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QUEM SÃO
CHICO XAVIER
ESPÍRITOS DIVERSOS
IDE
Instituto de Difusão Espírita
Leitor amigo:
Folheando, ao acaso, este volume despretensioso e anotando os nomes diversos daqueles que lhes subscrevem as páginas, é natural perguntes:
- Quem são? De quem são as notícias e esclarecimentos, observações e notas destes comunicados?
E responderemos, de boa vontade: são companheiros que volvem da Espiritualidade, depois das intercorrências da morte, ao encontro dos entes amados que ficaram no Mundo, no intuito de instruí-los e confortá-los; são amigos da verdade que a distribuem no veículo do amor, a benefício dos semelhantes; são semeadores do progresso espiritual, convidando as criaturas à felicidade e ao aperfeiçoamento; e são mensageiros da esperança que se manifestam, levantando almas abatidas pela saudade e pela dor, acendendo luzes nos caminhos para a Vida Maior.
*
Apresentando-lhes, amigo leitor, os autores deste volume, teremos dito algo das nobres finalidades a que se lhes destinam as palavras iluminadas de compreensão e de amor. Todas se constituem de apelos ao entendimento mútuo e ao otimismo, à beneficência e à paz, à solidariedade humana e à fé em Deus, para o engrandecimento da vida.
Ante a grandeza de propósitos e sentimentos que as inspira, agradecemos a visita e o carinho desses emissários da Luz, com os nossos votos para que lhes aproveitemos as manifestações, voltando-nos, em companhia deles, para renovadora intimidade com os ensinamentos de Jesus, sempre o nosso Divino Mestre e Senhor.
I
De Coração a Coração
Querida Su, o pensamento está erguido para Deus, rogando à Divina Providência abençoar-nos.
Não sei contar os dias da ansiedade, nem sei somar as petições já fiz para que o nosso encontro se realizasse, como sua agora, em que procuro falar com você, de coração a coração.
Não me creia esquecido.
Aliás, seria injusto, de minha parte, de conhecer o que ocorre na tela de suas lembranças, com as quais incessantemente me identifico.
Tanto amor para a vida tão pouca, certamente alguém poderia dizer.
Entretanto, nós ambos sabemos que não é assim.
Tanta vida para um amor imperecível, tanta esperança e tantas saudades juntas, aumentando mais amor, nessa mesma luz de confiança recíproca em que sempre vivemos.
Enganam-se os que acreditam que a morte possa apagar o coração.
As ligações verdadeiras são invulneráveis.
Varam o tempo e a morte, a separação aparente e a dor que se nos afigura sem termo, para serem epopéias de lágrimas que, um dia, se transfigurarão em felicidade total.
Sou grato ao seu carinho e fidelidade a tudo que foi e ainda é nosso, para ser mais nosso no grande amanhã.
Não preciso dizer pra você que o carro despencado foi motivo, a princípio, de muito sofrimento para mim.
Afinal, você e eu somávamos a vida em si, e aquele afastamento brusco era em nós dois uma lesão que se fez cicatrizada, mas sem cura essencial.
A querida vovó Doca e o querido avô Francisco me consolaram.
O Domingos, que reencontrei na personalidade de um valoroso rapaz, meu amigo e meu irmão, me amparou de braços abertos, mas em tudo via você a chamar-me com o pranto entre nós, à feição de uma nuvem que nos envolvesse numa tempestade de dor.
Com você ficava a minha Vitória-Régia, a mais bela de todas que escolhera para enfeitar-me a vida e sustentar-me o coração.
Entretanto, pedi aos amigos daqui a livrassem do pesadelo da autodestruição.
Dias terríveis aqueles em que me via ao seu lado, tentando reconduzi-la a uma tranqüilidade que não mais lhe podia dar.
Agora, porém, choramos de esperança.
A tormenta cedeu lugar à paz, e espiritualmente me sinto mais leve ao reconhecer que você venceu a batalha íntima da inconformação.
Continue trabalhando, prossiga vivendo.
Sou eu ainda o seu companheiro e o seu amigo.
Não permita que a tristeza lhe despoje os sonhos de confiança no futuro.
Às vezes, em pleno vôo, no trabalho que o Senhor lhe concedeu, noto-lhe a coragem nas horas difíceis, e admiro-lhe o valor enfibrado no sofrimento.
Tenho a idéia de que você adquiriu asas poderosas, a fim de alimentar a paz de muita gente.
Espere a felicidade nossa, prosseguindo em suas tarefas.
Tudo, tudo o que é nosso está guardado no coração do companheiro que não a esquece.
Sei quantos sacrifícios fez você para vir até aqui; tentando um encontro rápido, ainda que fosse na dimensão de um telegrama curto, mas, com permissão dos instrutores desta Casa, posso escrever pra você destilando o próprio coração em minhas frases.
Querida Su, perdoe a todos aqueles que não nos compreenderam e nem nos compreendem ainda, seja feliz e viva confiante, na certeza de que temos Deus.
Deus que nos uniu, nunca haveria de separar-nos.
Guarde o seu sorriso amigo e espontâneo para restabelecer a segurança e a paz de todos os nossos momentos oportunos.
Agora, não é um novo adeus.
É a promessa de presença invariável. Nunca se sinta só.
Eu sou a sua compreensão, tanto quanto você é a minha força.
Unidos em Deus, venceremos.
Não sei o que escrever para expressar o carinho do noivo presente e aparentemente distante.
A alegria de sentir a sua fé me comove. Tenho lágrimas.
Querida, não são lágrimas de dor e sim de alegria ao verificar-lhe a confiança e a sinceridade.
Estaremos juntos.
Se posso selar esta carta com o meu próprio coração, receba com todo o meu reconhecimento e carinho.
É seu.
É seu, como sempre, com toda a lealdade e com todo o amor, com todo o imenso amor do seu
Nathaniel José Furtado Xavier de Albuquerque
II
Paz e conformação
Em carta datada de 24 de novembro de 1979 e dirigida ao Dr. Eurípedes Higino dos Reis, eis como se expressou a destinatária da mensagem recebida pelo médium Xavier, no Grupo Espírita da Prece, a 22 de junho de 1979, em Uberaba, a que demos o título de "De Coração a Coração":
"Nem sei como devo começar, e, tentar me identificar, embora saiba que devido ao número imenso de pessoas, que vão até nosso querido irmão Chico Xavier, buscar um pouco de consolo, e um pouco de paz, talvez seja difícil que você se lembre de mim.
Mas, vou tentar: sou do Rio, e estive aí em Uberaba, no dia 22 de junho (próximo passado), e recebi uma mensagem do meu noivo que desencarnou em Manaus, há três anos.
Fui ao Chico Xavier, pela primeira vez, e fui muito feliz, consegui muita paz e conformação para continuar a viver, graças a Deus.
Qualquer notícia vinda do Chico Xavier, sempre é muito importante para mim!
Meu Nome: Suanny Ramalho Gomes
Rua: Figueiredo de Magalhães, n.º 144, Apto. 511 - Copacabana - 2203 - Rio de Janeiro - RJ.
Sem mais, aqui termino pedindo ao Sagrado Coração de Jesus que sempre ilumine e abençoe a todos vocês.
Uma irmã, eternamente grata,
Suanny. "
Depois de ligeiro contato por telefone, carregado de muita emoção, assim se dirigiu Su ao autor destes apontamentos:
"Rio, 08/07/80.
Dr. Elias,
Conforme o combinado, seguem os dados que o senhor me pediu.
Espero que esteja tudo certo.
Se precisar de mais alguma coisa, estou aqui no Rio, à sua disposição.
Para mim, é sempre uma felicidade renovada falar de uma mensagem que me deu forças para continuar a viver.
Qualquer dúvida, o senhor pode me escrever ou telefonar, que me apressarei a lhe responder.
Nathaniel José Furtado Xavier de Albuquerque Nascimento: 17 de agosto de 1953, em Manaus, Estado do Amazonas.
Desencarnação: 29 de agosto de 1976, também em Manaus.
Su: Suanny Ramalho Gomes.
Yovó Doca: Avó materna de Nathaniel.
Avô Francisco: Avô materno de Suanny.
Domingos: Domingos Savio, irmão de Suanny.
"As ligações verdadeiras são invulneráveis.
Varam o tempo e a morte, a separação aparente e a dor que se nos afigura sem termo, para serem epopéias de lágrimas que, um dia, se transfigurarão em felicidade total."
"Com você ficava a minha Vitória-Régia, a mais bela de todas que escolhera para enfeitar-me a vida e sustentar-me o coração."
Sem mais, aqui termino aguardando um comunicado seu.
Atenciosamente,
Suanny /Su.
Obs.: Esta é a única foto que eu tenho dele, que é pequena. As outras são todas grandes, são pôsteres ou fotos de porta-retratos grandes.
Su. "
III
Do Mundo Espiritual
Minha querida Mãezinha abençoe seu filho em preces a Deus, rogando por nós.
A oração favorece a palavra que meu coração anseia trazer e agradeço a paz do ambiente que a oração tranqüiliza e ilumina.
O nosso doloroso Dez de Janeiro já se foi e agora, volvidos dezoito meses, posso voltar a fim de afirmar ao seu carinho que a morte é uma saída oculta na direção da vida verdadeira.
A princípio, depois do golpe inesperado, a perturbação me tomou a cabeça. Eu daria tudo o que eu tivesse, para dizer em casa que eu não desaparecera para sempre.
Fiz tudo, Mãezinha, para superar o desequilíbrio e explicar-lhe que o desastre fora apenas um ponto de mudança...
Só mudança, nada mais.
Vi-me de coração descompassado, aflito, e a cabeça em fogo...
Uma nuvem me tomara os olhos e imaginava enxergar, sem realmente ver o que eu pensava...
O que houve depois do choque, do qual me desprendi do corpo, realmente não sei.
Fiquei assim na posição de alguém que sofresse longo tempo de anestesia, para despertar de improviso, reassumindo o controle de si mesmo, com muito vagar...
Escutava choro, gritos e lamentações.
No meio de todas as vozes, a sua era diferente, diferente de todas, como sempre...
E via suas mãos postas, perto de mim, e ouvia suas palavras de aflição:
"- Ah! Meu Deus, Meu Deus, por que, Meu Deus! por que meu filho? Por que o desastre para meu filho?"
Como me doíam no coração as suas queixas...
Era como se as suas lágrimas escorressem sobre o meu rosto, alagando minha alma e sufocando minha capacidade de pensar.
Meu pai, via meu pai. agoniado, vencido.
E todos os nossos como que a me buscarem para o lar, sem que eu pudesse atender.
Minha angústia era tanta que, embora chumbado ao leito que me retinha, pedi a Deus que me enviasse alguém que pudesse abençoar e fortalecer...
Foi então que notei, por fim, Vovó Thereza ao meu lado.
Ela consolou-me com carinho, pedindo-me calma.
E esclareceu que a morte na Terra é um sofrimento que muito poucos até agora conseguem controlar, que eu esperasse que meu coração amoroso seria guiado para a verdade, que eu recebesse as exclamações da família com paciência e que, um dia, eu, com a bênção de Deus, lhes poderia falar.
Tranqüilizei-me como pude e aqui estou, querida Mamãe, para afirmar que a vida é boa e que tudo acontece para o bem.
Não se entristeça, não se abata, cuide da felicidade de todos os nossos, especialmente de nossa Christina querida.
Viva e viva muito, servindo, amando, ajudando os outros, compreendendo e abençoando.
Voltei aparentemente cedo para cá, porque isso era necessário.
José Roberto e eu estávamos atados numa dívida que o acidente resgatou.
Mas... esquecemos a dor, para só pensar na esperança.
Estou alegre - muito alegre mesmo, ao vê-la num agrupamento de corações dedicados ao bem do próximo.
Trabalhe, Mãezinha, pelo bem dos semelhantes.
Na Terra, a pessoa costuma construir com pedras, mas no Céu só se constrói com amor.
Sei que o seu olhar me procura nos jovens de minha idade, buscando auxiliá-los.
Faça assim sempre.
E quando me fite nas lembranças de casa, não chore mais. Acalme-se e trabalhemos.
Julgam aí que perdi o curso de Direito que me achava disposto a conquistar, mas aqui igualmente existem escolas e estudarei com entusiasmo, desde que em nosso lar tudo esteja bem.
Mãezinha, como seria bom se eu pudesse continuar escrevendo, escrevendo...
Entretanto, não posso continuar.
Continuarei escrevendo em seu coração querido, dando ao seu carinho a certeza de que estamos juntos sempre e para sempre.
Para os nossos, com as minhas preces a Deus pela felicidade de meu pai, as minhas muitas lembranças.
Para sua ternura, querida Mamãe, agradecendo as nossas amigas que a trouxeram até aqui, todo o coração de seu filho que não morreu,
Sérgio
Sérgio Roberto Decenso
IV
Juntos sempre e para sempre
De nossa segunda entrevista com a Sra. Alice Decenço, em Uberaba, na tarde de 2 de fevereiro de 1980, já que a primeira se deu logo após a recepção da mensagem, na noite de 11 de julho de 1970, colhemos os seguintes dados sobre a página que foi impressa com o título "Do Mundo Espiritual":
1 - Querida Mamãe: D. Alice Teresa Dias Decenço, residente em Jaboticabal, Estado de São Paulo.
2 - O nosso doloroso Dez de Janeiro: Sérgio Roberto Decenço nasceu em Jaboticabal, a 1 l de fevereiro de 1949.
Fez o Curso Técnico de Contabilidade, e trabalhava escritório de despachante, com o pai.
Era caridoso e católico.
O desastre automobilístico que lhe resgatou uma dívida cármica, juntamente com o colega José Roberto, ocorreu a 8 de janeiro de 1969, na estrada que liga Jaboticabal a Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.
Sérgio, na Santa Casa de Ribeirão Preto, chegou a se submeter à intervenção cirúrgica, mas, com o fígado rompido, veio a desencarnar a 10 de janeiro.
Detalhe importante este do Dez de Janeiro, porque o médium desconhecia, por completo, o que pudesse ter acontecido com o jovem Decenço.
3 - "A princípio, depois do golpe inesperado, a perturbação me tomou a cabeça." - Os que testemunharam o acidente, afirmam que o Volks no qual Sérgio e José Roberto viajavam, foi de encontro a um caminhão que se encontrava com os faróis apagados, no acostamento, ao estourar um pneu.
4 - "Meu pai, via meu pai, agoniado, vencido." - Trata-se do Sr. Sérgio Decenço.
5 - "Foi então que notei, por fim, Vovó Thereza ao meu lado." -O Espírito se refere à bisavó materna, D. Thereza Pierrotti Talarico, desencarnada há 47 anos, e natural da Itália.
6 - Christina: Maria Christina, irmã. Agora, Maria Christina Decenço de Carvalho.
7 - José Roberto: José Roberto Damasceno, colega de curso (Pré-vestibular para Direito), que desencarnou logo após o acidente, a 8 de janeiro de 1969.
8 - "Julgam aí que perdi o curso de Direito que me achava disposto a conquistar, mas aqui igualmente existem escolas e estudarei com entusiasmo, desde que em nosso lar tudo esteja bem." - Tanto Sérgio quanto José Roberto chegaram a fazer a inscrição para o Vestibular de Direito, em Ribeirão Preto, mas a morte os colheu na viagem de volta aos penates.
Avisada em sonho, cerca de quinze dias antes do acidente sobre o que viria acontecer, D. Alice, por diversas vezes, pedira ao filho o máximo de cuidado, ao volante, e talvez seja por isso que ele tenha alertado todas as mães que passam por experiências semelhantes, ao afirmar, a certa altura da mensagem:
"Não se entristeça, não se abata, cuide da felicidade de todos os nossos..."
"Viva e viva muito, servindo, amando, ajudando os outros, compreendendo e abençoando."
"Voltei aparentemente cedo para cá, porque isso era necessário."
"Trabalhe, Mãezinha, pelo bem dos semelhantes."
"Na Terra, a pessoa costuma construir com pedras, mas no Céu só se constrói com amor."
"Acalme-se e trabalhemos."
V
Ante a Benção Divina
Querida Amália, queridos filhos, peço a Deus nos abençoe a todos.
Não avaliam a surpresa e a emoção com que mobilizo o lápis, com o auxilio do Odilon e de outros amigos da vida nova, para traçar estas notícias.
Ainda não sei se escrevo com lágrimas de gratidão a Deus ou com as preces de agradecimento à família abençoada que a Divina Providência me concedeu a felicidade de partilhar, porque a formação de nossa vida doméstica foi sempre tão bela que acredito tenha vindo dos Poderes do Alto.
Quero dizer a você, querida Amália, que, antes de tudo, estou aqui a fim de expressar o meu reconhecimento, por tudo de bom que recebi de sua dedicação.
Aqui, neste tópico, faço uma pausa para recordar...
Lembrar todas as nossas alegrias e dificuldades do princípio, as bênçãos e as lições que nos foi possível entesourar.
Agradeço ao seu carinho por todas as suas páginas vivas de sacrifício por nós todos, seus gestos de amor e renúncia que o velho companheiro não conseguirá esquecer, suas noites e dias de trabalho em nosso favor, a sua paciência e a sua compreensão, abraçando os meus filhos - os nossos filhos - com um só coração de mãe, sem estabelecer diferença...
Agradeço a você por todas as suas demonstrações de amor e devotamento em auxílio ao João, ao Laius, à Laís, ao Waldir, ao Main, ao Eurípedes, ao Walmir, à Wállia, a todas as nossas filhas - noras e genros - filhos, por todos os nossos netos.
É difícil para mim manejara memória com clareza para alinhar todos os nomes.
Saibam todos, porém, que se encontram em meu coração.
Cada filho me lembra as suas mãos generosas, construindo, amando, servindo, esquecendo-se de tudo para pensar unicamente em nós.
E talvez tenha sido eu o seu filho de condução mais difícil, aquele filho - esposo que você já recebeu de espírito consolidado.
Perdoe-me pelos obstáculos e conflitos que bem sei lhe haver imposto no curso da vida.
Entretanto, querida Amália, sem o coração materno palpitando no corpo do lar, a família deixaria de existir.
Em você, temos nós todos a motivação maior para a nossa alegria de viver e aprender com os Instrutores do Bem os ensinamentos da elevação de que todos somos necessitados.
Desde muito tempo, venho procurando a oportunidade para endereçar-lhes as minhas notícias e esclarecer que ignoro se haverá no mundo um Esposo e um Pai tão feliz quanto eu sou.
Em verdade, não pude legar aos meus entes amados qualquer patrimônio de ouro e prata, mas tenho o contentamento de reafirmar aos filhos abençoados que lhes deixei um anjo tutelar em sua presença de Mãe e todos esses tesouros que recebemos de sua bondade, no dia-a-dia da existência.
O amor e o respeito mútuo, a solidariedade e o entendimento da vida, o trabalho e as noções do dever bem cumprido integram a fortuna que nós, querida Amália, sempre buscamos idear e criar para os descendentes.
Louvado seja Deus que nos permitiu tamanha felicidade!
Minha libertação do corpo doente e praticamente imprestável, se fez pouco a pouco.
Estou grato aos filhos queridos que nos auxiliaram a manutenção do velho pai em casa mesmo, no aposento que ficou marcado para nós como sendo um ponto de encontro com as orações, à procura das bênçãos de Jesus.
Aqueles dias e noites de minha incapacidade para falar ou movimentar-me não me retiraram a lucidez, acompanhei o meu processo de libertação do veículo físico, sem perder uma só das minudências.
A música dos dias últimos que o nosso Eurípedes inventou para auxiliar-me, exercia sobre mim uma hipnose benéfica, dentro da qual conseguia esquecer o mal-estar que me tomava todo o corpo, em forma de dor indefinível.
Ouvia as orações dos amigos, recebia os passes e aquelas melodias que me induziam aguardar com serenidade o alvorecer de um dia novo, faziam o fundo de meus pensamentos de esperança em Deus.
A 17 de outubro - bem me recordo -, consegui ver minha mãe, tão perfeitamente como quando em criança e em silêncio, só pedia a Deus me fizesse de novo, criança em seus braços...
Ela sorriu e me pediu paciência.
À medida que a noite avançava, comecei a sentir que a visão se ampliava...
Tive a idéia de que o quarto estava visitado por amigos e companheiros que me antecederam, havia tanto tempo...
Reconheci a presença de nosso amigo Dr. Paulo Rosa, que me disse reconhecer-me novamente na condição de um menino doente que ele, com bondade, vinha auxiliar...
Entendi que o tempo para mim estava esgotado.
Era preciso aceitar e partir, segundo os Desígnios da Vida Superior.
As preces de tantos anos, todas elas iluminadas de fé em Deus, estavam funcionando...
Amigos da Vida Maior aplicavam-me passes magnéticos através de movimentos que me eram familiares, e adormeci sem dificuldade.
Acordando em casa mesmo, notei, embora com muito abatimento, a presença de criaturas queridas que estavam sempre em nosso amor.
Minha mãe e meu pai João Lício, meu outro pai Miguel e dona Maria, minha outra mãe, estavam comigo.
Nossa estimada Lola auxiliava-me na posição de irmã abnegada e mais experiente que eu mesmo...
E outros amigos chegavam ou haviam chegado e eu começava a vê-los com os meus próprios olhos, dentre eles, o Odilon Fernandes, o Carvalho, o Maciel, o Anatólio, o Ricciopo e muitos outros que não posso por agora enumerar.
O toque final que me desligava do corpo então imóvel, veio de nosso devotado Eurípedes Barsanulfo, a quem recorria em meus minutos de silêncio forçado no leito...
Passei a percepções mais amplas, recebendo abraços de amigos do tempo em que trabalhava com o Dr. João Waack e outros companheiros.
O nosso Edmundo, que se encontra aqui conosco, abraçando a nossa querida irmã Vitória, me prestou valioso concurso.
Querida Amália, quem conseguirá contar tantas ocorrências, rememorando um dia como aquele de saudade e esperança, paz e despedida?
Antes da remoção da vestimenta imprestável que eu deixava, médicos amigos me aplicaram recursos de sedação que me asserenaram e, quando despertei, me achava na Vida Diferente, em que me vejo agora...
Saudades são hoje orações comigo, entretanto, tenho a alegria de informar que já posso prosseguir trabalhando...
Muito pouco é o que consigo fazer, mas esse pouco já me reconforta e me indica novas realizações do futuro.
Agradeço a toda a nossa querida Família, que me auxiliou tanto na preparação.
Tudo foi mais fácil para mim, de vez que, pouco a pouco o meu remédio, absolutamente indispensável, foi à paciência com que me suportaram.
Deus recompense a todos.
Se pudesse, seguiria escrevendo, escrevendo...
Mamãe está em minha companhia e agradece por mim igualmente, quanto fizeram em minha proteção.
Não posso dizer que estou plenamente feliz, porque ausência dos familiares inesquecíveis não dá para fazer a alegria total de ninguém, mas posso dizer que já me esforço para comprar a felicidade com o valor do trabalho, da seara do bem que Jesus me auxiliará a desenvolver.
Abraço a todos os filhos, com o carinho de todos os dias, e peço a todos considerarem comigo que o meu tempo de permanência no corpo físico havia realmente terminado e que se me demorasse por mais semanas ou meses, teria o meu processo de esclerose muito agravado.
Deus nos proporciona sempre o melhor.
Rogo a Deus abençoe a todos eles, junto das noras que se fazem representar nesta noite por nossa Zélia e por nossa Dílcia.
Estimo que o nosso Paulinho continue em plena restauração.
Não faço uma relação de nomes por não desejar praticar esquecimento.
Querida Amália, nossa prezada Lola, que não está presente na noite de hoje, nos reafirma guardar você no coração por Irmã e Mãe para quem ela roga as bênçãos de Jesus.
E ao terminar esta carta, quero rematar com a minha antiga trova, em diferente expressão.
Deixando o mundo de abrolhos,
Guardo, ante a Bênção Divina,
A menina de meus olhos
Nos olhos desta menina.
Sabe você, querida Amália, que esta menina é você em meu coração e em meu pensamento.
Muito carinho a todos os nossos, e para você todo o amor e todo o reconhecimento de seu, sempre seu,
Waldemar.
Waldemar Vieira e esposa
VI
Lágrimas de gratidão
A mensagem que titulamos "Ante a Bênção Divina e que constitui o capítulo anterior, é a primeira de uma série de três, recebida pelo médium Xavier, em Uberaba, na noite de 22 de outubro de 1978.
O autor espiritual, Sr. Waldemar Vieira, nasceu em Campos, Estado do Rio de Janeiro, a 8 de janeiro de 1898, e desencarnou em Uberaba, a 18 de outubro de 1977, depois de longo tempo de sofrimento, em seu próprio lar, em conseqüência de um acidente vascular cerebral, em 1971, e fratura de fêmur, em março do seu último ano de permanência no Plano Físico.
Fundador da primeira estação de rádio, de Uberaba, a "PRE-5 - Rádio Sociedade do Triângulo Mineiro"; ex-presidente do Grupo Espírita Aurélio Agostinho, cujo 60.º aniversário de fundação se comemorou, em 1980; e um dos fundadores da Escola Técnica José Bonifácio, a primeira, no gênero, a ser criada na região, Sr. Waldemar Vieira era autodidata, tendo feito parte do curso ginasial, em Ribeirão Preto, Estado de São Paulo. Ex-presidente do Rotary Clube de Uberaba.
Lia muito, possuindo respeitável cultura.
Gostava da Eletrônica, tendo sido grande entusiasta dos primeiros aparelhos estereofônicos e um dos primeiros revendedores desses aparelhos, em Uberaba.
Era espírita convicto e médium passista de vastos recursos.
Por itens, analisemos os pontos altos da aludida mensagem, no que se refere aos elementos comprobatórios de autenticidade e doutrinários.
1 - Querida Amália: Trata-se de D. Amália Tahan Vieúa, segunda esposa do Espírito comunicante, residente em Uberaba.
2 - Com auxilio do Odilon: O Espírito se refere ao Dr. Odilon Fernandes, que nasceu em São João de Capivari, Estado de São Paulo, a 10 de outubro de 1903, e desencarnou em Guarulhos, Estado de São Paulo, a 13 de janeiro de 1973, em conseqüência de processo blastomatoso que lhe atingiu o fígado e o pâncreas.
Era cirurgião-dentista e professor titular de Técnica, na então Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, hoje FIUBE.
Grande estudioso da mediunidade de efeitos físicos, fundou o Centro Espírita - Casa do Cinza -, homenageando seu genitor desencarnado, Sr. Ludovice Fernandes (Cinza).
3 - "Agradeço a você por todas as suas demonstrações de amor e devotamento em auxílio ao João, ao Laias, à Laís, ao Waldir, ao Main, ao Eurípedes, ao Walmir, à Wállia, a todas as nossas filhas - noras e genros - filhos, por todos os nossos netos." - Vejamos, por ordem, os nomes citados pelo Espírito do Sr. Waldemar:
a) João: João Lício Vieira Neto, chefe da Secção de Vendas da Philips, em São Paulo, Capital;
b) Laius: Laias Fernandes Vieira, também residente na capital paulista;
c) Laís: Sra. Laís Vieira Tahan, casada com o Sr. Eduardo Tahan, residente em São Paulo, Capital;
d) Waldir: Dr. Walmir Vieira, Procurador Geral da Justiça em Minas Gerais; professor de Noções de Direito e Legislação, na Escola de Engenharia de Ouro Preto, e de Direito Penal, na Escola Milton Campos. Residente em Belo Horizonte;
e) Main: ou Mainho, como se verá grafado na segunda mensagem, é o Dr. Waldemar Vieira Júnior, distinto cirurgião plástico e professor universitário, residente em Uberaba;
f) Eurípedes: Dr. Eurípedes Tahan Vieúa, cirurgião geral e gastrenterologista com larga experiência nos Estados Unidos da América do Norte, além de professor na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, de Uberaba;
g) Walmir: Dr. Walmir Tahan Vieira, cirurgião-dentista e professor na Faculdade de Odontologia da Universidade de Uberlândia, residente na progressista cidade triangulina;
h) Wállia: Sra. Wállia Vieira Bastos Silva, casada com o Dr. José Francisco Bastos Silva, Delegado Seccional, em Araraquara, Estado de São Paulo;
i) netos: Ao todo são 29, sendo 12 da primeira esposa e 17 do segundo casamento. (Dados fornecidos por D. Amália, na tarde de 5 de junho de 1980, em sua residência.)
4 - "E talvez tenha sido eu o seu filho de condução mais difícil, aquele filho-esposo que você já recebeu de espírito consolidado. (...) / Entretanto, querida Amália, sem o coração materno palpitando no corpo do lar, a família deixaria de existir." - Com efeito, para que possa um casamento sobreviver com o mínimo de complicações de ordem cármica para o lado dos próprios cônjuges e dos filhos do casal, a condição precípua há de ser esta: que o marido não seja simplesmente marido, mas filho-esposo, passando toda a constelação familiar a ser regida - orquestra abençoada de irmãos - tão-só pelo coração materno, lídimo representar do magnânimo coração do Cristo, em perfeita comunhão com o Pai.
5 - "Em verdade, não pude legar aos meus entes amados qualquer patrimônio de ouro e prata, ..." - Lembrete dos mais oportunos para todos nós, os pais ansiosos da atual sociedade consumista, que, em detrimento da educação espiritual, pretendemos deixar aos nossos filhos bens materiais supérfluos.
6 - "Minha libertação do corpo doente e praticamente imprestável se fez pouco a pouco." - Na verdade, segundo D. Amália, Sr. Waldemar permaneceu oito meses de cama, e entre duas grandes intervenções cirúrgicas a que se submeteu, com sonda nasogástrica, cânula traqueal, etc, sem jamais se queixar da situação em que se encontrava. Três meses antes de desencarnar, não articulava uma só palavra, mas seu olhar denotava absoluta aceitação, que o induzia aguardar com serenidade o alvorecer de um dia novo, imerso nos pensamentos de esperança em Deus.
7 - "A música dos dias últimos que o nosso Eurípedes inventou para auxiliar-me, exercia sobre mim uma hipnose benéfica, dentro da qual conseguia esquecer o mal-estar que me tomava todo o corpo, em forma de dor indefinível." - As músicas selecionadas pelo Dr. Eurípedes eram, principalmente, as preferidas por seu genitor - de Beethoven e Mozart.
8 - Nosso amigo Dr. Paulo Rosa: Distinto médico pediatra e escritor, sobre quem já traçamos ligeiro perfil na obra Enxugando Lágrimas (1). (Uberaba, MG, 22 de janeiro de 1904 - Anápolis, GO, 6 de novembro de 1969.)
(1) Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa e Espíritos Diversos, Enxugando Lágrimas, 3.ª edição, IDE, Araras (SP), 1980, p. 176.
9 - "Minha mãe e meu pai João Lício, meu outro pai Miguel e dona Maria, minha outra mãe, estavam comigo." - a),Minha mãe: D. Margarida Diniz Peçanha Vieira, prima de Nilo Peçanha (1867-1924), ilustre homem público, nasceu em Campos, RJ - seu natalício era comemorado a 17 de agosto -, e desencarnou em Uberaba, a 10 de janeiro de 1960, já bastante idosa;
b) meu pai João Lício: Sr. João Lício Vieira era natural de Iguape, Estado de São Paulo. Desencarnou em Uberaba, a 28 de dezembro de 1917; era chefe do Telégrafo, dos mais dedicados;
c) pai Miguel: Sr. Ragueb Tahan, genitor de D. Amália, nascido na Síria e desencarnado em Uberaba, a 26 de abril de 1955;
d) dona Maria: D. Maria Tahan, Sra. mãe de D. Amália, também nascida na Síria e desencarnada em Uberaba, a 30 de janeiro de 1956.
10 - Nossa estimada Lola: Professora Maria Rosa Fernandes Vieira, primeira esposa do Sr. Waldemar Vieira, nascida e desencarnada em Uberaba. Era irmã do Dr. Odilon Fernandes.
11 - Outros amigos - o Carvalho, o Maciel, o Anatólio, o Ricciopo: a) o Carvalho: David de Carvalho, nascido em Redinha, Portugal, a 27 de janeiro de 1899, e desencarnado em Uberaba, a 13 de setembro de 1965. Formou-se em Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, na antiga Escola de Farmácia;
b) o Maciel: Sr. Francisco Maciel, comerciante, ex-Juiz de Paz e avaliador do Banco do Brasil S.A., nasceu e desencarnou em Uberaba, respectivamente, a 8 de abril de 1900 e 10 de janeiro de 1971;
c) o Anatólio: Sr. Anatólio Magalhães, renomado pintor que nasceu a 15 de fevereiro de 1887 e desencarnou a 15 de agosto de 1963, em Uberaba, não deixando bens, nem filhos, conforme consta do seu registro de óbito n.o 728, às fls. 38 do livro C n.o 31, no Cartório de Registro Civil.
Filho de Antônio Augusto Pereira de Magalhães e de dona Cornélia Carolina de Souza Magalhães, era viúvo de D. Olympia Gomes Magalhães, e residia à Rua Henrique Dias, 16.
Depois de afirmar que Anatólio Magalhães foi professor de desenho e pintura, deixando grande número de quadros, muitos deles sobre motivos locais, notadamente a nossa praça da Matriz, a Igreja de Santa Rita, e outros mais, assim se expressou o jornal uberabense Lavoura e Comércio (2), a seu respeito:
(2) Lavoura e Comércio, Uberaba, 17 de Agosto de 1963, Ano LXV, Número 15.918, p. 3.
"Uberaba perdeu, na tarde de quinta-feira última, um dos seus lídimos valores na arte pictórica, um artista de apreciáveis méritos, pertencente à velha guarda daqueles que deram brilho e realce à nossa cidade há meio século e que até os últimos anos de sua vida seguiu a escola da arte clássica, com técnica e sentimento."
d) o Ricciopo: Sr. João Ricciopo, competente alfaiate, nascido em São Paulo, Capital, e desencarnado em Uberaba, a 11 de outubro de 1973.
12 - Nosso devotado Eurípedes Barsanulfo: Sobre o Missionário do Triângulo Mineiro, que nasceu e desencarnou em Sacramento, Minas Gerais, respectivamente, a 0l de maio de 1880 e 0l de novembro de 1918, cujo Primeiro Centenário de Nascimento se comemorou, festivamente, em 1980, em todo o Brasil, consultemos os Capítulos 9 e 10 de Enxugando Lágrimas.
13 - O Dr. João Waack; o nosso Edmundo; a nossa querida irmã Vitória: a) Dr. João Waack: nasceu em Campinas, Estado de São Paulo, em 1900, e desencarnou em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, em 1980;
b) Edmundo: Edmundo Mendes, espírita e fazendeiro, irmão do Sr. Lamartine Mendes. Nasceu a 20 de fevereiro de 1905 e desencarnou a 14 de junho de 1970, em Uberaba;
c) querida irmã Vitória: D. Vitória Tahan Mendes, irmã de D. Amália e viúva do Sr. Edmundo Mendes, residente em Uberaba.
14 - "Abraço a todos os filhos, com o carinho de todos os dias, e peço a todos considerarem comigo que o meu tempo de permanência no corpo físico havia realmente terminado e que se me demorasse por mais semanas ou meses, teria o meu processo de esclerose muito agravado. Deus nos proporciona sempre o melhor." - Trecho dos mais sérios para quantos sejam portadores de esclerose periférica ou convivam com pessoas devastadas pela esclerose cerebral, alertando-os quanto à necessidade da paciência ante os Desígnios sempre sábios e Superiores da Vida.
15 - Nossa Zélia; nossa Dílcia; nosso Paulinho: a) Zélia: D. Zélia Gonzaga Vieira, esposa do Sr. Laius, nora, portanto, do Sr. Waldemar;
b) Dílcia: D. Dílcia Carvalho Vieira, esposa do Dr. Waldemar. Vieira Júnior;
c) Paulinho: Dr. Paulo Flávio Gonzaga Vieira, filho do Sr. Laius e de D. Zélia, engenheiro em Piracicaba, Estado de São Paulo, que havia se submetido a uma intervenção cirúrgica, dias antes.
16 - "Querida Amália, nossa prezada Lola, que não está presente na noite de hoje, nos reafirma guardar você no coração por Irmã e Mãe para quem ela roga as bênçãos de Jesus." – Observemos a delicadeza do Espírito ao se referir à sua primeira Esposa, que o deixara viúvo, aos trinta e três anos de idade, quando se dirige à sua segunda Esposa-Mãe, ainda presa à gleba terrestre, onde o Amor, sempre ilimitado, toma aparência de algo infantil e possessivo.
17 - "E ao terminar esta carta, quero rematar com a minha antiga trova, em diferente expressão." - 'Tivemos o privilégio de ler num pedacinho de papel, amarelecido pelo tempo, a trova que o Sr. Waldemar Vieira escreveu para D. Amália, há mais de cinqüenta anos, a 15 de agosto, numa quermesse da Festa de Nossa Senhora de Abadia, na cidade de Conquista, Estado de Minas Gerais, algum tempo depois que ele se enviuvara.
Constituindo-se em excelente prova de autenticidade mediúnica, já que o médium Xavier desconhecia por completo o fato, eis o texto da quadra, que tivemos o cuidado de copiar, ipsis literis:
Oh! que olhos de menina,
Oh! que menina de olhos,
Esses seus olhos, menina,
São as meninas de meus olhos.
VII
O casulo ficou à distância
Querida Amália, queridos filhos, Deus nos abençoe.
Foi realmente esta uma semana de bênçãos.
As lembranças condensadas me atingiram de impacto.
E a alegria misturada de saudade me fez agitado o coração, qual se me visse no corpo físico outra vez.
Dois anos de liberação.
O casulo ficou à distância, não me comparo à borboleta, mas conservo a leveza de quem se desvencilhou de uma vestimenta pesada, que me inibia os movimentos.
Agradeço por tudo.
De você, querida Amália, de nossa Vitória presente, de cada filho e dos netos, recebi vibrações de paz e alegria, à feição do aniversariante que recolhe flores dos corações queridos, em cujo perfume se rejubila o espírito festejado de estímulos e bênçãos.
Não sei como devo expressar o contentamento que me possui a alma toda.
Creio que não existe para os pais alegria maior do que reconhecer os filhos felizes e orientados para o bem.
Que as lutas não faltam, sei de sobra.
Não há neste mundo quem possa caminhar sem problemas que, aliás, funcionam na condição de energizantes para todos, porque as dificuldades não nos permitem cristalizar os pensamentos, livrando-nos da inércia.
Ainda assim, devo reconhecer que todos os nossos fazem o melhor ao alcance de cada um, e não me seria lícito pedir mais.
Também estive na Terra o suficiente para saber que os obstáculos nos surgem à frente de múltiplas formas.
E é preciso estar o sentimento de sentinela firme, examinando situações com discernimento, para escolher as que nos façam as mais justas.
A morte do corpo deixa cair todos os véus sob os quais nos ocultemos e conseguimos verificar a extensão de nossas deficiências com vasta intensidade.
Assim, bastem para mim as recordações que ficaram no lado bom de nossas vidas, para que eu possa extirpar de mim mesmo certas formas de desejo que não quadravam com o meu modo de sentir e de ser.
Felizmente, tudo segue bem e junto dos companheiros a que me associei, formamos um grupo de seareiros em serviço, dispostos a trabalhar em nossa restauração espiritual ainda incompleta.
O nosso Odilon Fernandes, o Maciel e o Carvalho somam comigo a força e a esperança em busca de melhores realizações.
Junto do Eurípedes e do Main em particular temos funcionado na posição de enfermeiros inexperientes, mas, com a proteção do Senhor, estamos agindo.
Se existe determinado tipo de medicina por trás do trabalho de vocês, meus filhos, somos aqui a legião da cobertura espiritual que velamos atentamente por tudo o que realizam.
Tenhamos coragem e fé, e sigamos para diante.
Entendemos que o sacrifício para vocês é permanente, mas Deus saberá prover-nos e com os melhores recursos, em todas as nossas necessidades.
Recordo-me de todos e especialmente do nosso Waldir, que abraçou tantos serviços de uma só vez.
Jesus o ampare por seus mensageiros de amor e luz.
Todos estão em meus pensamentos e basta ligeira anotação mental de cada um para que esteja junto de todos, cooperando quanto se me faça possível no entrosamento das medidas que se nos façam aconselháveis à paz.
Em me comunicando, hoje, não tenho a preocupação de mencioná-los nome por nome, entretanto, peço à querida Amália dizer quando inquirida a meu respeito, que continuo em ligação íntima com todos os corações queridos que deixei no Plano Físico.
A minha situação de pai perto é boa por um lado, mas difícil por outro; enquanto nem sempre consigo evitar que os entes amados venham a entrar em problemas e lutas de que necessitam na aquisição de experiências, nas quais não devo e nem posso interferir pelo respeito que me compete observar, ao lado de cada um.
Acompanho, cada filho, quanto se me faz possível, e anoto essa alegria a que me reporto.
Por minhas próprias lutas que fui obrigado a facear, muitas vezes, de coração desprevenido, reconheço que todos fizeram melhor do que eu mesmo nos acontecimentos que lhes marcam os dias.
Quando amadurecemos o bastante na idade física, já não estimamos repreender os mais jovens, porque a maturidade nos haverá imposto novos padrões de entendimento.
Refiro-me a isso para dizer que, depois da desencarnação, o gosto de reprimir acaba totalmente em nossas disposições mais íntimas.
Isso ocorre porque finalmente conseguimos examinar as pessoas conforme as necessidades que apresentam.
Em vista disso, espero me procurem sempre, no campo das recordações, na posição do amigo mais experiente e não do pai que já reconheceu a obrigação de entregá-los às Leis de Deus.
Felizmente, querida Amália, tenho melhorado muito.
O trabalho me abrigou em suas vantagens e já não disponho de tempo para carregar a mim mesmo.
É indispensável dissolver as forças negativas ou menos construtivas que porventura transportemos em nós, a fim de extinguir os resíduos das recordações ou fixações inconvenientes que trazemos.
Encontrei vários amigos que se interessavam por nossa imediata mudança de plano, entretanto, isso para mim traria alguma distância dos que mais amo e resolvi fazer opção que os Mentores da Espiritualidade Maior me ofereceram: servir aqui mesmo, na cidade, na Legião dos Obreiros do Bem que assistem a extensa comunidade de sofredores encarnados e desencarnados, porque isso me faculte o prazer de me sustentar frente à família, seguindo-lhe os movimentos.
Este é o câmbio novo a que me submeti: trabalhar pelos outros com todas as minhas forças, de modo a permanecer com vocês, que continuam sendo as minhas melhores esperanças da vida.
Peço aos filhos queridos não rememorarem o que eu tenha praticado de menos feliz, lembrando simplesmente o amor que nos ficou no espírito por luz imorredoura.
Desse modo, se encontrarem algo de bom no pai humilde e pobre que fui, guardemos esses traços, esquecendo os sinais de minha inferioridade.
Ainda assim, estou contente porque posso retribuir à querida Amália, de algum modo, toda a assistência carinhosa que recebi do seu devotamento de esposa que sempre me suportou as horas escuras com bondade e compreensão, ternura e heroísmo.
E digo a você, Amália querida, que empreendo todos os serviços que se me fazem possíveis para vê-la fortalecida e contente, junto dos nossos.
Aqui chegando, é que o nosso coração se capacita de que pião basta o carinho para fazer mais felizes aqueles que esperamos.
É preciso trabalhar e servir para merecer os meios justos, de modo a instalar os corações que amamos numa condição pelo menos mais próxima daquela que lhes desejamos.
Por isso mesmo, agüente firme as dores do corpo ruim e as dificuldades das pernas, porque você permanecerá com nossos filhos e netos tanto tempo quanto possível, até que seu velho possa obter créditos precisos para um reencontro feliz.
Você, que enfrentou comigo tantos dias de laboriosa construção da família, não chegará onde me encontro, à maneira de pessoa esquecida pelo companheiro que lhe deve tanto.
Trabalho e trabalho vigorosamente para ser mais útil e sendo mais útil, é compreensível que as utilidades de que necessito, a fim de aguardá-la dignamente, se façam mais acessíveis para mim.
Nunca se sinta só, em vista da família hoje mais ampla com os filhos queridos situados em outros setores diferentes da nossa casa.
Estamos juntos.
Ainda mesmo que os irmãos, amigos do alheio, nos assaltem as lembranças, não se incomode.
As nossas relíquias estão mais comigo, onde atualmente me vejo do que aí, onde todos os pertences materiais se desgastam com o tempo.
Faça o seu melhor sorriso nos momentos mais graves, e mostre à vida que estamos sempre vivendo mais intensamente um para o outro.
Desculpem as tiradas longas.
Procurarei terminar.
Agradecemos as preces semanais neste aposento que ficou sendo a parte mais iluminada de nossas lembranças, e agradeço, não só em meu nome, mas também pelos companheiros beneficiados em nossos instantes de oração.
O Edmundo está presente e agradece a pontualidade da sempre amigo nossa Vitória.
Chegará o momento em que ele lhe escreverá a carta de amor que espera endereçar-lhe.
Minha gratidão aos netos amigos, representados por nosso Waldemarzinho, por nossa Sandra e por nossa Patrícia, os companheiros do futuro que se farão nossos credores pelo muito de bem que, se Deus quiser, realizarão por nós todos.
Das nossas filhas, agradeço em nossa Dílcia o carinho de sempre.
Abraço os filhos todos em nosso Eurípedes e em nosso Main, e vamos finalizar, que o papel também precisa de quem o poupe.
Estou agradecido e melhorando sempre, graças a Deus.
Muitos amigos estão conosco, entretanto, a mamãe continua ao lado de nosso Odilon, que está morando nele mesmo, sem abrir janelas para ninguém.
O prezado papai João Lício está conosco, os nossos pais do coração, Miguel e Dona Maria estão firmes em nossas preces.
Aos amigos presentes, o meu "muito obrigado".
E agora, querida Amélia, precedendo o ponto final, tentarei articular a sua lembrança, a lembrança que ofereço a você por flor dos meus melhores sentimentos:
Amélia sempre querida
Na bênção do nosso lar,
Sei que você compreende
O que anseio registrar:
Do que conservo do mundo,
O que tenho na visão,
É a menina dos meus olhos
Que trago no coração.
Um grande abraço a todos.
Muito carinho e reconhecimento do esposo e do papai,
Waldemar
VIII
Grupo de seareiros em serviço
A segunda mensagem do Sr Waldemar Vieira "O Casulo Ficou à Distância" -, que foi transmitida dois anos após a sua desencarnação, na noite de 21 de outubro de 1979, através do médium Francisco Cândido Xavier, em Uberaba, oferece-nos margem para interessantes ilações.
1 - De você, querida Amália, de nossa Vitória presente, Consultemos o capítulo anterior, n.º 1 e 13-c (itens).
2 - "Que as lutas não faltam, sei de sobra. / Não há neste mundo quem possa caminhar sem problemas que, aliás, funcionam na condição de energizantes para todos, porque as dificuldades não nos permitem cristalizar os pensamentos, livrando-nos da inércia." - Sobre o assunto, sugerimos a leitura dos n.º 258 a 273 de O livro dos Espíritos, e o Capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ambos de Allan Kardec.
3 - "Refiro-me a isso para dizer que, depois da desencarnação, o gosto de reprimir acaba totalmente em nossas disposições mais íntimas. / Isto ocorre porque finalmente conseguimos examinar as pessoas conforme as necessidades que apresentem." - Que nós outros, os reencarnados, enquanto jornadeamos no Plano Físico, possamos nos esforçar por reprimir menos, aceitando como e quais são as pessoas com as quais fomos chamados a viver juntos.
4 - "O trabalho me abrigou em suas vantagens e já não disponho de tempo para carregara mim mesmo." - Que possamos reler as questões 674 a 685 de O Livro dos Espíritos, principalmente a 683: "Qual é o limite do trabalho? / - O limite das forças; de resto, Deus deixa o homem livre. "(1)
(1) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Trad. de Salvador Gentile, 8.ª edição - revista e corrigida, outubro de 1979, IDE, Araras (SP), p. 277.
5 - "Peço aos filhos queridos não rememorarem o que eu tenha praticado de menos feliz, lembrando simplesmente o amor que nos ficou no espírito por luz imorredoura." - Alerta dos mais preciosos para que possamos combater, não somente em relação aos desencarnados, mas aos que se acotovelam conosco, no dia-a-dia, o mau vezo da maledicência, esforçando-nos por praticar a caridade moral, de que trata Allan Kardec, no Capítulo XIII, n.º 9 de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
6 - O nosso Odilon Fernandes, o Maciel e n Carvalho: Cf. no capítulo anterior os itens n.º 2; e 11-a e c.
7 - "Junto do Eurípedes e do Main em particular temos funcionado na posição de enfermeiros inexperientes, mas, com a proteção do Senhor, estamos agindo. / Se existe determinado tipo de medicina por trás do trabalho de vocês, meus filhos, somos aqui a legião da cobertura espiritual que velamos atentamente por tudo o que realizam." - Sobre Eurípedes e Main, consultemos o item 3-e-f do capítulo anterior.
Integrando a Legião dos Obreiros do Bem, que assistem a extensa comunidade de sofredores encarnados e desencarnados da cidade de Uberaba, Sr. Waldemar Vieira transmite-nos algo importante sobre o assessoramento espiritual dos discípulos de Hipócrates, no seu labor diário.
8 - "Recordo-me de todos e especialmente do nosso Waldir, que abraçou tantos serviços de uma só vez." - Cf. o item 3-d do capítulo anterior.
9 - "A minha situação de pai-perto e boa por um lado, mas difícil por outro; enquanto nem sempre consigo evitar que os entes amados venham a entrar em problemas e lutas de que necessitam na aquisição de experiências, nas quais não devo e nem posso interferir pelo respeito que me compete observar, ao lado de cada um." - A fim de que possamos comprovar o fato de que os Espíritos que deixam filhos no mundo, têm tendência para adotar a situação que o Sr. Waldemar Vieira nomeia por pai-perto, consultemos o item 5 do Capítulo 14 de Irmã Vera Cruz (2).
(2) Francisco Cândido Xavier, filias Barbosa e Vera Cruz (Espírito), Irmã Vera Cruz, 2.ª edição, outubro/1980, IDE, Araras (SP), pp. 116-117.
10 - "Por isso mesmo, agüente firme as dores do corpo ruim e as dificuldades das pernas, porque você permanecerá com nossos filhos e netos tanto tempo quanto possível, até que seu velho possa obter os créditos precisos para um reencontro feliz." -Não nos sendo possível transcrever, na íntegra, o item 25 do Capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, expressiva página do Espírito de François de Genéve, remetemos o leitor a ele, a fim de que possa, cada vez mais, se edificar, espiritualmente.
11 - "O Edmundo está presente e agradece a pontualidade da nossa Vitória." - Cf. o item 13-b-c, do capítulo anterior.
12 - Waldemarzinho, Sandra e Patrícia: Netos do Espírito comunicante, sendo a última filha do Dr. Eurípedes Tahan Vieira.
13 - "Das nossas filhas, agradeço em nossa Dílcia o carinho de sempre." - Cf. item 15-b do capítulo anterior.
14 - "Muitos amigos estão conosco, entretanto, a mamãe continua ao lado de nosso Odilon, que está morando nele mesmo sem abrir janelas para ninguém." - Trata-se do Sr. Odilon Vieira, irmão do comunicante, espírito culto e nobre, atualmente segregado em altos estudos com respeito à psicologia e personalidade.
15 - "O prezado papai João Lício está conosco, os nossos pais do coração, Miguel e Dona Maria estão firmes em nossas preces." - Sobre os nomes citados, consultemos o item 9-b-c-d, do capítulo anterior.
Belíssima a oitava com que o Espírito do Sr. Waldemar conclui a sua segunda mensagem, dentro da tônica da "menina dos meus olhos".
Confortador, sem dúvida, saber que a vida continua e que sempre seremos nós mesmos, cabendo-nos harmonizar-nos com a Divina Providência, seguindo as pegadas do Divino Mestre.
IX
Estaremos sempre juntos
Querida Mãezinha Luíza e querido Papai Mival, peço me abençoem.
Sou trazido até aqui, com o objetivo de tranqüilizá-los.
Tudo aconteceu de repente.
Os dias correram ou se arrastaram, não sei bem, de novembro para cá, entretanto, o quadro final está fixo na memória.
Um leve impulso na direção da máquina e a batida contra a muralha do caminho perfeito nos colocou em situação grave que culminou naquele adeus de improviso.
Quem passe por semelhantes episódios, efetivamente, não saberá descrevê-los, porque tudo acontece à maneira de um relâmpago na mente da pessoa que se vê, de momento para outro, despojada de tudo.
O choque não dá para contar minudências.
Sei apenas que depois de longo desmaio, o Augusto e eu acordamos num hospital que nos pareceu alguma casa de tratamento do Grande São Paulo...
Tudo se mostrava diferente, mas acreditávamos ainda na continuação da nossa própria existência física.
Sentiamo-nos feridos ou gravemente escoriados e o corpo, a princípio, nos pareceu tão igual àquele de que nos havíamos retirado sem perceber, que foi com muita surpresa que recebemos a visita da Tia Luíza, que me disse querer minha mãe, qual se lhe fosse filha e que, por isso, nos considerava por netos da alma.
A realidade nos chocou rudemente, mas não havia meio de escapar ao reconhecimento da nova situação.
Um médico amigo, que me ensinou a chamá-lo por Vovô Almeida, me auxiliou carinhosamente, e agora só me resta dizer que os primeiros meses foram para nós de muito choro e de muitas queixas, porquanto nos víamos sintonizados com as nossas famílias, como se estivéssemos em casa ou como se a nossa casa estivesse por dentro de nós.
Felizmente, o tempo é um bálsamo que alivia qualquer sofrimento, e aqui estou nestas folhas de papel trazendo presença.
Peço para que não me lamentem.
Desejo em nosso ambiente aquela alegria que sempre foi tão nossa.
Roguem ao Moacir e à Glorinha para que não me suponham morto porque, em verdade, estou vivo e procurando quebrar as pedras da estrada para aproximar-me com mais segurança de todos os corações queridos.
Em verdade, muito sonho se apagou e muito plano ficou frustrado, mas a vida não termina no retângulo de terra em que nos guardam por aí a vestimenta rasgada, e com a vida que é de Deus, prosseguiremos juntos.
Papai, peço-lhe coragem.
A mãezinha necessita de sua força, e seu filho precisa apoiar-se em ambos para a justa renovação.
Ainda não estou muito legal para notícias.
O assunto está muito verde ainda, mas espero melhorar meus conhecimentos aqui, de modo a voltar com mais proveito a novas informações.
Queria de minha parte podar a tristeza e entupir a fossa em que nós todos caímos com a separação imprevista, com o mundo de esperanças diferentes de que me sinto agora possuído.
Peço-lhes. Não guardem coisas para me recordarem chorando, como se Deus nos obrigasse, ficar parados na esquina da morte.
O tempo já modificou as nossas estradas de comunicação uns com os outros, e precisamos de transformação, para o retorno à felicidade doméstica sempre nossa.
Mamãe querida, agradeço-lhe as preces.
Recebi seus pensamentos em luz de amor, e isso funcionou em mim, à maneira de remédio eficaz num doente.
O nosso amigo Augusto igualmente está em recuperação, e agradece.
Agora, o momento é de ponto.
Ponto aparentemente final numa carta que continua na memória.
Estaremos sempre juntos.
Não tenha dúvida.
Ninguém morre.
A penosa somente nos compele à mudança de corpo ou troca de roupa, e continuamos os mesmos.
Entretanto, sou o mesmo, ambicionando sinceramente melhorar-me para servi-los como desejo.
Muitas lembranças aos queridos irmãos, e para os dois o meu abraço de filho reconhecido que deseja hoje ser melhor do que ontem, e que espera ser amanhã o que devo ser para ofertar-lhes a felicidade que merecem.
Muito carinho e gratidão do filho e companheiro de todos os dias,
Mival
Mival de Almeida Filho
X
Apoio para a justa renovação
Por diversas vezes, tivemos o grato prazer de entrevistar o casal Sr. Mival de Almeida - D. Luiza Maciel de Almeida, a primeira delas minutos após a recepção da mensagem que constitui o capítulo anterior, pilo médium Francisco Cândido Xavier, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, na noite de 3 de agosto de 1979.
Como terá o leitor oportunidade de observar, procuramos fixar de preferência as palavras de D. Luíza, numa tentativa de veicular consolo para as senhoras mães que nos honram com a sua atenção.
Por itens, vejamos alguns pontos altos da mensagem, no que se refere aos elementos comprobatórios de sua autenticidade, antes de transcrever, na íntegra, dois excelentes depoimentos.
1 - Mival de Almeida Filho nasceu em São Paulo, Capital, a 14 de setembro de 1960, aí desencarnando, em conseqüência de acidente automobilístico, a 21 de novembro de 1978.
Categorizado funcionário do BRADESCO e integrante de distinto conjunto musical, era Mival Filho, apesar de apenas com dezoito anos de idade, professor de violão, no Conservatório Musical de Osasco.
Sempre cercado de amigos e admiradores, representantes de todas as classes sociais, sua desencarnação provocou em seu largo círculo de amizade profundo abatimento.
2 - Tia Luzia: Trata-se de D. Luíza Soares da Silva Maciel, tia da genitora de Mival de Almeida Filho, nascida em 1887, e desencarnada a 19 de agosto de 1973.
3 - Vovô Almeida: Bisavó paterno de Mival Filho. Trata-se do Dr. Ursino José de Almeida, que nasceu em Salvador, a 12 de agosto de 1860, e desencarnou em São Paulo, Capital, a 2 de janeiro de 1916.
4 - "Roguem ao Moacir e à Glorinha para que não me suponham morto porque, em verdade, estou vivo e procurando quebrar as pedras da estrada para aproximar-me com mais segurança de todos os corações queridos." - a) Moacyr de Almeida Netto, nascido em São Paulo, Capital, a 28 de abril de 1957, o mais velho dos irmãos de Mival de Almeida Filho; b) Maria da Glória de Almeida (Glorinha), irmã caçula, nascida a 23 de abril de 1970.
Agora, leitor amigo, sem quaisquer outras considerações, passemos aos depoimentos a que nos referimos acima, que colhemos de D. Luíza Maciel de Almeida, em Uberaba, respectivamente, a 14 e 16 de setembro de 1979.
l.o) - "Estávamos eu e meu marido no Hospital de Fraturas da Lapa, onde estava hospitalizado nosso outro filho - Maurecir, de 21 anos de idade -, também acidentado juntamente com o César Antônio Salvi, falecido no local do acidente, quando tivemos a notícia do falecimento do nosso querido Mival.
Nosso filho Maurecir sofreu diversas fraturas - numa das mãos, do fêmur -, e escoriações generalizadas.
Jamais esperávamos a notícia alar7rtante, devido às informações do médico no sentido de que nosso filho Mival estava reagindo satisfatoriamente ao tratamento.
Depois do impacto, meu marido foi medicado no próprio hospital, uma vez que a pressão arterial dele se elevou, bruscamente.
Como que apoiada por forças outras que no momento não sabia interpretar, pedi aos parentes e à minha sogra que não se revoltassem contra os desígnios de nosso Pai Celestial, entendendo que não éramos os únicos a passar por semelhante situação, devido ao estado de saúde do Maurecir ter piorado, começando a ter febre alta, e só conseguindo dormir abraçado a mim.
Era com muito esforço que eu conseguia conter as lágrimas, enquanto meu marido chorava pelos corredores do hospital.
Eram cerca de 3 horas da manhã, quando meu esposo me perguntava onde se encontraria nosso filho. Pedi a ele muito cuidado para que o Maurecir nada soubesse.
Nesse instante, me desprendi do corpo, encontrando-me num hospital, num quarto cujas camas eram um tanto parecidas com as do nosso, porém, seus pés eram mais altos do que o habitual, o piso era cinza e dotado de um brilho extraordinário, e as portas eram um tanto quanto maiores do que as dos nossos hospitais.
Vi perfeitamente meu filho deitado numa das camas, dormindo de lado, sem cobertas.
Havia outro paciente deitado, nas mesmas condições, e não consegui ver-lhe o rosto.
Observei quando uma enfermeira chegou na entrada do quarto, e examinou os pacientes.
A paz era total.
Pude ver também um imenso corredor, sem ver-lhe o fim e nem tampouco outras portas, e o piso era dotado de um brilho irradiante.
Ao lado do quarto, isto já fora do hospital, existia uma espécie de bosque muito verde, cujas árvores eram copadas, e do alto delas desciam como que pêndulos dispostos perfeita e simetricamente.
Esses acontecimentos foram narrados por mim ao meu marido, logo que retornei ao meu estado de vigília normal.
Depois de cerca de cinco minutos, novamente me desprendi do corpo e tornei a ver meu filho, no mesmo hospital.
Após esse desdobramento-visão, não tive dúvidas de que meu filho continua vivo, só que em outro plano que nós, os mortais da Terra, aparentemente não conhecemos.
Disse ao meu marido categoricamente, que nosso filho não estava mais no mundo físico, e que coar-suava vivo num lugar cuja paz eu tinha tido a ventura de sentir, graças a Deus, nosso Pai de Amor e Bondade.
(a)
Uberaba, 14-09-79."
2.o) - "Minhas irmãs de jornada,
Depois de dizer a vocês que estive com meu filho, no hospital do Plano Espiritual, na noite de 21-11-78, noite de sua partida, venho agora, reais uma vez, confirmar e reafirmar que a vida continua.
Na noite de 14-09-79, data em que meu filho completaria 19 anos de vida material, tive a felicidade de receber o presente que todas as mães saudosas como eu gostariam de receber, a alegria de rever o filho amado.
Mas antes de narrar o acontecido, minhas irmãs, quero tranqüilizá-las.
Não nos preocupemos com os nossos filhos, pois o plano em que eles se encontrara é um ambiente de tanta paz, que tenho a certeza de que se Deus permitisse que eles retornassem ao corpo material para viver ao nosso lado, não iriam querer trocar um lugar de tanta suavidade e beleza por um ambiente tão grosseiro quanto o nosso.
Uma coisa, porém, é certa: eles jamais esquecem seus entes queridos da Terra, e vibram muito era nosso favor.
É por isso que nós nunca devemos ficar chamando com insistência por seus nomes, e tampouco sentir revolta pela sua súbita partida.
Podemos chorar, é claro, porque nosso pesar não conseguiria secar as lágrimas dentro de nós.
Mas que nossas lágrimas sejam daquelas que banham nossas almas e aliviam os nossos corações ulcerados pela dor.
Evitemos articular qualquer palavra negativa, a fim de não lhes atrapalhar a evolução espiritual, no plano onde se encontram.
Vamos aceitar essa provação como sendo um chamamento de Deus para a nossa preparação espiritual, que tenho certeza ser a maior preparação do mundo.
Mas vamos à narrativa:
Estava eu e meu marido no Grupo Espírita da Prece, na noite de 14 de setembro, noite em que fiz questão de passar ao lado do irmão Chico Xavier, porque se ficasse em meu lar iria sofrer muito.
Sentados num banco, à maneira de todo aquele povo que ali se aglomerava, apreciávamos o trabalho do médium amigo, psicografando mensagens, sob um fundo musical que are tocava profundo o coração, e aumentava ainda mais a vontade de rever meu filho.
Encostei a cabeça no ombro do meu marido, e olhando para as mãos do Chico, senti uma vontade imensa de que aquela psicografia fosse uma cartinha do meu filho.
Foi então que me desprendi do corpo físico, e, de repente, eu me encontrava diante de uma porta fechada.
Fui abrindo-a devagar, e vi meu filho tão perfeito como se estivesse em seu corpo denso.
Estava deitado numa cama, coberto até o pescoço com um cobertor marrom bem claro, e ainda pude ver que os lados do cobertor chegavam quase a atingir o piso.
Mesmo sem permissão para chegar pude sentir meu filho muito perto de mim.
Pude observar-lhe os olhos e a boca ressonando.
Ficamos ligados por um fluido tão agradável, que senti calor aconchegante que sentimos quando abraçamos nossos
O quarto irradiava uma paz tão grande, que na hora me senti conformada com a sua morte maternal, por ver o maravilhoso lugar onde meu filho vive agora.
Mas isso foi tudo coisa de segundos, porque logo me senti novamente sentada ao lado do meu marido, ainda com a cabeça sobre o seu ombro.
Levantando minha cabeça, perguntei-lhe se ele tinha, ainda, esperança de doar-nos nova mensagem. Mais do que depressa, disse-me que sim.
Foi quando eu lhe respondi, absolutamente convicta, de nós não a teríamos naquela noite, uma vez que nosso filho estava dormindo.
(a) Luiza Maciel de Almeida
Uberaba, 16-09-79
XI
Paciência ante os tropeços da vida
Querido Moacir, meu querido companheiro, venho pedir a sua calma e a sua coragem,
Estou recordando, era domingo, conversávamos, quando uma dor aguda, seguida de asfixia invencível, roubou-me todas as energias.
Quis falar, conversar ainda...
Entretanto, a força que me subjugava era vigorosa demais, e não pude senão silenciar.
Num retrospecto que não sei descrever, vi toda a nossa vida em comum, como se um caleidoscópio me fizesse contemplar as nossas experiências...
Por fim me vi criança e dormi, mas dormi sob a imposição de um sono que não consegui dominar. Creia que Deus e você eram as idéias que tentava reter comigo; no entanto, tive que me render àquela indução, ao aniquilamento que me invadia de assalto.
Quanto tempo gastei nessa luta comigo própria, tentando raciocinar sem qualquer possibilidades de autocontrole, por enquanto não sei dizer...
Acordei num quarto de hospital, arejado e reconfortante, ainda na suposição de que me achava em algum recanto de recuperas, e repouso a esperá-lo.
Entretanto, a querida mãe Joanina, com a mãezinha Vicentina me aparecem quando as indagações me escaldavam a cabeça, e foi com muita dificuldade e muita lágrima que veio a tomada de consciência do ocorrido.
Em breve tempo o nosso irmão Iracy se reunia a nós e, conquanto reconfortada por tanto amor que me requisitava para a readaptação à vida, chorei muito ao me certificar de que a porta da nossa casa para mim, do ponto de vista físico, se fechava sem que me fosse facultado o regresso a tudo que ambos mais amávamos...
Tenho procurado melhorar o meu padrão de reajuste, mas ainda as suas saudades encharcadas de pranto oculto me buscam para reflexões difíceis e amargas, e por isso, querido Moacir, a você, que me cercou de felicidade, agora peço serenidade e força espiritual para vencermos.
Não pense na morte como meio de nos reencontrarmos.
Isso seria desobediência grave, e não quero vê-lo em qualquer indisciplina perante as Leis de Deus.
Pense.
Temos ainda os nossos filhos João Bosco e Sueli, que precisam de você, de seu carinho, além dos netos que ainda virão e que serão nossos filhos pequeninos.
Guarde paciência ante os tropeços da vida e creia que me sentirei sustentada em suas próprias forças.
Ore e peçamos a Deus que nos fortaleça.
A mãe Vicentina está comigo e pede o seu carinho e bênção para nós duas.
E não acredite na provação sem remédio.
Você está moço e forte, com amplas possibilidades para refazer o caminho...
Você sabe que não é fácil renunciar...
Entretanto, se a criatura amada está em perigo, àquela outra criatura que ama se dispõe a qualquer atitude que lhe resulte em reajustamento e renovação para a alegria.
Querido Moacir, lembre-se de que estamos sempre juntos.
A morte do corpo não separa ninguém, e o amor, quando verdadeiro, ultrapassa todas as condições a fim de evidenciar-se e permanecer.
Não desejo interferir em seu livre arbítrio, mas prefiro ver você novamente sorrindo para a vida e para o mundo.
Você desejava receber notícias minhas.
Aí as tem com o meu coração reconhecido.
Se voltei apressadamente, isso era esquema de desígnios imperiosos, muito além da minha vontade.
No entanto, para nós que cremos em Deus, a submissão ao poder divino que nos governa é obrigação.
Sempre que possível, procure desligar-se das idéias de solidão e pessimismo.
Tudo melhorará.
Confiemos em Deus.
Agradeço todas as preces que o seu carinho me envia e as outras que encomendou em meu favor.
São como flores que você me endereçou. Estou saudosa, mas não infeliz.
É impossível não sermos gratos à Divina Providência pelas bênçãos que nos deu que eram a própria vida.
Agradeçamos ao céu e prossigamos em nossa caminhada para a frente.
De todas as providências que você resolva assumir para qualquer renovação, serei fiadora e pedirei a Jesus por sua felicidade, que em qualquer circunstância, será também minha.
Querido esposo e amado amigo, tenho a sua presença em meu coração.
Deus abençoe os nossos filhos queridos para podermos realizar o que seja mais certo.
E com os agradecimentos que a sua dedicação cultivou em minh'alma, rogo a você receber todas as melhores esperanças no carinho de sempre da sua
Titina
Conceição Interlando Neto
XII
Mensagem do além comove o ateu e provoca conversão
Da excelente reportagem que a Sra. Elsie Dubugras publicou na seção "Fronteiras do Desconhecido", da revista Planeta (1), de agosto de 1980, destacamos o capítulo anterior, a que denominamos "Paciência Ante os Tropeços da Vida", trasladando para o presente capítulo, praticamente todas as palavras da ilustre jornalista, cujos trabalhos têm sempre repercussão internacional, tomando a liberdade, tão-somente, de abrir parágrafos, principalmente na mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, com vistas a tornar a leitura do texto mais fácil.
(1) Planeta, número 95, agosto, PP. 3;59-61.
Já na página de rosto da aludida revista, sob D. Titina, esta expressiva chamada:
"Uma mensagem psicografada colocou o homem ateu em contato com sua esposa falecida, fazendo-o crer no espírito eterno"
E mais estas, à página 59:
A morte da mulher amada levou o sofrimento natural ao esposo, que entrou em estado de depressão e incontrolável saudade.
Tratava-se, porém, de um ateu.
Mas a lembrança da esposa o levou a Uberaba, onde, com descrença e até certo deboche, entrou na fila para consultar-se com Chico Xavier.
Aí, a surpresa: sua querida "Titina"; a esposa mandou-lhe uma mensagem.
Em lágrimas, passou do ateísmo à fé no espírito eterno."
Vejamos, sem mais delongas, o admirável trabalho de D. Elsie Dubugras:
"Em princípios de 1980, Moacir e sua esposa Conceição Interlando Neto, de Mato Grosso do Sul, resolveram começar bem o ano: reservaram um dia só para visitar toda sua numerosa família.
A data escolhida foi 10 de fevereiro, o segundo domingo do mês.
Naquele dia, logo cedo, eles iniciaram a ronda de visitas.
Foi um dia alegre e festivo, pois a família era unida e todos se davam bem.
Mas nem por isso deixou de ser cansativo.
Ao chegar em casa, às 22 horas, o casal resolveu se recolher imediatamente.
Estavam se aprontando quando Conceição, queixando-se de falta de ar, correu para o terraço do quarto; ali permaneceu de pé, encostada ao batente da porta.
Como ela sofresse de insuficiência cardíaca, Moacir correu para apanhar seu remédio e um copo de água.
O remédio, contudo, não fez em Conceição o efeito desejado, provocando-lhe fortes dores no peito.
Ela começou a cambalear.
Moacir tentou ampará-la, mas seu corpo amoleceu e, desfalecida, Conceição escorregou, caindo ao chão.
Estava morta.
O desespero de Moacir foi grande.
Casados há muitos anos, davam-se extremamente bem. Tinham filhos, mas o solteiro morava em outra cidade e a filha era casada.
Agora ele estava sozinho em sua enorme casa.
A solidão era marcante, pois Conceição não fora só uma esposa admirável: fora uma excelente e hospitaleira dona-de-casa, sua amiga, companheira, sempre pronta a seguir o marido a qualquer lugar.
A situação de Moacir era ainda mais dolorosa, pois, como ele mesmo disse, era ateu e, não acreditando em Deus nem em Sua bondade, não tinha a quem recorrer nas horas difíceis.
Moacir adoeceu e o médico proibiu-o de dirigir, temendo que desmaiasse ao volante.
De um homem independente, Moacir agora via-se forçado a confiar na boa vontade dos outros, e assim tudo foi se acumulando, calando em seu íntimo.
Até que um dia ouviu falar de Chico Xavier e resolveu consultá-lo.
Apesar da dificuldade em chegar até perto de Chico - milhares de pessoas vêm de todas as partes do País para assistir às sessões onde ele psicografa -, Moacir conseguiu entrar na "fila dos 60", ou seja, a fila das sessenta pessoas a quem o médico permite falar com Chico.
Quando chegou sua vez, Moacir contentou-se em pedir notícias da esposa falecida.
Em seguida, voltou ao galpão, aguardando a hora da sessão, que começaria às 18 horas.
A espera foi longa, pois os trabalhos só tiveram início às 23 horas.
Naquela noite, Chico Xavier escreveu mais de 500 consultas.
Sentados à outra ponta da mesa tínhamos uma perfeita visão do médium, que cobria os olhos com a mão esquerda, enquanto a direita escrevia com uma velocidade inacreditável.
Logo depois de iniciar a psicografia, vimos lágrimas escorrendo pela sua face, que mostrava profunda tristeza.
Assim Chico prosseguia até 2h40 da madrugada.
Depois disso, saindo do transe mediúnico, separou as mensagens que começaria a ler.
Ao pegar a segunda, virou-se para a presidente da mesa, que gritou um nome: Moacir.
Ninguém respondeu.
Novamente chamaram o mesmo nome.
Os assistentes olhavam para todos os lados e no galpão alguém repetiu o nome.
Então, empurrando os que estavam na porta, entrou um senhor de cabelos grisalhos, que perguntou: "Moacir de quê?"
Chico respondeu: "Moacir Neto".
O estranho imediatamente respondeu: "Sou eu. Sou Moacir Neto."
Chico, sem se perturbar, perguntou se ele conhecia alguém com o nome de "Titina".
Moacir, com o rosto contraído pela dor, disse que era sua falecida esposa, e, pela voz fraca e rouca do médium, ouviu as palavras de carinho daquela que morrera a 10 de fevereiro."
Depois de transcrevera mensagem psicografada pelo médium Xavier, prossegue a distinta jornalista e escritora:
"Ao término da leitura, Chico entregou a mensagem ao viúvo, que se retirou da sala.
No dia seguinte, procuramos Moacir Neto para saber de suas impressões:
Moacir Neto quer nos falar sobre suas impressões quanto à mensagem assinada por Titina, que, segundo soubemos, e o apelido de sua falecida esposa?
A conversão do ateu
Ainda estou aturdido. Não consegui conciliar o sono.
Nunca me ocorreu que receberia uma mensagem por escrito da minha falecida esposa.
Não conhecia Chico Xavier pessoalmente, nunca estive antes em Uberaba, e mais: não sou espírita.
Em verdade, você poderia me chamar de ateu, pois não acreditava em Deus.
Mas como estava preocupado e triste, resolvi vir a Uberaba.
Tencionava procurar Chico para pedir notícias de minha mulher, para saber se ela estava bem, se precisava de alguma coisa - rezas, missas, etc.
Aliás, quando entrei na "fila dos suplicantes", foi justamente isso que pedi. Só notícias.
Mas você não sabia que Chico por vezes recebe mensagens por escrito de pessoas falecidas?
Sim, mas o fato é que eu estava do lado de fora, no galpão, conversando - e caçoando - com as pessoas que aguardavam notícias ou mensagens.
Cheguei a dizer a algumas pessoas que se elas não sem o que esperavam, que viessem ter comigo!
Eu daria as mensagens que elas queriam.
Veja só.
Duvidava da psicografia.
Então, como estivesse ficando tarde, revolvi ir embora.
Foi quando ouvi alguém chamando meu nome.
Esperei e, quando chamaram pela segunda vez, aproximei-me da porta da sala onde estavam fazendo a sessão e pergunte: "Moacir de quê?"
Quando deram meu sobrenome, vi que era eu mesmo.
O que é que você sentiu?
Um choque seguido de uma terrível saudade, especialmente quando o Chico começou a lera mensagem tão carinhosa e quando Titina falou da presença de sua mãe, o irmão e minha própria mãe, todos falecidos.
Você não duvidou que a mensagem era mesmo de sua esposa?
Não poderia duvidar.
Tantas provas, começando pelo nome que eu usava para ela - Titina -, as referências aos membros da família, os nomes dos nossos filhos, a forma com que ela me trata na carta, idêntica à que usava em vida, na intimidade, além da descrição que fez de sua morte, não difere do que aconteceu, pois ela morreu de angina.
Esta mensagem modificou-o em seu íntimo?
Uma coisa é certa: não vou mais caçoar de nada e de ninguém.
Sei agora que Chico Xavier é um grande médium.
Depois da mensagem, eu mudei.
Sou um soldado para brigar com quem caçoar, como eu fazia... "
Nota: A Autora da reportagem informa, entre parênteses, no corpo da mensagem, que mãe Joanina e mãezinha Vicentina são, respectivamente, sogra e mãe de Moacir. (E.B.)
XIII
Com a fé voltada para Deus
Querido papai e minha querida mamãe.
Peço a benção com a fé voltada para Deus, a cuja infinita bondade rodo nos proteja sempre.
Querido papai Olico, vejo a sua estranheza nos assuntos novos, à minha volta para noticiar quando não cogitávamos dessas situações, e aqui estou, Papai, a pedir-lhe calma e confiança.
Sei que Mamãe sofre muito e que o senhor não mais conseguiu a luz da alegria no semblante, desde a nossa separação.
No entanto, se lhes posso pedir mais do que me deram no mundo, rogo para que me auxiliem, amparando-me com as preces da conformação e da paciência.
Paizinho, os planos eram muitos, sonhávamos muitas realizações lá no nosso escritório, entretanto, as Leis de Deus retiraram-me do corpo, mais cedo do que eu própria pensava.
Não suponham tenha sofrido muitas dores com aquelas horas finais de silêncio no cérebro.
O problema seria muito penoso se eu ficasse aí no mundo, e devemos render graças a Deus porque tudo se processou em harmonia, com a proteção de Jesus.
A princípio, não conseguia falar, mas ouvia as vozes do hospital, sem que as identificasse e registrava o toque dos instrumentos de observação e de exame.
Depois, foi o sono cuja duração ainda não concebo; acordei em outra casa de tratamento e a Vó Josefina com a tia Clarice estavam ao meu lado.
Podem calcular o meu assombro, no enfrentar os fatos e saber por mim mesma para suprimir-lhes a dor.
Tentei muito.
Não é fácil ouvir as perguntas lacrimosas de casa e ficar firme como quem ouve soluços e dolorosas indagações ao telefone, sem a possibilidade de responder com a segurança de que precisava.
Agora, quatro meses passados, noto-me mais forte e espero assim estejam.
Rogo aos nossos queridos irmãos Clarice e Santarosa não deixarem a nossa chácara Pai Benedito.
Nossas lembranças ali são nossas preces a Deus pela paz de todos nós.
Clarice, você que sempre foi para mim compreensiva e tão boa, ajude-me a acalmar nossos pais.
Diga ao Devanir que já consigo prestar a ele alguma cooperação, embora não me sinta capaz de compreender os mecanismos da inspiração.
Ajude ao Papai na resignação verdadeira de que necessito.
Imagine, que ele chegou a pensarem sair do mundo para me procurar, tamanha é a nossa ligação desde a minha infância.
Sabe Deus quanto orei e quanto pedi à Vó Josefina para que isso não sucedesse.
Estou bem, porque não procuro mais pensar em mim própria; quero aprender a interessar-me pele bem dos outros, de modo a retirar a carga de minhas inquietações inúteis, as inquietações inúteis que ainda pesam-me nos ombros.
Não podemos alterar a verdade, e precisamos acomodar-nos cem os fatos reais da vida.
A morte é uma ocorrência fatal para todos, e consolo-me reconhecendo que nada fiz para provocá-la.
Vim para cá, atendendo ao chamado de forças superiores, e obedecer trabalhando e servindo, é melhor que obedecer com o fogo da revolta no coração.
Mãezinha, cumpra a sua promessa.
Jóias da fé em louvor à Nossa Senhora, para sua filha representam preciosa lembrança.
Não importa o valor da oferta e sim a intenção de quem a entrega com amor.
Quanto às roupas de menina e moça que eu ia colecionando devagarinho, façam como as irmãs desejam.
Convertam o que puderem nos recursos possíveis de socorro aos necessitados.
Mamãe, há tanta dor e tanta necessidade esperando alívio e providência.
Ajude-me doando aquilo que pensei me pertencesse, quando, em verdade, tudo o que temos, na essência, é propriedade de Deus.
Estou feliz pela oportunidade de falar, embora as lágrimas estejam comigo, mas se pudessem enxergá-las, reconheceriam que todas elas são orações pela paz e pela felicidade dos meus pais e dos meus irmãos queridos.
Maria Eliza estude e fique forte na fé.
Quando posso, estou na Major Rubens Vaz para abraçá-los, em Ribeirão.
Desejo vê-la crescer em plena realização de nossas esperanças.
Agora, faço ponto.
Estimaria derramar o meu próprio coração nestas paginas para dizer quanto os amo.
O avô Roxa está presente e deixa-lhes saudações, e eu reunindo toda a família em meus pais queridos, entrego-lhes com um beijo de carinho e de gratidão, todo o amor e todo o agradecimento de uma irmã e filha reconhecida,
Josefina
Josefina de Fátima Tristão
XIV
"Mãezinha, cumpra a sua promessa"
De uma entrevista com a Sra. Maria Aparecida Nascimento, em sua residência, em Batatais, Estado de São Paulo (Rua Tomás Alberto Wetaly, 567 - fone: 761-2981, da qual participaram a Sra. Vera Lúcia Tristão Medeiros e Maria Elisa, na tarde de 18 de fevereiro de 1980, graças à gentileza dos Drs. Allan Kardec Lourenço e Augusto César Jardim, eis o que conseguimos colher sobre a mensagem a que denominamos "Com a Fé Voltada para Deus", recebida pelo médium Xavier, no Grupo Espírita da Prece, na noite de 10 de dezembro de 1976:
Josefina de Fátima Tristão nasceu em Batatais, a 10 de abril de 1951, aí desencarnando com 21 anos e 5 meses de idade, a 17 de agosto de 1976, em conseqüência de rompimento de aneurisma cerebral, tendo permanecido três dias em estado de coma profundo.
Havia, no ano anterior, concluído o Curso Técnico de Contabilidade, com muita esperança de continuar trabalhando no escritório do genitor.
1 - Querida Mamãe: D. Maria Aparecida Nascimento.
2 - Papai Olico: Sr. Olico Tristão.
3 - "Não suponham tenha sofrido muitas dores com aquelas horas finais de silêncio no cérebro." - Detalhe dos mais importantes, uma vez que o médium desconhecia, por completo, a ocorrência.
4 - "A princípio, não conseguia falar, mas ouvia as vozes do hospital, sem que as identificasse e registrava o toque dos instrumentos de observação e de exame." - Com efeito, Josefina esteve internada no Hospital Major Antônio Cândido, de Batatais.
5 - Vó Josefina: Trata-se da avó paterna D. Josefina Justino, desencarnada em 1956, na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.
6 - Tia Clarice: D. Clarice Galdino Zeferino, desencarnada em São Paulo, Capital, em 1948. Tia paterna.
7 - Irmãos Clarice e Santarosa: Trata-se da irmã Clarice Tristão e do cunhado Reinaldo Santarosa.
Particularíssima, a nosso ver, a expressão "Irmãos Clarice e Santarosa", constituindo-se em ponto alto de autenticidade mediúnica.
8 - Chácara Pai Benedito: Situado no Município de Batatais.
Quando entrevistamos a família de Josefina, fazia exatamente quinze dias que o Sr. Santarosa e D. Clarice haviam se mudado de lá para a cidade.
9 - "Diga ao Devanir que já consigo prestar a ele alguma cooperação, embora não me sinta capaz de compreender os mecanismos da inspiração." - Devanir, irmão caçula, solteiro, ficou no lugar de Josefina, trabalhando na Contabilidade, no escritório do pai.
10 - "Mãezinha, cumpra a sua promessa." - Não foi sem razão que escolhemos esta pequena mas incisiva frase para título do presente capítulo.
Informou-nos D. Maria que, na verdade, durante aqueles três dias de angústia superlativa, ao lado da filha, no hospital, sem que participasse a qualquer pessoa de sua família, fez a seguinte promessa: tão logo Josefina se recuperasse, iria ela - D. Maria - ao santuário de Aparecida do Norte, e levaria todas as suas jóias e o anel de formatura da filha.
Em atenção à ordem imperativa da filha - "Mãezinha, cumpra a promessa" - ordem que só poderia ter partido dela - Josefina - e de mais ninguém, D. Maria cumpriu integralmente a promessa.
11 - "Quanto às roupas de menina e moça que eu ia colecionando devagarinho, façam como as irmãs desejam." - Conquanto falasse, vez por outra, que nunca iria se casar, já possuía várias peças de enxoval que, aos poucos, ia guardando.
12 - Maria Eliza: O Espírito se refere à sua sobrinha Maria Eliza Tristão, com 14 anos de idade por ocasião de nossa entrevista, da qual participou, filha do irmão primogênito, Sr. Benedito Tristão, e de D. Hercília Correia Tristão.
13 - "Quando posso, estou na Major Rubens Vaz para abraçá-los, em Ribeirão." - Ninguém a não ser o Espírito de Josefina poderia saber, em Uberaba, na noite da transmissão mediúnica da mensagem, que seu irmão Benedito reside na Rua Major Vaz, n.º 928, em Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.
14 - Avô Roxa: Sr. Benedito Amaral Roxa (com x mesmo), desencarnado há 57 anos, em Penápolis, Estado de São Paulo. Avô materno.
Diante de tantas evidências de imortalidade, só nos resta o agradecimento a Deus, nosso Pai:
Obrigado, Senhor.
XV
Pensamentos de amor e gratidão
Querida Mamãe!.
Peço a Sua benção.
Ainda não posso escrever como desejo.
O choque lembrado, ainda me paralisa as mãos.
Estou aqui em companhia da vovó Sebastiana e do meu bisavó Maestri.
O Gregh, Ana Paula, Alessandra, com o meu Gregh Júnior, estão quase bons.
Voltarei.
Ainda estamos hospitalizados num tratamento rigoroso, pois a impressão de havermos sido todos cortados de um instante para outro, ainda é difícil de suportar.
Mas temos rezado muito, e confiamos em Deus, sempre melhorando.
Este bilhete é para dar notícias e pedir à família para que ninguém faça reclamações nem represálias.
Um dia, saberemos como tudo está certo nas leis de Deus.
Querida mãezinha, abençoe sua filha e receba os meus melhores pensamentos de amor e gratidão.
Sempre sua filha,
Maria das Graças Ayres ao lado do marido,
com a 2 filha no colo na maternidade.
XVI
Tudo está certo nas leis de Deus
De nossas duas entrevistas com a Sra. Leonor Teixeira Ayres, distinta genitora de D. Maria das Graças Gregh, em Uberaba, respectivamente, a 15 de fevereiro e 16 de maio de 1980, colhemos material para o presente capítulo e o próximo, ambos da mais alta importância do ponto de vista doutrinário e de autenticidade mediúnica.
Sobre o primeiro, nada mais que um bilhete, a que denominamos "Pensamentos de Amor e Gratidão", vejamos o seguinte, por itens:
1 - "O choque lembrado, ainda me paralisa as mãos." Com efeito, como pôde apurar o advogado Dr. Rubens César Patittucci, residente em São Paulo, Capital, D. Maria das (raças, sua cunhada, e os demais ocupantes da Variam em que viajavam, na noite de 16 de dezembro de 1975, foram esmagados por um caminhão que transportava refrigerantes, desencarnando todos no local do acidente.
2 - "Estou aqui em companhia da vovó Sebastiana e do meu bisavô Maestri." - Trata-se de:
a) D. Sebastiana Maestri, avó materna, nascida em Porto Ferreira, Estado de São Paulo, a 8 de março de 1901, e desencarnada em Martinópolis, no mesmo Estado, aos 67 anos de idade, em 1968;
b) Bisavô materno - Sr. Antônio de Castro Maestri, natural de Roma, Itália, desencarnando em Monte Azul, Estado de São Paulo, há 46 anos.
3 - "O Gregh, Ana Paula, Alessandra, com o meu Gregh Júnior, estão quase bons." - Os que desencarnaram juntamente com D. Maria das Graças, no acidente que tanto consternou as cidades de Jardinópolis, Ribeirão Preto, Presidente Prudente e tantas outras:
a) O Gregh: Valdir Gregh, com quem a comunicante se casou cinco anos antes, nascido em Presidente Prudente, Estado de São Paulo, a 19 de julho de 1948, distinto funcionário do Banespa, em Jardinópolis, no mesmo Estado;
b) Ana Paula: filha, nascida a 8 de junho de 1972, desencarnando com três anos e meio;
c) Alessandra: filha, nascida a 24 de janeiro de 1974, desencarnando com um ano e onze meses de idade;
d) "o meu Gregh Júnior": Importantíssimo este trecho - afirma-nos D. Leonor - "parque Maria das Graças estava grávida e, pelo que vejo, o Gregh Júnior nasceu no Além."
Sim, leitor amigo, estamos diante de uma seríssima confirmação de um dos princípios doutrinários do Espiritismo - o da continuidade da vida além do túmulo, sob todos os aspectos.
Ora, se D. Maria das Graças estava às vésperas de dar à luz (esperava o nascimento do filho, a partir da segunda quinzena de janeiro de 1976), por que semelhante ocorrência - o parto natural ou a cesárea - não poderia se processar, no Plano Extra-físico? Por que não?
Somente a Lei de Causa e Efeito pode explicar a razão desse fato - um Espírito já preparado para a reencarnação - submeter-se aos trâmites da vida humana, em suas minudências, sentindo-se filho daquela que, na Terra, lhe seria generosa mãe.
Sublime, sem dúvida, a Justiça Misericordiosa de Deus para com as criaturas, todas as detentoras do livre arbítrio e destinadas a alcançar, um dia, o acume da perfeição, depois de passar pela fieira das reencarnações, dentro da trilha evolutiva da qual nós - espíritos eternos - não conseguimos fugir.
4 - "Este bilhete é para dar notícias e pedir à família para que ninguém faça reclamações nem represálias." - Tanta repercussão teve este trecho da mensagem, que a família de D. Maria das Graças, que já estava para iniciar um processo contra o motorista do caminhão (que teria dormido ao volante, no momento do acidente), desistiu de fazê-lo conforme nos lembrou D. Olívia Odette César Garcia, presente à nossa primeira entrevista, a prima do nobre advogado que se interessara pelo caso.
5 - "Voltarei." - De fato, a 17 de maio de 1979 (o bilhete que estamos analisando, foi recebido pelo médium Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 4 de agosto de 1978), o Espírito de D. Maria das Graças voltou - e com que júbilo para todos! -, como veremos nos dois próximos capítulos.
6 - "Um dia, saberemos como tudo está certo nas leis de Deus." - Somente o Espiritismo consegue, na verdade, fornecer-nos elementos para a aceitação plena desta pequena, porém, incisiva afirmativa do Espírito comunicante, mostrando-nos estar Allan Kardec com a razão ao afirmar, a certa altura, de seu lúcido comentário à resposta dos Espíritos Superiores à questão 936 de O Livro dos Espíritos (1):
(1) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Trad. de Salvador Gentile, 8.ª edição - revista e corrigida -, IDE, Araras (SP), outubro de 1979, p. 364.
"A Doutrina Espírita, pelas provas patentes que dá da vida futura, da presença em torno de nós, daqueles que amamos, da continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas relações que nos faculta manter com eles, nos oferece uma suprema consolação numa das causas mais legítimas de dor. Com o Espiritismo, não há mais solidão, mais abandono, porquanto o homem mais isolado tem sempre amigos perto de si, com os quais pode conversar."
XVII
Manancial de consolo e paz
Querida Mamãe, peço-lhe para que me abençoe.
Venho ensaiando um meio de escrever-lhe, sem muita carga de lembranças amargas e espero que o nosso querido benfeitor Antônio Maestri, que me auxilia a grafar esta mensagem, me auxilie a dosar as minhas notícias.
Descrever, Mamãe, o que foi o choque dos veículos, quando nos aproximávamos daquele Natal que se desfez em lágrimas, é muito difícil para a sua filha.
Creia que o Waldir tudo fez para que pudéssemos fugir ao caminhão enorme que se abeirava de nós.
Acredito que a senhora terá sabido que até mesmo nos retiramos da estrada para o chão que a marginalizava, ignorando a que perigo nos expunha, entretanto, a grande máquina parecia visar-nos.
Não digo isso para inculpar o motorista que suponho estivesse talvez magnetizado por uma força de que não conseguia se desvencilhar.
Se ele dormia ou era ocupado por uma vontade estranha à dele, sinceramente não sei e nem estamos em ocasião ou na disposição de averiguações descaridosas e inúteis.
Entendo, como sempre reconheci, que, no trânsito, as falhas de alguém poderiam ser nossas e que ninguém terá conscientemente motivos para condenar alguém, quando acidentes ocorrem, posso dizer-lhes, porém, que todos os movimentos de fuga manobrados por Waldir pareciam seguidos pela máquina enorme, até que fomos esmagados.
De momento, não tive muita certeza do que acontecia.
Pensava nas crianças.
Acredito que cheguei a gritar e a chamar por Deus, mas tudo foi questão de um pedacinho de minuto.
Ana Paula, Alessandra e o resto desapareceu de meus olhos.
Não mais vi o esposo, porque uma energia esquisita me selou as pálpebras para um sono que não poderia evitar.
Foi um sono indescritível, porque me vi, como num pesadelo, arrastada para fora de um turbilhão de destroços e acomodada em grande maca, na idéia de que continuava em meu corpo físico, a caminho de um hospital.
Por mais estranho que possa parecer, o meu pesadelo-realidade era feito de impressões e dores condicionadas de um parto prematuro.
Achava-me dopada por medicamentos ou forças que até hoje não sei explicar, e senti perfeitamente que uma cesariana se processava.
Sentia-me fora do desastre, entre o reconforto de ser mãe novamente e a dor da dúvida sobre o Waldir e sobre as crianças que ficavam na retaguarda.
Depois disso, veio o sono de verdade, do qual acordei perplexa, perguntando pelos meus.
A criança repousava junto de mim.
O aspecto do quarto que me abrigava era idêntico ao de uma enfermaria espaçosa e arejada, que se reservasse apenas para o meu problema.
Chorei e implorei pela vinda do Waldir e da senhora, até que alguém se aproximou de mim e falou-me com carinho de toda a extensão da ocorrência, esclarecendo-me que em meu caso a criança em espírito já se achava perfeitamente formada e que não poderíamos exigir uma eliminação sumária do companheirinho a nascer.
O espanto me tomou de todo o coração.
Quem me falava era a bisavó Carolina, a quem devo hoje o carinho que devia tão somente à senhora, e os dias se passaram vagarosamente.
Estava morta e vivia.
Morta para as realizações em que estivera, e viva para o sofrimento que não conseguia dissimular.
Outras afeições vieram a consolar-me, incluindo a bisavó Rita e outros parentes nossos.
Melhorei de algum modo ao reencontrar o Waldir e as crianças em outro setor hospitalar, e creio que o restante do que lhe poderia contar o seu coração materno adivinha.
Agradeço as suas preces e as orações de nossa Elza e de outros corações queridos, cujas vibrações de piedade e de assombro nos procuravam.
Agora é o reajuste.
Chamo Júnior o caçula que se me desgarrou do seio aqui na vida espiritual.
Vamos lutando pela readaptação, e com a fé em Deus aguardo dias melhores para trazer-lhe mais alegria; creia que em lhe escrevendo não me sinto triste, nem deserdada de Deus.
Estou confiante.
Venho aprendendo aqui que os acontecimentos da vida estão encadeados, como acontece nas seqüências da Natureza, e razões devem subsistir em nosso passado para justificar a prova experimentada.
Muitos amigos de Jardinópolis e de Presidente Prudente que conheci nas Igrejas de Nossa Senhora Aparecida, em ambas as cidades, nos auxiliam e reconfortam.
As preces e vibrações de carinho da senhora e de meu pai, tanto quanto as de todos os familiares do Waldir muito nos fortaleceram.
Mãezinha Leonor, estou muito grata.
Perdoe-me se não tenho expressões para seguir com a narrativa do nosso romance, iniciado na Estrada e que prossegue aqui presentemente com a bênção de Deus a clarear-nos o entendimento.
A todos os nossos, os meus pensamentos de gratidão.
Desculpe Mamãe, se as cenas que escrevi lhe ferem a sensibilidade, mas posso dizer-lhe que não perdi a nossa fé em Deus, em momento algum.
Agora, devo terminar; fique em seu coração querido todo o coração de sua filha,
Maria das Graças
Ana Paula e Alessandra
XVIII
Intervenções cirúrgicas no além
A respeito da segunda mensagem do Espírito de D. Maria das Graças Ayres Gregh - "Manancial de Consolo e Paz" -, recebida pelo médium Xavier, na noite de 17 de maio de 1979, limitarnos-emos ao mínimo de comentários, uma vez que a página fala por si mesma, e os nomes citados, a maioria deles. são nossos conhecidos.
1 - Querida Mamãe: D. Leonor Peixeira Ayres, casada com o Sr. Augusto Pereira Ayres, residentes em Presidente Prudente (SP), Rua São Sebastião, 137.
2 - O Nosso benfeitor Antonio Maestri - cf. Cap. 16, Item 2b
3 - "... Quando nos aproximávamos daquele Natal que se desfez em lágrimas, é muito difícil para a sua filha..." - O acidente ocorreu a 16 de dezembro de 1975, cerca de 22,30 horas, entre Ribeirão Preto e Jardinópolis, quando a família regressava de um clube de campo, em companhia de um casal com uma filha de 8 meses, originários de Batatais, Estado de São Paulo, seus conhecidos de quinze dias antes.
4 - "Creia que o Waldir tudo fez para que pudéssemos fugir ao caminhão enorme que se abeirava de nós. / (...) posso dizer-lhe, porém, que todos os movimentos de fuga manobrados por Waldir pareciam seguidos pela máquina enorme, até que fomos esmagados." - Não somente as pessoas que presenciaram o acidente, mas a própria Perícia, concluíram que, de fato, Waldir tudo fez para fugir ao caminhão que acabou por esmagá-lo e aos seus familiares, já fora do asfalto, como foi tão fielmente descrito pelo Espírito comunicante, através dos canais medianímicos.
5 - "Não digo isso para inculpar o motorista que suponho estivesse talvez magnetizado por uma força de que não conseguia se desvencilhar." - Não nos esqueçamos de que a primeira mensagem de D. Maria das Graças, além de reafirmar a sobrevivência do Espírito eterno, teve por objetivo fazer com que a família desistisse de processar o motorista do "caminhão enorme".
6 - "Ana Paula, Alexandra e o resto desapareceu de meus olhos." - Cf. Cap. 16, item 3.
7 - "Por mais estranho que possa parecer, o meu pesadelo-realidade era feito de impressões e dores condicionadas de um parto prematuro./ Achava-me dopada por medicamentos ou forças que até hoje não sei explicar, e senti perfeitamente que uma cesariana se processava." - Remetendo o leitor ao item 3-d do Cap. 16, observemos que aqui o Espírito de D. Maria das Graças deixa claro que se submeteu a uma operação cesariana, porque, em seu caso, "a criança em espírito já se achava perfeitamente formada e que não poderíamos exigir uma eliminação sumária do companheirinho a nascer."
Sobre intervenções cirúrgicas no Mundo Espiritual, o próprio médium Francisco Cândido Xavier já havia, anteriormente, recebido uma mensagem, em torno do assunto.
Trata-se da página transmitida pelo Espírito do Senhor Hilário Sestini, ao foral da sessão pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 17 de julho de 1976, cento e nove dias após a sua desencarnação por enfarte do miocárdio, em São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, e que hoje faz parte do livro Vida no Além (1).
(1) Francisco Cândido Xavier, Caio Ramacciotti, Espíritos Diversos, Vida no Além, G.E.E.M., São Bernardo do Campo (SP), l Edição, 1980, PP. 64-72.
Transcrevamos, em seguida, alguns trechos da referida mensagem, a fim de que possamos, de uma vez por todas, acabar com o medo da morte, amando cada vez mais a vida:
Não pensava que a ausência do corpo físico surgisse em meu caminho com aquela violência.
Um mal súbito, sensação de asfixia. (...)
Acusava-me perplexo, doente. Receava fazer perguntas. Guardava o medo de readquirira dor que me abatera, qual se fosse um calhau pontiagudo, no peito, e os amigos me conduziram para a Casa de Saúde Santa Therezinha que reassumia a forma pela qual a conhecera na infância.
Um leito alvo e um médico, que me disse ser companheiro de nosso estimado Dr. Marat Descartes Freire Gameiro, me cirurgiou o tórax. Estive alguns dias acamado." (2)
(2) Os grifos são nossos. (E.B.)
No citado livro (3), há outra expressiva mensagem, recebida pelo médium Xavier, na noite de 2 de outubro de 1976, do médico - Dr. Orlando Van Erven Filho -, também desencarnado em São José do Rio Preto (SP), a 18 de abril de 1976.
3 - Vida no Além, pp. 82-89.
Vejamos apenas dois ligeiros tópicos, sendo os grifos nossos, com vistas a tirarmos as devidas conclusões sobre os casos para os quais haja ou não indicação de cirurgia, no Plano Espiritual próximo à Terra:
"Lembrar-se-á você de que, várias vezes, conversamos, quase a medo, sobre os assuntos da morte. Sabia de minha parte que as coronárias caminhavam para transformações inevitáveis e a circulação para o médico tem o seu alfabeto infalível. Compreendia, e, creia, minha querida, que esperava orando. Não sentia vontade alguma de deixá-la assim tão cedo para nós, apesar dos meus 66 janeiros laboriosamente vividos. (....)
Quando assinalei a dor característica, entendi o que me aguardava em momentos rápidos, mas uma sensação de sono me invadia totalmente. Dormi ao modo da criatura anestesiada para cirurgia de alto curso e tão-somente acordei com amigos do "Bezerra de Menezes" que me amparavam."
8 - Bisavó Carolina: D. Carolina Teixeira de Camargo, bisavó paterna.
9 - Bisavó Rita: D. Rita de Cássia Maestri, bisavó materna.
10 - "Agradeço as suas preces e as orações de nossa Elza e de outros corações queridos, cujas vibrações de piedade e de assombro nos procuravam." - Recomendando ao leitor a releitura dos Capítulos XXVII e XXVIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, sobre a prece, informamos que D. Elza Ayres Dena, a mais velha das irmãs de D. Maria das Graças, que era a caçula (ao todo, eram 7 irmãos: 3 homens e 4 mulheres), reside em Maringá, Estado do Paraná.
11 - "Chamo Júnior o caçula que se me desgarrou do seio aqui na vida espiritual." - D. Maria das Graças, com efeito, disse, por várias vezes, torcendo para que seu último filho fosse homem, que lhe colocaria o nome de Waldir Gregh Júnior, chegando a afirmar: "Estou feliz agora, porque passei para uma outra casa, o Waldir com carro novo (10 dias de uso), e vou ter um menino, se Deus quiser."
Dr. Yamada, que lhe fazia o pré-natal, concordou em esperar pelas férias de Waldir, que seriam a partir de 20 de janeiro de 1976, para que sua paciente fosse dar à luz, em Presidente Prudente.
12 - "Muitos amigos de Jardinópolis e de Presidente Prudente que conheci nas Igrejas de Nossa Senhora Aparecida, em ambas as cidades, nos auxiliam e reconfortam." - Morando em Jardinópolis, por dezoito meses, D. Maria das Graças, que nasceu em Martinópolis, Estado de São Paulo, a 10 de setembro de 1949, continuou, de fato, freqüentando o seu templo religioso, como fazia na terra natal de seu marido.
Era católica fervorosa, mas costumava fazer perguntas sobre o Espiritismo à irmã que se casou com um rapaz espírita.
Normalista, não chegou a lecionar, preferindo cuidar dos próprios filhos.
Não estimava falar sobre a morte.
Espírito alegre e aberto à caridade, vivia para o marido e os filhos, enaltecendo, sempre, a grandeza de Deus.
XIX
Ante os clarões da vida renovadora
Querida Mãezinha Myriam e meu querido Papai Mário.
Abençoem-me.
Sonhava que o renascimento fosse aquela imersão na primavera...
Flores pendendo de ramos verdejantes para entretecerem tapetes imensos no chão...
Pássaros cantando melodias desconhecidas, e um céu infinitamente azul convidando ao repouso.
Entretanto, a alvorada da Vida Nova é mais alta em deslumbramento...
Tudo amor, a começar dos amigos que se despedem de nós para que outros companheiros, tocados de luz sem sombra e de carinho sem adeus, nos tomem nos braços...
Uma festa depois do pranto, num mar de alegrias, no qual um regato de lágrimas desapareceu como por encanto...
As inquietações terminavam e, principalmente para o Edmundo e para mim, chuvas de bênçãos de que a palavra humana está incapaz de servir a qualquer classificação, qual se os vocábulos terrestres se convertessem de repente em tijolos frios, à frente de estrelas cintilantes.
Deus de Infinita Bondade saíamos de um cursinho para penetrar num templo em que os conhecimentos superiores apenas começam...
Mãe querida estamos contentes.
As saudades são versões da esperança numa existência mais bela.
Que o seu carinho e o devotamento de meu Pai, que a bondade dos amigos Ernane e Dorália nos vejam na alegria, na profunda alegria em que as formas estragadas nos arrojaram.
Não somos ingratos.
Sabemos que distância é uma dor, no entanto, aqui essa dor é um ato de fé no reencontro que virá...
Nunca supus houvesse tanto júbilo na casa da morte. Um dia, isso será revelado aos homens.
Só uma espécie de amargura aqui não se funde com os clarões da vida renovadora.
É a culpa.
Unicamente a culpa nos obriga a recuar para os reajustes encharcados de lágrimas.
Aqui chegamos, porém, tão-somente com a nossa bagagem de sonhos e as privações.
Voltamo-nos para a paisagem a fim de contemplar os veículos que nos haviam servido...
O carro e os corpos.
Oh! Deus, que a vida na Terra se abra às correntes maravilhosas do Bem, pelas quais as criaturas consigam vislumbrar o futuro que as esperam!
Mãe querida, não estou divagando...
As horas difíceis do renascimento passaram.
A forma, a meu ver, significou a placenta que nos retinha, mas eis-nos na posse de nós mesmos, ante a grandeza da Vida.
Agradeçamos ao Criador pelos prodígios em que vivemos sem perceber, e receba os beijos de carinho e gratidão, de esperança e de alegria, com a luz da saudade, do seu filho, sempre seu.
Sérgio
Sérgio de Almeida e Souza
XX
Jovem poeta de retorno
Desde a nossa primeira entrevista com os distintos pais do poeta Sérgio de Almeida e Souza - Sr. Mário Sperry de Almeida e Souza e D. Myriam -, em Uberaba, na tarde de 29 de maio de 1980, prometeu-nos D. Myriam fornecer-nos, por escrito, um depoimento sobre as mensagens que ela e seu marido haviam recebido de seu filho Sérgio, através do lápis abençoado de Chico Xavier, a primeira delas, na noite de 23 de novembro de 1979.
No dia 11 de junho de 1980, chegou-nos às mãos o precioso documento, do qual vamos nos servir, ao longo deste e dos próximos capítulos.
Por itens, procuraremos aludir aos pontos sobre os quais Sr. Mário e D. Myriam deixaram de focar, mas que, a nosso ver, merecem ser ressaltados.
Eis a carta que acompanhou o referido depoimento, datado de Brasília, Distrito Federal, 8 de junho de 1980:
"Prezado Dr. Elias,
Estou hoje mandando a declaração que o senhor havia pedido.
Aproveito a oportunidade para comunicar-lhe que nos dados fornecidos ao senhor em relação à data de nascimento de D. Antônia Canavan Nery Costa, houve um engano; foi lhe dado o ano de 1877, sendo que o ano correto foi 1889.
Quanto à foto da sepultura que eu lhe prometi, seguirá breve, pois esta será tirada por meu filho que não se encontra presentemente em Brasília.
Colocando-me a seu dispor para qualquer eventualidade, apresento-lhe, juntamente com meu marido, nossas cordiais saudações.
(a) Myriam de Almeida e Souza. "
"Após a desencarnação de meu filho Sérgio de Almeida Souza," - assim inicia D. Myriam a sua Declaração - "através de pessoas amigas, começaram a chegar às minhas mãos, livros de jovens, psicografados através da mediunidade de nosso irmão Chico Xavier.
Comecei a lê-los, embora sem convicção, pois vinha de família católica, mas cabe dizer que aquela leitura despertou o meu interesse. Minha filha, Cristina de Almeida Scalia, que me acompanhava nestas leituras, estudou com uma colega cuja mãe, espírita que é, tem o dom da psicografia."
Depois de afirmar que a filha acabou por solicitar à distinta médium notícias do Sérgio e do Edmundo (colega que desencarnou no mesmo acidente), tendo recebido uma mensagem, que veio assinada por respeitável nome do Espiritismo Brasileiro, chamando a atenção de D. Myriam para dois fatos desconhecidos da sensitiva:
"1) O sorriso do Sérgio era contagiante - o que era verdade, pois o Sérgio tinha um sorriso conhecido e muito comentado.
2) O carinho do Edmundo pelos mais velhos - era outra verdade, pois D. Dorália Duarte Galesso, a mãe do Edmundo, já havia feito este comentário comigo.
Ficamos todos um pouco menos céticos, e como a referida psicografia aconselhava uma visita a Chico Xavier, acabamos por arrumar as malas e seguimos caminho para Uberaba.
Primeira visita a Chico Xavier
Confesso que estava bastante excitada e nervosa, quando chegou minha vez de falar ao irmão Chico Xavier, mas aquela tranqüilidade e o carinho com que o Chico me recebeu, me deram forças para conversar com ele.
Depois de explicar a razão de minha ida a Uberaba, perguntei ao Chico se ele gostaria de ver algumas coisas escritas por meu filho, das quais nem eu mesma havia tomado conhecimento antes da sua desencarnação.
Chico quis lê-las, e ficou muito impressionado com o que leu.
Mostrei-lhe também uma poesia escrita pelo Edmundo, no dia 15/07/79, portanto, na véspera da desencarnação, através da qual ele pressentia claramente a morte próxima.
Chico leu tudo e disse-me que ambos os rapazes estavam bem e que o Sérgio estava em companhia de minha avó Tonica (fiquei surpresa, pois, em minhas orações, sempre pedia que meu pai ou minha sogra olhassem por ele. Vovó que me perdoe, mas nunca lhe pedi este favor).
Chico, quando conversa com as mães, tem um bloco em suas mãos, onde ele faz algumas anotações.
Fez-me algumas perguntas, como:
meu nome - Myriam de Almeida e Souza - que o Chico escreveu Miriam, mas, como havia poucos minutos para falar com ele, achei por bem não corrigir;
- nome do Sérgio;
- nome do meu marido;
- nome do Edmundo;
- nome da mãe do Edmundo (não quis o nome do pai. pois este, ao contrário da mãe, não se encontrava em Uberaba).
Acabada a entrevista com o Chico, coloquei o nome do Sérgio para uma possível psicografia, e saí do Grupo Espírita da Prece para voltar mais tarde, a fim de assistir aos trabalhos do estimado Chico.
Foi grande nossa emoção - minha, de meu marido e de minha filha -, quando Chico chamou a família de Sérgio de Almeida e Souza para ouvir sua mensagem.
Quatro fatos na primeira psicografia do Sérgio, me fizeram acreditar na autenticidade do que estava escrito:
l.o) Myriam - escrito corretamente, quando ó Chico havia grafado errado, em seu caderno.
2.o) O nome do pai do Edmundo, Ernane, constando na mensagem, sem que o Chico soubesse do nome do pai do rapaz.
3.o) Uma frase que diz: "saiamos de um cursinho..." - Ao conversar com o Chico, ele me perguntou como havia desencarnado o meu filho, e eu disse que havia sido num acidente automobilístico, quando ele e o amigo se dirigiam para uma pescaria.
Não falara que eles haviam terminado um cursinho e feito o vestibular.
4.o) Finalmente, o que eu considero como quase sendo a assinatura de meu filho na mensagem, é uma frase final, dirigida apenas a mim - Mãe querida, rezo estou divagando... "
Freqüentemente, quando o Sérgio falava comigo, eu, às vezes ocupada com os meus afazeres, dizia-lhe:
- Não fique divagando, diga logo o que quer!
Não posso colocar em dúvida a autenticidade dessa carta que Sérgio nos enviou, e que tanto conforto trouxe aos seus familiares."
Brasília, 8 de junho de 1980.
(AA) Myriam de Almeida e Souza
Mário Sperry Almeida e Souza
Cristina de Almeida Scalia
Luiz Cláudio de Almeida e Souza.
Sobre o poema em prosa - "Ante os Clarões da Vida Renovadora" , que bem demonstra o retorno de um vigoroso, jovem e autêntico poeta, acrescentemos apenas os seguintes itens:
1 - Edmundo: Trata-se de seu colega de cursinho e de viagem, Edmundo Duarte Galesso, filho do Senhor Emane Galesso e de D. Dorália Duarte Galesso, nascido a 16 de junho de 1962, e desencarnado em companhia de Sérgio, a 16 de julho de 1979, em desastre automobilístico, no município de Rialma, perto de Ceres, Estado de Goiás. Seus pais residem, atualmente, em Brasília, Distrito Federal, e são de formação católica.
2 - "Deus de Infinita Bondade, saíamos de um cursinho para penetrar num templo em que os conhecimentos superiores apenas começam..." - Sérgio e Edmundo, depois de terem passado pelo cursinho, prestaram o vestibular para Administração de Empresas e Economia, na véspera da desencarnação, a 15 de julho. Não chegaram a ficar sabendo os resultados dos exames a que se submeteram, tendo sido ambos reprovados.
Iam descansar numa ilha, que fora alugada pelo pai de Edmundo.
Era Sérgio quem guiava a Brasília azul.
Testemunha que vinha num carro, logo atrás, percebeu que o jovem poeta dormira ao volante, deixando que o veículo se precipitasse num barranco de doze metros de profundidade.
Sérgio teve morte instantânea, enquanto que seu companheiro permaneceu por alguns minutos, derramando lágrimas entre gemidos.
3 - "Nunca supus houvesse tanto júbilo na casa da morte./ Um dia, isso será revelado aos homens. / Só uma espécie de amargura aqui não se funde com os clarões da vida renovadora. / É a culpa. / Unicamente a culpa nos obriga a recuar para os reajustes encharcados de lágrimas." - Que estes lembretes nos incitem a continuar na prática do bem, vivendo, sempre, com a consciência tranqüila.
4 - Palavras finais do Sr. Mario Sperry de Almeida e Souza: "Sérgio tinha o apelido de Péla, e era iatista do Iate Clube de Brasília, onde era muito querido.
Numa das provas, a mais importante delas, um dos troféus recebeu o nome dele, e o vencedor da prova era amigo dele - Sérgio -, com quem já havia competido. houve o tradicional minuto de silêncio, e fui eu quem entregou os prêmios aos três primeiros colocados, debaixo de muita emoção.
Sobre a primeira mensagem, toda vazada em estilo poético, o ponto altíssimo, para mim, é aquela frase tão curta: - "Mãe querida, não estou divagando..." É a maior prova, como se fosse reconhecimento de firma em tabelião, este é o selo do Sérgio. Ele, quando conversava com a mãe, rogava-lhe paciência para explicar tudo direitinho. Para quem era poeta e só ficamos sabendo após a sua desencarnação, este detalhe é importantíssimo."
XXI
Esperança no reencontro sem adeus
Querida Mãezinha Myriam e meu par Mário, peço-lhe; a bênção.
Estamos aqui celebrando o reencontro na lembrança em forma de preces
Edmundo e eu estamos felizes, tanto quanto se pode encontrar alegria em meio das inquietações que ainda nos visitam o campo espiritual.
Insisti com o amigo para que escrevesse, no entanto, o nosso caro Edmundo ainda não consegue imunizar-se contra a emotividade que decorre naturalmente de encontros qual o nosso desta noite.
Ele com o avô Domingos, que o recolheu nos braços, me encarregaram de transmitir a irmã Dorália e ao papai Ernane as saudades imensas que lhe ferem o coração.
Este tópico de nosso comunicado não quer dizer que me reconheço insensível.
As saudades vagam igualmente por dentro de mim, e rever tudo o que foi nossa felicidade no lar terrestre, mas aprendi a considerar a angústia da separação temporária por tradução da esperança no reencontro sem adeus.
Desejamos informar ao amigo Ernane para que não se absorva em quaisquer pensamentos destrutivos, imaginando que lhe seria possível evitar a nossa descoberta da libertação, no rumo de outra vida.
Fomos convidados a pescar e sem dúvida que a nossa rede se fez diferente.
Não nos imobilizamos à beira de um rio e sim acordamos para um oceano de estrelas, aprisionando flores de luz nos braços, sequiosos de renovação.
Pais queridos e gentis quais os nossos, naturalmente se afligem por nossa causa, mas rogamos aos quatro para que se tranqüilizem.
Graças a Deus, não temos perdido tempo.
Estudamos e pesquisamos.
Novos mentores criam luz e estímulos edificantes adentro de nós.
Despertamos.
Sem dúvida que não achamos o paraíso das tradições, mas descortinamos um mundo novo em nós mesmos.
Sem qualquer propósito de desprestigiar a escola humana, tenho, de mim para comigo, que viver sob o regime da gravitação no solo da Terra será possivelmente a morte para o espírito, criado por Deus para a liberdade e para a beleza.
Foi assim que acordamos, quando nossas vestimentas de ferro e conexos se estraçalharam na estrada.
Um automóvel é semelhante a um grande robô a transportar-nos calçado em galochas.
Bastou um atrito mais forte com o imprevisto e nos vimos desalojados da casca.
Presentemente, trabalhamos, conquanto modestamente, no apoio a outros jovens, quais nós mesmos, a fim de que não se acomodem num sono mais pesado que esse a que me reportei da existência na matéria mais pesada do Plano Físico.
São muitos os companheiros que se anuviam por dentro de si mesmos, escorregando num desmaio de longo alcance, e anulando as próprias forças.
Desejamos falar sem qualquer reprovação dos amigos que se anestesiam com picadas e doses estranhas, procurando fugir à penumbra para se arremessarem nos despenhadeiros da demência, em forma de tranqüilidade ou excitação que os situa à margem da própria loucura.
Por isso mesmo, ansiamos espalhar idéias de paz e alegria, instilar renovação em tanta gente verde que precisa amadurecer para a realização do melhor.
Pais queridos, auxiliem-nos com a aceitação da ocorrência que nos descartou da bagagem física.
Precisamos trabalhar.
Que o nosso Edmundo não mais pranteie sobre a visão do que se foi para sermos ambos o que a vida espera de nós.
Obreiros do trabalho e da transformação por amor.
O querido amigo, indiscutivelmente, ainda está muito ligado à família que lhe foi e ainda é especialmente querida e envia lembranças aos irmãos Luiz Cláudio, Cristina e Dora Thereza.
E eu também me faço mensagem de carinho e boa vontade para todos os irmãos outros da família humana, tanto quanto da família particular, com o anseio de afirmar-lhes que a morte é ilusão e que a vida na Terra é um estágio de bênçãos, no qual o suor em serviço do bem nos consegue angariar passaporte para novas faixas de revelação e de imortalidade.
Que meu pai Mário e Mãezinha Myriam me perdoem se me observam embriagado de esperança e faminto de luz.
Um mundo novo há de surgir dos escombros do ódio e do egoísmo que até hoje ainda nos separam uns dos outros e Deus, o Criador da Vida, nos fará criaturas libertas de toda sombra, na direção de novo amanhecer.
Pais queridos, recebam com os nossos amigos e todos os nossos, todo o coração, despedaçado em amor e confiança, paz e alegria, do filho que lhes deve tudo de bom e belo, que nos possui em nome de Deus.
Sempre o filho reconhecido,
Sérgio.
XXII
Flores de Luz nos abraços
Sobre a segunda mensagem do Espírito de Sérgio de Almeida e Souza, recebida pelo médium Xavier, na reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 18 de janeiro de 1980, a que denominamos "Esperança no Reencontro sem Adeus", continuemos transcrevendo trechos do importante depoimento que nos prestou a Sra. Mãe de Sérgio, D. Myriam de Almeida e Souza, e que já foi objeto de nossa análise em capítulo anterior.
Segunda visita a Chico Xavier
Resolvemos voltar a Uberaba, em janeiro de 1980, para nova visita ao Chico.
Desta vez, já pude conversar com o Chico, nosso grande amigo, com maior tranqüilidade, mas fiquei bastante balançada com o que ele me disse:
- O Sérgio está bem, cada vez melhor; continua em companhia de sua vó Antonia e está agora com o vovô Moacyr (meu pai).
Conversamos mais um pouco, e o Chico me disse:
- A senhora tem mais dois filhos, a Cristina e o Luiz Cláudio, e o papai Mário está lá fora.
Como duvidar?
Novamente, foi colocado o nome do Sérgio, na esperança de outra psicografia, e nova emoção ao sermos chamados para outra mensagem deste filho que embora ausente, sempre que pode se faz presente, graças ao querido Chico.
Mais uma vez, eis os fatos que nos fizeram acreditar na autenticidade do que estava escrito:
l.o) Nos primeiros dias de janeiro, estive no Rio de Janeiro, e fui visitar um Centro Espírita, onde há também uma médium que psicografa.
Esta senhora me disse que o Sérgio estava tão bem, que já estava trabalhando em auxilio a jovens, aqui na Terra, viciados em tóxicos.
Na psicografia do Sérgio pelo Chico, meu filho faz menção a este fato.
2.o) Os rapazes iam pescar, a convite do pai do Edmundo, e o Sr. Emane Galesso sentia-se culpado, alegando que se não houvesse feito o convite, o acidente não teria ocorrido.
Nesta segunda mensagem, o Sérgio faz alusão sem que o Chico soubesse.
3.o) Chico não sabia o nome da irmã do Edmundo - Dora Thereza -, que foi citado na mensagem, além do nome de meus outros dois filhos, Cristina e Luiz Cláudio.
Mais importante, contudo, do que os fatos a que aludimos e que não deixam margem a dúvidas, é o conteúdo espiritual destas mensagens, que despertou em seus familiares a semente da caridade, do amor ao próximo, da fé, da esperança e da necessidade premente de trabalho em auxílio a irmãos mais necessitados.
Hoje, continuamos sendo uma família feliz (1).
(1) Por ocasião da primeira entrevista, disse-nos o Sr. Mário "Com a mensagem, retornamos três pessoas diferentes - Myriam, Cristina c eu - alegres dentro da tristeza." (EB.).
Não temos mais o Sérgio no nosso dia-a-dia, mas estamos convictos de que ele está vivendo a Maior das Maiores Vidas.
Que Deus abençoe o Chico Xavier por tanto bem que ele fez a nós e a tantas outras famílias.
Gostaria de terminar esta declaração, repetindo uma frase dita por meu genro, o Sr. Reinaldo Tadeu Scalia, poucos meses antes da desencarnação de meu filho:
- O Sérgio é o filho que todos os pais gostariam de ter."
Logo após a data e as assinaturas, D. Myriam acrescentou os seguintes
Esclarecimentos
- Sérgio de Almeida e Souza - nascido na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, a 25 de março de 1961, e desencarnado em Ceres, Estado de Goiás, a 16 de julho de 1979.
- Mãe - Myriam de Almeida e Souza - residente em Brasília - S.Q.S. 314 - Bloco "E" - apto. 104.
- Pai - Mário Sperry de Almeida e Souza - residente em Brasília, endereço acima.
- Irmã - Cristina de Almeida Scalia - residente em Brasília - S.Q.S. 416 - Bloco "Q" - apto. 202.
- Irmão - Luiz Cláudio de Almeida e Souza - residente em Brasília - S.Q.S. 314 - Bloco "E" - Apto. 104.
- Cunhado - Reinaldo Tadeu Scalia - residente em Brasília - S.Q.S. 416 - Bloco "Q" - apto. 202.
- Tonica - Amônia Canovan Nery Costa - nascida em São Paulo, Capital, a 5 de novembro de 1889, e desencarnada na cidade do Rio de Janeiro, RJ, a 6 de janeiro de 1963 - era bisavó materna do Sérgio.
- Moacyr Nery Costa - nascido a 23 de janeiro de 1908, na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, e desencarnado a 11 de janeiro de 1967, na mesma cidade ; era avô materno do Sérgio.
- Edmundo Duarte Galesso - nascido na cidade de Brasília, Distrito Federal, a 16 de junho de 1962, e desencarnado em Ceres, Estado de Goiás, a 16 de julho de 1979.
- Mãe - Dorália Duarte Galesso - residente em Brasília.
- Pai - Ernane Galesso - residente em Brasília.
- Irmã - Dora Thereza Duarte Galesso - residente em Brasília.
- Domingos Basso - nasceu em Nápoles, Itália, e desencarnou com 63,anos de idade, em São Luiz Gonzaga, Estado do Rio Grande do Sul, por volta de 1927."
Antes de concluir o presente capítulo com o poema premonitório de Edmundo Galesso, vejamos, com o máximo de síntese, apenas, alguns dos muitos pontos altos da página mediúnica.
1 - "Sem qualquer propósito de desprestigiar a escola humana, tenho, de mim para comigo, que viver sob o regime da gravitação no solo da Terra será possivelmente a morte para o espírito, criado por Deus para a liberdade e para a beleza." - Belíssimo e inteligente modo de dizer, próprio de um poeta, que a Terra, por enquanto, é um mundo de provas e expiações, destinado a se transformar, dentro do grande futuro, em mundo de regeneração.
2 - "Presentemente, trabalhamos, conquanto modestamente, no apoio a outros jovens, quais nós mesmos, a fim de que não se acomodem num sono mais pesado que esse a que me reportei da existência na matéria mais pesada do Plano Físico." - Este tópico da mensagem confirma a resposta de Chico Xavier/Emmanuel à nossa entrevista, que constitui o Capítulo 40 de Enxugando Lágrimas (2).
(2) Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa e Espíritos Diversos Enxugando Lágrimas, IDE, Araras, (SP), 4ª edição, 1981, pp. 183-185.
3 - "Um mundo novo há de surgir dos escombros do ódio e do egoísmo que até hoje ainda nos separam uns dos outros e Deus, o Criador da Vida, nos fará criaturas libertas de toda sombra na direção de novo amanhecer." - Afirmativa das mais sérias, de que não duvidamos, cabendo-nos, co-criadores que somos, prosseguir firmes na trilha, orando e trabalhando, infatigavelmente.
Tencionávamos transcrever pelo menos um dos três poemas de Sérgio - "O Drama da Mãe Solteira" (poema em prosa); "Por que?" e "Esperança" - que tivemos oportunidade de ler, e "Socio-racionalismo" e "Cavaleiro Errante", de Edmundo Galesso, mas, não apenas por motivo de espaço e sim por fugir ao objetivo que nos propomos neste livro que é o de consolar sem preocupações científicas ou literárias, vamos trasladar para cá, sem alterar uma só vírgula, o poema de Edmundo, de conteúdo premonitório:
Retorno
Está acabando,
que tristeza,
que vontade de parar o tempo.
Estou voltando, de novo,
De Vagar,
Sempre.
Vou, mas
Deixo um pedaço do meu ser
contigo.
Uma rede loira me envolveu,
os olhos de um mar claro me afogaram,
A nudez de uma boca,
que muitas vezes falou coisas cruéis,
beijou o ventre da minha existência,
onde hoje sinto que o vago caçou o meu
espírito.
E a fera agonizou.
Está acabando,
Acabado,
Acabou.
Edmundo Galesso
15/07/79
OBS/ O jovem autor faleceu em acidente de carro, em 16/07/79.
Edmundo Duarte Galeno
XXIII
Alegria de ser útil
Querida Mãezinha Myriam e querido Papai Mário, abençoem-me.
Este bilhete é somente para lhes dizer que sigo melhorando sempre.
A vovó Nica, a vovó Alzira e o Paulo Henrique muito me auxiliaram e espero para breve a alegria de lhes ser útil, de maneira que não lhes venha a causar tantas dificuldades e pesadelos.
Graças a Deus o pranto parou de correr, ao toque da fé e nesse toque de fé possa eu caminhar para a frente, a fim de me realizar com Jesus.
Sempre o filho muito reconhecido,
Sérgio de Almeida e Souza
XXIV
Realizar-se com Jesus
Sobre a terceira mensagem de Sérgio de Almeida e Souza, psicografada pelo médium Xavier, na reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 26 de setembro de 1980, um bilhete que intitulamos "Alegria de Ser Útil", observemos tão-somente os seguintes itens:
1 - Vovó Nica: Antônia Cannavan Nery Costa, nossa conhecida de capítulos anteriores, nascida a 5 de novembro de 1889, e desencarnada a 6 de janeiro de 1963. Bisavó materna.
2 - Vovó Alzira: Alzira Sperry de Almeida e Souza, nascida a 30 de abril de 1902, e desencarnada a 29 de junho de 1927. Avó paterna.
3 - Paulo Henrique: Paulo Henrique Alves de Almeida, filho de Ayrton de Almeida e de U. Maria da Conceição Alves de Almeida (amigos da família), nasceu a 4 de fevereiro de 1951, no Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, e desencarnou a 20 de abril de 1978, em São Paulo, Capital.
Sr. Mário Sperry de Almeida e Souza, pai de Sérgio e funcionário aposentado do Banco Central, lembrou-se de uma passagem que ocorreu com sua esposa, D. Myriam, depois que retornaram de Uberaba, com a mensagem do filho, agora residente no Além.
Ao telefonar para sua genitora, D. Myriam assim se expressou:
- Agora, Mamãe, depois desta mensagem, posso dizer que sou uma mãe quase feliz.
Ao que sua mãezinha, do outro lado do fio, retrucou:
- E eu me sinto completamente feliz, por ter uma filha com tanta conformação quanto você.
Recordou-nos, ainda, o quanto Sérgio era caridoso e honesto, narrando-nos o episódio do litro de mel, tão marcante na vida deste jovem poeta.
Para concluir o presente capítulo, com chave de ouro, transcrevamos curta mensagem - um poema em prosa - do Espírito da jovem Emily de Putron, recebida pela médium Sra. Costel, na sessão de 27 de janeiro de 1865, na Sociedade Espírita de Paris, estando presente o insigne Codificador do Espiritismo, depois que foi lido o discurso - verdadeira obra-prima espírita - que o genial poeta Victor Hugo proferira ao pé do túmulo da referida jovem Emily, que desencarnara poucos dias após o casamento de uma de suas irmãs, e na véspera do lançamento do décimo quarto volume de tradução de Shakespeare, que o grande poeta Sr. François Hugo lhe tinha dedicado:
"As palavras do poeta correram sobre esta assembléia como um sopro sonoro. Fizeram os Espíritos estremecer; evocaram minha alma, que ainda flutua incerta no éter infinito!
"O poeta, revelador da vida, bem conheces a morte, pois não coroas com ciprestes aqueles que tu choras, mas ligas às suas frontes as trêmulas violetas da esperança! Passei, rápida e ligeira, apenas aflorando as enternecidas alegrias da vida; ao declinar do dia, fui roubada sobre o trêmulo raio que morria no seio das ondas.
"Ó minha mãe, minha irmã, minhas amigas, grande poeta! não choreis mais; ficai atentos! O murmúrio que acaricia os vossos ouvidos é meu; o perfume da flor inclinada é meu hálito. Misturo-me à grande vida para melhor penetrar o vosso amor. Somos eternos; o que não teve começo não pode acabar, e o teu gênio, ó poeta, semelhante ao rio que corre para o mar, encherá a Eternidade com o poder que é força e amor'.
Emily (1)
(1) Allan Kardec, Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos, Oitavo Ano - 1865, Trad. de Júlio Abreu Filho, EDICEL, São Paulo, 1966, pp 61-62.
XXV
Pensamentos de paz e benção
Querida Mãezinha Marli e meu querido Papai Antônio.
É com muita gratidão a Deus que lhes venho dizer que prossigo sempre a mesma, inacessível à morte que se me pretendia impor.
Lembro-me de tudo.
O sábado amanhecera alegre.
Um descanso e um passeio.
Achava-me sem qualquer idéia reprovável junto a pessoas amigas, na Exposição, quando descobri o Vinícius a me fitar, com a expressão de doente...
Mamãe Marli, se lhes posso pedir alguma cousa além da vida e da felicidade que me proporcionaram, desculpem o nosso amigo e esqueçam o acontecido.
Ele não sabia o que estava fazendo.
Notei, sem a menor possibilidade de imobilizar-lhe as mãos, que ele apertava o gatilho...
O projétil me alcançou à maneira do raio que, na tempestade, ao que suponho, desce sobre uma pessoa claramente despreocupada quanto à agressão da morte.
Ouvi os gritos de muitos amigos, as exclamações de lástima que se pronunciavam, entretanto, a minha voz se apagara, gestos não conseguiam ensaiar nem de leve e, por dentro de mim, com as lembranças da família querida, estava simplesmente à oração que não sabia articular, mas que partia de mim na forma de sentimentos.
Ali mesmo, pedi perdão para mim e para o amigo que me alvejara e que a fé cristã me determinava receber por irmão.
Por fim, foi um sono tranqüilo a que me rendi sem qualquer resistência.
Era um torpor suave, como se eu sonhasse vê-la ao meu lado, a beijar-me os cabelos.
Sentia a presença das afeições queridas, entretanto, em minha imaginação, tudo adquirira a moldura de repouso, em que me reconhecia leve, lamentando comigo a idéia de que teria de acordar como de costume.
No entanto não despertei, segundo o hábito de todos os dias.
Do sonho, passeia uma inconsciência pesada de que me desvencilhei somente mais tarde, ignorando quanto tempo me custara aquele abandono de mim própria.
A lembrança de que fora marcada por um acontecimento que me buscava a memória, pairou dentro de mim, em forma de semiperturbação, até que fixei a reminiscência...
A hora de companheirismo, o coração tranqüilo de moça a gritar esperança para a vida, e depois o tiro que me ecoou em todas ás fibras da alma.
Desconhecendo se estaria morta ou viva, pedi socorro a Deus, consciente agora de que me achava refugiada num quarto confortável e claro, como que à espera de enfermeiros e médicos que não apareciam...
Pedi a presença de alguém, usando a voz alta, surpreendida com a possibilidade de falar livremente, e quem surgiu foi uma senhora que me lembrava o seu carinho.
Afagou-me a cabeça e recomendou-me descanso...
Perguntei por minha situação, ao mesmo tempo que lhe agradecia, quando a recém-chegada me solicitou a chamasse por vovó Camilla, e longe de me dizer que não conseguiria mais voltar à nossa casa, com o corpo que ainda supunha comigo, me abraçou de tal modo que os pensamentos dela me envolveram de todo, e bastou isso para que eu viesse a entender tudo...
Sim, eu não voltaria mais ao nossa recanto, e Deus me concedia ali uma segunda mãe.
Chorei quanto quis, porque a generosa protetora não me impedia a evasão daquele pranto que parecia me lavar o coração...
Somente depois, veio o nosso diálogo...
E a senhora, querida Mamãe, pode imaginar tudo o que se conversou para que me acalmasse...
Confesso-lhe que ainda me encontro numa convalescença difícil, mas já consegui chegar até este balcão de fraternidade do qual, em companhia de minha avó, posso endereçar à família a minha solicitação de desculpas para o companheiro que se encontrava em tanta dificuldade consigo próprio.
Mãe querida, não acredito que ninguém possa abater os seus semelhantes, quando no estado normal de emoções e pensamentos.
Que a Misericórdia de Deus envolva aquelas mãos fraternas, tanto quanta se compadeça de mim.
Em verdade, nada fiz, ao que suponho, para receber aquela carga de morte.
Achava-me em paz comigo própria, no entanto, quem sabe, trago de outras paragens algum erro para com ele que se uniu a mim, pela dor, tanto quanto julgava permanecer comigo pelo amor?
Para ele, Mamãe, os nossos pensamentos de Paz e bênção.
E que Deus nos proteja a todos.
Peço dizer à Luciene, à Sirlene e à Marise que não as esqueço e que, em minha vida nova, rogo a Jesus conservar as irmãs queridas livres de qualquer sombra ou de qualquer passo infeliz.
O meu problema é recente demais para que me veja absolutamente desligada de qualquer impressão do acontecimento, mas a transformação está sendo feita e já consigo dizer-lhes, ao seu coração, a meu Pai e a todos os nossos, que estou quase bem e que do ponto de vista espiritual, sinto-me perfeitamente integrada em minha paz de consciência.
Agora, é o momento de encerrar esta carta.
Vejo aqui pessoas amigas, às quais agradeço as preces com que me socorreram.
Jesus recompense a todos.
Peço à senhora e a meu Pai me abençoarem, como sempre, com o íntimo desanuviado e sem qualquer ressentimento.
Estamos bem por dentro de nós mesmos e isso é uma felicidade, que não se compara com qualquer espécie de alegria exterior.
Mãezinha Marli, lembre-me nos seus braços e beije a sua filha saudosa, sempre a filha que não a esquecerá,
Marilene
Marilene Rezende Ferreira
XXVI
"Desculpem o nosso amigo e esqueçam o acontecido"
De nossa entrevista com a Sra. Marly de Resende Ferreira, em Uberaba, a 6 de outubro de 1980, graças à gentileza do casal Sr. Urbano T. Vieira - D. Ondina, e à carta que nos enviou, no dia seguinte, com farto material iconográfico, respigamos apenas os seguintes dados, na expressiva mensagem de Marilene, transmitida 33 dias após a sua desencarnação, através do médium Xavier, a 26 de setembro de 1980, a que demos o título de "Pensamentos de Paz e Bênção":
1 - Marilene Resende Ferreira nasceu em Araguari, Estado de Minas Gerais, a 16 de agosto de 1957, ai desencarnando a 23 de agosto de 1980, às 23 horas, no Parque de Exposição Rondon Pacheco, em conseqüência de traumatismo crânio-encefálico por projétil de arma de fogo.
Filha do Sr. Antônio Alves Ferreira e de D. Marly de Resende Ferreira, Marilene esteve casada por quatro anos, tendo deixado um filho - Rogério Ferreira Marques -, atualmente com seis anos de idade, vivendo em companhia de seus avós maternos.
Em janeiro de 1980, submeteu-se a uma série de intervenções cirúrgicas, inclusive nefrectomia total (rim direito).
Ultimamente, lia vários livros espíritas, tendo apreciado bastante Irmã Vera Cruz (1), cuja primeira edição saíra do prelo, dias antes de sua desencarnação.
(1) Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa e Vera Cruz (Espírito), Irmã Vera Cruz, IDE, Araras (SP), 2.ª edição outubro/80.
2 - "Achava-me sem qualquer idéia reprovável junto a pessoas amigas, na Exposição, quando descobri o Vinícius a me fitar, com a expressão de doente..." - Trata-se de José Vinícius Pereira, que a alvejou com um tiro de revólver, seu ex-namorado, preso em flagrante, a quem o Espírito de Marilene pede perdão.
3 - Vovó Camilla: Trata-se de sua trisavó materna, cujo nome completo D. Marly não conseguiu apurar, sabendo-se apenas que ela desencarnou em Abadia dos Dourados, Estado de Minas Gerais, há cerca de sessenta anos.
4 - "Em verdade, nada fiz ao que suponho, para receber aquela carga de morte. / Achava-me em paz comigo própria, no entanto, quem sabe, trago de outras paragens algum erro para com ele que se uniu a mim, pela dor, tanto quanto julgava permanecer comigo pelo amor'" - A propósito deste expressivo passo de Marilene, mulher desquitada quando no mundo, vale à pena transcrever a parte final do último capítulo do "Extrato dos Manuscritos de um Jovem Médium Bretão", de Eug. Bonemère, que Allan Kardec mandou traduzir para a Revista Espírita (2):
(2) Allan Kardec, Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos. Décimo Segundo Ano - 1869, Editora Cultural Espírita Ltda. - EDICEL São Paulo (1967), pp. 209-210.
"Diz-se freqüentemente de pessoas que se casam mas não se amam.
Eles se amarão mais tarde.
Isso é bem pouco provável, e até pelo contrário. porque a atração é livre e não se deixa violentar. Há, sem dúvida, pessoas de natureza pouco fluídica. para as quais a estima pode suprimir a falta de amor; mas as naturezas grandes e generosas não saberiam contentar-se com esses sentimentos mornos. A indiferença toma então o lugar do amor que falta, e é raro que, apesar de todos os mais belos raciocínios que façam, um ou outro desses esposos mal sucedidas não se encantar por outra pessoa. Talvez tenha a força de resistir a esse arrastamento, mas será incuravelmente infeliz.
Fechemos, pois os ouvidos a essas falsas opiniões, e que a famílias não façam jamais do casamento um negócio, uma questão de troca. Deus quis que o amor presidisse à perpetuidade da Criação; respeitemos os seus desígnios e não violentemos os fluidos. O homem e a mulher estão sujeitos à atração, essa é a lei natural, quando se tenta resisti-la paga-se a desobediência com a infelicidade de toda a existência,"
"Peço dizer Luciene, a Sirlene e a Marise que não as esqueço e que, em minha vida nova, roga a Jesus conservar as irmãs queridas livres de qualquer sombra ou de qualquer passo infeliz – Trata-se de: a) Sra. Luciene Cury, casada com o Sr. Carlos Cury, residente em Uberlândia, Minas Gerais;
b) Srta. Sirlene Resende Ferreira, residente em Brasília, Distrito Federal;
c) Sra. Marise Ferreira Aguiar, casa com o Sr. Sergio Marra Aguiar, residente em Uberlândia.
Concluindo, leitor amigo, edifiquemo-nos com esta mensagem do espírito de Delphine de Girardin, através do médium Sr. Bertrand na Sessão Anual Comemorativa dos Mortos – Sociedade Espírita de Paris, 01 de Novembro de 1868 - incluída por Allan Kardec, na Revista Espírita (3).
(3) Allan Kardec, Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos, Décimo Primeiro Ano - 1868, EDICEL, São Paulo, 1966, p. 365.
O dever da mulher é trazer ao homem todas as consolações e os encorajamentos necessários a sua vida de vicissitudes e penosos trabalhos. A mulher deve ser o sustentáculo, seu guia, o facho que ilumina o seu caminho e deve impedi-lo de falis, se ela faltar a sua missão, será punida, mas se, mau grado o seu devotamento o homem repele os impulsos de seu coração, ela e duplamente recompensada por haver persistido no cumprimento de seus deveres.
XXVII
Coragem e fé em Deus
Querida Mãezinha Conceição e meu querido Papai Indalécio, peço para que me abençoem.
Estou presente nesta carta com as dificuldades em que me vejo para me retratar fielmente.
Já que escrevo por outra mão, noto que a letra não pode assemelhar-se, de todo, à minha própria letra, mas escrevo com a alegria de quem achou um canal para afirmar-lhes que a morte não é senão certa mudança de lugar sem transformação para nós mesmos.
Agradeço à tia Cleide e a todos que os encorajaram a vir.
A vovó Salvina e o meu avô José Ruiz me conduziram até aqui de modo a lhes pedir coragem e fé em Deus.
Rogo especialmente ao Irmão, ao nosso querido Indalécio, o Júnior, para que não se mortifique em razão do sucedido.
Não foi porque houvesse conduzido o Irmão para os estudos que o desastre se verificou.
O meu tempo estava marcado.
Os meus avós, que me abrigaram com amorosa solicitude me reconfortaram na hora justa, e venho pedir à Mamãe para chorarmos somente de gratidão e de alegria.
De começo, a minha surpresa foi muito grande, mas acordando da inconsciência a que fui arrojado, pelo choque, pude revisar com a calma possível a ocorrência e aceitar a realidade de que a Divina Previdência faz sempre o melhor, em nosso benefício.
Não ficarei inerte.
Estou promovendo recursos de habilitar-me em conhecimentos novos, a fim de auxiliar aos pais queridos, e confio em que os Poderes Maiores da Vida me protegerão.
Mãezinha, peço-lhe concordar com as Leis Divinas que nos comandam as experiências.
A sua fortaleza será um centro de energias para nós todos, porque o Papai, o Irmão e eu dependemos de suas emoções para equilibrar as nossas.
A vovó Salvina tem-me auxiliado com infatigável dedicação, e de meu pensamento os quadros de doze de Abril já se foram definitivamente retirados.
Agora, penso em renovação e futuro melhor.
Pai querido, não suponha haver perdido o seu filho.
Estaremos sempre mais ligados um ao outro para trabalhar com fé em nosso próprio esforço perante a Infinita Bondade que nos sustenta.
Agradeço as preces e as flores que me ofertam, e agradecerei também a coragem e a tranqüilidade que me possam endereçar através das orações.
Estou melhorando sempre.
Um abraço a todos os nossos, na pessoa da tia Cleide.
E colocando a Mãezinha, o Papai e o Irmão nos meus próprios braços, agradece-lhes por todas as bênçãos de proteção e amor com que me enfeitaram a existência na Terra, o filho e irmão sempre muito grato, que pede a Deus por nossa paz e felicidade, para hoje, amanhã e sempre,
Edilson
Edilson Carlos Nogueira
XXVIII
O meu tempo estava marcado
Graças à gentileza do confrade Sr. Antônio Borges da Silva, foi-nos possível incluir neste livro a mensagem de Edilson Carlos Nogueira. recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, a 1 de julho de 1980, às 3,30 horas, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas, que constitui o capítulo anterior - "Coragem e Fé em Deus".
Sem nenhum comentário de nossa parte, procuremos transcrever parte da primeira carta que a Sra. Conceição Carini Nogueira escreveu ao Sr. Antônio, e o relatório que nos enviou, por seu intermédio
Espero que ao receber esta, esteja o senhor gozando de perfeita saúde, junto de seus familiares.
Por motivo de doença, não pude me comunicar com o senhor, mas não me esqueci de tudo o que o Amigo tez para que eu conversasse com o Chico Xavier.
Junto desta, estou-lhe enviando uma cópia da mensagem que eu recebi do meu filho.
O senhor me disse que tinha um amigo que publicava em livro as mensagens recebidas pelo Chico Xavier; peço-lhe para que fale com esse seu amigo para publicara mensagem do meu filho e se ele precisar de mais dados sobre meu filho, eu darei, bastando o senhor me escrever.
(....)
O que o senhor precisar aqui em São Paulo, e eu puder fazer, estarei pronta para ajudá-lo, como fui ajudada pelo senhor.
Quero lhe pedir, por favor: se o senhor arranjar um jeito de seu amigo publicara mensagem de meu filho, queira me dizer qual é o livro para que eu possa comprá-lo, e se precisar de mais detalhes, por gentileza, escreva-me.
Termino esta, desejando-lhe muitas felicidades e a todos os seus, e que Deus os proteja, sempre e sempre.
(a) Conceição. "
Relatório
Edilson Carlos Nogueira nasceu em São Paulo, Capital, a 19 de janeiro de 1966, tinha 14 anos de idade quando desencarnou em acidente de moto, na mesma cidade, a 1 de abril de 1980.
Estava ele na 8.ª série ginasial, iria se formar este ano; sua profissão: estudante; religião: católica; tinha muitos amigos e era bem relacionado com os colegas; o que podia fazer para os amigos, ele não media sacrifícios e fazia sempre.
Tinha muita saúde, quase nunca ficava doente, gostava muito da vida, adorava motos, carros esportes, gostava de se vestir bem, era muito vaidoso, fazia planos para seu futuro, e queria se formar em Engenharia Mecânica.
Sempre foi um jovem muito educado, adorava fazer negócios com o pai, seu companheiro inseparável; quando o pai ia comprar um carro, ele estava sempre junto dele dando palpites, tratava a todos com muito carinho, adorava seu gato - Chininho -, quase sempre brincando com ele, quando estava em casa.
Até a casa onde estamos morando, ele participou do negócio com o pai.
Sempre teve tudo que queria, seu pai não medindo sacrifícios para comprar o que ele desejava, inclusive ele pedia assim: "Compra, vai, Papi." - e seu pai não podia negar aquele pedido tão carinhoso.
Uma semana, porém, antes do acidente, ele andava muito triste, e ninguém sabia o que era, nem ele mesmo sabia explicar o porquê de sua tristeza.
Três dias antes do acidente, meu marido teve um sonho.
Ele sonhou que havia acontecido um desastre com um carro, e via três corpos no chão; ele correu, e o último corpo reconheceu como sendo do seu filho mais velho - Indalécio -; ele se abaixou e, abraçando o corpo e virando-o, viu que não era o Indalécio e sim o Edilson, que dizia:
- Pai, estou todo machucado na cabeça.
Acordando assustado, ele me contou o sonho, e eu disse: não se impressione, quando a gente sonha com a morte, é vida.
Depois de três dias, sábado, ele se levantou cedo, foi dar um passeio até a casa de sua avó, e voltou logo, dizendo para seu irmão: - Vou lavar e dar um brilho na sua moto (esta era de seu mano Indalécio; ele tinha uma Mobilete).
Assim fez, a moto ficou bonita, e ele pediu para o irmão (ele só chamava o Indalécio por Irmão, nunca pelo nome): - Bem que você podia me deixar a chave da moto para eu dar algumas voltas.
O irmão, vendo que ele passou a manhã toda limpando a moto, resolveu ir para o Colégio e deixar a chave com ele - Edilson -, coisa que ele nunca fazia, pois tinha ciúmes de deixar qualquer pessoa andar em sua moto.
O Indalécio estava no ponto de ônibus para ir para o colégio, quando Edilson passou e disse: - Suba, que eu lhe dou uma carona até lá. O Indalécio disse: - Só se eu for dirigindo. Ele concordou e foram os dois para o Colégio.
Na volta, ele vinha vindo em sua mão, quando um carro, em uma travessa, não parou e avançou uns dois metros da faixa de pedestres, e foi pegar o meu filho que vinha vindo com a moto, o choque foi fatal, com traumatismo craniano, meu filho veio falecer, quase sem receber os primeiros socorros.
Eu e meu marido ficamos muito doentes com o choque da notícia.
E eu não me conformava de ele ter falecido sem eu conversar pela última vez com ele.
Comecei a percorrer vários centros espíritas, aqui em São Paulo, mas nada dava certo, o pessoal dos centros alegava que era muito cedo e que meu filho estava em tratamento espiritual, e não teria condições de se comunicar comigo.
Eu precisava muito saber como estava ele, para ver se eu tinha um pouco de paz, senão eu e meu marido iríamos parar num hospício, de tanta dor e saudades que ele deixou aqui para nós.
Minha irmã Cleide, vendo nosso sofrimento, disse:
- Por que todos nós não vamos falar com o Chico Xavier?
Conversando com uma conhecida - D. Maria - que eu queria ir a Uberaba, disse ela que tinha uns parentes que moravam lá. e que seria mais fácil falar com o abençoado médium.
Por intermédio de sua parente, em Uberaba, vim a conhecer o Sr. Antônio Borges da Silva, que disse que conseguiria que eu falasse com o Chico Xavier, mas ele. - Sr. Antônio - não sabia o meu problema, só sabia que eu precisava falar urgentemente com o Chico.
Ao chegar à porta da casa de Chico Xavier, Sr. Antônio falou para um senhor que lá se encontrava, que o casal de São Paulo, já havia chegado para falar com o Chico.
Minutos depois, o mesmo senhor chegou no portão, e disse: - O casal que perdeu o filho em acidente de moto, pode entrar.
O Senhor Antonio ficou quieto, pensando que fosse outra pessoa que estava sendo chamado; minha Cleide, porém, disse: - Esse casal e minha irmã e meu cunhado, e o Sr. Antonio disse: - Então, vamos entrar; eu não sabia o assunto.
Havia várias pessoas falando com o Chico. Logo que ele me viu, disse:
- Filha, por que vocês choram e dizem que ficaram sozinhos, vocês que têm o Júnior (ele se referis ao meu filho mais velho - o Indalécio) e também têm o José Ruiz, que está ajudando vocês? Quem é o José Ruiz?
Meu marido respondeu: - É meu avô, Chico.
- Pois é ele quem está ajudando vocês, e vovó Salvina também (minha avô materna).
Pediu ele o nome do menino, o dia que ele desencarnou, o dia que ele nasceu e perguntou se ele era estudante, perguntando:
- Vocês vão para o Centro comigo? pois eu já estou atrasado.
Chegando ao Grupo Espírita da Prece, havia uma fila enorme, mas nós entramos junto com o Chico Xavier.
Dentro do Centro, ele começou a atender um por um, e, de vez em quando, olhava para nós, que estávamos sentados num banco.
Eu não estava passando bem, e por isso minha irmã Cleide pediu para que eu e meu marido fôssemos descansar, que ela ficaria guardando o lugar, e esperaria até o começo da reunião, que se daria lá pelas 22:00 horas, e ainda eram 15:00 horas.
Eu e meu marido saímos um pouco, e minha irmã ficou observando o Chico Xavier atender todo aquele pessoal. De repente, ele parou, e olhando para minha irmã, falou:
- Você tem alguma fotografia do rapaz?
Minha irmã falou que tinha, e mostrou-lhe a foto. Ele voltou a dizer:
- É um belo rapaz, e está sendo protegido pela vovó Salvina (como poderia ele - Chico Xavier - saber da existência de minha avó, falecida há quase 15 anos?).
E pediu para que ficássemos até o fim da reunião, porque talvez o menino se comunicasse com a gente.
Voltando para o Grupo Espírita da Prece, às 19,30 horas, o Chico Xavier estava quase terminando a primeira parte de seu trabalho.
Nunca vi tantas mães desesperadas como eu, à espera de uma comunicação de seus filhos!
Eu não estava me sentindo bem, e meus pés estavam inchados.
No centro da mesa, Chico Xavier continuava escrevendo - psicografando as mensagens - sem parar. Foi a coisa mais maravilhosa que já pude ver.
Falei para minha irmã e minha mãe que iria com o meu marido lá fora, um pouco. De lá, ficamos espiando de vez em quando, e Chico Xavier continuava escrevendo sem parar.
Eu já estava desesperada e perguntava: será que conseguirei uma mensagem do meu filho? Conversando com várias mães presentes, e lhes contando o meu caso, elas falavam que era muito cedo, pois justamente naquele dia - 12 de julho - fazia três meses que ele havia desencarnado.
Minha irmã, lá dentro, se aproximou do Chico Xavier, e viu que ele estava recebendo a mensagem do meu filho. Ela correu para fora, e me disse: - O Edilson está se comunicando com o Chico Xavier!
Eu quase não acreditava; talvez minha irmã quisesse me conformar, dizendo aquilo.
Terminando o trabalho, Chico Xavier começou a ler as mensagens recebidas, e chamava os pais para irem receber de suas mãos as laudas de papel.
Ele já havia lido 6 mensagens, e eu, no desespero, aguardando e pedindo a Deus que me ajudasse a receber a minha.
Às 3.30 horas da madrugada, a última mensagem nas mãos abençoadas de Chico Xavier, e ele nos chamando para perto dele.
Ao ler a mensagem recebida - a mensagem do meu filho -, Deus meu, que felicidade eu senti naquela hora!
Voltei de Uberaba, e durante as 8 horas de viagem, continuei abraçada com aquela mensagem em meu coração.
Chegando em São Paulo, dei a mensagem para meu filho ler, e ele me disse:
- Eu só vou acreditar no que está escrito aí, se ele me chamar de Irmão, como costumava me chamar.
E ele começou a chorar, ao ler a mensagem, pois nela meu filho Edilson o chamava, não pelo nome, mas sim por Irmão.
Na mensagem, ele agradece as flores que eu lhe ofertei (1).
(1) Sobre o assunto, remetemos o leitor ao item 6 do Cap. 18 da obra Claramente Vivos (Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa e Espíritos Diversos, IDE, Araras (SP), 2.ª edição, outubro/1980, p. 100). (EB.)
Depois que aconteceu o acidente, eu não conseguia ir ao cemitério, pois eu me sentia muito mal. Um dia, eu falei ao meu marido: - Eu vou ao cemitério, mesmo me sentindo mal, e fui, levando muitas flores para pôr em seu túmulo, e na mensagem, ele agradece as flores.
Voltando de Uberaba, com a mensagem, continuava, em São Paulo, a me sentir mal de saúde, até que foi preciso eu consultar um médico.
O médico mandou que eu fizesse vários exames, e o resultado foi gravidez.
Depois de 14 anos sem ter filhos, Deus me tirou um e ao mesmo tempo está me dando outro, pois estou grávida de 4 meses, e é isso que está me dando uma luz para eu continuar vivendo, com todo sofrimento que estou passando, pois não me esqueço do meu Filhote (era como eu o chamava), nem um minuto da minha existência, rezo por ele, e que Deus o ilumine e o ampare.
Pai - Indalécio Nogueira Ruiz; profissão: comerciante; religião: católico; nascido em São Paulo, Capital, a 11 de novembro de 1940.
Mãe - Conceição Carini Nogueira; profissão: prendas domésticas; religião: católica; nascida em São Paulo, Capital, a 17 de fevereiro de 1944; endereço: Rua Bacairis, 70 - Vila Formosa Cep 03357 - Fone: 216-35-96.
Tia: Cleide Carini; profissão: prendas domésticas; religião: católica; nascida em São Paulo, Capital, a 7 de julho de 1950; solteira; endereço: Rua Pedro Pires, 70 - Vila Carrão - São Paulo-SP.
Bisavó - Salvina Bete Lameira; nasceu em Bragança, Portugal, a 2 de outubro de 189, e desencarnou em São Paulo, Capital, a 8 de agosto de 1965;avó materna; religião: espírita.
Bisavô - José Ruiz Saes; nascido em Almeria, Espanha, a 16 de maio de 1895, e desencarnado em São Paulo, Capital, a 18 de setembro de 1977; avô paterno; religião: católico; profissão: comerciante.
Irmão - Indalécio Nogueira; nascido em São Paulo, Capital, a 26 de setembro de 1964, mais velho um ano e três meses que o Edilson, está atualmente no 2.º ano de Engenharia Eletrônica; estuda no Colégio São Judas Tadeu, em São Paulo; não estava com Edilson, quando ocorreu o acidente; ele estava só; profissão: estudante.
Quero agradecer ao Dr. Elias Barbosa pela oportunidade oferecida para publicar a mensagem do meu filho.
Com muita dor no coração, eu lhe escrevi o que aconteceu com o meu filho, talvez não usando as palavras certas, mas o fato em si é todo verdadeiro.
Acredito que este livro com a mensagem do meu filho traga a paz a muitas mães desesperadas como eu, antes da mensagem.
O de que o senhor precisar, e se estiver faltando alguma coisa e eu puder ajudar, me telefone 216-35-96 - ligação a pagar.
Tudo que puder fazer para reverenciar a memória do meu filho, eu farei, pois ele, em vida, tudo o que ele quis, eu dei, e continuarei dando, aqui sempre ficando às suas ordens.
Estou-lhe enviando uma cópia Xerox dos originais da mensagem, e 3 fotos do meu filho.
Obs.: As duas fotos 3/4 foram refeitas da foto 2/2, que era a mais recente que eu tinha (a original é a 2/2).
Sem mais, um abraço desta mãe ex-desesperada,
(a) Conceição Carini Nogueira. "
XXIX
Eu estarei contigo sempre
Mãezinha Marlene, esta é uma noite inesquecível.
Estamos mais juntas, enquanto peço a sua bondade me proteja e abençoe.
Como sempre, elevo aos céus a minha súplica de alegria e tranqüilidade para o seu coração querido.
A vovó Abel me trouxe para falar-lhe de nossa gratidão.
Muito grata somos à sua compreensão e ao seu devotamento, quando me atende e me auxilia nas crianças e em nossos irmãos necessitados na Sociedade Mont'Alverne, em Porto Alegre.
Mãezinha, a saudade doeu tanto, mas as suas mãos me ensinaram que o trabalho na seara do Bem não nos pode deixar na neblina do desânimo.
Levantei-me do abatimento em que me vi projetada e os Mentores da Espiritualidade me permitiram receber o acolhimento da vovó Abel que me ofereceu novos recursos de aprendizado.
Continue amparando os companheiras cansados do caminho terrestre.
Existem tantos que se ajoelham ou se deitam atormentados pelo sofrimento e encontramos tão poucos a fazerem tempo de apoio fraternal.
O Dr. Pedro Rosa, o Dr. Paulo e o Dr. Abrahão são médicos humanitários cuja abnegação em favor dos que sofrem a morte do corpo não conseguiu atenuar; pelo contrário, são hoje mais ativos e mais eficientes, porque a Sabedoria Divina enriquece de luz aquelas inteligências que lhe oferecem o coração nas campanhas de socorro aos últimos nas filas da doença e da provação.
Regozijo-me por estarmos quase que constantemente unidas para o trabalho.
Quanto ao Papai... compreendemos nós duas que ele é um companheiro a quem devemos muito amor.
Fico satisfeita por vê-la sempre amiga na confraternização com ele.
É verdade, mãezinha, que o Papai se colocou num segundo lar, mas isso não lhe mudou o coração.
Creio que ele ficou desejando a companhia de nova filhinha e tem agora as duas que o entretêm, incutindo-lhe o ânimo necessário para a vida.
Sei que o seu tratamento se fez mais fraterno sempre que ele vai à nossa procura e compreendo que a sua formação alterou o rumo de seu relacionamento com ele.
Você o acolhe por um irmão de jornada e isso me conforta muito.
Mas peço-lhe mais, se ele apresentar as irmãzinhas ao seu coração, receba-as, Mamãe, como sendo eu mesma, de volta aos seus braços.
Suas mãos que afagam tantas crianças necessitadas e enfermas, saberão acariciá-las, pensando que todos somos filhos do mesmo Pai.
Mãezinha Marlene, perdoe-me se lhe peço isso.
Não é desconsideração.
É porque sinto o Papai por vezes entristecido e desalentado e entendo que ele precisa viver.
Imagine-me sempre em sua companhia e isso não é somente suposição.
Eu estarei contigo sempre.
Agora, devo encerrar esta carta.
A vovó Abel lhe beija a fronte e eu, sua filhinha sempre agradecida, lhe beijo o coração.
Todo o carinho e gratidão da sua
Maria Cristina
Maria Cristina Salgado Vieira
XXX
Todos somos filhos do mesmo Pai
Tendo iniciado este livro com expressiva mensagem de um jovem que penetrou os umbrais da morte, na capital do Amazonas, resolvemos concluí-lo com um poema de ternura que nos vem do Espírito de uma adolescente, desencarnada na capital do Rio Grande do Sul, graças à gentileza do amigo Professor Jason de Camargo, Técnico em Criminalística e autor de excelentes livros de Química.
Da posse de todos os dados sobre a autora espiritual do capítulo anterior - "Eu Estou Contigo Sempre" -, com os nossos agradecimentos ao distinto confrade gaúcho, passemos, por itens, ao estudo da mensagem de Maria Cristina, recebida pelo médium Xavier, ao final da reunião pública no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, a 11 de julho de 1980.
1 - Ficha informativa - I - Dados informativos do parente - 1. Nome: Marlene Terezinha Salgado Vieira; 2. Residência: Rua Dr. Sebastião Leão, 321, apto. 603, Porto Alegre, RS, Fone: 216-731; 3. Grau de parentesco com o Espírito: Mãe; 4. Já conhecia Chico Xavier, pessoalmente? - Sim, pois lá estive sete vezes; 5. Como se deu o encontro com Chico Xavier? - Cf. dados abaixo; 6. O Chico já conhecia pormenores da família? - Não; 7. Quais os fatos identificativos do Espírito: a) nomes e relação de parentesco ou amizade; b) outros fatos: Cf. dados abaixo; 8. A mensagem já foi divulgada? - Sim. Por quem? Pela família (não por livro); 9. Autorizaria sua divulgação? - Sim; 10. Possui grafismos do Espírito quando encarnado (para comparação)? - Sim; 11. Outras considerações: Religião: Espírita.
II - Dados do Espírito (quando encarnado) - 1. Nome quando encarnado: Maria Cristina Salgado Vieira; 2. Data de nascimento: 1.o de novembro de 1961; data da desencarnação: 7 de junho de 1977; 3. Data da Mensagem: 11 de julho de 1980; desencarnou com: 15 anos e meio; 4. Quanto tempo da desencarnação até a comunicação mediúnica? - 3 anos e 33 dias; 5. Grau de escolaridade: Era excepcional, mas sabia ler e escrever; 6. Doenças? - Sarampo, escarlatina; 7. Como desencarnou? - Com leucemia; 8. Considerações gerais: Cf. dados abaixo. - Porto Alegre, RS, 23 de outubro de 1980. (a) Marlene Vieira.
2 - Elementos comprobatórios existentes na Mensagem
a) Vovó Abel: Trata-se de D. Maria Abel, bisavó materna, desencarnada a 5 de outubro de 1947;
b) "muito grata somos à sua compreensão e ao seu devotamento, quando me atende e me auxilia nas crianças e em nossos irmãos necessitados na Sociedade Mont'Alverne, em Porto Alegre." - Maria Cristina se refere aos trabalhos de auxílio espiritual que a Sociedade Espírita Francisco de Mont'Alverne (Rua Dr. Dias da Cruz, 196, Porto Alegre, RS) realiza aos domingos, em benefício das crianças, e às sextas-feiras, em benefício dos adultos, e onde D. Marlene Terezinha é colaboradora há muitos anos;
c) "Levantei-me do abatimento em que me vi projetada e os Mentores da Espiritualidade me permitiram receber o acolhimento da vovó Abel que me ofereceu novos recursos de aprendizado."
- Registro de que com a interferência de Benfeitores Espirituais de planos mais altos, Maria Cristina foi amparada pela vovó Abel, de quem passou a receber ajuda mais direta e adequada orientação, tudo a demonstrar-nos o quanto é infinita a Misericórdia de Deus;
d) "O Dr. Pedro Rosa, o Dr. Paulo e o Dr. Abrahão são médicos humanitários... - Dr. Pedro Rosa, Dr. Paulo e Dr. Abrahão são benfeitores espirituais integrantes da equipe espiritual que ampara a Sociedade Espírita Francisco de Mont'Alverne.
O Dr. Pedro Rosa era dedicado médico do Hospital Espírita de Porto Alegre, desencarnado a 18 de outubro de 1956;
e) "Quanto ao Papai... compreendemos nós duas que ele é um companheiro a quem devemos muito amor." - De um documento em manuscrito - "Esclarecimentos do Pai" -, destaquemos apenas alguns tópicos do genitor de Maria Cristina, sobre a filha e a mensagem psicografada pelo médium Chico Xavier: "Fazer um julgamento de ser um bom pai ou ruim pai, cabe somente ao filho. Somente ele diz a verdade de como era seu pai.
A tranqüilidade que vivo até a data presente, é de que o julgamento dado por minha filha Cristina, em sua mensagem, diz tudo e com muito orgulho um pai recebe palavras de carinho e de amor.
Que dizer de uma filha que durante toda a sua existência, sempre foi só dada ao amor e ao carinho?
Hoje, relembro que além de ser uma filha, Maria Cristina era uma companheira..."
3 - Trechos de depoimentos prestados pelos familiares de Maria Cristina.
a) Depois de afirmar que em três anos e meio fora a Uberaba nada menos que sete vezes e que da última vez desejava saber apenas se o trabalho que vinha desenvolvendo com o Espírito da filha estava correndo bem, tendo a grata satisfação de à noite receber a mensagem consolados, informa D. Marlene, mãezinha de Cristina: "Certa vez, fui chamada pela professora, e ela disse-me que havia posto minha filha de castigo, porque ela não quis se defender de outro coleguinha que havia batido nela. Disse-me a professora que lá ensinavam uns a se defenderem dos outros, porque alguns colegas eram um pouco agressivos. Como era dócil e meiga, e não gostava de ver ninguém apanhando de outra pessoa, minha filha preferiu ir para o castigo, o qual parece-me que era não ir ao recreio."
b) "Aos 4 anos de idade, Maria Cristina ingressou no Instituto Educacional Nazareth, ao qual se adaptou instantaneamente, fazendo muitas amizades e sendo elogiada por todos. Nesse estabelecimento, teve um grande aproveitamento, lá permanecendo até a desencarnação.
Tinha um bom relacionamento com os amigos e parentes, muito afetiva, amável, dócil e principalmente alegre, considerando-se feliz.
Gostava muito de flores, festas, fazer versos, presentear amigos (cartões com versos de sua autoria), música (jovem) e de Televisão, sendo Roberto Carlos, Roberto Leal, e Ronnie Von os seus cantores preferidos.
Não gostava de mentir, nem de contrariar ninguém, procurava apaziguar brigas, discussões, não gostando de ver ninguém triste.
Indagava sempre porque era procurada pelos colegas com problemas mais graves e porque todos acatavam-lhe as palavras de conselheira." (André Luiz, primo).
c) Após sumariar o curso da grave enfermidade - leucemia aguda - de que fora cometida Maria Cristina, de dezembro de 1976 a maio de 1977, assim se expressou D. Jecy Salgado, avó materna, sobre "um fato que nos marcou": "Com a sugestão da professora para que fosse feita uma reunião dançante mensal em suas residências, Maria Cristina sugeriu ser a primeira a realizar, como prevendo que não estaria presente nas demais. Chegando em casa, pediu para organizar uma festinha no próximo sábado, 30 de abril de 1977, para reunir seus coleguinhas e amiguinhos.
Foi com muita alegria que dançando e cantando envolveu a todos, com aquele jeitinho todo especial que só ela sabia transmitir. "
d) "Embora todos da família tivessem conhecimento, desde o seu nascimento, das deficiências de que Maria Cristina era portadora, na convivência diária pouco se era possível perceber.
Suas atitudes quase em nada eram diferentes das demais crianças da sua idade.
Estava sempre alegre, e a meiguice era o seu forte. Quando algo a chocava, tornava-se sentimental, procurando junto aos seus aquele carinho que a tranqüilizava.
Seu desenvolvimento era notório, podendo ser observado a cada dia que passava. Destacou-se na escola por sua inteligência, talvez até provocando inveja dos pais das demais coleguinhas.
Ela era meiga, muito carinhosa, sentimental e também muito divertida em certas horas. (....)
Quando faleceu, foi um drama para todos nós, deixando uma eterna saudade que nos acompanhará até o fim de nossa jornada." (Marco Aurélio Salgado, tio).
e) "Sobre Maria Cristina podemos dizer com que saudade que fomos privilegiados em termos tido tão de perto o convívio com seus olhinhos meigos, suas palavrinhas dóceis, seus carinhos amáveis, enfim, sua presença angelical, sim angelical porque tínhamos a impressão de estarmos sentindo junto dela a presença de um ser diferente, hoje saudosa e inesquecível.
Sua passagem por aqui, embora muito curta, para nós que a conhecemos, deixou muito amor.
Era muito divertida, alegre, e apresentava semblante de muita felicidade e irradiava bondade, tendo sempre uma palavra de carinho para cada um de nós." (Vanius Lirant Teixeira, primo da avó materna).
f) "Numa ocasião dos seus 15 anos, quando ela apanhou o presente do pai, eu que era menor, fiquei louca quando vi aquele órgão elétrico, e ela logo percebeu e disse: Patrícia, o que é meu é teu. E nunca me esqueço disso.
Maria Cristina é comparável a uma flor rara e de pouca duração, a qual a gente gostaria de ter para sempre em nossas vidas." (Patrícia Salgado, prima).
g) "A Tirinha sabia cativar aqueles que a rodeavam, era meiga, carinhosa e delicada. Para cada um de nós, tinha ela um jeitinho todo especial de nos receber, a mim especialmente que ela dizia "meu padrinho querido", e para minha filha (Patrícia) ela, às vezes, dizia "minha negrinha querida".
Por isso, acredito que hoje podemos tirar de seu breve convívio entre nós um grande ensinamento: ela soube viver a sua vidinha, em todos os momentos." (Sérgio Roberto Salgado, tio).
A fim de que possamos continuar agradecendo a Deus, nosso Pai, e a Jesus, nosso Divino Mestre, pela bênção do Espiritismo em nossas vidas, facultando-nos o intercâmbio com o Mundo Espiritual, através dos canais medianímicos, de onde promana para todos nós o bálsamo do console e o refrigério da esperança, transcrevamos, apesar da extensão do presente capítulo, um bilhete do amorável Espírito do Dr. Bezerra de Menezes, cujo Sesquicentenário de Nascimento praticamente toda a América Latina Espírita comemorou em 1981, dirigido à D. Marlene Vieira, numa de suas visitas ao Grupo Espírita da Prece.
Antes, porém, pedimos vênia ao leitor para sugerir-Lhe a consulta aos seguintes autores que se referem, com muita propriedade, ao assunto da chamada excepcionalidade:
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questões de n.º 371 a 378 e 847; Revista Espírita 1860 (Tradução de Júlio Abreu Filho, Edicel, São Paulo, 1965, págs. 93-95 e 181-183); O Céu e o Inferno, Cap. VIII, 2.ª Parte;
Iva Folino Proença, Posso ajudar você?... Minha experiência com meu filho excepcional (1) (T. Queiroz, Editor, Ltda., São Paulo, 1981);
(1) À pág. 11 de sua obra-prima de apenas 91 páginas, eis o que diz a Autora: "Essa minha avó foi meu primeiro modelo de coragem, perseverança, fé, e, sobretudo, espírito de luta.
Muitas vezes eu me surpreendo repetindo atitudes suas. Chego a ter a sensação de que o espírito de minha avó vive, e vive muito próximo de mim."
Henriqueta Lisboa, "O Excepcional" (in Miradouro e Outros Poemas, Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1976, págs. 61-62).
Eis o bilhete do Dr. Bezerra de Menezes:
"Filha, Jesus nos abençoe.
A nossa irmã da Seara do Bem, Maria Abel, está presente e deixa-lhe um abraço extensivo à irmã Gessy, comunicando que a sua filhinha Maria Cristina vem trabalhando, espiritualmente, em seu favor e em auxilio dos familiares queridos, e quanto possível, vem transmitindo suas páginas de reconforto e de amor, por seu intermédio e através do ambiente espiritual de nossas tarefas.
Confiemos no amparo de Jesus, hoje e sempre.
Bezerra. "