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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Gotas de Luz-Francisco Cândido Xavier

 

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Gotas de Luz

Emmanuel

Um pássaro espiritual.

Conhecemos velho amigo que, em certo período de provação, não vacilou em sacar do bolso arma mortífera, instigando por insidiosa calúnia, com a intenção de eliminar antigo companheiro, mas, quando se dispunha a penetrar a casa, com o escuro propósito que lhe envenenava o coração, eis que pequerrucho canário começou a cantar em árvore próxima.

Havia tamanha beleza na melodia desconhecida, que o quase delinqüente sustou o ato tresloucado e passou a refletir...

Aquele cântico sem palavras não seria uma advertência divina?

Deus, que mergulhara a alma do pássaro em harmonia celeste, não saberia exercer a justiça que ele, pobre homem imperfeito e amargurado, pretendia executar com as próprias mãos?

Considerou, portanto, mais aconselhável esperar.

E, enquanto aguardava a cessação do hino comovente, algo surgiu, de improviso, dissipando a densa nuvem de indébitas preocupações que lhe amortalhavam o espírito.

A paz voltou a felicitar-lhe o íntimo, dantes atormentado, e, em lágrimas, agradeceu ao Senhor que o salvara de lamentável desastre, por intermédio de um passarinho.

Lembramo-nos do incidente, lendo os versos que Casimiro Cunha enfileirou neste livro. Através de quadras simples, o nosso irmão faz brotar, do solo de sua alma fraterna, verdadeira fonte de amor, em gotas de luz, exaltando a Divina Bondade e as virtudes cristãs que podem erguer-nos à Espiritualidade Santificante.

Ave da Altura, acordando-nos para a glória imortal do bem eterno, quantos de nós, escutando-lhe o poema de ternura e sabedoria, poderemos interromper as ligações com a sombra?

Consagremos ao mensageiro do Evangelho alguns minutos de leitura e reflexão e, de certo, compreender-lhe-ão a sublime e musicada mensagem quantos tiverem ouvidos de ouvir.

Emmanuel

(Pedro Leopoldo, 1 de Janeiro de 1953).

AFORISMOS

Desgostos, chagas e angústias,

Martírio rude e violento,

São rebolos invisíveis

De santo aprimoramento.

Ser rico e ser justiceiro

Na virtude sem disfarce,

É como viver no fogo,

Respirando sem queimar-se.

Dois apoios precisamos

Na jornada de ascensão:

A lanterna da bondade

E o trilho da retidão.

Cumpre o dever que te assiste,

Servindo, ditoso e crente.

Da consciência tranqüila

Nasce a calma permanente.

Aprende, ensina e esclarece.

Trabalha, ajuda e auxilia.

Não há maior desventura

Que a da existência vazia.

Não tornes por humildade

A vileza fraca e nula.

A humildade serve sempre,

Mas a vileza bajula.

Faze o bem ainda que o bem

Não seja bem que te agrade.

Resume-se a fé cristã

Na palavra – caridade.

Que lisonja por mais linda

Não te seduza o interesse.

O mérito é como a luz –

Por si mesmo resplandece.

Cultiva o bem, sem cessar,

Ao longo de teu caminho.

Terra boa, desprezada,

É mãe do mato escarninho.

Nas lições da vida inteira,

Sê firme, animado e forte.

Quem desiste de aprender

Começa a buscar a morte.

anexins de sempre

A cabeça ambiciosa

Que vive votada ao mal

Escreve o favor na areia

E grava a ofensa em metal.

Quem teme cobra e lagarto,

Quem passarinhos receia,

Perde a vida sem combate,

Não prepara, nem semeia.

Aprende a ver e lembrar!...

No curso de toda a história,

O soberbo perde a vista,

O ingrato perde a memória.

Da ternura doce e branda,

Sê devoto, não escravo...

Eu bonzinho, tu bonzinho,

Quem educa o burro bravo?

No mesmo tronco, onde a abelha

Retira fortuna e mel,

A aranha escura e disforme

Faz morte, peçonha e fel.

Cultiva a lei do equilíbrio

Que nos ajuda e contenta,

Se o necessário deleita,

O excesso fere e atormenta.

Do verbo usado no mundo,

Nasce a guerra, nasce a paz.

Com palavras edificas,

Com palavras matarás.

Guarda sempre em teu trabalho

Silêncio e ponderação...

Quando a praça parlamenta,

É hora de rendição.

Cumprindo a Vontade Eterna,

Sê pronto, leal e breve.

Quem faz tudo o que deseja,

Nem sempre faz quanto deve.

Não te revoltes se a Terra

Nega-te acesso ao jardim...

Há números de começo,

Não há número de fim.

APARTES

Não olvides que o silêncio

Vitória e virtude encerra.

Vencer sobre a própria língua

É mais que vencer a guerra.

Aprende a buscar proveito

Nas sombras de tua dor.

Muita vez, do esterco imundo

A planta retira a flor.

Mal vais se a louca ambição

É o gênio com que te isolas.

Quem muito estima a demanda

Acaba pedindo esmolas.

Esforça-te a prol do bem

E terás horas tranqüilas.

O Senhor espalha as nozes

Mas o homem deve abri-las.

Nossa vida deve ser

Fonte cantando à bondade.

Água estanque e sem proveito

É cofre de enfermidade.

Trabalha constantemente

Se procuras luz e paz.

O tédio é a chaga invisível

Daquele que nada faz.

Voa o tempo como o vento,

Dia a dia, hora por hora.

Se queres felicidade,

Faze o bem, aqui e agora.

ARABESCOS

Embora a crítica azeda,

Atende ao dever cristão.

A inveja combate sempre

O esforço da elevação.

Ilumina a própria senda,

Faze-te sábio e melhor.

De todos os males juntos

A ignorância é o maior.

A fortuna, muitas vezes,

É neblina deletéria.

A riqueza sem virtude

É mais triste que a miséria.

Não te esqueças da verdade,

Recorda que para a morte

Não vale bolsa repleta,

Nem existe casa forte.

Trabalha, constantemente,

Firme e fiel ao teu posto.

Descanso desnecessário

E’ plantação de desgosto.

Ao despeito envenenado

A retidão não se rende.

De pessoa desbriada

O insulto não ofende.

Dos vermes de ruína e morte,

Que atacam o fruto e a flor,

O mais cruel é a preguiça

Que mora no lavrador.

Respeita a moderação.

Quem com pouco se compraz,

Entre as bênçãos da alegria,

Serve muito e vive em paz.

AVISO FRATERNAL

Meu irmão, se tu já sabes

Que a vida nunca termina,

Renova-te, enquanto é tempo,

À bênção da Luz Divina.

Ninguém renasce na Terra

Para dar-se ao gozo vão.

Mas para multiplicar-se

Em obra de perfeição.

Aquele que foge à luta,

Temendo a infelicidade,

Despreza, sem perceber,

O dom da oportunidade.

A dor, o charco, o espinheiro,

O dissabor e a ferida

Expressam, em toda parte,

Sagradas lições da vida.

Os desafios da sorte

E as dolorosas contendas

Trazem sempre ao nosso meio

Avisos e corrigendas.

Nas flores envenenadas,

No afeto que desilude,

Podemos consolidar

A plantação da virtude.

Junto à boca enegrecida

Que nos condena ou magoa,

Seremos iluminados

Na glória de quem perdoa.

Na cruz de sarcasmo e fel,

De desencanto e aflição,

Ditosos encontraremos

A paz e a ressurreição.

Melhora-te, pois, e esquece

A senda resvaladiça.

Ninguém escapa ao rigor

Dos tribunais de justiça.

CENTELHAS

Se buscas nobre caminho
Que ao Senhor não desagrade,
Recorda que a paz reclama
Serviço e fraternidade.

Quem deseja ser feliz
Acende a luz da esperança
Ocupa lugar pequeno
E tenta pouca mudança.

Estende a bondade a todos.
O bem é a glória da vida.
O enfermeiro sem cuidado
Alarga qualquer ferida.

Quem luta para viver
Vai mais longe, calmo e forte. . .
Quem vive para lutar
Mais cedo recebe a morte.

Cultiva nos teus lazeres
Pensamento nobre e ativo.
Todo ócio sem estudo
É sepulcro do homem vivo.

Trabalha, atendendo alegre
Aos planos de maior vulto.
Recorda que a paciência
É sempre um tesouro oculto.

Não aplaudas, nem procures
O coração desatento
Que gasta dinheiro e sangue,
Comprando arrependimento.

Se pretendes, cada dia,
Servir, prover e acertar,
Medita devagarinho
E apressa-te a executar.

No ciúme envenenado,
Escuro e destruidor,
Há sempre muito amor próprio
E pouca expressão de Amor.

Respira ao Sol do Evangelho,
Sereno, ditoso e crente.
Sem Jesus, o homem não passa
De animal inteligente.

COMENTÁRIOS

O serviço e a diligência,

Na inspiração da bondade,

São as bases da alegria

E os pais da prosperidade.

Evita o rosto agradável

De sorrisos escarninhos,

Cuja boca vive cheia

De pedras, cobras e espinhos.

Quem muito estima a ironia,

Ferindo e insultando a esmo,

Acaba desrespeitado,

No menosprezo a si mesmo.

Escuta, calmo, os conselhos

Dos irmãos mais exigentes.

O dentista mais exímio

Não trata dos próprios dentes.

Em teu reconforto, ampara

Quem segue na senda estreita.

No mundo, às portas da festa,

A provação vive à espreita.

Não zombes de quem padece.

Não te canses de ajudar.

Sob as névoas do futuro,

Vem teu dia de chorar.

A nossa felicidade

É qual milagrosa estrela...

Brilha sempre ao nosso lado,

Mas nunca sabemos vê-la.

CONCLUSÕES POPULARES

Faze tu, quanto te caiba,

Com teus cuidados cristãos!

O olho fiel do dono

É mais ágil que cem mãos.

Quem fala pouco na estrada

Evita muita contenda.

Prende agora a tua língua

Se não queres que te prenda.

Perdoa e auxilia sempre...

Quem ofensas muito apura,

Não tem a calma precisa,

Nem tem a vida segura.

Aos homens sem Jesus - Cristo

Não mostres, perdendo a calma,

Nem o fundo de teu bolso,

Nem o fundo de tua alma.

Se desejas grandes luzes,

Não sejas aflito e louco.

Em nenhum lugar da vida,

O que é muito custa pouco.

CONFRATERNIZAÇÃO

Quem luta e confraterniza,

Entrega-se, com fervor,

Cada dia, cada hora,

À sementeira do amor.

Procura, acima de tudo,

A força da simpatia,

Gerando fraternidade

Pelas bênçãos da alegria.

E aquele que busca irmãos,

No entendimento em Jesus,

Conservará, sempre aceso,

O dom da divina luz.

Negando sempre a si mesmo

De alma voltada ao porvir,

Disputa, desassombrado,

O galardão de servir!

Perdoa setenta vezes

Sete vezes, cada ofensa,

Plantando a fraternidade

E agindo sem recompensa.

Ora por todos aqueles

Que o caluniam na estrada;

Recebe, por benefícios,

A dor, o espinho, a pedrada...

Ajuda sem distinção,

Não se afasta de ninguém.

É grande sem perceber,

Na glória do eterno bem.

Evita o próprio destaque,

Mas considera, contente,

O valor de cada esforço,

No esforço de toda gente.

Não se agasta, não se irrita

E, no roteiro cristão,

Estende, sem descansar,

A luz e a cooperação.

Não se limita a ensinar,

Exemplifica e executa

E encontra, por toda parte,

Irmãos de esperança e luta.

Descobre na própria vida

O sublime aprendizado

Em que lhe cabe atender

Ao Mestre Crucificado.

Irmãos, não vos esqueçais!

Toda fraternização

Começa com Jesus - Cristo

Reinando no coração.

CULTO DOMÉSTICO

Quando o culto do Evangelho
Brilha no centro do lar,
A luta de cada dia
Começa a santificar.

Onde a língua tresloucada
Dilacera e calunia,
Brotam flores luminosas
De sacrossanta alegria.

No lugar em que a mentira
Faz guerra de incompreensão,
A verdade estabelece
O império de amor cristão.

Onde a ira ruge e morde,
Qual rude e invisível fera,
Surge o silêncio amoroso
Que entende, respeita e espera.

A mente dos aprendizes
Bebe luz, em pleno ar.
Todos disputam contentes
A glória de auxiliar.

A bênção do culto aberto,
Na divina diretriz,
Conversa Jesus com todos
E a casa vive feliz.

Quem traz a igreja consigo,
Combatendo a treva e o mal,
Encontra a porta sublime
Do Reino Celestial.

DE TODA PARTE

Lisonja é moeda falsa

Cunhada pela ilusão

Que a nossa própria vaidade

Coloca em circulação.

Virtude eleita e sublime

Que em solidão se consome

É diamante belo e frio

Que não nos sacia a fome.

A fama é tuba comprida

De curto discernimento

Que toca mais a fortuna

Que ao justo merecimento.

Evita a bajulação

Que te aparece na estrada.

A língua do adulador

É qual lâmina de espada.

O sábio corrige em si,

Na luta em que se rodeia,

Aquilo que o desagrada

No campo da vida alheia.

Ajuda com diligência,

Sem condições e sem ágio.

O auxílio tardo e' socorro

Quem vem depois do naufrágio.

A coragem da justiça

Tem gritos de tempestade,

Mas perdão e paciência

São as forças da humanidade.

Uma palavra que emende,

Uma palavra que corte...

Uma pode dar a vida,

Outra pode dar a morte.

Dinheiro, poder, conforto,

Nadando em vida insegura,

São tormentos da riqueza

Sobre o trono da fartura.

Se desejas luz e paz

Na aflição que te aniquila,

Procura contigo mesmo

A consciência tranqüila.

ENTRE NÓS

Coração que não se abre

À sementeira do amor

Não guarda com segurança

A luz do Consolador.

Muita leitura sem obras

De ensino e consolação

Traz a flor parasitária

Da inútil conversação.

Desalento choramingas

Em pranto sempre a correr,

Expressa, freqüentemente,

Muito serviço a fazer.

Comentários contra ingratos,

Verbo amargoso e violento,

São tristes revelações

No anseio de isolamento.

Discursos sem caridade

- Fraternidade sem portas -

Tribunas que não amparam

São sinais de fontes mortas.

Fadiga de todo instante,

Chorosa, escura e cediça,

Traduz sem contestação,

Fragilidade e preguiça.

Cabeça muito ilustrada,

Sobre a vida em calmaria,

É urna lavrada em ouro,

Muito nobre, mas vazia.

Entusiasmo eloqüente,

Sem atos de amor cristão,

É fogo de palha seca,

Em bolhas de água-sabão.

Sublime conhecimento,

Distanciado do bem,

É tesouro enferrujado,

Que não ajuda a ninguém.

Banquetes da inteligência,

Sem Jesus suprindo a mesa,

São brilhos de força bruta

Em pedras da natureza.

EQUAÇÕES

Quem presta só para si,

Preso ao que mais lhe convém,

Nunca tem utilidade,

Nem serve para ninguém.

Sê sincero sem rudeza,

Calmo, simples, ponderado.

Quem vive enganando os outros,

Caminha sempre enganado.

Colabora sem perguntas,

Com carinho diligente.

Auxilia duas vezes

Quem ajuda prontamente.

Conserva em qualquer desastre

A força de tua fé.

As folhas morrem ao vento,

Os troncos morrem de pé.

No dom de fazer o bem,

Que a presteza te resguarde.

A boa intenção que dorme

Sempre acorda muito tarde.

Contempla os milhões de sóis

Da Grandeza Universal,

Mas não te esqueças no mundo

Da terra de teu quintal.

Serás feliz se a bondade

A tua vida coroa.

Quem mais ajuda, mais sabe,

Quem mais sabe, mais perdoa.

Se cultivas por princípio

Caridade e retidão,

És devoto afortunado

Na igreja da salvação.

Nas lides religiosas,

Ao sol da fé que te abrasa,

Não olvides que a lição

Começa de tua casa.

Faze o bem aqui e agora...

Socorre a dor que vem perto.

Amanhã, tudo é possível,

Mas hoje tudo é mais certo.

FRAGMENTOS

Pouca fartura não mata.

Frugalidade é dever.

Por um que morre de sede,

Morrem cem mil de beber.

Se queres um servidor

Que não te acompanhe a esmo,

Serve a todos com bondade

E servirás a ti mesmo.

Muitas perguntas e exames

Quase sempre são a grade

Que impede a glória sublime

Dos vôos da caridade.

Muito pobre, ao receber

A fortuna transitória,

Enfeita o bolso e a cabeça

E logo perde a memória.

Por gritos da ignorância

Não vivas de alma enfermiça.

A selvagem voz do burro

Não sai da cavalariça.

Não te queixes contra o tempo

Que a luta no bem te cobra.

Quem aproveita o minuto

Encontra tempo de sobra.

Não faças em tua vida

A estranha repetição

Daquilo que não te agrada

Na vida de teu irmão.

GOTAS

Insultos, provocações,

Não retenhas na memória.

A inveja é sempre um tributo

Que a mesquinhez rende à glória.

Não te esqueças da bondade

No trato com toda a gente.

É tão difícil ser justo

Que mais vale ser clemente.

Quando estamos dominados

Pelo egoísmo vibrante,

O mal alheio é um cabelo

E o nosso é sempre um gigante.

Humilhações do caminho

São golpes e ulcerações.

Mas quem humilha a si mesmo

Recolhe grandes lições.

Realmente, somos donos

Dos olhos, dos pés, dos braços,

Mas Deus é sempre o Senhor

Da força de nossos passos.

A riqueza que garante

Bondade, paz e alegria,

Caminha por toda a parte

Como o Sol que se irradia.

Foge à sombra da tristeza

E ao gelo do desengano.

Amargura dentro d’alma

É como a traça no pano.

Alma grande consagrada

À virtude meritória

Converte todo fracasso

Em plantação de vitória.

A luz só encontra a luz

No brilho do próprio seio.

Quem muitas nódoas possui

Vê nódoas no rosto alheio.

Miséria parada e escura

É sempre triste labéu,

Mas pobreza que trabalha

É condução para o Céu.

GRÃOS DA VERDADE

Se pretendes grande prêmio,

Bela vida e boa fama,

Não te faças tagarela,

Nem te demores na cama.

Suporta com paciência

As dores de teu roteiro.

Mais vale a senda espinhosa

Que as mãos de mau companheiro.

Dois dardos arremessamos,

Lacerando o coração:

– O insulto que sai da boca

E a pedra que sai da mão.

Não publiques teu desgosto

Por mais humilde e singelo.

Quando o touro cai na praça

Alguém afia o cutelo.

Cultiva o silêncio amigo.

O tolo que cerra os lábios

Pode ser admitido

Como sábio entre os mais sábios.

Se procuras a alegria,

Sonhando dias serenos,

Pensa muito na jornada,

Fala pouco e escreve menos.

No serviço construtivo,

Guarda a vida bem segura.

Meio palmo de preguiça

Traz dez léguas de amargura.

Quem adota por sistema

Cerimônia e condição,

Começa gozando a paz

E acaba na solidão.

Haja pranto na bigorna,

Haja aspereza no malho,

Ergue o corpo cada dia

Para a bênção do trabalho.

De opiniões tresloucadas

Não te percas ao sussurro.

O burro que vai a Roma

Segue asno e volta burro.

A caridade cortês,

Desconhecida no céu,

Costuma esconder a bolsa

E arregaçar o chapéu.

Quem foge à paz e à bondade

Semeia discórdia e treva.

Toda obra sem amor

É folha que o vento leva.

GRÃOS DE LUZ

Usa palavras amigas

Nascidas do afeto irmão.

O verbo que reconforta

É bálsamo ao coração.

Acende a luz no bom tempo!

Afirma a sabedoria

Que o Sol claro da manhã

Não durará todo o dia.

Nunca te deixes levar

Somente pelos ouvidos;

Enquanto o boi sua e sofre,

O carro espalha gemidos.

Pessoa muito importante

É qual estrela mui rara

Que refulge para todos

Mas não descansa e nem pára.

As forças da discussão

E o tempo gasto em contenda

Só podem trazer vantagem

Com pessoa que te entenda.

Onde o gosto e a fantasia

São maiores que o proveito,

Apresenta as despedidas,

Dando o trato por desfeito.

Que não te espante a aspereza

Do espírito envenenado ;

Quem bebe cicuta e fel

Não pode cuspir melado.

Alma nobre é como nuvem,

Sem ponto de vista algum,

Recebendo benefícios

Para dar ao bem comum.

Que teus gozos e alegrias

Sejam simples e frugais ;

O pouco vive contente,

O muito quer sempre mais.

Embora algemado à carne,

Eleva-te aos altos níveis...

O mundo faz vencedores,

Mas Jesus faz invencíveis.

ILAÇÕES

Inicia o teu trabalho,

Rendendo-lhe santo apreço.

Não há fim vitorioso

Onde não há bom começo.

Quem te leva à tempestade

Inclina-te ao desabrigo.

Quem te afasta do perdão

Não pode ser teu amigo.

O pobre rixoso e mau,

Soberbo, rude e violento,

É muito pior que o rico

Que se fez duro e avarento.

Quem constrói, quem cose e lava,

Quem ara, quem planta e fia

Estende os clarões do Céu

No campo de cada dia.

Eleva-te, pouco a pouco,

Para o cimo da montanha.

Muita vez, quem mais abarca

É aquele que menos ganha.

Conta bastante contigo.

Certas graças e favores

Começam com riso e festa

E acabam em grandes dores.

Não teimes ante a bondade.

Serve, ampara e renuncia...

A cabeça muito dura

Quase sempre está vazia.

Não te aflijas. Sobre a Terra

Onde tudo surge e passa,

Não há gozo sem limite,

Nem há sombra sem fumaça.

Nos pareceres dos outros

Nem sempre há muita valia.

Há sarcasmo que te exalta

E há louvor que te injuria.

LEMBRANÇAS

Procura com o teu suor

O pão, a veste e o abrigo.

Todo homem preguiçoso

É sempre o irmão do mendigo.

Penetra a realidade

Cada dia, cada instante.

Um desengano oportuno

É beneficio importante.

Nunca te esqueças na luta,

Se o mal te punge e ameaça,

Que o coração bom e puro

É sempre a melhor couraça.

Guarda prudência ao lenir

As chagas de teu irmão.

O reconforto indiscreto

Irrita a grande aflição.

Sê bondoso para todos.

Qualquer ajuda é valia

Conquistando em teu favor

A graça da simpatia.

Entre as víboras da astúcia

Não te deixes enganar.

Consciência que se vende

Não vale a pena comprar.

Se vives de mente em fogo,

Perguntando, perguntando...

Perdoa, ajuda e esclarece

E viverás acertando.

Para o despeito infeliz

– Triste monstro envenenado –

Toda alegria é doença,

Todo êxito é pecado.

Não te afastes da amargura.

Toda fuga é imprópria e vã.

A luta guardada hoje

É triste guerra amanhã.

LEMBRETES

Respeito firme e bom nome

Na Terra sempre granjeia

Quem cuida da própria vida,

Sem julgar a vida alheia.

Corrigendas incessantes,

Contínua severidade,

Gritarias por sistema,

São perdas de autoridade.

Por sedas e por baixelas

Não provoques inimigos.

Há muita jóia enterrada

No triste pó dos jazigos.

Na comunhão com parentes

Não te habitues a gritar.

A benção da gentileza

É a caridade no lar.

Quem cria, gasta vibrando.

Sangue, suor, coração. . .

Quem critica, só despende.

Brilhante conversação.

Guarde a ordem mais cautela

No zelo com que se atiça.

Muito rigor no direito

É prática de injustiça.

Controla teus sentimentos,

Sustenta serenidade.

Pessoa de maus impulsos

É fera em liberdade.

A caridade real,

Que nasce do coração,

Desconhece totalmente

As pedras da ingratidão.

Para indicar o defeito,

Para enxergar a má parte,

Toda a gente neste mundo

Tem sempre bom gosto e arte.

Homem com pressa no bem,

Cujo passo não recua,

Não consegue reparar

O cão que ladra na rua.

MÁXIMAS

Não fujas ao teu dever

Se queres ser respeitado.

Para quem é preguiçoso

Todo dia é feriado,

Quando o Céu procura um homem

Que deseja conhecer

Manda que o mundo lhe empreste

Dinheiro, fama ou poder.

Há muita gente que sobe,

Descendo ao remorso e à dor...

E há muita gente que desce,

Subindo à glória do amor.

Não olvides, se descansas

No jardim do galanteio,

Que todo sapato lindo

Acaba em chinela feio.

O rico que serve a todos,

Mostrando amor e humildade,

Desde a carne enganadora

Penetra na santidade.

Agradeçamos ao mundo

O cálix de angustia e fel.

O mármore se aprimora

A beliscões de cinzel.

Não critiques, nem destaques

As faltas de teu irmão.

O tempo trará teu dia

De luta e de tentação,

Põe o serviço em teus braços,

Põe a bondade em teus olhos...

E terás por toda parte

Um roseiral sem abrolhos.

Toda moeda que ajuda

Bons e maus, crentes e incréus,

É caridade sublime

Que sobe da Terra aos Céus...

Se pretendes o caminho

Da vida que aperfeiçoa,

Trabalha, incessantemente,

Aprende, serve e perdoa.

mensagem de vigilância

Se buscas em tua fé

Roteiros de paz e luz,

Afeiçoa a própria vida

Às instruções de Jesus.

Não vale apenas saber.

O aprendizado cristão

Reclama de todos nós

Esforço e edificação.

Palavras, prantos, discursos,

Merecem todo o respeito,

Mas são zero se lhes falta

Caminho nobre e direito.

Muitos sabem todo o texto

Que a Santa Escritura encerra,

Mas vivem segundo a carne,

Colados ao pó da terra.

Notamos por toda a parte,

Nos Templos do mundo inteiro,

Grandes lobos que se ocultam

Em fina lã de cordeiro.

Há serpes ao pé do altar

De mente escura e cruel,

Raposas que dão balidos

Gemendo com voz de mel.

Há vasos alabastrinos

Conservando essência impura.

E há venenos escondidos

Em cálices de ternura.

São almas que a sombra envolve

Em que a mentira faz centro.

Revelam flores por fora

Guardando abismos por dentro.

As teorias sem fatos

Ao povo faminto em prece

São promessas enganosas

De pão que desaparece.

Todos temos fantasias

De Caim, Judas, Pilatos,

Mas nunca seremos livres

Sem Jesus em nossos atos.

Façamos, pois, cada dia,

Bendita e nova cruzada,

Oferecendo ao Senhor

Nossa vida transformada.

Sem Cristo no pensamento,

Sem Evangelho na ação,

Jamais veremos na Terra

O dia da redenção.

migalhas

Quem vive nas discussões,

Atendendo uma por um

Muita vez passa na Terra

Sem acender luz alguma.

Navio grande prossiga

Ao mar alto, em desconforto...

Mas navio pequenino

Navegue perto do porto.

Onde toda a gente manda

Sem que ninguém obedeça,

As obras podem ser grandes

Mas sem pés e sem cabeça.

Não desatendas no mundo

À Grande Sabedoria.

O homem faz almanaques

Mas só Deus governa o dia.

Esperas pela bondade

Que flui da Divina Aurora?

Começa por ser bondoso

Hoje mesmo, aqui, agora!...

Aprende a ouvir a verdade

Serena, elevada e pura.

Muito raro é o bom conselho

Sem ressaibos de amargura

Doentes e prisioneiros

Que o sofrimento congela

Encontram dificilmente

Pessoas da parentela.

Entre amar e bem-querer

Há muitas léguas que andar.

Sanguessuga também sente

O bem-querer de sugar.

Quando o céu é todo azul

Muita gente dá lições,

Mas, chegando à tempestade,

Dá gritos e acusações.

Não zombes do irmão que sofre

Amargurado e ferido ;

Entre as sombras do amanhã,

Teu dia é desconhecido.

NO SANTUÁRIO INTERIOR

Meu Senhor, Pai de Bondade,

De luz e de Amor sem fim,

Não me abandones à treva

Que trago dentro de mim.

Não me deixes repousar

No leito em flor da ilusão,

Dá-me a bênção luminosa

De tua repreensão.

De espírito encarcerado

Nos débitos que inventei,

Tenho sede do equilíbrio

Que nasce de tua lei.

Controla-me a aspiração

De ganhar e possuir,

Sou teimoso e invigilante,

Ensina-me a discernir.

Entrecruzam-se, em meu peito,

Divergências, dissensões...

Não me relegues ao jugo

De minhas imperfeições.

A chaga alheia, Senhor,

Sei curar, lenir ou ver,

Mas sou tardo de visão

Na esfera de meu dever.

Sou ágil no bom conselho

Ao coração sofredor;

Todavia, surdo e cego,

Nas dias de minha dor.

Nas orações, quase sempre,

Sou cópia dos fariseus,

Sentindo-me, presunçoso,

Dileto entre os filhos teus.

Não escutes, Pai Bondoso,

Os rogos e brados mil

Da ignorância que eu trago,

Vaidosa, bulhenta, hostil...

Não satisfaças, no mundo,

O orgulho atrevido e vão

Que me faz triste e abatido

Nos tempos de provação.

Põe freios duros e fortes

Ao meu serviço verbal,

Muita boca leviana

Tem dado guarida ao mal.

Meus sentidos, enganados,

Perturbam-me, muita vez.

Às emoções desvairadas,

Por compaixão, não me dês!

Que a tua vontade, enfim,

Pronta a prever e prover,

Seja em tudo e em toda a vida

A minha razão de ser.

Meu Senhor, Pai de Bondade,

De Luz e de Amor sem fim,

Não me abandones à treva

Que trago dentro de mim.

NOTAS

A verdade é alguma coisa.

Sagrada, bela e infinita...

Só o amor sabe dizê-la

Conforme deve ser dita.

Se queres luzes mais altas,

Mais ditosas e mais ricas,

Olvida o mal que te fazem

E esquece o bem que praticas.

Reúnem-se os generais

Na guerra, em busca da glória,

Mas o Todo-Poderoso

É quem decide a vitória.

Quem só palavras semeia,

No campo de cada dia,

Recolherá simplesmente

O sopro da ventania.

O homem que se aborrece

Clamando fastio, a esmo,

Encontrou tempo excessivo

Para cuidar de si mesmo.

Não é a erva daninha

Que mata o grão promissor,

Mas a triste negligência

Que mora no lavrador.

Amizades e conselhos,

Livros, remédio e comida

Devem chegar até nós

De procedência escolhida.

Quem se compraz com a lisonja

Desce a escuro sorvedouro,

Bebendo o veneno e a morte

Em taças de mel e ouro.

Competência e fidalguia,

Miséria e desolação, –

Todas dependem na vida

Do toque da educação.

Quem para justificar-se

Alheias faltas reclama,

Decerto, pensa lavar-se

Em banhos de lodo e lama.

NOTAS RIMADAS

As bolotas de carvalho

Produzem copas divinas.

Atende ao dever miúdo,

Olha as coisas pequeninas.

Se procuras neste mundo

A luz de valor mais raro,

Caleja as mãos trabalhando

E aprende a pagar mais caro.

Entre um monte de ouro puro

E meio quilo de pão,

A fome, que é verdadeira,

Não padece indecisão.

Não te agastes, vida afora,

Seja a quem for, faze o bem.

Cada tonel do caminho

Somente dá do que tem.

Seja teu verbo na vida

Bem sentido, bem pensado,

Quem dorme, acusando os outros,

Desperta caluniado.

Administras? Diriges?

Sê claro, justo, fiel...

O juiz muito piedoso

Faz o povo mais cruel.

Cuidado, se peregrinas

A beber e pandegar.

O copo afoga mais gente

Que toda a extensão do mar.

Há muita boca que fala

E muita língua que exorta,

Mas à Casa do Serviço

Quase ninguém chega à porta.

Por mais negra seja a hora,

Continua calmo e crente.

Não há guerra ou tempestade

Que durem eternamente.

Trabalho, estudo, oração,

Preguiça, paixão e vinho,

São processos diferentes

Que mudam qualquer caminho.

NÓTULAS

Se o trabalho dá prazer,

Se a tarefa é nobre e amiga,

Vivemos em paz conosco,

Sem tristeza e sem fadiga.

A cólera, em toda parte,

É fogo escuro e violento

Que se dispõe à loucura

E encontra o arrependimento.

Simplifica quanto possas

A própria alimentação.

A cozinha requintada

Conduz à medicação.

Não te refiras a trevas

No teu dia claro e lindo.

Não despertes a “má sorte”,

Se a “má sorte” está dormindo.

Nunca serás vencedor

Entre balas e punhais.

Quem domina a própria ira

É o maior dos generais.

Não te rebeles na vida.

Cumpre, calmo, o teu dever.

Nas simples horas de um dia,

Tudo pode acontecer.

Nos trilhos do bem, não chores

Se segues caluniado...

Na Terra, há muito desprezo

Que traz honra ao desprezado.

O DIVINO CONVITE

"Vinde a Mim, vós que sofreis!”

E a palavra do Senhor,

Tocando nações e leis,

Ressoa, cheia de amor.

Herdeiros tristes da cruz,

Que seguis de alma ferida,

Encontrareis em Jesus

Caminho, verdade e vida.

Famintos de paz e abrigo,

Que lutais no mundo incréu,

Achareis no Eterno Amigo

O Pão que desceu do Céu.

Almas sedentas de pouso,

Que à sombra chorais cativas,

Tereis no Mestre Amoroso

A Fonte das Águas Vivas.

Venham, irmãos, a Jesus Cristo,

O Guia que nos conduz!

Vosso caso está previsto

Em suas lições de luz.

PALHETAS

Sê calmo, por mais que a dor

Surja negra, triste e má.

Ninguém sabe o rumo certo

Do minuto que virá.

Trabalhe incessantemente

Quem busque ventura e paz.

Se a preguiça segue à frente,

A miséria surge atrás.

Em teus modos e costumes

Sê generoso e conciso.

Maus modos, em qualquer parte,

São fontes de prejuízo.

Constrói sobre a retidão

A tua felicidade.

Abismos chamam abismos,

Bondade chama bondade.

Há dois males que nos fazem

A vida escura e enfermiça:

A chaga da ignorância

E a ulceração da preguiça.

A queixa de todo instante

É lagarto triste e feio

Que afasta de nossa luta

A bênção do amparo alheio.

Não menoscabes o ensejo

De servir e de aprender.

Todo minuto é momento

De dar ou de receber.

Jamais te esqueças na vida

Deste aforismo profundo:

– “Quem é bom, dentro de casa,

É bom para todo o mundo.”

Quem sabe sacrificar-se

Numa questão pequenina,

Revela trazer consigo

A força da Luz Divina.

Em tua missão no bem,

Sê diligente e tenaz.

Nada se deve no mundo

Àquele que nada faz,

PÉTALAS

Para anular tentações

Com ânimo sempre ativo,

O trabalho infatigável

E’ o melhor preservativo.

Embora a luta te esmague,

Cumpre sempre o teu dever;

O verdadeiro valor

Consiste em saber sofrer.

Não menoscabes servir

E nem repouses na estrada.

O tédio é sempre o infortúnio

De gente desocupada.

Vence em ti, contigo mesmo,

Na escola do sacrifício.

Muita vez, o herói da praça

É servo do próprio vicio.

Procura no amor fraterno

Teu caminho abençoado.

Quem dorme acusando os outros,

Acorda menos prezado.

A palavra generosa,

Doce, calma e compassiva,

Cai no deserto das almas

Como gota de água viva.

Se desejas estender

A glória do bem real,

Começa, agora e aqui mesmo,

Fugindo de todo mal.

Que o pranto das grandes mágoas

Não te faça esmorecer,

Olhos que nunca choraram

Raramente sabem ver.

Se estiveres fatigado,

De corpo fraco e enfermiço,

Medita sobre o descanso,

Mas não deixes teu serviço.

Não critiques, nem acuses

As faltas de teu irmão.

Mais tarde, atravessarás

Teus dias de provação.

PINGOS

O favor de agora cresce

Na direção do porvir.

Ajuda espontaneamente

E obterás sem pedir.

Em teu combate no bem,

Se desejares vencer,

Aprende resignado

A tolerar e a sofrer.

No roteiro para os cimos

Olvida as pedras e avança...

A beleza do triunfo

Está na perseverança.

Não abandones teus livros,

Não te canses de estudar.

A educação é tesouro

Que ninguém pode roubar.

Perdoa a ofensa da estrada.

Mais vale a tua agonia

Que a miséria dolorosa

Daquele que te injuria.

A calúnia quando escreve

Sofre a treva que a reclama,

Vertendo pelo alfabeto

Fumo e cinza, lodo e lama.

Ajuda a mão que te fere...

No bem reside a vitória.

A inveja é sempre o tributo

Que o despeito rende à glória.

POSTAIS

No esforço de vigilância,

Não dispenses a energia,

Onde o lobo acha um cordeiro,

Volta, forte, no outro dia.

Há jornalistas no mundo

De idéias e bolsas fartas,

Que, embora vivam de folhas,

Fazem menos que as lagartas.

Às casas ricas e nobres

Irás por requerimento,

Mas do ninho dos aflitos

Não aguardes chamamento.

Tem calma nas provações,

Por mais duras, por mais graves...

Chega o dia em que os leões

São simples manjar das aves.

Espírito prevenido

No mal contínuo e revel

Faz ver cobras onde há pombos,

Veneno e lodo onde há mel.

Cautela no coração!

O mal que chega às braçadas,

Depois da devastação

Vai saindo às polegadas.

Enche os teus dias no mundo

Com júbilos do dever,

Há sempre angústia e saudade

No instante do entardecer...

Trata os irmãos atacados

Da cólera e irritação,

A compressas de silêncio

E bálsamos de oração.

Deveres muitos no bem?

Não guardes mágoa e receio...

O pouco é suficiente

Quando Deus está no meio.

PROVÉRBIOS

Se desejas surpreender

A luz, a beleza e a paz,

Guarda o silêncio da língua

E muito perceberás.

Sê valoroso no esforço

Pela fé que te ilumina.

No mármore embrutecido

Repousa a estátua divina.

Se vives rogando à vida

Para que o ouro te ajude,

Não olvides que a riqueza

É a tentação da virtude.

Cresceste à frente do mundo?

Que a tua boca se cale.

A montanha, por mais nobre,

Tem alicerces no vale.

Quando julgares alguém

Na luta que te reclama,

Recorda que o lótus lindo

Vive puro sobre a lama.

Se temes pardais e vermes,

Ventania, pedra e bruma,

Não arredes pé de casa,

Nem semeies coisa alguma.

Por roupas e exibições,

Não alongues teu capricho.

Depois do fausto, há museus

E o luxo procura o lixo.

RECADOS

Evita, em qualquer lugar,

O gesto escuro ou violento.

Mais vale simples cautela

Que nobre arrependimento.

Aceita a lição terrestre

De alma simples, calma e boa.

Se não perdoas ao mundo,

O mundo não te perdoa.

Procura formar amigos

Com teus valores cristãos.

O destino faz parentes,

A bondade faz irmãos.

Por golpes de mau amigo,

Por injúrias de um vizinho,

Não alteres teus projetos,

Nem perturbes teu caminho.

Tudo vai bem se o trabalho

Força é de tua escolta.

Não te esqueças que o minuto

É bênção que nunca volta.

Onde estiveres, educa

Com bondade natural.

A ignorância do bem

É causa de todo o mal.

Diminui as ambições

E terás poucos pesares.

Serás tanto mais feliz

Quanto menos desejares.

Quem simplesmente obedece

Ganha a paga transitória.

Quem faz além do dever

Recebe a láurea da glória.

Rende culto à gentileza

Sempre viva e mais extensa.

Um pequenino favor

Traz olvido à grande ofensa.

Nunca te afastes do bem,

Que é base da Lei Divina.

O desejo é sempre nosso,

Mas Deus é quem determina.

RIFÕES

Procura a paz do equilíbrio,
No combate em que te elevas.
A calma da indiferença
É sono abismal das trevas.

Gasta o teu dia, estendendo
Trabalho nobre e seguro.
Quem perde tempo em repouso
Compra mágoas ao futuro.

Foge às pedras da ironia
A que a maldade se encosta.
Quando há sarcasmo excessivo,
O assunto não tem resposta.

Aprende a orvalhar a luz
O afeto de teu caminho.
Se queres amar a rosa,
Não lhe condenes o espinho.

Na defesa da saúde,
Usa a prudência e a bondade.
Por vezes, mudar de médico
É mudar de enfermidade.

A pretexto de cautela,
Não te entregues a secura.
Na capa da previdência,
Há muita garra de usura.

Se vives com teus amigos,
Investigando, indagando. . . 
Receberás, às carradas,
Mentiras de quando em quando.

RIMAS

Ante as pedradas da ofensa,

Toda virtude real

Desagrava-se, buscando

O esquecimento do mal.

Cabeça que não se nutre,

Nas águas do coração,

Mais cedo encontra o deserto

Da secura e da adição.

Se desejas aprender

Para servir e ensinar,

Abre os livros, cada dia,

Estuda mais devagar.

Somente amamos na Terra

A verdade nobre e rica,

Quando essa mesma verdade

Não nos fere ou prejudica.

Ao chicote da maldade

Que te lacera ou desgosta,

Não te esqueças que o silêncio

É sempre a melhor resposta.

A félea desilusão,

Muita vez, é a casa escura

Em que vamos encontrar

A verdadeira ventura.

Embora a dor, guarda o bem

Por teu nobre e santo escudo.

O tempo é o mago divino

Que cobre e descobre tudo.

SEIXOS

Acorda, vigia e escuta

Na senda que te esclarece.

No conselho da raposa

Toda galinha padece.

Se a maldade te apedreja,

Serve ao bem com fé mais rica.

Quem nada faz neste mundo

É sempre quem mais critica.

Na rota de teu dever,

Vive sem mágoa e sem medo.

Quem se deita, perde o tempo.

Quem se rala, morre cedo.

A vida é o grande oceano,

Nosso corpo é embarcação...

A morte será o porto,

Conforme a navegação.

Seja a tua paciência

Qual fonte que não se esgota.

Arrojo sem disciplina

É trilho para a derrota.

Se queres a independência

Não vivas muito à vontade,

Da escravidão no dever,

Nasce a grande liberdade.

A discórdia por mais leve

Tem sempre um sabor amargo.

Em todo sinal de guerra,

O inferno fica mais largo.

Em qualquer dificuldade,

Não fujas à cortesia,

Mais vale negar com graça

Que ceder com grosseria.

Se ajudas, ampara logo

Sem pergunta ou ’desavença.

Caridade verdadeira

Nunca pede recompensa.

Se desejas evitar

Angústias e cicatrizes,

Nunca digas o que sabes

Sem saberes o que dizes.

SEMENTES DO CAMINHO

Tem cuidado, estrada afora,

Sofrendo, sorrindo, amando...

Enquanto a galinha dorme,

A raposa está velando.

Entre as maldades da Terra,

Não te percas, meu amigo ;

Se fores ver algum lobo,

Conduze algum cão contigo.

Vigia sobre ti mesmo

Se queres a própria cura,

Que os erros da Medicina

Não saem da sepultura.

Não te afastes do equilíbrio:

Sobriedade nunca é pouca.

Quando é fácil a receita,

A despesa é sempre louca.

Em teus hábitos no mundo,

Não permaneças dormindo.

A loucura inventa as modas

E a tolice vai seguindo.

Se um dia fores bigorna,

Seja a calma o teu segredo;

Mas quando fores martelo,

Rebate forte e sem medo.

Teme apenas a ti mesmo

Na esfera de teu dever.

Quem se amedronta consigo

Nada mais tem a temer.

Fala pouco e pensa muito.

Não gastes verbo ilusório.

De palavras em palavras,

Caímos no purgatório.

Procura a simplicidade,

Não gastes a própria sorte;

Por enquanto, não chegaste

À grave questão da morte.

Buscas a paz do infinito

E a claridade sem véu?

Trabalha e auxilia o mundo,

Guardando a visão do céu.

SENTENÇAS DE TODOS

Quem não sabe refletir,

Nem sofrer, nem tolerar,

Jamais chega a discernir,

Nem sabe administrar.

Ouvimos de muita gente,

De fraco e de forte siso,

Muita gueixa da memória,

Mas nenhuma do juízo.

Quem pretende algo de bom,

Pelas estradas da vida,

Examine, de hora em hora,

O peso, o tempo e a medida.

Os médicos deste mundo

Remediam cutiladas,

Mas não curam as feridas

De frases precipitadas.

Mal de ti nas alegrias,

Se te ris em catadupa!...

O prazer anda a cavalo

E leva a dor à garupa.

Foge à língua viperina!...

Para o extermínio sem dó,

Contra o esforço de milhões,

Basta a maldade de um só.

Quem se abstém, por vergonha,

De suar em seu dever,

Abstenha-se, igualmente,

De vestir e de comer.

Há muita gente que estima

O culto à legislação,

Para ver o melhor meio

De fugir à obrigação.

Vai devagar, mundo afora,

Foge ao vício de ir e vir.

Mais vale ser alpercata

Que ser coroa a cair.

Quem sabe viver na Terra

Na bênção do pouco em paz.

Muito serve em cada dia,

Muito ganha e muito faz.

TEMAS

Se desejas algum dia

A luz divina alcançar,

Atende ao bem, sem repouso,

Sem nunca desanimar.

Evita a maledicência

Que medonhos crimes tece,

Onde muita gente cospe

A lama cedo aparece.

Sofre com calma. O relógio,

Conforme a Sabedoria,

Caminha da Meia-Noite

No rumo do Meio-Dia.

A glória na Terra, às vezes,

É um monstro que vive só,

De garras em sangue e cinza,

Mascando veneno e pó.

Nunca deites ferro em brasa

Nas chagas de teu irmão.

Ninguém morre sem feridas

Nos sonhos do coração.

Quem reparte com fartura

Auxílio, paz e alegria,

Encontra para si mesmo

A graça da simpatia.

Faze o bem, cerrando os olhos...

Ajuda sem ver a quem.

Se enxergas o mal do mundo,

O mundo não vê teu bem.

Não te lamentes na luta.

Trabalha contra a preguiça.

A queixa de todo instante

É plantação de injustiça.

A razão sem a coragem

É pobre luz sem alento.

A coragem sem razão

É simples atrevimento.

Entre as forças corretivas

Que educam a Humanidade,

Há duas mestras maiores –

A Dor e a Necessidade.