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O Natal de Sabina
Francisco Candido Xavier
Pelo Espírito
de Francisca Clotilde
(Chico Xavier)
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Conteúdo resumido
E uma carta viva de uma mãe chamada Sabina que relata as grandes lutas travadas no corpo físico e que foi ditado pelo espírito de Francisca Clotide.
Leitor amigo:
Francisca Clotilde não é apenas a irmã que veneramos no Mundo Espiritual.
E igualmente a mestra e amiga que nos conquistou pelo coração.
Colecionadora de informes, episódios, ocorrências e anotações, em tomo dos contatos de Jesus conosco, as criaturas da Terra, oferece-nos neste livro luminosa dádiva dos conhecimentos e lembranças que lhe enriquecem a vida. Mensagem de consolação e esperança que dispensa apresentação.
Confiamo-lo a você, dentro da emoção e da alegria com que recolhemos as instruções da generosa Autora, a quem devotamos amor e reconhecimento na maior expressão.
Creia.
Entregando-lhe este brinde da alma, agimos com o respeito e o carinho de quem transmite uma bênção.
MEIMEI
Uberaba, 19 de Março de 1973
Natal
A cidade vibra.
Desde muito anoiteceu.
Ouvem-se vozes cantando:
"Hosanas!!... Jesus nasceu!..."
Rodam carros apressados,
Muitos grupos vão a pé...
A alegria, em toda parte,
Traduz esperança e fé.
Enfeites! Guirlandas! Lojas!...
Cores de todo matiz...
Quantas mães falando em Deus!...
Quanta criança feliz!...
Estrelas lembram na Altura
Alampadários em flor,
Descendo em bandos à Terra
Para um festa de AMOR.
Em meio de tanto brilho,
Quase de rastros no solo,
Sabina passa na rua
Com trapos a tiracolo.
Andrajos cobrem-lhe o corpo;
Na face desconsolada
Traz ainda o pó viscoso
Do leito sobre a calçada.
Abeira-se de uma casa,
Pede pão, diz que tem fome,
Afirma-se fatigada,
Há dois dias que não come...
Um senhor enraivecido
Ataca de rosto em brasa:
- "O hospício fica mais longe,
Afaste-se desta casa..."
Sabina toma outro rumo,
Pede bolo à padaria,
Vem um rapaz e responde
Com manifesta ironia:
"Não vê que está na cachaça?
Não nota que cambaleia?
Saia daqui, saia agora!...
Peça bolo na cadeia"....
Sabina Ouve....
A pobrezinha se arranca,
Procura, em travessa ao lado,
Antiga caixa de esgoto
Num recanto abandonado.
Em torno, a cidade brilha,
Toda envolvida de luz!...
Deitada no chão de pedra,
Sabina pensa em
JESUS
Onde nascera Sabina?
Vivia, afinal, com quem?
Era inútil perguntar,
Ninguém sabia,
Ninguém...
Lavava roupa em fazendas,
Capinava milharais;
Depois, ficara doente...
Ninguém a queria mais.
Tivera um filho, o Antoninho,
Que lhe fora apoio à vida...
Morrera aos oito de idade,
Com febre e tosse comprida.
Desde a morte do menino,
Fazia em tudo supor,
Abatida e desgrenhada,
Que enlouquecera de dor...
Era triste, desleixada,
Andava, de déu em déu,
Se parava, era somente
A fim de fitar o Céu.
Nessa noite de alegria,
Embora sem entendê-las,
Enfraquecida e cansada,
Sabina olhava as estrelas.
Parecia o firmamento
Um campo da primavera...
Onde estaria no alto
O filho que Deus lhe dera?
Em lágrimas, recordava
O Natal de antigamente,
O barraco improvisado,
O bule de café quente...
Revia, a fel de saudade,
Os sorriso de Antoninho,
Ao despejar-lhe nas mãos
As dádivas do vizinho...
Restava-lhe, unicamente,
Depois do filhinho morto,
Doença, frio, abandono,
Sofrimento, desconforto...
Nisso, alguém lhe surge à frente,
Homem moço em largo manto,
Por tudo e em tudo irradia
Incomparável encanto.
"Sabina - falou o estranho -
Em que pensa, triste assim?
Não vê que a cidade inteira
É um luminoso jardim?
Ela explica: - "Não, senhor,
Nada vejo, em derredor,
Quando é noite de Natal,
Meu sofrimento é maior..."
"Que quer você? - Disse o jovem -
Dinheiro? Roupas de renda?
Um tanque para lavar,
Um milharal de fazenda?!..."
"Ah! senhor
- clamou a pobre,
Tremendo na ventania -
Se o Céu me escutasse agora,
Nada disso pediria...
Como sempre, rogo em prece,
Enferma e só como estou,
O filho que Deus me deu
E a morte me arrebatou..."
"Sua oração foi ouvida..."
Ele informa, face em luz.
"Quem ouço?..." indaga Sabina.
Ele diz: - "Eu sou Jesus!..."
Do manto dele um pequeno
Sai envolto em doce brilho...
Clama o garoto:
- "Mamãe!..."
Sabina grita: - "Ah! Meu filho!..."
Encontro, surpresa, bênção,
júbilo imenso depois...
Sabina beijava o filho,
Jesus abraçava os dois!...
Naquelas pedras de rua,
Que a luz do Céu banha e doura
Clarões pintavam em prata
Lembranças da Manjedoura.
Logo após, os três partiam
Ouvindo canções ditosas,
Em nave feita de estrelas
Emolduradas de rosas.
Em toda parte, as legendas
Que o mundo nunca esqueceu:
"Glória a Deus!... Paz sobre a Terra!...
Hosanas!... Jesus nasceu!..."
No outro dia, cedo ainda,
Uma senhora na estrada,
De longe, enxerga Sabina
Como a dormir, recostada...
A dama quase supõe
Na pobre que conhecera
Um retrato da alegria
Numa escultura de cera.
Volta à casa... Traz um caldo,
Quer saber se a reconforta.
Chama Sabina, de leve,
Mas Sabina...
estava morta.
FIM