados: a utilizar, fora dos compromissos naturais, convertendo essas ,forças em bênçãos de serviço aos semelhantes.
Nos exercícios de resistência espiritual, à frente do assunto, quando mais jovens aí no mundo recorremos especialmente aos esportes é o remo, o salto, a bola, a competição digna que, de certo modo, nos exaure as energias, que provavelmente, sem isso, seriam canalizadas para recursos menos felizes. Entretanto, em nosso caso de Evangelho e experiência humana, respeitando o sexo, em sua elevada expressão de vida e estímulo ao trabalho, luz espiritual e entendimento, ser-nos-á possível empregar o excesso de vitalidade que, porventura, nos sobre no esporte da beneficência e da educação.
Nas canchas da Terra, o suor das partidas amistosas e construtivas e nos campos da alma, os testemunhos de sacrifício e caridade, de compreensão e serviço ao próximo representam caminhos de sublimação que nos compete trilhar, em nossa próprio favor.
Aqueles que receberam as tarefas da união no lar, estão igualmente convocados a muito trabalho e dedicação ao bem, como que taxados no imposto natural da abnegação, transformando ainda as bênçãos do sexo em amor aplicado pela melhoria e amparo, em benefício dos outros.
Os que não se casam encontram lutas beneméritas no burilamento próprio e aqueles que se casam surpreendem igualmente dificuldades enormes por superar. E por tudo o que vemos e sabemos que a permanência na Terra é sempre escola, em que os obstáculos do mundo se erguem por lições do cotidiano, saibamos viver com Jesus e Jesus se nos revelará mais intensamente em nós e por nós, elevando a vida em que nos vemos.
Mãezinha e querido papai, Axima e Wilson, trabalhemos e sirvamos. O tempo está voando e a Terra é um grande aparelho cósmico que está voando também conosco, a pleno Espaço, transportando-nos no rumo dos Planos Maiores. O serviço do bem é a área em que nos será possível o encontro permanente com a bênção de Deus. O Senhor nos espera nos outros. Esta é a verdade. E esses outros começam em nossas estações domésticas, porque realmente é sempre em casa que nos achamos na melhor e mais complicada carteira de ensino.
A nossa irmã Guiomar e todos os amigos presentes recebam nosso afeto e reconhecimento. Ao companheiro querido, hoje no São Judas, o meu coração reconhecido.
Em nome de todos aqueles, em nome dos quais uso a oportunidade de ,falar e de exprimir-me transmito a mensagem maior: irmãos, a Seara do bem é a nossa escola, de luz na escola da experiência. Valorizemos as horas, construindo o bem de quantos nos compartilham a vida. Assim, venceremos.
Fé em Cristo, mas fé aplicada, no bem e na .felicidade dos que nos cercam. Nessa base, as dificuldades desaparecerão e unicamente o Sol do Amor de Jesus brilhará sobre nós.
E aqui, a estaca da gratidão, ficou em meu caminho, ante a estrada dos amigos queridos.
E aquele abraço de sempre, com a prece a Jesus por nossa paz no serviço cristão em qualquer lugar é a mensagem do afeto e da gratidão do companheiro e filho reconhecido,
Wadyzinho
Comentários
Como dissemos no capítulo anterior, a partir desta mensagem o Wadyzinho deslancha em ponderações doutrinárias, trazendo-nos a palavra segura, fortalecida pela ampliação dos horizontes espirituais, em conseqüência à sua desencarnação. De suas várias palestras aos jovens, quando entre nós, poucas permaneceram gravadas, mas no fim destes comentários reproduziremos uma dessas gravações, para que o leitor observe a essência de suas preocupações -
a pregação do Evangelho do Cristo.
A mensagem que o Chico psicografou na manhã de 16 de novembro de 1974, ano e meio após a morte de Wady, traz dois pontos a considerar mais detidamente: as ponderações sobre o sexo e a menção ao companheiro presente, amigo e colega de estudos.
Quanto ao colega de estudo há curiosa observação a fazer: muitos amigos do Wadyzinho desolados com sua partida deixaram o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, não sabendo os familiares do Wady para que estabelecimento de ensino se transferiram. Um destes rapazes, o Jaime da Silva estava presente em Uberaba, na véspera da recepção desta mensagem. Ficaram surpresos os pais do Wadyzinho, ao dizer o filho:
"Ao companheiro querido, hoje no São Judas, o meu coração reconhecido."
Por que hoje no São Judas? É que junto de outros amigos o Jaime se transferira para o Colégio São Judas Tadeu na Mooca...
As ponderações sobre o sexo se prendem ao fato de ter sido tema lido e comentado na fase preparatória da reunião daquela manhã em Uberaba. Encontramos nos comentários do jovem oportunos conceitos sobre o significado do sexo e do amor em nossas vidas, particularmente no que se refere à condição dos jovens que se debatem nas vigorosas cargas afetivas condensadas no sexo. Assim, valorizando os exercícios físicos, os esportes, na canalização de palpáveis energias do jovem para além da esfera genésica, à semelhança de conceitos expendidos por estudiosos na Terra, como Allers, em sua Pedagogia Sexual, procura também sublimar o sexo condensando-o em atividades nobres do espírito, nos campos da alma, para nesses campos exercitar os testemunhos de sacrifício e caridade, de compreensão e serviço ao próximo.
Lição objetiva a nos mostrar que o sexo deve ser equilibrado, compreendido qual imensa açude, cujas águas represadas não podem romper os diques em destruição maciça, mas derramar-se com disciplina para acionar geradores de sublimes realizações.
Nos estudiosos da Educação sexual na Terra observa-se a mesma preocupação com relação à energia sexual. Não que devamos ver o sexo pelos extremos de interpretação de Neill, com sua incontida ânsia de liberdade. Mas como uma força importante que não pode ser deixada à mercê de sua própria vontade, devendo ser orientada e canalizada em direção correta, a fim de servir ao indivíduo, ao invés de o dominar, conforme pondera o Dr. Isaac Mielnik em sua Higiene Mental do Comportamento Humano.
O Espírito de Emmanuel no livro Vida e Sexo, psicografado por Chico Xavier, traz à luz do Espiritismo considerações esclarecedoras a respeito do sexo responsável, mostrando ser o sexo, com sua carga erótica, inerente a todos nós, mas ensinando-nos que o devemos disciplinar em nossas permutas afetivas, sublimando-o tanto quanto possível, para as grandes conquistas do Espírito.
Transcrevemos, agora, trecho de palestra do Wady, quando encarnado, extraído de uma de suas fitas gravadas em poder dos familiares:
Por que você não tenta reconciliar-se com seu colega? Não tenta viver em Cristo?
Veja o que você já fez de errado. Veja, veja bem! Tente reconsertar, sempre há tempo de você pedir perdão a alguém.
Você tem que pedir perdão a Cristo, porque Ele é a salvação. Entenda isso, Ele é a salvação!
Olhe, se cada um de nós pensasse no Cristo, o que seria do Mundo ? Se todos pensassem assim, não haveria mais discórdias, não haver mais guerras, mais nada, só paz, amor!
Mas o negócio não é você levantar o dedo e sair por aí dizendo: paz e amor, bicho!
Não, não é isso. É você viver a paz e o amor. É você chegar em casa e dar um beijo no seu pai e na sua mãe, pois no lar você começa a viver o amor de Cristo.
Você tem que viver o amor de Cristo, porque Ele é a salvação. Eu vivo, pelo menos tento viver, o amor de Cristo. Não vou dizer que sou perfeito, pois ninguém é perfeito. Só um foi perfeito o Cristo!
Mas vamos tentar fazer a nossa imagem à Sua semelhança, vamos tentar, não nos igualar a Ele, mas Dele nos aproximar. Quando os homens O puseram na cruz, Ele levantou os olhos e pediu para perdoar. Siga isso, perdoe e será perdoado.
Você tem que também ser um cristo, porque cada um de nós tem um cristo dentro de si. Antes de julgar, olhe para dentro de si mesmo e ache o Cristo dentro de você. Depois você saberá ensinar, não ensinar, e sim, viver o Cristo!
6º Mensagem
16 fevereiro de 1975
Querido pai, querida mãezinha, meus queridos irmãos Wilson e Axima, Jesus nos abençoe.
Festa de aniversário (1). Lembranças. Flores. Preces. Agradeço por tudo, diante do nosso dia dezesseis, e peço a Deus os recompense. Agradeço, acima de tudo meu pai, as bênçãos que espalharam os meus queridos, com a nossa seara de amor.
Os amigos presentes desculparão se volto a escrever. Não se trata unicamente de nosso caso festivo em família. Estou no caminho da renovação. Caminho de todos. Estou feliz, apoiado pelos corações que a Divina Providência me concedeu. Melhoro aos poucos, porque vou aceitando a obrigação de trabalhar.
Querido pai, agradeço a bondade com carinho me acolheu a solicitação (2). Sei que ainda sente, muitas vezes, o desejo de ficar ali, noite inteira, naquelas pedras de nossas últimas lembranças, em nos referindo á separação aparente, mas vejo que a sua lembrança assinala o pedido que fiz e as horas de contato com as relíquias do Brás (3) vão ficando mais curtas.
Mãezinha, beijo as suas mãos. Axima e Wilson, meu abraço a vocês.
Não nos acreditemos numa entrevista espiritual, a pedaços de intercâmbio, como se nos víssemos num filme em série. Estamos em escola diferente, na qual somos alterados para melhor, pouco a pouco. Renovação gradativa, com base na saudade convertida em esperança. Continuemos ativos, na dedicação ao nosso novo modo de ser.
Compreendo que as tarefas da Comunidade e do Colégio sofreram modificações (4), mas o serviço permanece.
Aqui, a nossa equipe de ligações vai crescendo. De minha parte, vou fazendo quanto posso. Impossível crer em Jesus e não segui-lo, aceitar as lições do Mestre e ficar inerte. Temos um mundo à frente e Ele à frente desse mundo chamando-nos a servir.
Meu pai, não julgue seu filho entusiasmado em excessos. (5) Tenho a cabeça mergulhada nas idéias que vertem do Alto e o coração que o seu carinho e o carinho de minha mãe plasmaram no meu peito. Não descansaremos, papai.
Mãezinha, seguiremos. Wilson e Axima a luta construtiva nos pede continuar.
Mãezinha, nossa Glorinha (6) no Hospital Modelo é mensagem que lhes pude endereçar. Antes que suas mãos a acariciassem, fora levado ali, a convite de nossos familiares. E o Senhor permitiu que a pequenina, à frente da morte, me observasse e reconhecesse, transmitindo minhas notícias. E a bênção de agir com a bênção de Jesus brilha conosco. É preciso trocar o tempo que é dádiva de Deus por algo que fique nos domínios do Bem.
Venho cooperando em auxílio da tia Jacira (7) da tia Jamile, do tio Manoel (8), do tio Azis (9) e, afinal, os nossos laços do coração não terminam. Hoje, tenho comigo nesta noite o meu avô Abrahão e a tia Clotilde (10) que deixa ao nosso Wilson todo o coração de mãe amorosa e abnegada. E depois de nosso entendimento, peço ao nosso querido Wilson muita serenidade ao tratar com o volante. A máquina não precisa comer chão para chegar ao destino. Wilson, a vida é um tesouro de Deus que nunca se deve arriscar a perder sem motivo justo. As rodas correm por si, desde que o motor as garanta, sem necessidade de acelerar-lhes o movimento.
Evite as competições nas estradas e não atravesse à frente desse ou daquele companheiro de caminho, a não ser quando a frente se descortine, claramente ampla e limpa, convidando ao avanço sem prejuízo. E assim como se prepara o corpo, a fim de que se possa viver no mundo, não use o veículo sem anotar-lhe condição e eficiência. Você sabe que sapatos desnivelados favorecem queda e problema e, de igual modo, pneus em desequilíbrio são riscos graves.
Perdoe, irmão, as palavras que digo. Falo por sua mamãe que é também nossa mãe. Agradeço as lembranças de Sumaré (11), mas não me creiam fora da obrigação de entregar a Cristo qualquer vantagem que nos venha desse ou daquele campo da vida. Por muito fizéssemos ou por muito façamos nas áreas do bem, tudo que se faça é do. Cristo, em nome de Deus.
Temos aqui hoje um amigo que desejava escrever mas não conseguiu recursos emocionais para isso. É um amigo respeitável, que nos solicita transmitir um recado. Meu pai e minha mãe, Wilson e Axima atendam a isso por mim. Trata-se de um grande amigo do bem e da justiça, da cultura e do progresso, que se nos apresenta com o nome de Akl Jorge (12) que deseja exprimir à esposa, nossa irmã senhora Jamile, as suas saudades e agradecimentos.
Ele pede à esposa e às filhas ouço os nomes de Elza e Marlene para que se consolem e promete escrever quando estiver mais refeito. Roga à esposa para que se alimente e procure viver. A tristeza dela e dos familiares queridos lhe impõem difíceis preocupações. Pede o apoio de dois corações que nomeia por Adriana e Gito (13) para sustentarem a senhora Jamile no esforço de viver e sobreviver à separação. Diz ele que a esposa é católica, iluminada por imensa bondade repleta de compreensão e fé. Roga a Jesus fortaleça a esposa querida e insiste em que ela pense nele na condição de vivo e não morto e agradece o amor com que o seu ambiente foi conservado.
Papai e mamãe, Axima e Wilson conversem com a senhora Jamile por nós. Ninguém precisa mudar de pensamento religioso para a conquista da paz. Onde estiver o Cristo está Deus. A senhora Jamile será amparada tanto quanto tem sido amparada sempre. Estimaria ser mais claro e preciso; entretanto, sou tão pobre de expressões para mostrar os nossos sentimentos deste lado da vida!
Querida Axima atenda à saúde e esperemos. Você espera a maternidade como quem aguarda a luz de Deus e ,fico feliz com isso. Cogitemos de criar as melhores condições para recebermos o melhor da Bondade de Deus e a Bondade de Deus nos concederá sempre o melhor.
Envio abraços aos caros companheiros Cláudio, Wellington, Walmir (14) e a todos os nossos que são hoje, tanto quanto ontem, companheiros na construção da vida melhor com o Cristo, sempre nas bênçãos d'Ele, nosso Mestre e Senhor.
As tarefas com a nossa querida irmã Guiomar, no Perseverança, continuam abençoadas pelos nossos Maiores. Trabalhemos no bem dos outros e os outros se farão instrumentos de nosso próprio bem.
Agradeço à nossa irmã Guiomar e a todos os corações queridos da nossa casa de fraternidade e de paz, tudo de bom e belo que realizam por nós.
Querido papai e querida mamãe abençoem-me. Axima e Wilson recebam o meu abraço de gratidão.
E apoiando-me no trabalho e na fé viva em nosso querido lar, peço a Deus pela felicidade de todos e rogo aos meus queridos Papai e Mãezinha, Wilson e Axima, receberem todo o coração do filho e irmão sempre reconhecido,
Wadyzinho
Comentários
Supúnhamos não mais haver revelações a fazer, da parte do Wady, e eis que a psicografia abençoada do Chico nos traz informações desconcertantes.
Debruçado sobre os pais, pela pena do Chico, Wady lhes capta anseios íntimos e serve também de intérprete para a palavra de irmãos desencarnados que ainda não podem comunicar-se.
O episódio envolvendo a mãe de Wady e a pequena Glorinha no Hospital Modelo de São Paulo - acompanhado e vivido também pelo Wady no Plano Espiritual, o "puxão de orelhas" que Tia Clotilde mandou o Wady dar no cunhado Wilson e o recado do Senhor Akl Jorge Chakur à esposa presente à reunião, são alguns dos pontos de objetiva identificação que encontramos nesta mensagem.
Pela acentuada riqueza de dados a mencionar, vamos proceder ao recurso da seqüência cronológica para do início ao fim da comunicação psicografia situarmos os leitores nos fatos e detalhes mencionados:
1 - Festa de aniversário - 16 de fevereiro - aniversário de nascimento do Wady. Os pais estavam em Uberaba, à semelhança do que fizeram no ano anterior.
2 - Aqui o Wadyzinho agradece ao pai o ter concordado em não mais pernoitar no cemitério, junto de seu túmulo (ver capítulos anteriores).
3 - Relíquias do Brás - Refere-se ao cemitério do Brás, onde foi sepultado. Mais conhecido como Cemitério da 4.ª Parada.
4 - "modificações" - praticamente as tarefas da Comunidade foram esquecidas pelos jovens, desconcertados com a perda do amigo.
5 - "Não julgue seu filho entusiasmado em excesso" Alusão do Wadyzinho às constantes ponderações do pai, antes de sua morte, no sentido de que estava prejudicando a saúde com o excessivo entusiasmo nas campanhas beneficentes e nas programações da Comunidade Unida a Cristo. Wady tinha preocupação insistente em mostrar aos jovens o caminho da virtude e da retidão, através de Jesus. Buscava esclarecer sobretudo os jovens voltados ao vício e à ociosidade.
6 - Nossa Glorinha - Ao visitar a irmã, internada na Terapia Intensiva do Hospital Modelo, em São Paulo, a mãe de Wady, D. Jandira, travou amizade com uma criança, a Glorinha, ali internada, cumulando-a de mimos. Logo no início desta amizade, D. Jandira mostrou a fotografia do filho morto, dizendo a Glorinha este é o Wady, seu primo.
Na véspera da morte da menina, uma semana antes da psicografia da mensagem ora considerada, Glorinha disse a D. Jandira ter sido visitada pelo primo Wady que a beijou na fronte. Pelo Chico, o Wady confirma este simples episódio de que poucos tinham conhecimento. E o Chico não era um destes poucos...
7 - Tia Jacira - Jacira do Amaral, irmã de D. Jandira.
8 - Tia Jamile e tio Manoel - Jamile Abrahão Braga e seu marido Manoel Braga, residentes na capital paulista. Jamile é irmã do Sr. Wady Abrahão.
9 - Tio Azis - Azis Abrahão, irmão do Senhor Wady, residente em Campinas.
10 - Tia Clotilde - Passagem curiosa. D. Clotilde Eugênia Briguente de Oliveira é a mãe do Wilson, cunhado do Wadyzinho, desencarnada em junho de 1973. Atendendo ao pedido mental que a nora Axima lhe endereçou quanto aos excessos do filho no volante, solicitou ao Wady que lhe puxasse as orelhas em seu nome.
11 - Lembranças de Sumaré - Agradecimento à homenagem prestada pela cidade, denominando Wady Abrahão Filho uma de suas praças.
12 - Akl Jorge Chakur - Comerciante desencarnado na capital paulista, cuja esposa Jamile Sarhat Chakur e filhas Elza Chakur Abduch e Marlene Chakur Vargas Amaral estavam presentes à reunião. ("Ouço os nomes Elza e Marlene", diz Wady).
Muito católicas, daí a observação do Wady de que “ninguém precisa mudar de pensamento religioso para conquistar a paz.”
13 - Adriana e Gito - Gito é o apelido do genro do Sr. Akl - Sr. Jorge Benjamim Abduch, marido de D. Elza. Adriana Chakur Abduch é a filha de Gito, neta do Sr. Akl.
14 - Cláudio - Já aprece em mensagens anteriores.
Wellington - Wellington Gloedem Soares.
Walmir - Walmir Carotnuto.
Amigos de escola do Wadyzinho.
Observemos que as citações acima são na mensagem ligadas por expressivos pensamentos do jovem, sobretudo a respeito de sua nova condição de vida, em demonstração de sensível maturidade espiritual, como igualmente ocorre também com os outros três autores espirituais, corajosos porta-vozes do Além.
7º Mensagem
17 abril de 1975
Pais queridos, meus irmãos. Jesus nos ilumine os corações.
O pessoal perdoará se falo ainda. Gente que passa no rumo do Além muito verde parece que não falou na Terra quanto queria.
Talvez seja isso. Não sei bem. No entanto, estão aqui professores de cá. Dr. Bezerra, venerável amigo, traça normas. Decerto porque veja minha turma conosco, fui eu designado. Sem mérito algum, é claro. Mas alguns minutos diz o benfeitor - devem ser preenchidos. "Fale, Wady; você precisa externar o amor de Cristo que nos uniu ". Foi ouvir e obedecer. E obedecer , com alegria.
Minha saudação aos de casa precedeu minhas próprias palavras, porque o meu coração funcionou antes do lápis. E nessa saudação, não me esqueci de incluir os amigos queridos do nosso querido Perseverança. Nossos caros irmãos Albanesi, Guiomar e Benjamin, recebam a confirmação dos meus votos de paz e alegria.
Venho com a tarefa específica de explicar qualquer cousa. Explicar envolve presunção em meu caso. Quem esclarece possui competência, e isso me falta. Devo informar que não é assim tão fácil mover o braço de um médium e começar o papo. É muita engrenagem para ser movida. E movida com precisão. Na maioria das circunstâncias, é preciso que a pessoa aqui se habitue a construir um braço com tanta exatidão quanta seja possível, construir com as .forças de que se possa dispor. Semimaterialização de recursos em elementos que, de mim mesmo, não sei classificar. E esse braço artificial deve calçar o outro que emana do médium como sendo uma luva. Sem isso, é necessário muito apoio do lado de cá para que o companheiro desenfaixado do corpo físico possa escrever.
Depois disso, temos as afinidades e os processos harmônicos da hora. Por processos harmônicos definimos o ambiente, com as suas composições. Se os pensamentos na reunião não estiverem integrados na mesma vibração de confiança ou se não tivermos grande maioria de pessoas que nos ajudem na sustentação desse clima vibratório, o comunicado, mais ou menos pessoal, é quase impossível.
Não se impacientem, por isso, as mães e os pais, os filhos e irmãos que não recebem de pronto as mensagens que desejam. O negócio não é pegar o fone e discar. Muita complicação deve ser atendida. Pensamos que em futuro próximo a cabeça do homem decidirá muito problema desse setor com a Eletrônica. Até que isso aconteça, não temos outras vias.
Nossos irmãos Ruberley e Benedito estão presentes e desejam entrar no esquema gráfico. Entretanto, não conseguem isso. O primeiro nosso amigo Ruberley pede à mãezinha coragem e fé. Acertará, quem sabe?, em outros modos de ação, até que fale escrevendo. O sonho é uma bela aproximação do prêmio em que consideramos o intercâmbio individual. Nossa irmã senhora Maria do Carmo continue orando e aguardando, mas na certeza de que o filho querido não está distante.
Nosso Benedito ainda luta e bastante para sentir-se plenamente integrado em si mesmo. Quando nos reaproximamos dos entes queridos no Plano Físico, sem realizar a façanha do desprendimento com amor, é muito difícil não se retomar as sensações que nos marcaram a vinda para este outro lado. O cara se esforça, lança prodígios de força mental para fora de si para a empresa legal da comunicação, que se tenta, mas a visão do corpo se associa à lembrança dos parentes e a tarefa se torna embananada, sem técnicos que nos garantam conserto.
Nossos amigos, no entanto, os companheiros de Itapeva que lhe foram pais estejam tranqüilos. Benedito é um construtor de raça. Está progredindo, sem reclamação e sem choro. Tem saudade sem moleza. Foi socorrido na Europa, ante a desencarnação predeterminada, por vários amigos que o esperavam.
Por aqui, é a corrente das lágrimas acompanhando esses fatos que a imprensa especialmente qualifica de trágicos. No entanto, no Plano Espiritual, a hospitalização carinhosa dos que perdem o corpo em acidentes do mundo é simples rotina. Quase isso, se o pessoal na Terra pudesse encarar a morte com menos gritos. Gasta-se demais com aflição sem propósito e o assunto é esse aí: sofrimento nos dois lados, lamentos e protestos que parecem não ter fim. Mas, não se pode mudar depressa o que existe.
Isso deve ser uma lei de Deus. Tudo o que é, é porque deve ser para modificar-se um dia para melhor. Um espinheiro não fere porque goste e sim porque vive armado de lâminas pequeninas. A pedra não é dureza porque viva satisfeita de receber marteladas e chutes e sim porque precisa cumprir a tarefa em que foi colocada.
Assim, o nosso Benedito desceu nos arredores de Paris, para separar-se imediatamente do carro físico porque isso devia suceder com ele. Foi transferido, no mesmo dia da libertação para os campos alemães, onde bondade e família espiritual lhe estavam reservados. Do que motivou isso falará ele em tempo oportuno. Transmito apenas o noticiário de que ele me fez portador para reconforto dos pais queridos.
E muita gente se vê à bica de comunicações a parentes e amigos. Uma dessas pessoas amáveis é a nossa irmã, senhora Maria que abraça as filhas presentes - Ginete, Odete, Maria Lúcia, Tereza e a outra cujo nome não ouço corretamente dos lábios maternos que o pronunciam. Espera que Jesus Ihe ampare as filhas abençoadas no empreendimento de amor e paz a que se inclinam. Mas, é preciso encerrar esta carta.
Wilson, estou alegre vendo os seus melhores cuidados no volante. Brasileiro gosta de brincar com a vida. Isso sempre me pareceu uma verdade. Carros a mais de cem, caminhões balançando, ônibus, às vezes, em torneios competitivos e motos em disparadas. Flagelos para os nossos guardas que, honra lhes seja feita, são sempre os nossos melhores amigos quando policiam marchas e faixas, corridas e sinais. Mas você está melhorando. Nota dez você ainda não tem nas estradas de asfalto aberto, entretanto, já está com cinco e seis à mostra. Tenhamos todos, o cuidado preciso, Wilson e vocês todos, os caras que se responsabilizam por velocímetros. Tanto se morre aí pelo carma do resgate, como também pelo carma da imprudência. E ninguém deve chegar aqui verde demais.
Axima, atenda à saúde. É preciso que você se fortifique. Ouça o médico amigo e trabalhemos no bem pensando no futuro.
Mãezinha e meu pai, rogo a bênção.
A todos os amigos, no recinto, os meus agradecimentos.
Para vocês, meus amados, o coração total do...
Wadyzinho
Comentários
Nesta mensagem, atendendo á determinação do Dr. Bezerra de Menezes, coordenador espiritual das atividades mediúnicas em questão, o Wady é o porta-voz do grupo de jovens desencarnados ali presentes.
Pelas suas palavras compreendemos ser necessário no comum das comunicações psicográficas, que o espírito comunicante semimaterialize o seu braço perispiritual, ou seja, condense mais o braço de seu perispírito ou corpo espiritual. A semimaterialização de órgãos ocorre sem que os vejamos e exemplo prático desse mecanismo são os fenômenos de voz direta, com a semimaterialização da laringe do corpo espiritual, de que o médium inglês Leslie Flint nos tem fornecido numerosas experiências.
Assim o braço semimaterializado seria encaixado no braço do médium como uma luva, no dizer do Wadyzinho.
Ainda outra faceta da comunicação mediúnica é o que Wady chama de processos harmônicos da hora, compreendido como sendo o ambiente com suas composições. Daí a necessidade de muito respeito e confiança no ambiente da reunião para que o espírito que se propõe a comunicar, sinta-se à vontade para ligação tão sensível, no campo das relações psíquicas.
Surpreendentes revelações são a presença de dois jovens desencarnados, Ruberley e Benedito, ao lado do Wady.
Ruberley Boaretto da Silva, médico, desencarnou em Campinas a 13 de abril de 1974, com 27 anos. Confirma na mensagem que os sonhos de sua mãe, Maria do Carmo Gonçalves da Silva são encontros reais de ambos no Plano Espiritual, quando a mãezinha se desprende do corpo, pelo sono.
Benedito Chimidt de Barros, desencarnou em julho de 1973, com 17 anos, no acidente com o Boeing da Varig em Orly, vítima de provável intoxicação por gases deletérios. Seus pais, Jorge de Barros e Terezinha Chimidt de Barros, residem em Itapeva, interior paulista.
Maria e suas filhas...
D. Maria Correa desencarnou em São Paulo no ano de 1969, com 69 anos de idade. Suas filhas presentes na reunião e identificadas pelo Wady são: Ginete Correa, Odete Correa, Maria Lúcia Correa e Tereza Correa. A filha cujo nome Wady não entendeu corretamente é a Sra. Catarina Maria da Glória Correa.
Albanese, Guiomar e Benjamin, nomes citados no início desta 7ª mensagem do Wady, são os Srs. Serafim Antonio Albanese, Guiomar de Oliveira Albanese e Benjamin Soares Silva, do Centro Espírita Perseverança.
Considerações Finais
Diante de tantos nomes, de tantas citações, perguntamos como poderia o médium escrevê-los com rapidez incrível, devorando o papel em letra firme e clara - como qualquer pessoa que já presenciou a psicografia de Chico Xavier pôde observar - sem conhecer nada a respeito daquelas famílias presentes, numerosas, cada qual trazendo o seu problema, dramas diversos, situações específicas.
De que modo nomes como Ruberley, Benedito, Ginete, Odete, Maria e suas revelações confirmadas pelos pais e familiares presentes poderiam ser escritos em grafia célere e escorreita por quem nunca os conheceu - nem aos encarnados, nem aos desencarnados?
Assim ponderamos na certeza de que o amigo leitor conseguiu se situar no realismo de nossas descrições, muitas vezes enfáticas e talvez cansativas, mas absolutamente fiéis.
Nas dezenove mensagens deste livro, foram revelados cerca de oitenta nomes, todos confirmados por seus familiares, sendo que em algumas vezes nem os presentes à reunião sabiam identificar os nomes citados, o que somente pôde ser feito posteriormente, como no caso do jovem Aníbal, lembrado em uma das mensagens de Jair Presente.
Numerosos dramas e situações foram relatados pelos jovens autores espirituais, sendo que todos foram também confirmados, com surpreendente riqueza de dados, que chegaram a surpreender o próprio Chico. Apelidos, apocorísticos vedados aos familiares mais chegados, foram citados.
Enfim, os quatro autores não regatearam esforços para evidenciar que estão vivos - muito vivos - no Plano Espiritual, em comovente apelo aos pais queridos, para que divisassem, no alto dos céus, a presença de uma justiça que jamais poderia permitir a separação definitiva, e em advertência direta aos jovens da Terra para que despertem de ilusões, muitas vezes comprometedoras, diante da certeza de que para todos nós a vida e a morte são etapas naturais, transformações a que estamos sujeitos no longo jornadear entre Plano Espiritual e Terra.
Mostraram-nos, Augusto, Carlos Alberto, Jair e Wady, que aqui como lá a vida é uma só, sendo a morte uma ilusão que criamos para fugir aos imperativos de nossa consciência. Nosso corpo é tão-somente um escafandro com que nossos espíritos mergulham na Terra, em prosseguimento ás lutas redentoras que vimos enfrentando ao longo dos séculos, pelas bênçãos da Reencarnação.
A
Augusto César Netto,
Carlos Alberto da Silva Lourenço,
Jair Presente e
Wady Abrahão Filho,
Jovens que aprendemos a estimar no contato de suas páginas maravilhosas, escritas muitas vezes com a pena do médium embebida em lágrimas de saudade, o nosso reconhecimento.
Deus os recompense, em nome dos pais que na Terra, através de suas palavras, compreenderam que seus filhos, desencarnados, como vocês, também não morreram!
FIM