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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Elevação-Francisco Cândido Xavier

 

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Reproduzimos aqui a coluna intitulada As provações, publicada na coluna dominical "Chico Xavier pede licença" do jornalDiário de S. Paulo, na década de 1970.

Ela apresenta o poema Elevação, ditado a Chico Xavier pelo espírito Maria Dolores, que Herculano Pires (utilizando-se do pseudônimo Irmão Saulo) comenta por meio do seu texto A dor e o tempo.

Aproveite e veja também as outras colunas que já estão no ar.

AS PROVAÇÕES
Francisco Cândido Xavier

“A página de nossa irmã e benfeitora espiritual Maria Dolores foi recebida em nossa reunião pública. Achava-se conosco distinto jornalista da Guanabara, interessado em observar como se processava a psicografia. Ele mesmo guardou o original a lápis, deixando a cópia em nossas mãos.

Esclareço ainda que, na reunião mencionada, o tema trazido a estudo foi a questão 738 de O livro dos espíritos, relativa às provações que assediam a Humanidade.”

ELEVAÇÃO
Maria Dolores

Escuta, alma querida,
Aceita as aflições e as lágrimas da vida,
Por agentes de acesso à Esfera Superior...
Mágoa, queixa, revolta e rebeldia
Lembram muralhas sob a noite fria
Furtando o coração à luz do amor.

Se a prova te retalha a alma sincera,
Perdoa, faze o bem, trabalha e espera
Aprendendo da estrada em derredor...
Tudo o que vive e sonha, sofre e ama,
Dos astros do Infinito aos vermes sob a lama,
Dando-se à elevação do futuro melhor...

O Sol poente que nos ilumina
É um gigante em perpétua disciplina,
Varando lutas que desconhecemos,
Por mais se lhe arremesse lixo à face,
Brilha em silêncio como se explicasse
Que só o amor domina os Céus Supremos...

Corre a fonte da penha ao chão da serra,
Depois, ganhando o vale, faz da terra
Verdejante celeiro em garbos de jardim...
Pelo bem que constróis, de segundo a segundo,
Muitas vezes recolhe os detritos do mundo,
Mas beija lodo e pedra e canta mesmo assim!

O carvão na lareira acende a chama,
O tronco mutilado não reclama,
A estrada se aprimora aguentando tratores...
No trigo triturado o pão puro se asila,
Cria-se a porcelana em fogo sobre a argila,
O roseiral podado dá mais flores!...

Assim também, alma querida e boa,
Não recuses a dor que aperfeiçoa
Se nos espanca os sonhos, teus e meus,
Golpes, tribulações, angústias, tempestade
São recursos da vida erguendo a Humanidade
Para a bênção de Deus.

A DOR E O TEMPO
Irmão Saulo

As coisas naturais são constantes lições de paciência ao nosso redor. Tudo no mundo nos ensina duas lições fundamentais: a da evolução e a da imortalidade. Porque tudo se desenvolve em direção ao futuro e tudo morre para renascer. A ciência reconhece que nada se perde, tudo se transforma. A filosofia, mesmo em suas correntes mais atuais e mais negativas, reconhece a evolução geral e admite que o homem é um projeto, ou seja, uma flecha que atravessa a existência em direção a um alvo superior.

Se nos recusamos a entender as lições que nos rodeiam e as que brotam do fundo de nós mesmos, é porque, segundo explica a questão 738 de O livro dos espíritos: “Durante a vida o homem relaciona tudo ao seu corpo.” Mas, diz a mesma questão: “após a morte pensa de outra maneira”. Apegados ao corpo, limitados pelas percepções físicas, avaliamos a dor pela medida do tempo. Entretanto, os espíritos nos lembram, nessa mesma questão: “Um século do vosso mundo é um relâmpago na eternidade.”

Jesus nos ensinou, por isso, o desapego, advertindo: “Quem se apega à sua vida perdê-la-á”. Maria Dolores se comunica em poesia para nos tocar ao mesmo tempo o sentimento e a razão. É a mesma técnica usada por Jesus nas parábolas e na poesia do 'sermão do monte'. A didática moderna confirma a eficiência desse método que nos relaciona com as cosias naturais, que se serve do estímulo do ambiente, da lição das coisas concretas para nos levar à compreensão do sentido da vida.

A dor, ensinou Léon Denis, discípulo e sucessor de Kardec, é uma lei de equilíbrio e educação. A psicologia moderna comprova que aprendemos através de tentativas frustradas, de ensaios sucessivos. É por meio dos erros que chegamos ao acerto. A sabedoria popular nos diz: “O que arde cura, o que aperta segura.” As pessoas inquietas perguntam porque há de ser assim, porque Deus não nos criou perfeitos e bons. Mas Rousseau já ensinava que tudo sai perfeito das mãos do Criador. A perfeição inclui também o livre-arbítrio, pois só através dele chegamos à consciência plena. A dor de um minuto nos desperta para a felicidade sem limites, como a ventania de um instante limpa a atmosfera por muitos dias

Fonte: Fundação Herculano Pires