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Francisco Candido Xavier
Lira Imortal
Chico Xavier
“Mensagens eternas para espíritos eternos”
A JESUS
Auta De Souza
Mestre e Senhor! Protege os desgraçados
Que se vão sem conforto e sem guarida,
Nas grandes tempestades dessa vida,
No turbilhão da dor e dos pecados.
Ascendem para os céus todos os brados
Da alma humana cansada e dolorida!
Balsamiza, com amor, toda a ferida
Que punge o coração dos degredados;
Degredados na terra tenebrosa,
Terra da sombra estranha e dolorosa,
Recamada de prantos e espinhos!
Ampara, meu Jesus, quem vai chorando,
Entre dores e acúleos, soluçando,
Na miséria de todos os caminhos.
A VOZ DA CIÊNCIA
Augusto Dos Anjos
Sala de estudo de uma academia.
Início de lições maravilhosas,
Explicações estranhas, misteriosas,
Sobre a química, a física e a biologia.
“O sentimento – um professor dizia –
acha-se até na essência das mucosas.
É a sensação das células nervosas,
Segundo as deduções da anatomia”.
“O homem” – e continuava regougando,
como figura atlética exclamando,
nas concepções fantásticas do nada –
“O homem nada mais é do que destroços,
reduz-se a um mecanismo feito de ossos,
revestidos de carne ensangüentada”.
ALMA DAS ALMAS
Cruz E Souza
Há uma radiosa e eterna alma divina,
Que se irradia sobre a imensidade,
Alma da luz puríssima que invade
A cósmica amplidão que se ilumina.
Alma cheia de terna claridade,
Que alegrias dulcíssimas propina,
Espírito do bem que aclara e ensina
O caminho da vida e da verdade.
Alma das almas, cujo pensamento
É a vibração do eterno movimento
Sem princípio e sem dia derradeiro...
Deus! – alma do amor que a tudo abraça,
Que é ciência, harmonia, aroma e graça,
Alma das almas do universo inteiro.
ALMA ESCRAVA
Augusto Dos Anjos
“Por que, meu Deus, a carne inda me prende,
Por que me arrasto como um triste duende,
Em miserabilíssimos despojos?”
Era o ser encarnado que falava,
Amarguradas queixas da alma escrava,
No mais horrendo dos martirológios.
Como pude descer nos labirintos,
Onde os lobos vorazes dos instintos
Nos consomem nos dentes esfaimados;
E por que idealizando puros gozos,
Busco na carne abismo tenebrosos,
Abominado todos os pecados?“
“Sou no mundo um fantasma solitário,
Só porque, um dia, um espermatozoário
Uniu-se, ansioso, ao óvulo fecundo.
E emergindo as ânsias e dos partos,
Suguei, unindo a boca a uns seios fartos,
Substâncias misérrimas do mundo...”
“Desde esse dia tormentosos e aflito
De intensa dor, envergo o sambenito
De matérias iguais aos polipeiros,
Entre as disposições hereditárias,
Chorando as mesmas dores milenárias
Dos que gemeram nesses cativeiros!”
Nada, contudo, lhe respondeu, de perto...
A alma, porém, sozinha, no deserto,
Viu sobre o mundo um monte de destroços;
Sentiu, no além, a vida verdadeira,
Mas contemplando, pela Terra inteira,
A carne infame, chocalhando os ossos!...
AO CORPO HUMANO
Augusto Dos Anjos
Ri, corpo humano, o riso dos palhaços,
Nos espasmos das articulações,
Inda mesmo com a carne em afecções,
Caindo nua, em pútridos pedaços.
Ri, na lubricidade dos devassos
E na volúpia das corrupções,
Inda que se amarfanhem corações
Com teus risos irônicos e crassos.
Ri, sempre, porque a alma, essa, paupérrima,
Dia há de vir se encontrará misérrima,
Com o seu quinhão de lágrimas nos ermos...
Ri, corpo humano, esquálido fantasma,
No mesmo barro obscuro, onde se plasma
A figura dos grandes estafermos.
AOS TRABALHADORES DO EVANGELHO
Abilio Guerra Junqueiro
Trabalhai, trabalhai, que a aurora se avizinha,
O clarão da verdade indômita caminha,
Trazendo aos corações o dia da bonança!
Formai o batalhão da paz e da esperança,
Precursores da luz dos tempos que hão de vir,
Porque o mundo de agora é um milharal maduro,
Onde o amor de Jesus, abençoado e puro,
Vai colher o bom grão da terra do porvir.
AOS ESPÍRITAS
João De Deus
Vós que buscais Jesus, sob a procela,
Toda feita de lágrimas e dores.
Deveis ser os humildes seguidores
Da luz do mundo, primorosa e bela.
Deveis ser a renúncia que revela
O grande amor de todos os amores,
Que perdoa e redime os pecadores,
Na palavra mais terna e mais singela.
Guardai Jesus no mundo de aspereza,
Dentro da mesma luz e da grandeza
Que consola e que eleva o coração...
Sede o bem, sede amor e tolerância,
Que a caridade é toda substância
Da lei que nos conduz à perfeição.
BRASIL, O GRANDE IMPÉRIO DOS REPUBLICANOS
Pedro D’alcântara
Seja o Brasil a terra da fartura,
Da justiça, da paz e da abastança
É que o pendão verde-ouro da esperança
Seja a luz do seu dia de ventura.
Terra que é minha luz mais suave e pura,
Sobre a qual meu espírito descansa,
Seja a sua grandeza – a da bonança,
Na evolução mais firme e mais segura.
Mesmo depois do exílio estranho e rude,
No pranto amargo da decrépitue,
Na amargura misérrima dos anos;
Senti prazer e orgulho, após a morte
Pois que fiz no Brasil, grandioso e forte,
O grande império dos republicanos.
CAMINHO DA LUZ
Olavo Bilac
Além do mundo amargo e miserando
Há na morte um caminho florescente,
Onde a alegria mora eternamente
Entre flores e pássaros cantando.
Estrada de ouro e luz ignescente,
Onde passam espíritos em bando,
Suaves corações glorificando
Os triunfos da lágrima pungente.
Nesse caminho, as almas vencedoras
Guardam consigo as jóias da ventura,
Sem que os séculos possam desfazê-las.
Esplendores de sóis, clarões de auroras,
Flores de amor e paz risonha e pura,
Há nessa estrada fúlgida de estrelas!...
CARNE
Augusto Dos Anjos
Algema tenebrosa é a carne louca,
Onde o espírito, em lágrimas, se prende
Perambulando como um triste duende,
Bebendo o pus das fístulas da boca.
Viver entre os sentidos incompletos,
Na existência das coisas fragmentárias,
Começando nas dores solitárias,
Da vida melancólica dos fetos.
Vaso de tegumentos e de humores
É o corpo, imagem viva do defunto,
O miserabilíssimo transunto
Das condições mais tristes e inferiores.
Desprezar toda a luz, radiosa e viva
Para viver na carne é descer quase
Da consciência divina à horrenda fase
Da irracionalidade primitiva.
Carne!... Nossa amargura original,
Antes sobre o planeta nunca houvesse
O princípio ancestral da tua espécie,
Nos mistérios da vida universal...
COM O EVANGELHO
João De Deus
São Paulo, 29-3-37.
Sobre o mundo de dor e de agonia,
Toda a ciência de paz, de amor e luz,
Somente encontrará a sabedoria,
No sublime Evangelho de Jesus!
A existência terrestre é como a cruz
Que a alma leva na estrada erma e sombria,
Estrada dolorosa que a conduz
Ao reino da verdade e da harmonia.
Sem o labor divino do Evangelho
Toda a ciência do mundo é a do homem velho
Preso aos grilhões das sombras do mal;
Somente com Jesus, com o Seu exemplo,
Pode-se edificar o eterno templo
Da infinita ciência universal.
DEGREDADOS
Cruz e Souza
AOS ESPÍRITAS
As desditosas almas desterradas
Choram de angústia no caminho estreito
Onde o homem – misérrimo e imperfeito –
Palmilha escabrosíssimas estradas...
E recordam radiosas alvoradas,
Deslumbramentos no infinito Eleito,
Onde a luz da justiça e do direito
É a alma das leis na Terra desprezadas!
Ó vós que andais idealizando o brilho
Da luz celeste sobre o vosso exílio,
Que é um deserto de sombra merencória!
Para que esplenda a luz da nova era,
Lutai! Porque a ventura vos espera
Na eternidade lúcida da glória!
DESCONFORTO
Hermes Fontes
Não me bastou, Senhor, velar atento
A misteriosa luz com que, à procura
De um luminoso céu em miniatura,
Vivi sonhando em meu deslumbramento!
Dentro do meu ideal supus que, isento
De toda a dor, de toda a mágoa obscura
Alcançasse o castelo da ventura
Na glorificação do pensamento.
Mas, ai de mim! Meu barco pequenino
Perdeu-se em meio à torva tempestade
Sem divisar a luz de qualquer porto;
E as minhas esperanças de menino
E os anelos de amor e mocidade
Naufragaram no grande desconforto.
DESILUSÃO
(ANTERO DE QUENTAL)
Quem sou eu? Quem sou eu? No abismo escuro
Do meu atribulado pensamento
Sinto ainda as áscuas do pavor violento
Em que andei como nau sem palinuro!
E... ouço uma voz: “Tu és verme obscuro
Vitimado no grande desalento,
Que procurou a mágoa e o sofrimento
Sem caridade, o amor sagrado e puro”.
Ó promessas do “nada” inexistente!...
A morte abriu-me as portas do presente
Amargo e interminável pela dor;
Infeliz do meu ser fraco e abatido,
Pois o anseio de nada, paz e olvido,
Foi apenas um sonho enganador!
DETERMINISMO
(ANTERO DE QUENTAL)
Nas estradas do mundo, no infinito,
Nas incontáveis eras milenárias,
Na aluvião de idéias multifárias,
O homem é o mesmo ser errante e aflito...
E ouve-se, a todo o tempo, o estranho grito
De heroísmo das almas solitárias,
Guias de luz dos miseráveis párias,
Saturadas de amor puro e bendito.
Mas segredos eternos e divinos
Pesam sobre a balança dos destinos,
Subjugando o mundo descontente.
E a humanidade, ansiosa de bonança,
No mistério do sonho e da esperança.
Conquista o céu, lutando eternamente.
DOIS DE NOVEMBRO
Alphonsus Guimarães
A alma presa das lágrimas terrenas,
Lembrando a alma que busca o mundo etéreo,
Hoje espalha na paz do cemitério
Um dilúvio de rosas e açucenas...
Mas das luzes puríssimas do império
Das plagas bonançosas e serenas,
Vimos nós mitigar as vossas penas,
Na divina jornada do mistério.
O nosso imensurável campo-santo
É toda a Terra, imersa em mágoa e pranto,
Onde estão nossos mortos soterrados.
No sepulcro da carne apodrecida,
No turbilhão de lágrimas da vida,
Entre as sombras da dor e dos pecados!...
VISÃO DOS ESPAÇOS
Augusto Dos Anjos
Vastidões de beleza intraduzível,
Fulgurações entre cósmicos flagelos,
Ideações de fúlgidos castelos
Onde mora a beleza indefinível.
Ansiedades trágicas, supremas,
Na formação das grandes nebulosas...
Transubstanciações misteriosas
Gerando os organismos dos sistemas.
Focos de potentíssima atração
As moléculas e átomos dispersos,
Nos elementos de elaboração
De grandiosos e lindos universos.
Luminosas esteiras de cometas,
Formosos em elipses prolongadas,
Graciosas figuras de planetas
Emergindo das cósmicas camadas.
Meteoros celestes, deslumbrantes,
Nas excelsas alturas transcendentes,
Onde vibram os sóis incandescentes,
Asteróides e estrelas fulgurantes.
Intensidade bela de harmonia
Que agora sinto, vejo e que percebo,
Grandiosidades do que não concebo
Nos apogeus das hiperestesias.
E, sobretudo, emanam das esferas
Os equilíbrios das imensidades,
O eterno canto de sublimidades,
Clarões de luzes nas atmosferas...
Sobre todas as coisas assombrosas,
Fluídos e criações de pensamentos,
Todas as maravilhas e portentos,
Há uma luz entre as luzes mais radiosas.
É o clarão poderoso, indestrutível,
Que vem das profundezas do passado
A luz de Deus, à força do incriado
Na exteriorização indescritível.
ESPERA E AMA SEMPRE
Casemiro Cunha
Não elimine a esperança
De uma alma triste ou ferida
Que a esperança é a luz eterna
Nas grandes noites da vida.
Feliz daquele que espera,
No caminho da amargura,
No coração da criatura.
Pois toda a dor vem e passa.
Ama e crê. Espalha o bem.
Porque, na Terra, em verdade,
É infeliz quem cuida apenas
Da própria felicidade.
ESPIRITISMO
João De Deus
Na dolorosa e escura travessia
Do encapelado mar da provação
Na mais amarga desesperação,
Debatem-se os escravos da agonia.
Nas correntes pesadas da aflição,
Na paisagem sem sol, erma e sombria,
Lá vai a humanidade na porfia
Da paz que é toda a luz do coração.
Saibam, porém, as pobres criaturas,
Atoladas no mar das desventuras,
Sem o rumo de Deus, vogando ao léu,
Que o Espiritismo é o porto da verdade,
Para onde navega a humanidade,
Buscando a estrada de ouro para o céu!...
ESPIRITISMO
João De Deus
O Espiritismo é a ilha da bonança,
No oceano de lágrimas e de dor,
Onde o homem cansado e sofredor
Encontra o porto amigo da esperança.
Porto claro e feliz, onde a alma alcança
Os tesouros de fé, crença e amor,
Sob as bênçãos divinas do Senhor,
E onde a vida decorre calma e mansa.
É na doutrina da fraternidade
Que o coração de toda a humanidade
Há de alcançar mais vida, paz e luz.
Somente o seu ensino verdadeiro
Pode reunir na Terra o mundo inteiro
No Evangelho sublime de Jesus.
Livro: LIRA IMORTAL - Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos)
Encerrando a semana metapsíquica no Teatro Municipal e São Paulo.
ESPÍRITO
ANTERO DE QUENTAL
Sobre o mundo de dor e de incerteza
Procurei na ciência, em toda hora,
Descobrir e tocar a sutileza
Do espírito que luta, sonha e chora;
Mas só encontrei a trágica surpresa
Da negação da luta atordoadora
Da ciência do mundo que anda presa
Sob a descrença desalentadora...
Alma cega de louco então eu era,
Que não via dos astros à monera
A mão de Deus na paz, na luz, no amor!...
E paguei caro a minha fantasia,
Escalando um calvário de agonia
Na visão desse nada enganador.
ETERNA CRUZ
Casemiro Cunha
Sobre as lutas da Terra, o Mestre se debruça
E exclama, olhos no céu, amargurado e aflito:
- “Há milênios, meu Pai, que choro no infinito,
Presa aos braços da cruz, minh’alma que soluça...”
Depois, fitando a Terra, eis que o Mestre inda exclama:
- “Amai-vos, meus irmãos! Somente o amor ensina
A encontrar a verdade e a luz pura e divina;
Em verdade, é feliz somente aquele que ama!...”
Em vão, porém, Jesus grita ao mundo a verdade,
No mar da indiferença, a cega humanidade
Não procura a verdade e nem deseja a luz.
Caim devora Abel no caminho escabroso!
Sempre a sede carnal de prazer e de gozo,
E o Mestre continua, em lágrimas, na cruz...
ETERNO ABRIGO
João De Deus
Quando o Sol da verdade acaricia
O coração dos crentes em Jesus,
Há sempre a luminosa eucaristia
Do pão da vida, transformado em luz.
Não existem mais lágrimas, nem cruz,
Nesse eterno banquete de alegrias,
Onde tudo é o amor que nos seduz
Em vibrações de paz e de harmonia.
Derramando-se as luzes da verdade,
No coração de toda a humanidade,
Virá o amor que salva e que conduz.
E é dando o nosso braço irmão e amigo
Que faremos da Terra o eterno abrigo
Da bondade infinita de Jesus.
EXORTAÇÃO AOS ESPÍRITAS
ABÍLIO GUERRA JUNQUEIRO
Uni-vos soba a paz, uni-vos sob a crença,
Ó argonautas do ideal, arautos da esperança!...
Que se realize agora o sonho da bonança!...
Como os pães do Senhor que a fé se espalhe e vença.
Não temais combater, que o Mestre vos conduz
Com o sol espiritual que envolve o mundo
Sede na terra verde e augusta do cruzeiro
Os soldados do amor, seareiros de Jesus!
FALANDO À IGREJA DE ROMA
ABÍLIO GUERRA JUNQUEIRO
Ó igreja, a tempestade imensa e escura assoma,
Apesar das funções políticas de Roma,
Enegrecendo o mundo e ensangüentando a Terra!...
E enquanto a fome, a dor e os martírios da guerra
Humilham sem cessar a grande massa humana,
Fazes o carnaval da comédia romana,
Onde os clowns e arlequins, pierrôs e colombinas
São grandes multidões de mitras e batinas...
Quando a dor faz do mundo um triste sorvedouro,
Exibes sem cuidado das arcas do teu ouro!...
Guarda-te da extorsão das listas e sacolas,
Olha o espelho de dor das lutas espanholas.
Não deves te iludir no movimento enorme!
O coração do povo é como um leão que dorme,
E o povo há de pedir!
Que a noite de hoje pague à aurora porvir!
São as ânsias sociais que Leão XIII e Pio XI
Tentaram dirimir com dogmas de bronze.
É preciso atenuar os raios da tormenta,
Com a energia do amor que salva e que alimenta,
Deixa o balcão do altar, os púlpitos e as missas,
Procura reparar as grandes injustiças!...
Igreja, o mundo inteiro anela um novo dia,
Remodela o interior de tua sacristia,
Porque depois da treva há de haver uma luz,
Luz que há de esclarecer tua lei à socapa;
Liberta-te das mãos sacrílegas do Papa
E volta enquanto é tempo aos braços de Jesus.
FANTASMA
Augusto Dos Anjos
Há no universo um estranho dinamismo,
Na grandeza de todos os cenários,
Nos aspectos dos orbes multifários,
Cantando o hino triunfal do transformismo.
É o sagrado e divino esoterismo
Dos sublimes anseios unitários
Que vem do macrocosmo aos protozoários
E une o céu ao minúsculo organismo!
Tudo é beleza, da beleza ignota,
Seguindo a mesma estrada a mesma rota,
Da luz, fulgor de Deus no éter disperso!
E o homem, só, no seu dia miserandó,
Solta o “ai” doloroso e formidando
De um fantasma gemendo no universo!
HARMONIA
Marta
O caminho da prece está florido.
As rosas da harmonia desabrocham olorosas!
Subi comigo, espaço em fora...
Que luz dulcificante!
Divisai o reino da alegria,
Onde uma eterna aurora
Embala os seres e embala os roserais
Que florescem para a luz
Vinde! Existem nas alturas,
Regiões de paz, remansos de ventura
Que sonhais jamais!...
Deus em pôs em cada canto
Uma pérola divina
Da sua luz. Tesouro sacrossanto,
Patrimônio de todos seus filhos
Por aqui não há dores, não há prantos!...
Eis que nos abraçamos...
Filhos que esperamos
E mães que nos esperam...
Noivos idolatrado,
Afetos aguardados.
Com excelsas esperanças...
Eis que agora a saudade
É uma recordação fugidia,
Um misto de amargura,
De ventura e alegria.
Subi comigo! Aqui há pássaros trinando
Por sobre fronde luminosas,
Entre as almas fraternas...
Ó paragens eternas!
Onde a luz nunca morre em seus cambiantes,
Os quais a todo o instante
Se intensificam, se esmaecem,
Entre cores e sons que não se esquecem.
Atravessai a noite de amarguras
Pelas portas da dor,
E recordai que nas alturas
Vos esperam as luzes da alegria
E os prazeres do amor.
“IN LIMITE”
Augusto Dos Anjos
”Antes o fúnebre abismo, o húmus e os vermes,
Que rever-me em fatídicos destroços.
No arcabouço simétrico dos ossos,
Espolinhando-se entre as epidermes.
Antes as podridões atrás e inermes,
Ser cadáver horrífero nos fossos,
Do corvo exposto aos pretos bicos grossos
Que jungir-me a enauseantes blastodermes...”
Assim clamou a alma, em ânsias pungitivas,
No limiar do abismo ensôfrego e hiante
Da carne onívra, imunda e material;
Mas no impulso de forças decisivas,
Imergiu-se o corpo degradante,
Na atração do mistério universal.
LIRA DO ALÉM
Francisco Octaviano
Lira que tanges para as grandes dores
Da humanidade que se desespera,
Espalha pelo mundo a primavera
Da esperança nos peitos sofredores.
As tuas melodias interiores
Descem das claridades de outra esfera,
Onde a alegria pura, alta e sincera,
Canta os hinos de eternos esplendores...
Viajor da terra: aguça os teus ouvidos,
Descansa sobre a estrada os pés feridos
E ouve os acentos ternos e profundos
Dessa lira do além que tange aos ventos
Da eternidade de deslumbramentos,
Nos acordes de paz dos outros mundos!
LUZ GLORIOSA
Augusto Dos Anjos
Houve tempo em que a ciência positiva,
Na aridez de seu método ilusório,
Construía o castelo transitório
Da grande negação definitiva.
Tudo era a matéria primitiva
No centro do seu modus vibratório,
Impressionando o mundo do sensório
Na eterna vibração da força viva.
Mas Kardec abre as últimas cortinas
E sobre o mundo de cadaverinas,
Apresenta luz gloriosa e forte.
Cai a muralha do materialismo,
E a fé raciocinada vence o abismo,
Transpondo a escuridão da própria morte.
LUZ REDENTORA
Casemiro Cunha
Sobre a Terra de sombra e de amargura,
A treva espessa e triste se fizera...
A ciência e a fé, nas asas da quimera,
Mais se afundavam pela noite escura.
A alma humana de então se desespera.
É eis que das luzes místicas da altura
Desce outra luz, confortadora e pura
De que o mundo infeliz se achava à espera;
E Kardec recebe-a sobre o abismo,
Espalhando as lições do Espiritismo,
Em claridades de consolação.
Emissário da luz e da verdade,
Entrega ao coração da humanidade
A doutrina de amor e redenção.
Em Homenagem a Allan Kardec
Livro: LIRA IMORTAL - Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos)
MATÉRIA
Augusto Dos Anjos
Nos sublimes impérios deslumbrantes.
Do mistério das zonas subjetivas,
Em transubstanciações definitivas,
Vive a matéria em células radiantes.
Expressões fenomênicas, constantes,
Nas eternas ações das forças vivas,
Desde a treva das noites primitivas
Dos eternos princípios inquietantes.
Em todos os fenômenos profundos
Dos mecanismos físicos dos mundos
A matéria é a expressão primordial,
Dentro do seu aspecto transitório,
Sob a função passiva de envoltório
Das essências do espírito imortal.
METAPSÍQUICA
Augusto Dos Anjos
A ciência terrígena procura
Num labor, muita vez, medonho e inglório,
Tocar a sutileza do incorpóreo
No plano subjetivo da alma pura!
Mas só encontra a gênese obscura
Das células do sensório,
Nas quais há sempre o traço merencório
Das incapacidades da estrutura.
Existe sobre a incógnita psique,
Que a infinita ciência de Richet
Quis prender entre os cárceres das normas,
Constelações de luz e abismo tredos,
Na heterogeneidade dos segredos,
Das perfeições orgânicas das formas!
MISÉRIAS
Augusto Dos Anjos
Na agregação da carne e dos helmintos
No complexo atômico que enferma,
O homem é, desde a mônada do espermas,
Rei dos vermes carnívoros, famintos;
E analisando eternos labirintos,
Na incompreensibilidade do palerma,
O homo sapiens do podre blastoderma
Vive a febre danada dos instintos.
Homens!... Visões de mônadas divinas,
Encarceradas em cadaverinas,
Num turbilhão de sânie e de matérias...
É preferível, entre desconfortos
Ser a lama terrível dos abortos
Que viver nossas trágicas misérias.
MORTE
Cruz E Souza
Longe do sentimento limitado
Da matéria em seus átomos finitos,
No limite de um mundo ignorado,
Celebra a morte seus estranhos ritos.
Hinos e vozes, lágrimas e gritos
Do Espírito, que outrora encarcerado
Contempla a luz dos orbes infinitos
Bendizendo a amargura do passado!
Ó morte, a tua espada luminosa,
Formada de uma luz maravilhosa
É invencível em todas as pelejas!...
És no universo estranha divindade;
Ó operária divina da verdade,
Bendita sejas tu! Bendita sejas!...
MORTOS VERDADEIROS
João De Deus
Vós que guardais, dos mortos a lembrança,
Sois, também, nos espaços, recordados,
Nos eternos caminhos aureolados
Pelos clarões da bem-aventurança/
No pais da verdade e da bonança
Nós ouvimos as súplicas e os brados
De pobres corações despedaçados,
No cadinho da mágoa ou da esperança;
Das vibrações ignotas das esferas,
Nós que fomos os homens de outras eras,
Queremos mitigar a vossa dor.
Sois os mortos nos círculos da vida,
Nos sepulcros de carne apodrecida,
Desejosos de paz, de luz, de amor.
MORTOS? NÃO
ANTERO DE QUENTAL
Nós não somos os mortos condenados
Aos sepulcros de treva e cinzas frias,
Tristes evocações das agonias,
Sob os dobres dos sinos de finados...
Não estamos nas lápides sombrias
Dos cemitérios ermos e isolados,
Somos somente amigos apartados
Pelo... espaço das horas fugidias.
Crede que a luta é a nossa eterna herança,
Com a qual marchamos plenos da esperança
Que une os mundos e os seres nos seus laços.
Depois da morte, a luz de um novo dia
Resplende, transbordante de harmonia
Pela serenidade dos espaços.
O MONSTRO
Antero de Quental
Vi um monstro pairando sobre a Terra,
Como um corvo de garras infinitas,
Cobrindo multidões tristes e aflitas:
Visão de luto e lágrimas que aterra!
Vi-o de vale em vale, serra em serra,
E disse: - “Quem és tu que abre e excitas
Os pavores e as cóleras malditas?”
E o monstro respondeu: - “Eu sou a guerra!
Não há forças no mundo que me domem,
Sou o retrato fiel do próprio homem,
Que destrói, luta e mata e vocifera!
Venho das trevas densas da voragem,
Dos abismos de dor e de carnagem
Para mostrar ao homem que ele é fera!”
NOSSOS MORTOS
Alphonsus Guimarães
Os que se vão nas mágoas e na poeira
Dos caminhos da morte soterrados,
Levam consigo a imagem derradeira,
A visão dos seus mortos bem amados.
Mortos que ai ficaram na canseira,
Nos trabalhos do mundo acorrentados,
Padecentes de dor e de cegueira
Nos maiores tormentos flagelados...
Aqueles que amei nunca os esqueço,
É por eles que sofro e que padeço
Numa longa saudade introduzida;
Eu os espero na luz da eternidade,
Mas, ó seres que eu amo, esta saudade
É o cinamomo em flor desta outra vida!...
O DOCE MISSIONÁRIO
AUGUSTO DE LIMA
Sertão hostil. Agreste serrania.
Tendo por companhia
A cruz do Nazareno, humilde e solitário,
Ali vivia Anchieta, o doce missionário,
Carinhoso pastor, espelho de bondade,
Abençoando o bem, perdoando a maldade,
Servo amado de Deus, imitador de Assis,
Que na humildade achara a vida mais feliz.
Naquele dia,Era intenso o calor.
Ninguém. Nem uma sombra se movia.
Tudo era languidez, desânimo e torpor.
Além se divisava a solidão da estrada,
Amarela de pó, tristonha e desolada.
Na clareira, onde o sol feria os vegetais,
Viam-se florescer bromélias e boninas
E, elevando-se aos céus, esguios espinhais,
Implorando piedade às amplidões divinas..
Eis que o irmão de Jesus,
o humilde pegureiro,
Avista um mensageiro.
Dirige-se-lhe à casa,
Pisando vagaroso o chão que o sol abrasa.
- “Meu protetor, diz ele: o bom pajé,
Convertido por vós à luz da vossa fé,
Que tem oferecido a Deus o seu amor,
Agoniza na taba, ao longe, em aflição,
Ele espera de vós a paz do coração
E implora lhe deveis a bênção do Senhor.”
- “Oh! Doce filho meu, que vindes de passagem
Que Jesus vos ampare ao termo da viagem...”
E, isso dizendo, o pastor, prestamente,
Toma da humilde cruz do Mártir do calvário,
Abandonando o ninho agreste e solitário,
Para arrancar da dor o pobre penitente.
Há solidão na estrada,
Ferem-lhe os pés as pontas dos espinhos.
Que penosa jornada,
Em tão rudes e aspérrimos caminhos!...
Pairam no ar excessos de calor,
Nem árvores com sombras e nem fontes,
Somente o sol ferino destruidor,
Que calcina, inflamando os horizontes.
Eis que a sede o devora;
Entretanto, o pastor não se deplora;
A terna e meiga efígie de Jesus,
É-lhe paz e alimento, amparo e luz.
Numa férvida prece,
Ele inda agradece.
- “Sê bendito, Senhor, por tudo o que nos dás.
Seja alegria ou dor, tudo é ventura e paz.
Eu vejo-te no alvor das manhãs harmoniosas.
No azulíneo do céu, no cálice das rosas,
Na corola de luz de todas as florzinhas,
No canto, todo amor, das meigas avezinhas.
Na estação outonal, na loura primavera,
No coração do bom, que te ama e te venera,
Nas vibrações dos sons, na irradiação da luz,
Na dor, no sofrimento, em nossa própria cruz...
Tudo vive a mostrar tua própria bondade,
Eterno Pai de amor, de luz e caridade,
Abençoados são o inverno que traz frio
E os calores do sol nas estações do estio...”
Terminando a sorrir a espontânea oração,
Inspirada na fé de santa devoção,
Anchieta escuta em torno os mais sutis rumores.
Eis que nos arredores,
Congregam-se apressadas
Todas as avezinhas
E, asas aconchegada, Juntinhas,
Numa ideal combinação
Formam um pálio protetor
Cobrindo o doce irmão
Que ia ofertar amor,
Luz e consolação
Em nome do Senhor.
Pelos caminhos,
Foi-se aumentando
O meigo bando
Dos bondosos e ternos passarinhos,
Aureolando com amor o discípulo amado,
Modesto, casto, humilde e isento de pecado,
Que ia seguindo,
Lábios sorrindo, Em meiga mansuetude.
O enviado do bem e da virtude
Agradecia ao céu, o coração em luz,
Evolando-se puro ao seio de Jesus.
Chegara ao seu destino. Ia caindo o dia...
No poente de paz de harmonia,
Brilhava nova luz, feita de crença e amor:
Era a bênção dos céus, a bênção do Senhor...
O ETERNO CAMINHEIRO
Rodrigues De Abreu
Nos abismo da treva que passaram,
Duas sombras estranhas se encontraram.
Uma, a lama, a outra a dor. Ambas na estrada
Que provinha da estática do nada...
Na paisagem disforme, triste e quieta,
Deram princípio à angústia do planeta,
Porque o Pai da criação, no sexto dia,
Para formar Adão no mundo de agonia,
Tomou da lama e a dor a estranha contextura
Para dar forma e corpo à vida da criatura.
Preso à carne de dor, desde o passado,
O homem foi sempre o ser inadaptado,
Cheio de febres de ânsia, de esperança
É saudade dos mundos da bonança.
É, por isso, é o eterno caminheiro
Que chora e luta pelo mundo inteiro.
O SANTO DE ASSIS
AUGUSTO DE LIMA
No suave mistério dos espaços,
“Santa Maria dos Anjos” ainda existe,
com a mesma luz divina dos seus traços,
glorificando as dores da alma triste,
repartindo a virtude, a graça e os dons
que a palavra divina do cordeiro
prometeu aos pacíficos e aos bons do mundo inteiro...
Uma nova Porciúncula, dourada
Pelos astros de mística alvorada,
Ai se rejubila,
Sob a paz de Jesus, terna e tranqüila,
Derramando no além ignorado
Os sonhos da virtude e perfeição
Daquela mesma umbria do passado
Cheia de encantamento e de oração.
A luz dos sóis da etérea natureza,
Numa doce e ideal eucaristia,
No seu manto de amor e de alegrias,
Inda abre os braços para os pecadores...
O esposo da pobreza.
“Irmão sol, irmãos anjos, irmãs flores,
Não nos cansemos de glorificar
A caridade imensa do Senhor,
Sua sabedoria e seu amor,
Procurando salvar
Os nossos irmãos homens, mergulhados
Entre as noites sombrias dos pecados!...”
E à voz suave e dúlcida do santo,
A Terra escura e triste se povoa
De anjos de amor que enxugam todo o pranto
E que levam consigo
Todo o consolo amigo
Da esperança no céu, singela e boa...
Das paragens etéreas,
Da sua ideal igreja,
São Francisco de Assis abraça e beija
O homem que sofre todas as misérias,
Amparando-lhe a alma combalida
Nos desertos de lágrimas da vida
E o conduz
Ao regaço divino de Jesus!
Santo de Assis, divino poverello,
Nas amarguras do meu pesadelo
De vaidade do mundo que devasta
Todo o bem, vi tua luz singela e casta
Beijando as minhas lepras asquerosas...
Uma chuva de lírios e de rosas
Lavou-me o coração de pecador
E guardei para sempre, o teu amor.
Santo de Assis, irmão da caridade,
Que me curaste as lepras e a cegueira,
Depois da morte, à luz da imensidade,
Quero ainda abençoar-te a vida inteira...
PAINEL DE LUZ
Cruz E Souza
Do pensamento nas douradas flamas
Busco a luz dos espaços constelados
Extasiando-me ante os panoramas
De divinas belezas recamados.
Num mar de cor de ilimitadas gamas
Perpassam mundos quintessenciados,
Lúcidas pérolas a pender das ramas
Da árvore azul dos páramos sagrados.
E nesse ambiente de sublimidades,
Vibram de vida outras humanidades,
Mais luz buscando na amplidão dos céus.
São as almas ditosas, superiores,
Que derramam nos seres inferiores
Os eflúvios do excelso amor de Deus.
PRECE DE NATAL
Carmem Cinira
Senhor, desses caminhos cor de neve,
De onde desceste um dia para o mundo,
Numa visão radiosa, linda e breve
De amor terno e profundo,
Das ampliações augustas dos espaços;
Do teu Natal de eternos esplendores,
Abriga nos teus braços
A multidão dos seres sofredores!...
Que em teu nome
Receba um pão o pobre que tem fome
O trapo o nu, o aflito uma esperança,
Que em teu Natal a Terra se transforme
Num caminho sublime, santo e enorme
De alegria e bonança!
Apesar dos exemplos da humildade,
Do teu amor a toda a humanidade,
A Terra é o mundo amargo dos gemidos.
De tortura, de treva e impetência.
Que a luz do amor de tua providência
Ampare os seres tristes e abatidos
E em teu Natal, reunidos, nós queremos,
Mesmo no mundo dos desencarnados,
Esquecer nossas dores e pecados,
Nos afetos mais doces, mais extremos,
Reviver a efeméride bendita,
Da tua aparição na Terra aflita,
Unir a vossa voz à dos pastores,
Lembrando os milagrosos esplendores
Da estrela de Belém,
Pensando em ti, reunindo-nos no bem,
Na mais pura e divina vibração,
Fazendo da humildade
Nosso caminho de felicidade,
Estrada de ouro para a perfeição!
REENCARNAÇÃO
Augusto Dos Anjos
Reencarnar-me?... Deixar a luz divina,
Justapondo-me a pútridos espermas,
Testemunhar a minha própria ruína
E vestir-me de células enfermas...
Reviver solidões amargas e ermas
De um mundo a cuja face se destina
A descendência obscura dos palermas,
Que em obras podres de desilumina?
Que destino infeliz, igualitário!
Recolher-me às excrescências de um ovário,
Sob um rude mistério incompreensível;
Verme do esquecimento em nove meses...
E ressurgir num invólucro de fezes;
Mas tudo isso é da lei intransgredível,
RENASCER
Augusto Dos Anjos
Para as ânsias do espírito liberto
A dor maior, a dor das grandes dores,
É renascer nos mundos inferiores,
Retomando o caminho escuro e incerto.
Martirológio, mísero, reaberto,
Entre angústia, misérias e pavores,
Na visão dos micróbios destruidores
Ou de areias de fogo de um deserto.
A alma livre do implexo do mundo
Vive da paz, do amor de que me inundo,
Longe da confusão que o mundo encerra...
Reencarnar-se! Eis o trágico tropeço
De se voltar ao triste recomeço
Das podridões orgânicas da Terra!...
SOMBRA
Hermes Fontes
Quem só tem alma para oferecer
No mundo, é um coração ermo e faminto...
A incompreensão é amarga como absinto,
Roubando a vida, envenenando o ser/
Todo o mal do idealismo é conhecer
As forças antagônicas do instinto
No coração – vesúvio nunca extinto –
Insaciado no amor e no prazer.
Todos aqueles que me conheceram
Na senda da ilusão e fantasias,
Chorem comigo pelo que sou!
Sou a sombra dos sonhos que morreram,
Contemplando nas ruínas mais sombrias
O meu castelo que se espedaçou.
SONHA!
Olavo Bilac
Vive, como quem sonha a vida inteira,
Uma paisagem primorosa e bela,
Como um céu safirino que se estrela
De luz e que essa luz toda te queira.
Vive como quem sonha, rindo à beira
De um lago azul, mirando a caravela
Da esperança, suavíssima e singela,
Nosso amparo na mágoa derradeira.
Converte em canto as tuas agonias,
Pois que outra vida além da morte espera
Todos os seres, todas as criaturas!
A fé clareia as noites mais sombrias,
Fazendo-te entrever a primavera
Que despetala flores nas alturas.
SONHO
Hermes Fontes
Em minha juventude estive à espera.
De um malogrado sonho superior,
- Esperança divina – que eu quisera
ver aureolada por um grande amor!
Mas não pude esperar quanto devera
Nos carreiros aspérrimos da dor,
Sem fé, que era os meus olhos a quimera
Do pensamento mistificador.
Meu erro foi descrer porque, deserto
O coração, somente acreditei
Na morte, o grande abismo – o nada incerto.
Oh! O maior dos enganos perpetrados!
Pois no meu sonho altíssimo de rei,
Achei a dor dos grandes condenados!
SUBJETIVISMO
Augusto Dos Anjos
Existe, além das forças do sensório,
Imensurável zona subjetiva,
Fora de toda a física objetiva,
Em seu potencialismo vibratório.
Fragmento de Deus, Brama ou Siva,
No homem, em complexus transitório
De matéria e espírito incorpóreo,
Toda a expressão da substância viva.
Região de energia indefinica,
Onde toda a matéria conhecida
Nasce de estranhas e insondáveis grutas!
Fonte de eterna potencialidade
- Templo do ego e da imortalidade –
Mundo real das causas absolutas.
UMA PALAVRA À IGREJA
ABÍLIO GUERRA JUNQUEIRO
A igreja antigamente era uma luz dourada
Que enchia os corações de paz e de esplendor,
Sublime manancial, fonte viva do amor,
Jorrando sob o sol de mística alvorada.
A palavra da fé caia como um luar
De esperança divina, esplendorosa e doce,
Sobre as dores cruéis, mas tudo transformou-se
Quando Pantagruel apareceu no altar.
Então, desde esse dia, as dúlcidas lições
Do exemplo de Jesus, - o meigo Nazareno, -
Sumiram-se no horror do lamaçal terreno,
No multissecular mercado de orações.
VENDO O HOMEM
Augusto Dos Anjos
Efêmero é esse orgulho, homem, que guardas,
Nesse mundo de angústia e de dores,
Onde soluçam seres inferiores
Entre milhões de células bastardas.
É o teu dia de dor, grande e profundo,
Sob o eterno mistério indevassado,
-És o triste fantasma encarcerado
Nas leis organogênicas do mundo.
O corpo, que é teu gozo alto e triunfante,
Que embelezas na Terra e em que presumes
Uma taça de angélicos perfumes,
É um vaso tenebroso e repugnante.
Vive nas luzes, onde não se esbarra
- A ventura que sonhas e desejas,
Pois sobre o mundo a boca com que beijas
É a mesma que vomita, cospe e escarra,
Mas se vives na Terra, por teu mal,
Cheio de sonho e dor, angústia e ânsia.
Todas as lutas são a substância
Do progresso infinito e universal.
VERSOS AOS SOFREDORES
Casemiro De Abreu
Pudesse agora arrancar-vos
Do terreno sorvedouro,
E abrir-vos os salões de ouro
Dos cimos da criação...
Conduzindo-vos aos prados
De flores da imensidade,
Onde eterna claridade
Nos conduz à perfeição;
Ó rutilâncias sublimes
Da vida risonha e pura,
Altar de doce ventura,
Luminoso rosicler,
No qual a paz e o amor
Fazem eterna aliança,
Onde um halo de esperança
É a vida de todo o ser;
Ó madrugadas brilhantes,
Luares opalescentes,
Sobre estradas resplandecentes
Nos jaspes da imensidão;
Ó panoramas divinos,
Lindos quadros luminosos,
Manhãs de riso e de gozos
Da Terra da promissão;
Que luzes maravilhosas
Sobre etéreos alabastros,
Sóis, estrelas, mundos, astros
Na vida superior.
Toda a música da Terra
Não se iguala à melodia
Da sacrossanta harmonia
Que se desprende do amor;
Quisera, pois, arrancar-vos
De tanta noite obscura,
Mas agora na amargura
Faz-se mister que sofrais;
Depois, porém dessas dores,
Sentir-vos-eis nos espaços,
Acalentados no braços
Do mais sublime dos pais.
VOZ DO SÉCULO
ANTERO DE QUENTAL
Ouvi a voz do século exclamando:
“Ó triste geração envenenada
pela descrença sistematizada,
o teu destino é amargo e miserando.
Vives com a tua ciência arquitetando
As organizações da nova estrada
Sobre a idéia amaríssima do nada,
O caminho do abismo formidando!...”
Apesar dos teus passos de gigante,
Chorarás quando a morte deslumbrante
Eliminar teu sonho deletério...
Cessa a vaidade da sabedoria,
Pois na luta e na dor de todo o dia,
Deus te confundirá com o Seu mistério!...
VOZES DA CRUZ
Casemiro Cunha
Dos martírios da cruz, das suas dores,
O Senhor da Verdade, há dois mil anos,
Derrama a luz nos corações humanos
E lhes clareia a senda de amargores.
É da cruz, dos seus dúlcidos arcanos,
Que Ele ampara e consola os pecadores,
Aluviões de seres sofredores,
Nas estradas de espinhos e de enganos.
- Perdoa-lhes, meu Pai! – ainda se escuta
No deserto de pedra áspera e bruta
Do calvário – a coroa dos seus atos!
Mas no mundo de carne e sombras mudas,
Vê-se o interesse triste de outros Judas,
E os preconceitos frios dos Pilatos.
VOZES DA MORTE
ANTERO DE QUENTAL
No mundo para vós ainda impreciso,
Que a ciência da Terra não pondera,
Eu via a morte, em forma de quimera,
Como um anjo de dor, vago e indeciso.
E murmurei: - “Ó morte, eu bem quisera
Que me desses no nada um paraíso!...
Por que, anjo na dor, se faz preciso
Da tua espada que nos dilacera?”
E ela disse: - “Sou a própria vida errante,
Vida renovadora e triunfante
Que tudo envolve em luz resplandecente,
Para que eu leve a alma à glória eleita
De ser pura e sublime, alva e perfeita,
É preciso lutar eternamente!”
VOZES DO CONSOLADOR
Cruz E Souza
O vós que andais à espera da ventura,
O coração cruciado de amargores,
Aluviões de peitos sofredores
Sobre a Terra, na estrada negra e dura
Tolerai vosso dia de tortura,
Pois nos cadinhos purificadores
Dos caminhos da penas e das dores,
A fé de todo o espírito se apura!...
Chorai na vossa senda de esperança,
Na ânsia de amor, de paz e de bonança,
Entre os sonhos das noites dolorosas.
Chorai que as vossas lágrimas divinas
São clarões de alvoradas peregrinas,
Estrelando as estradas tenebrosas.
FIM