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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

História de Maricota-Francisco Cândido Xavier

 

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História de Maricota

Autor: Casimiro Cunha - Psicografia Chico Xavier

I - MARICOTA SERELEPE

Maricota Serelepe
Era menina travessa...
Não havia disciplina
Que lhe dobrasse a cabeça.
Gostava de más respostas.
Na escola, em casa, nas ruas,
Vivia desordenada
A fazer sempre das suas.
Em vão, ganhava conselhos
Dos amigos para o bem.
Maricota Serelepe
Não atendia a ninguém.
Não era apenas sapeca:
Fugia a qualquer dever.
Vivia a brutalidade,
Fazia o mal por prazer.

II - MALCRIADA

A mamãe aconselhava:
- Minha filha, veja lá!
Céu castiga a menina
Que se faz grosseira e má.
A pequena respondia:
- A senhora nada sabe.
Concluindo num cochicho:
- Gente velha que se acabe.
A professora também
Lhe falava, com carinho:
- Maricota, minha filha,
Não saia do bom caminho!
A aluna desrespeitosa
Dizia, cabeça tonta:
- O que eu fizer, professora,
Não será de sua conta...

III - INDISCIPLINADA

Aos onze anos bem-feitos,
Agindo e vivendo às cegas,
A menina endiabrada
Era o terror dos colegas.
Desprezava os bons avisos.
Por mais se lhe castigasse,
Resistia às punições,
Perturbando toda a classe.
Rasgava livros, cadernos,
Esvaziava tinteiros,
Lançando borrões escuros
À roupa dos companheiros.
Tanto fez, tanto saltou
A endiabrada menina,
Que foi expulsa, mais tarde,
Em favor da disciplina.

IV - VADIA

Desde então, ficou sabendo
A vadiagem de cor;
Sem conselhos e sem livros,
Ficou pior, bem pior ....
Dizia, à mamãe bondosa,
Que prosseguia a estudar,
Mas punha-se, em plena rua,
A mentir e perturbar.
Não lhe chegavam agora
As horas grandes do dia.
Depois de fechada a noite,
A endiabrada fugia...
Aprendeu na malandragem
O furto, o assovio, a vaia;
Em breve tempo, encontrou
Meninos de sua laia.

V - PREGUIÇOSA

Escapulindo ao trabalho,
Expulsa dos bens da escola,
Fazia-se pobrezinha,
Saindo a pedir esmola.
Enganava os transeuntes,
Prendendo-lhes a atenção;
Xingava o trabalho sério
E tinha horror ao sabão.
Como o pássaro ocioso,
Que a todo dia se atrasa,
Maricota Serelepe
Raramente vinha a casa.
A mãe bondosa rogava
Mais cautela, mais juízo,
Mas a menina exclamava:
- De conselhos não preciso!

VI - MALDOSA

Atacava os cães amigos
A vozerio e pancadas;
Tratava todo gatinho
A brasa viva ou pedradas.
Se avistava a palha seca
Da casa dos passarinhos,
Não hesitava um minuto:
Vibrava golpes nos ninhos.
Matava filhotes tenros
Com grosseria sem-nome;
Prendia as aves canoras,
Exterminando-as à fome.
Se passava no terreiro,
A galinhada fugia,
Sabendo que Maricota
Vibrava pancadaria.

VII - DESVIADA

De rua em rua, a esconder-se,
A menina, a passo curto,
Era um demônio pequeno,
Exercitado no furto.
Varando portas estreitas,
Pulando grandes janelas,
Sabia correr dos guardas
E burlar as sentinelas.
Espreitava nas quitandas
O instante exato das vendas,
Para assaltar os meninos
Carregados de encomendas.
Fosse qual fosse o momento,
Horas claras ou sombrias,
Roubava doces, brinquedos,
De lojas e padarias.

VIII - MORTA

Um dia, furtando jóias,
Maricota teve a mão,
Que se agitava com pressa,
Mordida de escorpião.
Era o castigo afinal,
À maldade, à rebeldia;
Maricota Serelepe
Caiu em breve agonia.
Pilhada por delinqüente,
A menina envenenada
Foi conduzida ao socorro,
Deprimida, envergonhada.
Não lhe valeu, todavia,
O tratamento mais forte...
Findo o dia doloroso,
Em ânsias, rendeu-se à morte.

IX - AFLITA

Distante do corpo frio,
Maricota, sem repouso,
Notou que a morte era um anjo
De olhar terno e carinhoso...
Ajoelhou-se a coitada,
Chorou e pediu assim:
— Mensageiro da Bondade,
Compadece-te de mim!...
— Minha filha — disse ele —,
Desejava auxiliar-te,
Mas, há monstros que te buscam,
Chegando de toda a parte.
Depois de um minuto longo,
Afirmou, cheio de dor:
— Ah! filha, repara em torno,
Pede o perdão do Senhor.

X - CASTIGADA

Maricota não mais viu
A luz do emissário santo;
Olhando em redor gritava,
Tomada de enorme espanto.
Buscava correr em vão...
Oh! não, não queria ouvi-los!
Eram serpentes, dragões,
Lagartos e crocodilos.
Os monstros, porém, chegavam...
Um deles, grande inimigo,
Disse a ela: — "Maricota,
Agora estamos contigo.
Somos filhos da maldade
— Prosseguiu forte e iracundo -,
Do furto e da vadiagem
Que procuravas no mundo".

XI - ATORMENTADA

- Deixem-me, monstros! - pedia
A Pobrezinha, a chorar;
Mas os lagartos e as cobras
Puseram-se a gargalhar.
- Deixá-la? - disse o maior -
Teu pedido não nos vence,
Tua vida, Maricota,
Desde muito, nos pertence.
Ajudamos-te a roubar,
A vadiar, a fingir...
Agora, és nossa, bem nossa,
Não podes escapulir.
- Oh! que horror! - disse a infeliz.
Ninguém para consolá-la!...
Pôs-se, lívida, a correr
E os monstros a acompanhá-la...

XII - SUPLICANTE

Longos dias, longas noites,
Maricota, em aflição,
Atravessou negros vales,
Gritando e chorando em vão.
Precipitou-se em abismos,
Sem esperança e sem paz,
Clamava, seguindo à frente,
E os monstros seguindo atrás...
Sentiu sede, sentiu fome,
Na jornada em correria...
Quanto tempo a padecer?
Maricota não sabia...
Depois de muita oração,
Na angústia do cativeiro,
Jesus, o Divino Amigo,
Enviou-lhe um mensageiro.

XIII - ANSIOSA

Tão logo veio o emissário
De socorro e salvação,
Os monstros, espavoridos,
Mudaram de direção.
A menina, arrependida,
Ajoelhou-se, entre ais,
E exclamou: Anjo Divino,
Socorro! não posso mais!...
Tenho chorado e sofrido,
Atormentada de dor.
Por piedade! Salvai-me!
Dai-me o Céu do Deus de Amor!...
Fitando, de olhar dorido,
O azul e estrelado véu,
Suplicava compungida:
- Dai-me a luz da paz do Céu!...

XIV - AMPARADA

O Anjo amoroso afagou-a,
Dizendo com caridade:
- Em nome da Providência,
Devolvo- te a liberdade.
Mas, ouve, minha menina:
Se queres luz, agasalho,
Não podes entrar no Céu,
Sem a bênção do trabalho.
Viveste pela maldade,
Sem respeito, sem carinho,
Não ouviste os bons conselhos,
Fugiste do bom caminho.
Aceitas a corrigenda
Do Pai bondoso e perfeito?
Maricota, ajoelhada,
Em pranto, exclamou: Aceito!

XV - CORRIGIDA

Foi então que apareceu,
De feia e enorme estatura,
Um zelador de crianças:
O Gigante Mão Segura.
O mensageiro do Cristo
Explicou-lhe: Esta menina
Necessita recolher-se
Aos campos de disciplina.
Até que se regenere,
Dê-lhe recursos de emenda.
Praticou muita maldade,
Precisa de corrigenda.
Nesse instante, Maricota
Foi levada, em aflição,
Para um campo escuro e triste
De serviço e de prisão.

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: História de Maricota. Ditado pelo Espírito Casimiro Cunha. FEB - Federação Espírita Brasileira.

FIM