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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Lira Imortal-Francisco Cândido Xavier

 

Índice do Blog 

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Francisco Candido Xavier

Lira Imortal

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Chico Xavier

“Mensagens eternas para espíritos eternos”

A  JESUS

Auta De Souza

Mestre e Senhor! Protege os desgraçados

Que se vão sem conforto e sem guarida,

Nas grandes tempestades dessa vida,

No turbilhão da dor e dos pecados.

Ascendem para os céus todos os brados

Da alma humana cansada e dolorida!

Balsamiza, com amor, toda a ferida

Que punge o coração dos degredados;

Degredados na terra tenebrosa,

Terra da sombra estranha e dolorosa,

Recamada de prantos e espinhos!

Ampara, meu Jesus, quem vai chorando,

Entre dores e acúleos, soluçando,

Na miséria de todos os caminhos.

A  VOZ  DA  CIÊNCIA

Augusto Dos Anjos

Sala de estudo de uma academia.

Início de lições maravilhosas,

Explicações estranhas, misteriosas,

Sobre a química, a física e a biologia.

“O sentimento – um professor dizia –

acha-se até na essência das mucosas.

É a sensação das células nervosas,

Segundo as deduções da anatomia”.

“O homem” – e continuava regougando,

como figura atlética exclamando,

nas concepções fantásticas do nada –

“O homem nada mais é do que destroços,

reduz-se a um mecanismo feito de ossos,

revestidos de carne ensangüentada”.

ALMA  DAS  ALMAS

Cruz E Souza

Há uma radiosa e eterna alma divina,

Que se irradia sobre a imensidade,

Alma da luz puríssima que invade

A cósmica amplidão que se ilumina.

Alma cheia de terna claridade,

Que alegrias dulcíssimas propina,

Espírito do bem que aclara e ensina

O caminho da vida e da verdade.

Alma das almas, cujo pensamento

É a vibração do eterno movimento

Sem princípio e sem dia derradeiro...

Deus! – alma do amor que a tudo abraça,

Que é ciência, harmonia, aroma e graça,

Alma das almas do universo inteiro.

ALMA   ESCRAVA

Augusto Dos Anjos

“Por que, meu Deus, a carne inda me prende,

Por que me arrasto como um triste duende,

Em miserabilíssimos despojos?”

Era o ser encarnado que falava,

Amarguradas queixas da alma escrava,

No mais horrendo dos martirológios.

Como pude descer nos labirintos,

Onde os lobos vorazes dos instintos

Nos consomem nos dentes esfaimados;

E por que idealizando puros gozos,

Busco na carne abismo tenebrosos,

Abominado todos os pecados?“

“Sou no mundo um fantasma solitário,

Só porque, um dia, um espermatozoário

Uniu-se, ansioso, ao óvulo fecundo.

E emergindo as ânsias e dos partos,

Suguei, unindo a boca a uns seios fartos,

Substâncias misérrimas do mundo...”

“Desde esse dia tormentosos e aflito

De intensa dor, envergo o sambenito

De matérias iguais aos polipeiros,

Entre as disposições hereditárias,

Chorando as mesmas dores milenárias

Dos que gemeram nesses cativeiros!”

Nada, contudo, lhe respondeu, de perto...

A alma, porém, sozinha, no deserto,

Viu sobre o mundo um monte de destroços;

Sentiu, no além, a vida verdadeira,

Mas contemplando, pela Terra inteira,

A carne infame, chocalhando os ossos!...

AO  CORPO  HUMANO

Augusto Dos Anjos

Ri, corpo humano, o riso dos palhaços,

Nos espasmos das articulações,

Inda mesmo com a carne em afecções,

Caindo nua, em pútridos pedaços.

Ri, na lubricidade dos devassos

E na volúpia das corrupções,

Inda que se amarfanhem corações

Com teus risos irônicos e crassos.

Ri, sempre, porque a alma, essa, paupérrima,

Dia há de vir se encontrará misérrima,

Com o seu quinhão de lágrimas nos ermos...

Ri, corpo humano, esquálido fantasma,

No mesmo barro obscuro, onde se plasma

A figura dos grandes estafermos.

AOS  TRABALHADORES  DO  EVANGELHO

Abilio Guerra Junqueiro

Trabalhai, trabalhai, que a aurora se avizinha,

O clarão da verdade indômita caminha,

Trazendo aos corações o dia da bonança!

Formai o batalhão da paz e da esperança,

Precursores da luz dos tempos que hão de vir,

Porque o mundo de agora é um milharal maduro,

Onde o amor de Jesus, abençoado e puro,

Vai colher o bom grão da terra do porvir.

AOS  ESPÍRITAS

João De Deus

Vós que buscais Jesus, sob a procela,

Toda feita de lágrimas e dores.

Deveis ser os humildes seguidores

Da luz do mundo, primorosa e bela.

Deveis ser a renúncia que revela

O grande amor de todos os amores,

Que perdoa e redime os pecadores,

Na palavra mais terna e mais singela.

Guardai Jesus no mundo de aspereza,

Dentro da mesma luz e da grandeza

Que consola e que eleva o coração...

Sede o bem, sede amor e tolerância,

Que a caridade é toda substância

Da lei que nos conduz à perfeição.

BRASIL, O GRANDE IMPÉRIO DOS REPUBLICANOS

Pedro D’alcântara

Seja o Brasil a terra da fartura,

Da justiça, da paz e da abastança

É que o pendão verde-ouro da esperança

Seja a luz do seu dia de ventura.

Terra que é minha luz mais suave e pura,

Sobre a qual meu espírito descansa,

Seja a sua grandeza – a da bonança,

Na evolução mais firme e mais segura.

Mesmo depois do exílio estranho e rude,

No pranto amargo da decrépitue,

Na amargura misérrima dos anos;

Senti prazer e orgulho, após a morte

Pois que fiz no Brasil, grandioso e forte,

O grande império dos republicanos.

CAMINHO  DA  LUZ

Olavo Bilac

Além do mundo amargo e miserando

Há na morte um caminho florescente,

Onde a alegria mora eternamente

Entre flores e pássaros cantando.

Estrada de ouro e luz ignescente,

Onde passam espíritos em bando,

Suaves corações glorificando

Os triunfos da lágrima pungente.

Nesse caminho, as almas vencedoras

Guardam consigo as jóias da ventura,

Sem que os séculos possam desfazê-las.

Esplendores de sóis, clarões de auroras,

Flores de amor e paz risonha e pura,

Há nessa estrada fúlgida de estrelas!...

CARNE

Augusto Dos Anjos

Algema tenebrosa é a carne louca,

Onde o espírito, em lágrimas, se prende

Perambulando como um triste duende,

Bebendo o pus das fístulas da boca.

Viver entre os sentidos incompletos,

Na existência das coisas fragmentárias,

Começando nas dores solitárias,

Da vida melancólica dos fetos.

Vaso de tegumentos e de humores

É o corpo, imagem viva do defunto,

O miserabilíssimo transunto

Das condições mais tristes e inferiores.

Desprezar toda a luz, radiosa e viva

Para viver na carne é descer quase

Da consciência divina à horrenda fase

Da irracionalidade primitiva.

Carne!... Nossa amargura original,

Antes sobre o planeta nunca houvesse

O princípio ancestral da tua espécie,

Nos mistérios da vida universal...

COM  O  EVANGELHO

João De Deus

São Paulo, 29-3-37.

Sobre o mundo de dor e de agonia,

Toda a ciência de paz, de amor e luz,

Somente encontrará a sabedoria,

No sublime Evangelho de Jesus!

A existência terrestre é como a cruz

Que a alma leva na estrada erma e sombria,

Estrada dolorosa que a conduz

Ao reino da verdade e da harmonia.

Sem o labor divino do Evangelho

Toda a ciência do mundo é a do homem velho

Preso aos grilhões das sombras do mal;

Somente com Jesus, com o Seu exemplo,

Pode-se edificar o eterno templo

Da infinita ciência universal.

DEGREDADOS

Cruz e Souza

AOS ESPÍRITAS

As desditosas almas desterradas

Choram de angústia no caminho estreito

Onde o homem – misérrimo e imperfeito –

Palmilha escabrosíssimas estradas...

E recordam radiosas alvoradas,

Deslumbramentos no infinito Eleito,

Onde a luz da justiça e do direito

É a alma das leis na Terra desprezadas!

Ó vós que andais idealizando o brilho

Da luz celeste sobre o vosso exílio,

Que é um deserto de sombra merencória!

Para que esplenda a luz da nova era,

Lutai! Porque a ventura vos espera

Na eternidade lúcida da glória!

DESCONFORTO

Hermes Fontes

Não me bastou, Senhor, velar atento

A misteriosa luz com que, à procura

De um luminoso céu em miniatura,

Vivi sonhando em meu deslumbramento!

Dentro do meu ideal supus que, isento

De toda a dor, de toda a mágoa obscura

Alcançasse o castelo da ventura

Na glorificação do pensamento.

Mas, ai de mim! Meu barco pequenino

Perdeu-se em meio à torva tempestade

Sem divisar a luz de qualquer porto;

E as minhas esperanças de menino

E os anelos de amor e mocidade

Naufragaram no grande desconforto.

DESILUSÃO

(ANTERO DE QUENTAL)

Quem sou eu? Quem sou eu? No abismo escuro

Do meu atribulado pensamento

Sinto ainda as áscuas do pavor violento

Em que andei como nau sem palinuro!

E... ouço uma voz: “Tu és verme obscuro

Vitimado no grande desalento,

Que procurou a mágoa e o sofrimento

Sem caridade, o amor sagrado e puro”.

Ó promessas do “nada” inexistente!...

A morte abriu-me as portas do presente

Amargo e interminável pela dor;

Infeliz do meu ser fraco e abatido,

Pois o anseio de nada, paz e olvido,

Foi apenas um sonho enganador!

DETERMINISMO

(ANTERO DE QUENTAL)

Nas estradas do mundo, no infinito,

Nas incontáveis eras milenárias,

Na aluvião de idéias multifárias,

O homem é o mesmo ser errante e aflito...

E ouve-se, a todo o tempo, o estranho grito

De heroísmo das almas solitárias,

Guias de luz dos miseráveis párias,

Saturadas de amor puro e bendito.

Mas segredos eternos e divinos

Pesam sobre a balança dos destinos,

Subjugando o mundo descontente.

E a humanidade, ansiosa de bonança,

No mistério do sonho e da esperança.

Conquista o céu, lutando eternamente.

DOIS  DE  NOVEMBRO

Alphonsus Guimarães

A alma presa das lágrimas terrenas,

Lembrando a alma que busca o mundo etéreo,

Hoje espalha na paz do cemitério

Um dilúvio de rosas e açucenas...

Mas das luzes puríssimas do império

Das plagas bonançosas e serenas,

Vimos nós mitigar as vossas penas,

Na divina jornada do mistério.

O nosso imensurável campo-santo

É toda a Terra, imersa em mágoa e pranto,

Onde estão nossos mortos soterrados.

No sepulcro da carne apodrecida,

No turbilhão de lágrimas da vida,

Entre as sombras da dor e dos pecados!...

VISÃO  DOS  ESPAÇOS

Augusto Dos Anjos

Vastidões de beleza intraduzível,

Fulgurações entre cósmicos flagelos,

Ideações de fúlgidos castelos

Onde mora a beleza indefinível.

Ansiedades trágicas, supremas,

Na formação das grandes nebulosas...

Transubstanciações misteriosas

Gerando os organismos dos sistemas.

Focos de potentíssima atração

As moléculas e átomos dispersos,

Nos elementos de elaboração

De grandiosos e lindos universos.

Luminosas esteiras de cometas,

Formosos em elipses prolongadas,

Graciosas figuras de planetas

Emergindo das cósmicas camadas.

Meteoros celestes, deslumbrantes,

Nas excelsas alturas transcendentes,

Onde vibram os sóis incandescentes,

Asteróides e estrelas fulgurantes.

Intensidade bela de harmonia

Que agora sinto, vejo e que percebo,

Grandiosidades do que não concebo

Nos apogeus das hiperestesias.

E, sobretudo, emanam das esferas

Os equilíbrios das imensidades,

O eterno canto de sublimidades,

Clarões de luzes nas atmosferas...

Sobre todas as coisas assombrosas,

Fluídos e criações de pensamentos,

Todas as maravilhas e portentos,

Há uma luz entre as luzes mais radiosas.

É o clarão poderoso, indestrutível,

Que vem das profundezas do passado

A luz de Deus, à força do incriado

Na exteriorização indescritível.

ESPERA  E  AMA  SEMPRE

Casemiro Cunha

Não elimine a esperança

De uma alma triste ou ferida

Que a esperança é a luz eterna

Nas grandes noites da vida.

Feliz daquele que espera,

No caminho da amargura,

No coração da criatura.

Pois toda a dor vem e passa.

Ama e crê. Espalha o bem.

Porque, na Terra, em verdade,

É infeliz quem cuida apenas

Da própria felicidade.

ESPIRITISMO

João De Deus

Na dolorosa e escura travessia

Do encapelado mar da provação

Na mais amarga desesperação,

Debatem-se os escravos da agonia.

Nas correntes pesadas da aflição,

Na paisagem sem sol, erma e sombria,

Lá vai a humanidade na porfia

Da paz que é toda a luz do coração.

Saibam, porém, as pobres criaturas,

Atoladas no mar das desventuras,

Sem o rumo de Deus, vogando ao léu,

Que o Espiritismo é o porto da verdade,

Para onde navega a humanidade,

Buscando a estrada de ouro para o céu!...

ESPIRITISMO

João De Deus

O Espiritismo é a ilha da bonança,

No oceano de lágrimas e de dor,

Onde o homem cansado e sofredor

Encontra o porto amigo da esperança.

Porto claro e feliz, onde a alma alcança

Os tesouros de fé, crença e amor,

Sob as bênçãos divinas do Senhor,

E onde a vida decorre calma e mansa.

É na doutrina da fraternidade

Que o coração de toda a humanidade

Há de alcançar mais vida, paz e luz.

Somente o seu ensino verdadeiro

Pode reunir na Terra o mundo inteiro

No Evangelho sublime de Jesus.

Livro: LIRA IMORTAL   -  Francisco Cândido Xavier  - Espíritos Diversos)

Encerrando a semana metapsíquica no Teatro Municipal e São Paulo.

ESPÍRITO

ANTERO DE QUENTAL

Sobre o mundo de dor e de incerteza

Procurei na ciência, em toda hora,

Descobrir e tocar a sutileza

Do espírito que luta, sonha e chora;

Mas só encontrei a trágica surpresa

Da negação da luta atordoadora

Da ciência do mundo que anda presa

Sob a descrença desalentadora...

Alma cega de louco então eu era,

Que não via dos astros à monera

A mão de Deus na paz, na luz, no amor!...

E paguei caro a minha fantasia,

Escalando um calvário de agonia

Na visão desse nada enganador.

ETERNA  CRUZ

Casemiro Cunha

Sobre as lutas da Terra, o Mestre se debruça

E exclama, olhos no céu, amargurado e aflito:

-  “Há milênios, meu Pai, que choro no infinito,

Presa aos braços da cruz, minh’alma que soluça...”

Depois, fitando a Terra, eis que o Mestre inda exclama:

-  “Amai-vos, meus irmãos! Somente o amor ensina

A encontrar  a verdade e a luz  pura e divina;

Em verdade, é feliz somente aquele que ama!...”

Em vão, porém, Jesus grita ao mundo a verdade,

No mar da indiferença, a cega humanidade

Não procura a verdade e nem deseja a luz.

Caim devora Abel no caminho escabroso!

Sempre a sede carnal de prazer e de gozo,

E o Mestre continua, em lágrimas, na cruz...

ETERNO ABRIGO

João De Deus

Quando o Sol da verdade acaricia

O coração dos crentes em Jesus,

Há sempre a luminosa eucaristia

Do pão da vida, transformado em luz.

Não existem mais lágrimas, nem cruz,

Nesse eterno banquete de alegrias,

Onde tudo é o amor que nos seduz

Em vibrações de paz e de harmonia.

Derramando-se as luzes da verdade,

No coração de toda a humanidade,

Virá o amor que salva e que conduz.

E é dando o nosso braço irmão e amigo

Que faremos da Terra o eterno abrigo

Da bondade infinita de Jesus.

EXORTAÇÃO  AOS  ESPÍRITAS

ABÍLIO GUERRA JUNQUEIRO

Uni-vos soba a paz, uni-vos sob a crença,

Ó argonautas do ideal, arautos da esperança!...

Que se realize agora o sonho da bonança!...

Como os pães do Senhor que a fé se espalhe e vença.

Não temais combater, que o Mestre vos conduz

Com o sol espiritual que envolve o mundo

Sede na terra verde e augusta do cruzeiro

Os soldados do amor, seareiros de Jesus!

FALANDO  À  IGREJA  DE  ROMA

ABÍLIO GUERRA JUNQUEIRO

Ó igreja, a tempestade imensa e escura assoma,

Apesar das funções políticas de Roma,

Enegrecendo o mundo e ensangüentando a Terra!...

E enquanto a fome, a dor e os martírios da guerra

Humilham sem cessar a grande massa humana,

Fazes o carnaval da comédia romana,

Onde os clowns e arlequins, pierrôs e colombinas

São grandes multidões de mitras e batinas...

Quando a dor faz do mundo um triste sorvedouro,

Exibes sem cuidado das arcas do teu ouro!...

Guarda-te da extorsão das listas e sacolas,

Olha o espelho de dor das lutas espanholas.

Não deves te iludir no movimento enorme!

O coração do povo é como um leão que dorme,

E o povo há de pedir!

Que a noite de hoje pague à aurora porvir!

São as ânsias sociais que Leão XIII e Pio XI

Tentaram dirimir com dogmas de bronze.

É preciso atenuar os raios da tormenta,

Com a energia do amor que salva e que alimenta,

Deixa o balcão do altar, os púlpitos e as missas,

Procura reparar as grandes injustiças!...

Igreja, o mundo inteiro anela um novo dia,

Remodela o interior de tua sacristia,

Porque depois da treva há de haver uma luz,

Luz que há de esclarecer tua lei à socapa;

Liberta-te das mãos sacrílegas do Papa

E volta enquanto é tempo aos braços de Jesus.

FANTASMA

Augusto Dos Anjos

Há no universo um estranho dinamismo,

Na grandeza de todos os cenários,

Nos aspectos dos orbes multifários,

Cantando o hino triunfal do transformismo.

É o sagrado e divino esoterismo

Dos sublimes anseios unitários

Que vem do macrocosmo aos protozoários

E une o céu ao minúsculo organismo!

Tudo é beleza, da beleza ignota,

Seguindo a mesma estrada a mesma rota,

Da luz, fulgor de Deus no éter disperso!

E o homem, só, no seu dia miserandó,

Solta o “ai” doloroso e formidando

De um fantasma gemendo no universo!

HARMONIA

Marta

O caminho da prece está florido.

As rosas da harmonia desabrocham olorosas!

Subi comigo, espaço em fora...

Que luz dulcificante!

Divisai o reino da alegria,

Onde uma eterna aurora

Embala os seres e embala os roserais

Que florescem para a luz

Vinde! Existem nas alturas,

Regiões de paz, remansos de ventura

Que sonhais jamais!...

Deus em pôs em cada canto

Uma pérola divina

Da sua luz. Tesouro sacrossanto,

Patrimônio de todos seus filhos

Por aqui não há dores, não há prantos!...

Eis que nos abraçamos...

Filhos que esperamos

E mães que nos esperam...

Noivos idolatrado,

Afetos aguardados.

Com excelsas esperanças...

Eis que agora a saudade

É uma recordação fugidia,

Um misto de amargura,

De ventura e alegria.

Subi comigo! Aqui há pássaros trinando

Por sobre fronde luminosas,

Entre as almas fraternas...

Ó paragens eternas!

Onde a luz nunca morre em seus cambiantes,

Os quais a todo o instante

Se intensificam, se esmaecem,

Entre cores e sons que não se esquecem.

Atravessai a noite de amarguras

Pelas portas da dor,

E recordai que nas alturas

Vos esperam as luzes da alegria

E os prazeres do amor.

“IN  LIMITE”

Augusto Dos Anjos

”Antes o fúnebre abismo, o húmus e os vermes,

Que rever-me em fatídicos destroços.

No arcabouço simétrico dos ossos,

Espolinhando-se entre as epidermes.

Antes as podridões atrás e inermes,

Ser cadáver horrífero nos fossos,

Do corvo exposto aos pretos bicos grossos

Que jungir-me a enauseantes blastodermes...”

Assim clamou a alma, em ânsias pungitivas,

No limiar do abismo ensôfrego e hiante

Da carne onívra, imunda e material;

Mas no impulso de forças decisivas,

Imergiu-se o corpo degradante,

Na atração do mistério universal.

LIRA  DO  ALÉM

Francisco Octaviano

Lira que tanges para as grandes dores

Da humanidade que se desespera,

Espalha pelo mundo a primavera

Da esperança nos peitos sofredores.

As tuas melodias interiores

Descem das claridades de outra esfera,

Onde a alegria pura, alta e sincera,

Canta os hinos de eternos esplendores...

Viajor da terra: aguça os teus ouvidos,

Descansa sobre a estrada os pés feridos

E ouve os acentos ternos e profundos

Dessa lira do além que tange aos ventos

Da eternidade de deslumbramentos,

Nos acordes de paz dos outros mundos!

LUZ  GLORIOSA

Augusto Dos Anjos

Houve tempo em que a ciência positiva,

Na aridez de seu método ilusório,

Construía o castelo transitório

Da grande negação definitiva.

Tudo era a matéria primitiva

No centro do seu modus vibratório,

Impressionando o mundo do sensório

Na eterna vibração da força viva.

Mas Kardec abre as últimas cortinas

E sobre o mundo de cadaverinas,

Apresenta luz gloriosa e forte.

Cai a muralha do materialismo,

E a fé raciocinada vence o abismo,

Transpondo a escuridão da própria morte.

LUZ   REDENTORA

Casemiro Cunha

Sobre a Terra de sombra e de amargura,

A treva espessa e triste se fizera...

A ciência e a fé, nas asas da quimera,

Mais se afundavam pela noite escura.

A alma humana de então se desespera.

É eis que das luzes místicas da altura

Desce outra luz, confortadora e pura

De que o mundo infeliz se achava à espera;

E Kardec recebe-a sobre o abismo,

Espalhando as lições do Espiritismo,

Em claridades de consolação.

Emissário da luz e da verdade,

Entrega ao coração da humanidade

A doutrina de amor e redenção.

Em Homenagem a Allan Kardec

Livro: LIRA IMORTAL   -  Francisco Cândido Xavier  - Espíritos Diversos)

MATÉRIA

Augusto Dos Anjos

Nos sublimes impérios deslumbrantes.

Do mistério das zonas subjetivas,

Em transubstanciações definitivas,

Vive a matéria em células radiantes.

Expressões fenomênicas, constantes,

Nas eternas ações das forças vivas,

Desde a treva das noites primitivas

Dos eternos princípios inquietantes.

Em todos os fenômenos profundos

Dos mecanismos físicos dos mundos

A matéria é a expressão primordial,

Dentro do seu aspecto transitório,

Sob a função passiva de envoltório

Das essências do espírito imortal.

METAPSÍQUICA

Augusto Dos Anjos

A ciência terrígena procura

Num labor, muita vez, medonho e inglório,

Tocar a sutileza do incorpóreo

No plano subjetivo da alma pura!

Mas só encontra a gênese obscura

Das células do sensório,

Nas quais há sempre o traço merencório

Das incapacidades da estrutura.

Existe sobre a incógnita psique,

Que a infinita ciência de Richet

Quis prender entre os cárceres das normas,

Constelações de luz e abismo tredos,

Na heterogeneidade dos segredos,

Das perfeições orgânicas das formas!

MISÉRIAS

Augusto Dos Anjos

Na agregação da carne e dos helmintos

No complexo atômico que enferma,

O homem é, desde a mônada do espermas,

Rei dos vermes carnívoros, famintos;

E analisando eternos labirintos,

Na incompreensibilidade do palerma,

O homo sapiens do podre blastoderma

Vive a febre danada dos instintos.

Homens!... Visões de mônadas divinas,

Encarceradas em cadaverinas,

Num turbilhão de sânie e de matérias...

É preferível, entre desconfortos

Ser a lama terrível dos abortos

Que viver nossas trágicas misérias.

MORTE

Cruz E Souza

Longe do sentimento limitado

Da matéria em seus átomos finitos,

No limite de um mundo ignorado,

Celebra a morte seus estranhos ritos.

Hinos e vozes, lágrimas e gritos

Do Espírito, que outrora encarcerado

Contempla a luz dos orbes infinitos

Bendizendo a amargura do passado!

Ó morte, a tua espada luminosa,

Formada de uma luz maravilhosa

É invencível em todas as pelejas!...

És no universo estranha divindade;

Ó operária divina da verdade,

Bendita sejas tu! Bendita sejas!...

MORTOS VERDADEIROS

João De Deus

Vós que guardais, dos mortos a lembrança,

Sois, também, nos espaços, recordados,

Nos eternos caminhos aureolados

Pelos clarões da bem-aventurança/

No pais da verdade e da bonança

Nós ouvimos as súplicas e os brados

De pobres corações despedaçados,

No cadinho da mágoa ou da esperança;

Das vibrações ignotas das esferas,

Nós que fomos os homens de outras eras,

Queremos mitigar a vossa dor.

Sois os mortos nos círculos da vida,

Nos sepulcros de carne apodrecida,

Desejosos de paz, de luz, de amor.

MORTOS?  NÃO

ANTERO DE QUENTAL

Nós não somos os mortos condenados

Aos sepulcros de treva e cinzas frias,

Tristes evocações das agonias,

Sob os dobres dos sinos de finados...

Não estamos nas lápides sombrias

Dos cemitérios ermos e isolados,

Somos somente amigos apartados

Pelo... espaço das horas fugidias.

Crede que a luta é a nossa eterna herança,

Com a qual marchamos plenos da esperança

Que une os mundos e os seres nos seus laços.

Depois da morte, a luz de um novo dia

Resplende, transbordante de harmonia

Pela serenidade dos espaços.

O  MONSTRO

Antero de Quental

Vi um monstro pairando sobre a Terra,

Como um corvo de garras infinitas,

Cobrindo multidões tristes e aflitas:

Visão de luto e lágrimas que aterra!

Vi-o de vale em vale, serra em serra,

E disse: - “Quem és tu que abre e excitas

Os pavores e as cóleras malditas?”

E o monstro respondeu: - “Eu sou a guerra!

Não há forças no mundo que me domem,

Sou o retrato fiel do próprio homem,

Que destrói, luta e mata e vocifera!

Venho das trevas densas da voragem,

Dos abismos de dor e de carnagem

Para mostrar ao homem que ele é fera!”

NOSSOS MORTOS

Alphonsus Guimarães

Os que se vão nas mágoas e na poeira

Dos caminhos da morte soterrados,

Levam consigo a imagem derradeira,

A visão dos seus mortos bem amados.

Mortos que ai ficaram na canseira,

Nos trabalhos do mundo acorrentados,

Padecentes de dor e de cegueira

Nos maiores tormentos flagelados...

Aqueles que amei nunca os esqueço,

É por eles que sofro e que padeço

Numa longa saudade introduzida;

Eu os espero na luz da eternidade,

Mas, ó seres que eu amo, esta saudade

É o cinamomo em flor desta outra vida!...

O  DOCE  MISSIONÁRIO

AUGUSTO DE LIMA

Sertão hostil. Agreste serrania.

Tendo por companhia

A cruz do Nazareno, humilde e solitário,

Ali vivia Anchieta, o doce missionário,

Carinhoso pastor, espelho de bondade,

Abençoando o bem, perdoando a maldade,

Servo amado de Deus, imitador de Assis,

Que na humildade achara a vida mais feliz.

Naquele dia,Era intenso o calor.

Ninguém. Nem uma sombra se movia.

Tudo era languidez, desânimo e torpor.

Além se divisava a solidão da estrada,

Amarela de pó, tristonha e desolada.

Na clareira, onde o sol feria os vegetais,

Viam-se florescer bromélias e boninas

E, elevando-se aos céus, esguios espinhais,

Implorando piedade às amplidões divinas..

Eis que o irmão de Jesus,

o humilde pegureiro,

Avista um mensageiro.

Dirige-se-lhe à casa,

Pisando vagaroso o chão que o sol abrasa.

-   “Meu protetor, diz ele: o bom pajé,

Convertido por vós à luz da vossa fé,

Que tem oferecido a Deus o seu amor,

Agoniza na taba, ao longe, em aflição,

Ele espera de vós a paz do coração

E implora lhe deveis a bênção do Senhor.”

-   “Oh! Doce filho meu, que vindes de passagem

Que Jesus vos ampare ao termo da viagem...”

E, isso dizendo, o pastor, prestamente,

Toma da humilde cruz do Mártir do calvário,

Abandonando o ninho agreste e solitário,

Para arrancar da dor o pobre penitente.

Há solidão na estrada,

Ferem-lhe os pés as pontas dos espinhos.

Que penosa jornada,

Em tão rudes e aspérrimos caminhos!...

Pairam no ar excessos de calor,

Nem árvores com sombras e nem fontes,

Somente o sol ferino destruidor,

Que calcina, inflamando os horizontes.

Eis que a sede o devora;

Entretanto, o pastor não se deplora;

A terna e meiga efígie de Jesus,

É-lhe paz e alimento, amparo e luz.

Numa férvida prece,

Ele inda agradece.

-   “Sê bendito, Senhor, por tudo o que nos dás.

Seja alegria ou dor, tudo é ventura e paz.

Eu vejo-te no alvor das manhãs harmoniosas.

No azulíneo do céu, no cálice das rosas,

Na corola de luz de todas as florzinhas,

No canto, todo amor, das meigas avezinhas.

Na estação outonal, na loura primavera,

No coração do bom, que te ama e te venera,

Nas vibrações dos sons, na irradiação da luz,

Na dor, no sofrimento, em nossa própria cruz...

Tudo vive a mostrar tua própria bondade,

Eterno Pai de amor, de luz e caridade,

Abençoados são o inverno que traz frio

E os calores do sol nas estações do estio...”

Terminando a sorrir a espontânea oração,

Inspirada na fé de santa devoção,

Anchieta escuta em torno os mais sutis rumores.

Eis que nos arredores,

Congregam-se apressadas

Todas as avezinhas

E, asas aconchegada, Juntinhas,

Numa ideal combinação

Formam um pálio protetor

Cobrindo o doce irmão

Que ia ofertar amor,

Luz e consolação

Em nome do Senhor.

Pelos caminhos,

Foi-se aumentando

O meigo bando

Dos bondosos e ternos passarinhos,

Aureolando com amor o discípulo amado,

Modesto, casto, humilde e isento de pecado,

Que ia seguindo,

Lábios sorrindo, Em meiga mansuetude.

O enviado do bem e da virtude

Agradecia ao céu, o coração em luz,

Evolando-se puro ao seio de Jesus.

Chegara ao seu destino. Ia caindo o dia...

No poente de paz de harmonia,

Brilhava nova luz, feita de crença e amor:

Era a bênção dos céus, a bênção do Senhor...

O  ETERNO  CAMINHEIRO

Rodrigues De Abreu

Nos abismo da treva que passaram,

Duas sombras estranhas se encontraram.

Uma, a lama, a outra a dor. Ambas na estrada

Que provinha da estática do nada...

Na paisagem disforme, triste e quieta,

Deram princípio à angústia do planeta,

Porque o Pai da criação, no sexto dia,

Para formar Adão no mundo de agonia,

Tomou da lama e a dor a estranha contextura

Para dar forma e corpo à vida da criatura.

Preso à carne de dor, desde o passado,

O homem foi sempre o ser inadaptado,

Cheio de febres de ânsia, de esperança

É saudade dos mundos da bonança.

É, por isso, é o eterno caminheiro

Que chora e luta pelo mundo inteiro.

O   SANTO   DE   ASSIS

AUGUSTO DE LIMA

No suave mistério dos espaços,

“Santa Maria dos Anjos” ainda existe,

com a mesma luz divina dos seus traços,

glorificando as dores da alma triste,

repartindo a virtude, a graça e os dons

que a palavra divina do cordeiro

prometeu aos pacíficos e aos bons do mundo inteiro...

Uma nova Porciúncula, dourada

Pelos astros de mística alvorada,

Ai se rejubila,

Sob a paz de Jesus, terna e tranqüila,

Derramando no além ignorado

Os sonhos da virtude e perfeição

Daquela mesma umbria do passado

Cheia de encantamento e de oração.

A luz dos sóis da etérea natureza,

Numa doce e ideal eucaristia,

No seu manto de amor e de alegrias,

Inda abre os braços para os pecadores...

O esposo da pobreza.

“Irmão sol, irmãos anjos, irmãs flores,

Não nos cansemos de glorificar

A caridade imensa do Senhor,

Sua sabedoria e seu amor,

Procurando salvar

Os nossos irmãos homens, mergulhados

Entre as noites sombrias dos pecados!...”

E à voz suave e dúlcida do santo,

A Terra escura e triste se povoa

De anjos de amor que enxugam todo o pranto

E que levam consigo

Todo o consolo amigo

Da esperança no céu, singela e boa...

Das paragens etéreas,

Da sua ideal igreja,

São Francisco de Assis abraça e beija

O homem que sofre todas as misérias,

Amparando-lhe a alma combalida

Nos desertos de lágrimas da vida

E o conduz

Ao regaço divino de Jesus!

Santo de Assis, divino poverello,

Nas amarguras do meu pesadelo

De vaidade do mundo que devasta

Todo o bem, vi tua luz singela e casta

Beijando as minhas lepras asquerosas...

Uma chuva de lírios e de rosas

Lavou-me o coração de pecador

E guardei para sempre, o teu amor.

Santo de Assis, irmão da caridade,

Que me curaste as lepras e a cegueira,

Depois da morte, à luz da imensidade,

Quero ainda abençoar-te a vida inteira...

PAINEL  DE  LUZ

Cruz E Souza

Do pensamento nas douradas flamas

Busco a luz dos espaços constelados

Extasiando-me ante os panoramas

De divinas belezas recamados.

Num mar de cor de ilimitadas gamas

Perpassam mundos quintessenciados,

Lúcidas pérolas a pender das ramas

Da árvore azul dos páramos sagrados.

E nesse ambiente de sublimidades,

Vibram de vida outras humanidades,

Mais luz buscando na amplidão dos céus.

São as almas ditosas, superiores,

Que derramam nos seres inferiores

Os eflúvios do excelso amor de Deus.

PRECE  DE  NATAL

Carmem Cinira

Senhor, desses caminhos cor de neve,

De onde desceste um dia para o mundo,

Numa visão radiosa, linda e breve

De amor terno e profundo,

Das ampliações augustas dos espaços;

Do teu Natal de eternos esplendores,

Abriga nos teus braços

A multidão dos seres sofredores!...

Que em teu nome

Receba um pão o pobre que tem fome

O trapo o nu, o aflito uma esperança,

Que em teu Natal a Terra se transforme

Num caminho sublime, santo e enorme

De alegria e bonança!

Apesar dos exemplos da humildade,

Do teu amor a toda a humanidade,

A Terra é o mundo amargo dos gemidos.

De tortura, de treva e impetência.

Que a luz do amor de tua providência

Ampare os seres tristes e abatidos

E em teu Natal, reunidos, nós queremos,

Mesmo no mundo dos desencarnados,

Esquecer nossas dores e pecados,

Nos afetos mais doces, mais extremos,

Reviver a efeméride bendita,

Da tua aparição na Terra aflita,

Unir a vossa voz à dos pastores,

Lembrando os milagrosos esplendores

Da estrela de Belém,

Pensando em ti, reunindo-nos no bem,

Na mais pura e divina vibração,

Fazendo da humildade

Nosso caminho de felicidade,

Estrada de ouro para a perfeição!

REENCARNAÇÃO

Augusto Dos Anjos

Reencarnar-me?... Deixar a luz divina,

Justapondo-me a pútridos espermas,

Testemunhar a minha própria ruína

E vestir-me de células enfermas...

Reviver solidões amargas e ermas

De um mundo a cuja face se destina

A descendência obscura dos palermas,

Que em obras podres de desilumina?

Que destino infeliz, igualitário!

Recolher-me às excrescências de um ovário,

Sob um rude mistério incompreensível;

Verme do esquecimento em nove meses...

E ressurgir num invólucro de fezes;

Mas tudo isso é da lei intransgredível,

RENASCER

Augusto Dos Anjos

Para as ânsias do espírito liberto

A dor maior, a dor das grandes dores,

É renascer nos mundos inferiores,

Retomando o caminho escuro e incerto.

Martirológio, mísero, reaberto,

Entre angústia, misérias e pavores,

Na visão dos micróbios destruidores

Ou de areias de fogo de um deserto.

A alma livre do implexo do mundo

Vive da paz, do amor de que me inundo,

Longe da confusão que o mundo encerra...

Reencarnar-se! Eis o trágico tropeço

De se voltar ao triste recomeço

Das podridões orgânicas da Terra!...

SOMBRA

Hermes Fontes

Quem só tem alma para oferecer

No mundo, é um coração ermo e faminto...

A incompreensão é amarga como absinto,

Roubando a vida, envenenando o ser/

Todo o mal do idealismo é conhecer

As forças antagônicas do instinto

No coração – vesúvio nunca extinto –

Insaciado no amor e no prazer.

Todos aqueles que me conheceram

Na senda da ilusão e fantasias,

Chorem comigo pelo que sou!

Sou a sombra dos sonhos que morreram,

Contemplando nas ruínas mais sombrias

O meu castelo que se espedaçou.

SONHA!

Olavo Bilac

Vive, como quem sonha a vida inteira,

Uma paisagem primorosa e bela,

Como um céu safirino que se estrela

De luz e que essa luz toda te queira.

Vive como quem sonha, rindo à beira

De um lago azul, mirando a caravela

Da esperança, suavíssima e singela,

Nosso amparo na mágoa derradeira.

Converte em canto as tuas agonias,

Pois que outra vida além da morte espera

Todos os seres, todas as criaturas!

A fé clareia as noites mais sombrias,

Fazendo-te entrever a primavera

Que despetala flores nas alturas.

SONHO

Hermes Fontes

Em minha juventude estive à espera.

De um malogrado sonho superior,

- Esperança divina – que eu quisera

ver aureolada por um grande amor!

Mas não pude esperar quanto devera

Nos carreiros aspérrimos da dor,

Sem fé, que era os meus olhos a quimera

Do pensamento mistificador.

Meu erro foi descrer porque, deserto

O coração, somente acreditei

Na morte, o grande abismo – o nada incerto.

Oh! O maior dos enganos perpetrados!

Pois no meu sonho altíssimo de rei,

Achei a dor dos grandes condenados!

SUBJETIVISMO

Augusto Dos Anjos

Existe, além das forças do sensório,

Imensurável zona subjetiva,

Fora de toda a física objetiva,

Em seu potencialismo vibratório.

Fragmento de Deus, Brama ou Siva,

No homem, em complexus transitório

De matéria e espírito incorpóreo,

Toda a expressão da substância viva.

Região de energia indefinica,

Onde toda a matéria conhecida

Nasce de estranhas e insondáveis grutas!

Fonte de eterna potencialidade

-         Templo do ego e da imortalidade –

Mundo real das causas absolutas.

UMA  PALAVRA  À  IGREJA

ABÍLIO GUERRA JUNQUEIRO

A igreja antigamente era uma luz dourada

Que enchia os corações de paz e de esplendor,

Sublime manancial, fonte viva do amor,

Jorrando sob o sol de mística alvorada.

A palavra da fé caia como um luar

De esperança divina, esplendorosa e doce,

Sobre as dores cruéis, mas tudo transformou-se

Quando Pantagruel apareceu no altar.

Então, desde esse dia, as dúlcidas lições

Do exemplo de Jesus, - o meigo Nazareno, -

Sumiram-se no horror do lamaçal terreno,

No multissecular mercado de orações.

VENDO  O  HOMEM

Augusto Dos Anjos

Efêmero é esse orgulho, homem, que guardas,

Nesse mundo de angústia e de dores,

Onde soluçam seres inferiores

Entre milhões de células bastardas.

É o teu dia de dor, grande e profundo,

Sob o eterno mistério indevassado,

-És o triste fantasma encarcerado

Nas leis organogênicas do mundo.

O corpo, que é teu gozo alto e triunfante,

Que embelezas na Terra e em que presumes

Uma taça de angélicos perfumes,

É um vaso tenebroso e repugnante.

Vive nas luzes, onde não se esbarra

- A ventura que sonhas e desejas,

Pois sobre o mundo a boca com que beijas

É a mesma que vomita, cospe e escarra,

Mas se vives na Terra, por teu mal,

Cheio de sonho e dor, angústia e ânsia.

Todas as lutas são a substância

Do progresso infinito e universal.

VERSOS  AOS  SOFREDORES

Casemiro De Abreu

Pudesse agora arrancar-vos

Do terreno sorvedouro,

E abrir-vos os salões de ouro

Dos cimos da criação...

Conduzindo-vos aos prados

De flores da imensidade,

Onde eterna claridade

Nos conduz à perfeição;

Ó  rutilâncias sublimes

Da vida risonha e pura,

Altar de doce ventura,

Luminoso rosicler,

No qual a paz e o amor

Fazem eterna aliança,

Onde um halo de esperança

É a vida de todo o ser;

Ó madrugadas brilhantes,

Luares opalescentes,

Sobre estradas resplandecentes

Nos jaspes da imensidão;

Ó panoramas divinos,

Lindos quadros luminosos,

Manhãs de riso e de gozos

Da Terra da promissão;

Que luzes maravilhosas

Sobre etéreos alabastros,

Sóis, estrelas, mundos, astros

Na vida superior.

Toda a música da Terra

Não se iguala à melodia

Da sacrossanta harmonia

Que se desprende do amor;

Quisera, pois, arrancar-vos

De tanta noite obscura,

Mas agora na amargura

Faz-se mister que sofrais;

Depois, porém dessas dores,

Sentir-vos-eis nos espaços,

Acalentados no braços

Do mais sublime dos pais.

VOZ  DO  SÉCULO

ANTERO DE QUENTAL

Ouvi a voz do século exclamando:

“Ó triste geração envenenada

pela descrença sistematizada,

o teu destino é amargo e miserando.

Vives com a tua ciência arquitetando

As organizações da nova estrada

Sobre a idéia amaríssima do nada,

O caminho do abismo formidando!...”

Apesar dos teus passos de gigante,

Chorarás quando a morte deslumbrante

Eliminar teu sonho deletério...

Cessa a vaidade da sabedoria,

Pois na luta e na dor de todo o dia,

Deus te confundirá com o Seu mistério!...

VOZES  DA  CRUZ

Casemiro Cunha

Dos martírios da cruz, das suas dores,

O Senhor da Verdade, há dois mil anos,

Derrama a luz nos corações humanos

E lhes clareia a senda de amargores.

É da cruz, dos seus dúlcidos arcanos,

Que Ele ampara e consola os pecadores,

Aluviões de seres sofredores,

Nas estradas de espinhos e de enganos.

- Perdoa-lhes, meu Pai! – ainda se escuta

No deserto de pedra áspera e bruta

Do  calvário – a coroa dos seus atos!

Mas no mundo de carne e sombras mudas,

Vê-se o interesse triste de outros Judas,

E os preconceitos frios dos Pilatos.

VOZES  DA  MORTE

ANTERO DE QUENTAL

No mundo para vós ainda impreciso,

Que a ciência da Terra não pondera,

Eu via a morte, em forma de quimera,

Como um anjo de dor, vago e indeciso.

E murmurei: - “Ó morte, eu bem quisera

Que me desses no nada um paraíso!...

Por que, anjo na dor, se faz preciso

Da tua espada que nos dilacera?”

E ela disse: - “Sou a própria vida errante,

Vida renovadora e triunfante

Que tudo envolve em luz resplandecente,

Para que eu leve a alma à glória eleita

De ser pura e sublime, alva e perfeita,

É preciso lutar eternamente!”

VOZES  DO  CONSOLADOR

Cruz E Souza

O vós que andais à espera da ventura,

O coração cruciado de amargores,

Aluviões de peitos sofredores

Sobre a Terra, na estrada negra e dura

Tolerai vosso dia de tortura,

Pois nos cadinhos purificadores

Dos caminhos da penas e das dores,

A fé de todo o espírito se apura!...

Chorai na vossa senda de esperança,

Na ânsia de amor, de paz e de bonança,

Entre os sonhos das noites dolorosas.

Chorai que as vossas lágrimas divinas

São clarões de alvoradas peregrinas,

Estrelando as estradas tenebrosas.

FIM