Novo Mundo
Chico Xavier
Emmanuel
Novo Mundo
Leitor Amigo:
De início, notificamos que este livro é formado por nós, com a mediunidade de Francisco Cândido Xavier, e se destinando aos nossos estudos e pesquisas mútuas.
-o-
Se alguém dirigir uma indagação sobre o Novo Mundo de hoje, que poderíamos responder?
Dizemos isso em consideração a cada viajor do caminho evolutivo, que fará a resposta com o que sabe e silenciará ou discutirá quanto ao que não aprendeu.
-o-
Que diremos das minudências da intercomunicação entre as almas e os mundos;
Das conexões magnéticas entre eles;
Das agregações e desagregações atômicas;
Da saúde física e mora dos monopólios celulares;
Dos ensinamentos iniciantes da tecnologia;
Do fenômeno das guerras;
Das nossas dificuldades de relacionamento;
Dos desafios da Natureza;
Das revelações da matéria cósmica;
Dos poderes da luz;
Da ciência do bem e dos desequilíbrios do mal;
Da perenidade do tempo?
Estaremos respondendo razoavelmente, anotando o que sabemos e respeitaremos a todos os companheiros que se contentem com a ótica de que se servem para a contemplação da Vida Universal.
Amigo, este livro nada tem a ver com as nossas presunções particulares.
Não é nosso. É um reflexo da nossa sede de conhecimento; sede que nos atinge a todos na Terra na viagem para a nossa integração com Jesus; o nosso Divino Mestre, na Vida Espiritual.
Emmanuel
Uberaba, 20 de abril de 1991.
(1ª. Edição – Agosto 1991 – Instituto Divulgação Editora André Luiz – IDEAL).
A Figura de Comunicação de Francisco Cândido Xavier
Arthur da Távola
Independentemente de qualquer posição pessoal, crença ou convicção, a figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier percorre décadas da vida brasileira operando um fenômeno (refiro-me à comunicação terrena mesmo) de validade única, peculiar, originalíssima. Não vou, portanto, por falta de autoridade para tal, analisa-lo do ângulo religioso e, sim, as relações de sua figura de comunicação com o público.
Com todos os significantes necessários a já ter desaparecido ou ter-se isolado como m fenômeno passageiro, a figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier, no entanto, ganha um significado profundo, duradouro, acima e além de paixões religiosas, doutrinas cientificas ou interpretações metafísicas.
A inexistência de um tipo físico favorecedor, funciona como outro curioso paradoxo a emergir da figura de comunicação de Chico Xavier.
Aquele homem de fala mansa, peruca, acentuado estrabismo, pessoa de humildade e tolerância, não configura o tipo físico idealizado do líder religioso, do chefe de seita, do místico impressionante.
A clássica barba dos místicos, ou a cabeleira descuidada, ou o olhar penetrante e agudo dos líderes, inexistem no visual de Chico Xavier.
Acrescente-se a inexistência, em seu modo de vestir, de qualquer originalidade ou definição de estilo próprio, ainda que contestador dos estilos formais e burgueses.
Não tem, portanto, Chico Xavier, nos aspectos externos e formais de sua figura de comunicação, nenhum dos elementos habitualmente consagrados como funcionais, ou impressionantes dos aspectos externos do grande público, elementos de comunicação incorporados consciente ou inconscientemente por figuras importantes nas religiões.
Até a figura do Papa, líder de uma comunidade religiosa, é envolta em pompa e festa, estratégia visual destinada à maior pregnância de sua mensagem e à definição de sua posição como símbolo.
Nem mesmo a mais decidida modéstia e humildade pessoal de vários papas são suficientes para que a figura papal se desvista da pompa e simbologia relativas ao reinado que representa.
Até nas religiões orientais, menos pomposas, as figuras líderes são cercadas da visão carismática do líder.
Francisco Cândido Xavier, porém, representa uma espécie de antítese vitoriosa da figura carismática.
Não tem, do ponto de vista externo ou visual, nenhum elemento característico.
Até ao contrário.
Pessoalmente, é anticarisma.
Funciona como símbolo de negação de qualquer pompa ou formalidade, um retorno talvez à pureza primitiva dos movimentos religiosos.
E, no entanto, emerge da figura dele uma das mais poderosas forças de identificação da vida brasileira.
Ele é uma espécie de líder desvalido dos desvalidos, dos carentes, dos sofredores, dos não onipotentes, dos despretensiosos, dos modestos, dos dispostos a perder para ganhar.
Curiosamente, tal posição é conquistada naturalmente e sem qualquer traço político direto de tomada de posição ao lado dos fracos, num século em que a revolução social aparece como a tônica e como a grande aglutinadora dos movimentos humanos, inclusive os religiosos.
Sem qualquer formulação política, sem qualquer mensagem diretamente relacionada com a exploração do homem, sem qualquer revolta direta e institucionalizada contra a miséria ou a injustiça, Francisco Cândido Xavier emerge com a força do perdão, da tolerância, da fraternidade real, da fraqueza forte da fé, da humildade e do despojamento erigidos como regra de vida, como trabalho efetivo da caridade; da não violência em qualquer de suas manifestações, mesmo as disfarçadas em poder, glória, sincretismo, hermetismo, iniciação, poder temporal ou promessa de Vida Eterna.
A figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier emerge, portanto, de uma relação profunda e misteriosa com um certo modo de sentir do homem brasileiro, relação esta ainda insuficientemente estudada ou conhecida até mesmo pelos que a vivem, comandam ou exercem.
Até mesmo para ele, Francisco, deve haver muita coisa envolta em mistério, um mistério que os seguidores dele tenta definir e enche-se de explicações científicas, religiosas, ou religiosizantes, psicólogas, parapsicológicas ou parapsicologizantes.
Para tal contribui, além do aspecto misterioso da psicografia e da relação com os que morreram, a igualmente misteriosa aura de paz e pacificação que domina os que com ele se relacionam pessoalmente ou via meios de comunicação, na relação cuidada e cautelosa, equilibrada e pouco freqüente por ele mantida com a Televisão, na qual aparece muito pouco, uma vez por ano no máximo e sempre para grandes públicos.
Além da aura de paz e pacificação que parte dele, há outro elemento poderoso a explicar o fascínio e a durabilidade da impressionante figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier: a grande seriedade pessoal do médium, a dedicação integral de sua vida aos que sofrem e o desinteresse material absoluto.
A canalização de todo o dinheiro levantado em direitos autorais para as variadíssimas atividades assistenciais espíritas dá ao Chico Xavier uma autoridade moral – tanto maior porque não reivindicada por ele – que o coloca entre os grandes líderes religiosos do nosso tempo.
Quem se aproximar da atividade real de assistência material e espiritual da comunidade espiritualista brasileira, verificará que ela é íntegra e heróica, tal e qual o que há e sempre houve de melhor em assistência de religiões como a Católica e Protestante (entre nós), prodígios de dedicação, silêncio e humildade que justificam as vidas dos que dela participam.
SÍNTESE FINAL:
A integridade pessoal;
A íntima relação de seus seguidores;
A ausência completa de significantes externos;
O contato com o mistério;
A ausência de qualquer forma de violência em sua figura e pregação;
A nenhuma subordinação a hierarquias aprisionantes;
A discrição pessoal;
A nenhuma procura de poder político, temporal ou econômico para o desempenho da própria missão;
As forças originais da organização interna do seu movimento, sem personalismos ou autoritarismos – tudo isso geral uma figura de comunicação de alta força, mistério, empatia e grandeza moral, principalmente se considerarmos que enfrentou e ultrapassou tempos diferentes do atual (no qual o ecumenismo felizmente impôs-se).
Antes, manifestações como as dele eram removidas como bruxaria ou perigosas, ou bárbaras ou alucinantes quaisquer manifestações místico-religiosas diferentes ou discrepantes da religião da classe dominante.
(O Globo, 26.05.1980 – Transcrito do Jornal “Lavoura e Comércio” de Uberaba, Minas, do dia 04 de junho de 1980).
A Palavra de Chico Xavier
Carlos A Baccelli
De nosso arquivo Xavieriano, damos agora à publicidade uma entrevista concedida há tempos pelo médium e que, acreditamos, permaneceu inédita, até hoje.
Assim o fazemos, por acreditar que a palavra de Chico Xavier, sempre inspirada por Emmanuel, projeta luz sobre qualquer assunto, mesmo quando este assunto tenha, aparentemente, perdido a sua atualidade.
Sem maiores delongas, passemos à referida entrevista, esclarecendo, todavia, que não nos foi possível identificar o seu autor e nem tampouco a data de sua realização.
- Que é mediunidade, no significado real de sua essência?
- Mediunidade, na essência, é afinidade, é sintonia, estabelecendo a possibilidade do intercâmbio espiritual entre as criaturas, que se identifiquem na mesma faixa de emoção e de pensamento.
- Como alcançar bom aprimoramento de um potencial mediúnico?
- Reflitamos no assunto, do ponto de vista da mediunidade em trabalho edificante.
Que se aperfeiçoe o violino e o artista encontrará nele as mais amplas facilidades de expressão.
Sem cooperador habilitado, a tarefa surge deficiente.
A mediunidade, em si, depende do médium.
- Diga-nos o que deve fazer, dentro de suas capacidades, um médium, a fim de poder ser completo e útil para o Plano Espiritual?
- Devotamento ao bem do próximo, sem a preocupação de vantagens pessoais, eis o primeiro requisito para que o medianeiro se torne sempre mais útil ao Plano Espiritual.
Em seguida, quanto mais o médium se aprimore, através do estudo e do dever nobremente cumprido, mais valioso se torna para a execução de tarefas com os Instrutores da Vida Maior.
- Existe a tentação? Que é? Qual a sua causa?
- A tentação, no fundo, é a projeção das tendências infelizes que ainda trazemos.
Semelhantes projeções, em se exteriorizando em forma de pensamentos materializados, atraem sobre nós aquelas mentes, encarnadas ou desencarnadas, que se nos harmonizam com o modo de ser.
Entendendo que a tentação nasce de nós, recordemos que um pacote de ouro não tenta um coelho, induzindo, muitas vezes, um homem às piores sugestões, enquanto que um pé de couve deixa um homem impassível, levando um coelho ao impulso da aproximação indébita.
- Por que deve o homem manter-se no “véu do esquecimento”, em relação a sua Vida Espiritual?
- De modo geral, a reencarnação objetiva a extirpação do ódio e da inveja, do ressentimento e do ciúme, dos impulsos à discórdia e à delinqüência, que nos implantaram na alma, depois de lastimáveis desastres morais.
Semelhantes causas de sofrimento persistiriam conosco, por longo tempo, não fosse o olvido terapêutico que nos é administrado durante a reencarnação.
Nesse sentido, observemos o fato de que, a ablação de um tumor no corpo físico, reclama a anestesia.
O esquecimento temporário na reencarnação é o processo de socorro pelo qual a Misericórdia Divina se digna determinar a sedação das feridas mentais de que porventura sejamos portadores, para o tratamento e a extinção delas.
- Que é que pode ser mais prejudicial a um médium?
- O egoísmo que se fantasia de vaidade e orgulho, quando o medianeiro procura irrefletidamente antepor-se aos Mentores Espirituais que se valem dele. Ou o mesmo egoísmo, quando se veste de ociosidade ou de escrúpulos negativos, para fugir à prestação de serviço ao próximo.
- Qual a razão de algumas pessoas possuírem dons mediúnicos na Terra, desde o berço, enquanto outras, após muito trabalho é que conseguem conquistar alguns desses valores?
- Quando se trata de mediunidade em ação na cultura ou no progresso espiritual, a bagagem de recursos do medianeiro emerge das suas próprias aquisições de espírito, efetuada em existências pretéritas, outorgando-lhe a possibilidade de colaborar com mais eficiência ao lado de quantos pugnam, no Além, pelo aperfeiçoamento e felicidade da comunidade humana.
- O jovem de hoje é mais arrojado no rumo de suas idéias, indaga mais, procura aprofundar-se na essência das coisas.
Percebe, então, a desnecessidade de uma série de dogmas existentes no mundo.
Por que lhe são bloqueadas a busca e a tentativa de uma solução melhor?
- Tanto os mais jovens quanto os mais amadurecidos na experiência humana, que procuram hoje soluções construtivas para os problemas terrestres, encontrarão caminho para isso, por mais que as sombras da ignorância ou da resistência negativas lhes tentem obstruir a passagem.
- Podemos considerar válidas as palavras “Os inocentes pagam pelos culpados?”.
É-nos possível um desenvolvimento sobre o tema?
- Ninguém resgata por alguém essa ou aquela culpa diante da lei de causa e efeito.
Ouvimos de muitos companheiros no mundo a afirmação de que os descendentes pagam pelos erros dos antepassados.
Isso, porém, não corresponde à realidade.
E, em muitos casos, os descendentes são os próprios antepassados em nova encarnação, no mesmo tronco genealógico, para resgate de faltas em que se debitaram no pretérito.
- Como encarar as diversas demonstrações mediúnicas existentes e praticadas fora da Doutrina Espírita?
- Os fenômenos mediúnicos existiram em todos os tempos.
E em todos os distritos da atividade humana, continuam a existir.
A Doutrina Espírita é o Cristianismo Redivivo esclarecendo mediunidade e médiuns, para que as ocorrências mediúnicas edifiquem elevação e proveito em auxílio da Humanidade.
- Qual o verdadeiro caminho que nos levará em rumo a Deus?
- A regra áurea há séculos, nos traça o roteiro:
“Faze aos outros o que deseja que te façam”.
E o Cristo lança mais luz sobre a diretriz de todos os tempos:
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
- Existem valores reais nos argumentos que nos chegam da parte da Parapsicologia?
- A Parapsicologia, sempre que age desapaixonadamente, é um instrumento respeitável da Ciência na investigação da Verdade.
(A Flama Espírita – Uberaba, Minas – 20 de maio de 1989).
A Verdadeira História de Chico Xavier
Enéias Tavares dos Santos
(Destacamos este trecho pela digna apresentação do autor na Literatura do Brasil).
Era esta a vez primeira
Que a Chico aparecia
Emmanuel, grande Espírito,
Que tanta luz irradia,
E que continua sendo
Desse grande médium, guia.
Ele é um homem que viveu
Numa época atrasada;
Vendo que sua missão
Não estava terminada,
Voltou assim para a Terra,
Prosseguir sua jornada.
Esse grandioso espírito
A luz a Chico outorgou
E o primeiro trabalho
O médium psicografou:
Parnaso de Além-Túmulo-
Foi como o intitulou.
Nesse livro se encontram
Grandes nomes registrados,
Obras de muitos poetas
Que estão desencarnados –
Trovas, sonetos, poemas,
Que nos deixam deslumbrados!
Lá desfilam grandes vultos,
De fama até mundial;
Alberico Lobo, Abel Gomes
E Amadeu Amaral, José de Alencar e outros –
Uma obra colossal.
Hoje Chico é o maior
No setor da mediunidade
Vive lá em Uberaba,
Aquela grande cidade,
Com uma obra grandiosa
Praticando a caridade.
Assim, vai realizando
A sua grande missão:
Lá, oitocentas crianças
E adultos também vão,
Receber seus alimentos
Nos fundos de um galpão.
Pelo bom doutor Weaker
Ele é assessorado,
E por Dona Dalva Borges,
Que vive sempre ao seu lado –
Assim, um trabalho insano
Vai sendo realizado!
E, se acaso uma pergunta
A Francisco é formulada,
Concernente às suas obras,
Responde com voz pausada:
-Eles são que fazem tudo –
Eu é que não faço nada!
Seus livros realizados
Um grande progresso tem,
A ponte já foi formada
Entre este mundo e o Além –
E Francisco Xavier
É quem a sustentando vem.
Vai irradiando luz
Para toda humanidade
E, na cidade onde vive,
É sempre a mesma bondade,
Vivendo modestamente
Tranqüilo e na humildade.
Com sua voz sempre calma
E seu grande coração,
Ele vem trazendo a todos,
Com calma e dedicação,
O que falta a este mundo:
A paz e a compreensão.
Enfrentamos muitas lutas
Na mesma vida de aquém –
É bom que as vençamos todas,
Implorando sempre o bem!
Aquele que assim procede
Será feliz no Além!
Biografia do Autor Enéias Tavares dos Santos
Nasceu em Marechal Deodoro – Al, aos 22 de novembro de 1931, filho de agricultores, teve instrução primária incompleta.
Adulto, estudou música, desenho e pintura, não complementando os estudos sempre por questões financeiras.
Aprendeu xilogravura sozinho chegando a fazer uma “Via Sacra” para a Galeria de Arte de Aracaju – SE.
Em 1947, na Bahia, travou contato com a LITERATURA DE CORDEL; em a953, ao voltar para seu Estado, fez-se vendedor de folhetos e, neste mesmo ano, versou sua primeira obra, “O Cavalo-Ventania”, seguindo-se depois o “Cangaceiro Isaías” (sem maior êxito), “O Pai Traidor”, “A Carta de Satanás a Roberto Carlos” (de repercussão nacional) e muitos outros.
Destaca-se especialmente nos temas humorísticos. Até 1973, foi servente do Conservatório de Música de Aracaju.
Atualmente, é funcionário do Museu Théo Brandão, de Maceió-AL.
Chico fala dos seus sessenta anos de Mediunidade
Carlos A Baccelli
Dia 08 de julho próximo, o nosso estimado Chico Xavier estará completando sessenta anos de mediunidade!
Sabemos que foi em 1927 o início da tarefa abençoada que cumpre na presente existência.
As lutas foram e continuam sendo enormes, todavia, como fiel discípulo do Cristo, em silêncio ele prossegue servindo...
O seu trabalho chega a ser quase inacreditável! Sim, porque, em se tratando de uma só pessoa, com as limitações próprias de todo ser humano, não sabemos como consegue superar-se e produzir tanto, em que pese a presença constante dos Benfeitores Espirituais em sua vida, entre os quais se destaca a figura extraordinária de Emmanuel.
Os livros que lhes nasceram das mãos aproximam-se da marca dos trezentos volumes, em edições que se esgotam sucessivamente.
As suas seis décadas consagradas ao labor mediúnico, com Jesus e Kardec, em verdade representam uma taxa de tempo muito mais amplo, principalmente se levarmos em conta apenas as três ou quatro horas de repouso diário, no refazimento das próprias energias.
Desnecessário que nos alonguemos aqui em outras considerações.
Na noite do dia 25 de março fomos visitá-lo na intimidade de seu lar.
Pedimos-lhe, então, que nos concedesse uma rápida entrevista falando sobre os seus sessenta anos de mediunidade, já que não gostaríamos de cansá-lo com perguntas que, certamente, lhe foram feitas inúmeras vezes, ao longo do tempo.
Em nome da nossa amizade, Chico humildemente aquiesceu, e aqui está o resultado do trabalho que apresentamos agora aos nossos companheiros de ideal Espírita, rogando ao Senhor da Vida que o envolva em nossas vibrações de carinho e profunda gratidão.
- Chico como você se sente ao estar completando, no próximo dia 08 de julho, sessenta anos de abençoada mediunidade?
- Baccelli; aos sessenta janeiros de mediunidade, com serviço constante, noto que o meu instrumento físico – no caso, o meu próprio corpo – registra desgaste natural e compreensível, após seis décadas de ação.
Digo isto, porque nessa cota de tempo está incluído o período de trinta e cinco anos em que servi na condição de funcionário do Ministério da Agricultura, hoje aposentado.
Entretanto, pode crer que, do ponto de vista espiritual, a minha alegria com a mediunidade não sofreu qualquer alteração.
O corpo terá motivos para não se mostrar tão apto como antigamente para as minhas atividades normais, no entanto, quanto mais se me desgasta o veículo físico, mas vivo é o meu entusiasmo coma s tarefas que me foram confiadas.
Neste sentido, para que o nosso entendimento não se afaste do bom-humor a que nos habituamos, peço permissão para contar a você que uma de minhas irmãs, residente em Pedro Leopoldo, perguntando-me numa carta do mês passado, como eu me sentia co completar sessenta anos de mediunidade ativa e ininterrupta, respondi-lhe que me reconheço à maneira de um trabalhador do campo, preparando-me para o regresso ao lar, depois de um longo dia de trabalho.
- O que essa convivência estreita com os Espíritos lhe tem ensinado de mais importante?
- Creio que a matéria mais importante que recolhi da convivência diária com os Amigos Espirituais, durante sessenta anos, é o que julgo seja o meu relacionamento com os meus semelhantes.
Tendo saído de um curso primário que não me proporcionava naturalmente qualquer diretriz psicológica para compreender as outras pessoas, o tato e a caridade que os Espíritos Amigos me ensinaram para guardar o respeito que devo ao próximo e que preciso manter para minha paz íntima na essência foram e ainda são os melhores recursos que recebi da convivência com eles para me relacionar com os irmãos da caminhada humana. Isso porque me cabe aceita-los como são, dosando a verdade em qualquer diálogo que se faça necessário, sem feri-los e sem prejudicá-los.
Dizem os Amigos espirituais que as atitudes de apreço e tolerância construtiva para com as criaturas, sejam como sejam, nos fazem ver que precisamos da cooperação delas, em nosso próprio benefício.
- Como entender o interessante fenômeno da multidão que, semanalmente, o procura nas atividades do Grupo Espírita da Prece?
- Guardo a certeza de que os amigos e simpatizantes da Doutrina Espírita que nos procuram em nossas reuniões dos sábados, no Grupo espírita da Prece, são movidos pelo espírito de fraternidade com que se propõem a incentivar-nos os bons propósitos do trabalho que a própria Doutrina nos faculta.
- Ante as lutas que surgiram ao longo do tempo, alguma vez chegou a pensar em viver a sua própria vida, deixando a mediunidade?
- No princípio das tarefas, estranhei a disciplina a que devia submeter-me.
Fiquei triste ao imaginar que eu era uma pessoa rebelde e, nesse estado de quase depressão, certa feita me vi fora do corpo, observando um burro teimoso puxando uma carroça que transportava muitos documentos.
Notei que o animal, embora trabalhando, ficava com inveja dos companheiros da sua espécie que corriam livremente no pasto, mas vi igualmente que muitos deles entravam em conflitos, dos quais se retiravam com pisadas sanguinolentas.
O burro começou a refletir que a vida livre não era tão desejada como supusera, de começo.
A viagem da carroça seguia regularmente e ele se reconheceu amparado por diversas pessoas que lhe ofereciam alfafa e água potável.
Finda a visão-ensinamento, coloquei-me na posição do animal e compreendi que para mim era muito melhor estar sob freios disciplinares do que ser livre no pasto da vida, para escoicear companheiros ou ser por eles escoiceado.
- Como interpretar a fase atual de sua tarefa mediúnica, na recepção de mensagens que os desencarnados endereçam aos familiares na Terra?
- Quando recebo determinada mensagem dirigida a familiares que se reconfortam, sinto realmente uma grande alegria.
- O que Chico Xavier pensa de Chico Xavier?
- À medida que os Benfeitores espirituais nos transmitem lições de esperança e de aperfeiçoamento, assinalo a distância em que me encontro do médium evangelizado que eu deveria ser.
A luta se estabelece em minha vida interior, qual se eu me pusesse a rixar comigo mesmo.
Nessa luta prossigo, sob a paciência e a compaixão dos Benfeitores da Vida Maior que nos orientam caridosamente, mas, embora não sendo o Chico Xavier que preciso ser, continuo a trabalhar com fé em Deus, reconhecendo as minhas imperfeições e esperando o dia em que serei o Chico Xavier que possa corresponder à confiança dos nossos Amigos Espirituais e dos nossos companheiros da Terra.
- Você tem saudades dos primeiros anos da mediunidade, quando então tudo começava?
- Tenho saudades dos companheiros e das irmãs com quem me iniciei na mediunidade, atualmente quase todos na Vida Espiritual, no entanto, essas saudades que ensinam a valorizar os companheiros e as irmãs que a Divina Providência ma concedeu para trabalhar aos quais a servir nos dias de hoje, irmãos esses aos quais, no presente, devo o mesmo amor e o mesmo reconhecimento que me unem a memória às almas queridas que tanto me auxiliaram no passado.
- Existe algum episódio de suas reminiscências que, particularmente, gostaria de lembrar agora aos companheiros de Doutrina que o amam tanto?
- Lembro-me de um acontecimento que considero por vitória da fé.
Em 1928, as nossas necessidades de recursos materiais eram prementes e não víamos como solucionar o problema senão esperando pela Misericórdia de Deus.
A situação era essa, quando, numa noite de preces, uma jovem tuberculosa nos procurou, rogando auxílio.
Estava abatida e ofegante.
Falou-nos das hemoptises que já sofrera.
Pedia uma orientação do Dr. Bezerra de Menezes que, nesse tempo, já nos estendia a caridade da sua atenção.
Dr. Bezerra veio até nós e recomendou à moça diversas providências que lhe auxiliariam a cura.
E, terminadas as instruções dele, disse, escrevendo por nossas mãos: “-Filha, procure fazer o que lhe peço tomando a presente orientação por trinta dias seguidos”.
A jovem chorou e disse que não dispunha de dinheiro algum para atender aos conselhos recebidos.
Por outro lado, muito me comovi porque eu também não possuía os recursos necessários.
Disse a ela que tivesse confiança porque os recursos apareceriam.
Depois de um mês, a mesma jovem voltou às nossas preces; plenamente revigorada!
Perdera o abatimento,
Trazia a face rosada.
Fui impelido a perguntar-lhe se havia obtido os recursos que nem ela nem eu possuíamos, trinta dias antes.
Sorrindo, ela me disse: “- Chico, o Dr. Bezerra me aconselhou a usar as instruções dele por trinta dias”.
Não tendo dinheiro, cortei o papel da orientação em trinta pedacinhos e, cada manhã, eu fazia uma prece, pedindo o amparo de Jesus, e engolia um dos pedacinhos com água de nossa casa.
Ao fim de trinta dias, bebi a receita do Dr. Bezerra; e o próprio médico que me tratou, a princípio, já declarou que estou perfeitamente restabelecida...””
- Como vê os rumos da Doutrina Espírita no Brasil, quando observamos tantos conflitos no movimento colocando em risco a paz do grupo?
- Creio que devemos efetuar campanhas de silêncio contra as chamadas “fofocas”, cultivando orações e pensamentos caridosos e otimistas, em favor da nossa união e da nossa paz geral.
Esta minha lembrança simples pode parecer ingênua, mas, sempre que me abstive do cultivo de “fofocas” e sempre que recorri à prece, consegui paz e entendimento par ao meu coração.
- Chico, no dia 02 de abril você completará setenta e sete anos de vida no corpo físico. Você se considera realizado e feliz?
- Sinto-me profundamente feliz por todas as bênçãos que Jesus e os Amigos Espirituais me concederam, mas, sentir-me realizado, segundo acredito, é um projeto para daqui a milênios!
Estou desenhado pela Espiritualidade, mas extremamente longe da imagem que eles projetaram para meus apuros e necessidades de automelhoria.
- Qual é a sua mensagem para os médiuns que estão dando agora os primeiros passos?
- Quando Emmanuel me apareceu pela primeira vez, em fins de 1931, dizendo que pretendia auxiliar-me no serviço mediúnico, indaguei a ele:
O que acha o senhor que devo fazer para ser-lhe útil, já que nada tenho de mim para receber o amparo do senhor?
Ele respondeu:
Começaremos com três recursos, que não são inacessíveis para você.
Então voltei a perguntar:
Quais são esses recursos?
Muito sério, mas benevolente, ele me respondeu:
Disciplina, disciplina e disciplina.
(Jornal “A Flama Espírita” – Uberaba, Minas, 20 de julho de 1987).
Chico Xavier e Bárbara Ivanova
Carlos A Baccelli
No último dia 1o de setembro, Uberaba espírita viveu uma noite inesquecível.
Juntos, na sede do Centro Espírita Uberabense, estiveram Chico Xavier e Bárbara Mikailovna Ivanova, a notável parapsicóloga soviética.
Durante mais de duas horas, concluindo a programação da VI Semana da Mediunidade, promovida pela Aliança Municipal Espírita, que em 20 de agosto completou trinta anos de existência, ouvimos, emocionados, Bárbara Ivanova, uma simpática senhora de setenta e três anos de idade, falar sobre os diversos temas da Parapsicologia e os seus pontos de contato com o Espiritismo.
Superando as suas atuais limitações de saúde, Chico acompanhou com vivo interesse as palavras de Ivanova, a qual não cabia em si de alegria por estar ao lado de “um dos maiores sensitivos de todos os tempos”.
Comentando com ele o seu esforço para comparecer à reunião, dando-nos, uma vez mais, uma lição de grandeza espiritual, Chico respondeu-nos:
-Meu filho, ela percorreu uma distância imensa!...
Veio da Rússia ao Brasil, dizendo que, dentro de sua programação, gostaria de conhecer Chico Xavier.
Ora, eu não poderia ficar em casa, esperando pela visita dela!
Isto seria atribuir a mim uma importância que, na verdade, eu nunca tive!
Dentro dos temas abordados pela nossa visitante, destacamos a reencarnação e, segundo ela, o que mais a impressionou no Brasil: o trabalho mediúnico de desobsessão, a que pôde assistir em São Paulo.
Famosa médium de cura (Ivanova não se diz espírita, explicando que Espiritismo não existe na Rússia), afirmou que não mais realizava esse tipo de atendimento, considerando “ser muito mais importante curar a alma do que o corpo”.
Entretanto, ao término de nossa reunião, pediu para ficar a sós com Chico Xavier e, durante aproximadamente 40 minutos, “transmitiu-lhe energia”.
Em sua última encarnação, Ivanova diz ter sido um mulato brasileiro, daí a sua facilidade com o Português, língua que aprendeu em apenas quatro meses!
Desembaraçada e falando com razoável sotaque russo, ela respondeu a diversas perguntas da platéia, contando que, em Moscou, mora num apartamento de 25 m2 e que há muito tempo não sabe mais a cor da tinta de suas paredes, de tantos são os livros que possui, empilhando uns sobre os outros.
Disse que a Perestroika do Presidente Gorbatchev lhe tem permitido as viagens que faz pelo mundo, divulgando as suas experiências no campo da Parapsicologia – o que antes era praticamente impossível.
Humilde, Bárbara Ivanova esclareceu que tudo o que pudesse dizer-nos já conhecíamos através de Allan Kardec e Chico Xavier, mas que, na Rússia, ela precisava falar de forma bastante simples para ser entendida.
Contou que, no Exterior, o Brasil é considerado um país místico e que os cientistas sabem, desde Zé Arigó, das forças espirituais que aqui se concentram.
Perguntada sobre a Atlântida, respondeu que não somente crê, como tem certeza de que esse Continente tenha existido, porque isto é confirmado pela História.
Sobre os seres “extraterrestres”, além de confessar-se convicta de que existem, apenas não sabendo dizer se vêm de outros planetas ou se do próprio interior da Terra, explicou que um de seus sobrinhos tem se contatado com eles.
Com a Dra. Marlene Rossi Severino Nobre e seu irão, Paulo Rossi Severino, que lançaram em Uberaba o Livro – “A Vida Triunfa” (Uma pesquisa científica sobre as mensagens psicografadas por Chico Xavier), Bárbara igualmente lançou o seu excelente “O Cálice Dourado”, uma coletânea de artigos seus, compilados por Maria Mir (pseudônimo) e Larissa Vilenskaya, traduzido e publicado em apenas três meses pela Editora Aquarina (Rua Luiz coelho, 320 – 5o andar – 01309 – São Paulo- SP).
Apresentando a edição brasileira, escreveu o Dr. Ney Prieto Peres:
“Bárbara reúne muitos títulos culturais, como conhecedora e diplomada em idiomas, falando, além do Russo e do Português, o Espanhol, o Italiano, o Alemão e o Inglês”.
É membro da Sociedade de Geografia e da Sociedade de Filosofia que pertencem à Academia de Ciências da União Soviética.
Recentemente, recebeu o título de membro do Conselho Consultivo da Universidade Internacional Holística de Brasília.
Foi também laureada pela Fundação Suíça de Parapsicologia, pelas suas pesquisas.
Quando aconteceu um rápido intervalo na entrevista com a parapsicóloga, Chico Xavier, solicitando material para escrever, recebeu, homenageando-a, pequeno e belo poema de Maria Dolores, que transcrevemos a seguir:
SAUDAÇÃO
Na Terra – nosso refúgio,
Onde a vida nos renova,
A alegria se comprova,
Mostrando júbilos mil...
Por isso todos trazemos,
Ante a fé que nos aprova,
Para Bárbara Ivanova
A gratidão do Brasil!
Admirável Bárbara Ivanova!
Enquanto muitos parapsicólogos, que se dizem espiritualistas, principalmente ligados à Igreja Católica, tentam explicar o fenômeno, através exclusivamente das forças anímicas, negando, inclusive, os “milagres’ dos santos, ela, oriunda de um país até ontem oficialmente materialista, onde, segundo Joseph Banks Rhine, imperava a “Parapsicologia sem alma”, corre o mundo, anunciando o advento da Nova Era, tentando recuperar o tempo em que, por força das circunstâncias, tivera que silenciar...
Ouvindo-a naquele sábado memorável, fortaleceu-se ainda mais em nós a certeza de que “os tempos são chegados” e que nada conseguirá calar a Voz da Verdade, que já se faz ouvir em toda parte...
(A Flama Espírita – Uberaba, Minas, 22 de setembro de 1990).
Chico Xavier em Entrevista
Carlos A Baccelli
Verificando os nossos arquivos, encontramos uma entrevista concedida pelo nosso Chico ao repórter Nadir Roberto, publicada no “Jornal de Piracicaba”, em 07 de dezembro de 1971.
Cremos que, para a maioria dos nossos confrades, esta entrevista permanece inédita, daí o osso interesse em divulgá-la nas páginas de “A Flama Espírita”.
Sem dúvida, enriquecerá os nossos conhecimentos com as palavras sempre esclarecedoras daquele que se tem mostrado, ao longo do tempo, um incansável servidor de Jesus nas bênçãos do Espiritismo.
Nadir Roberto
-Senhoras e senhores ouvintes e leitores de “Missão Impossível”. Domingo, rumamos para Araras onde procuramos ouvir Francisco Cândido Xavier.
Foi um acontecimento de excepcional importância para o mundo espírita brasileiro. Chico Xavier, figura de maior expressão no campo da psicografia, compareceu à cidade de Araras para participar de uma Tarde de Autógrafos, que se destinou ao lançamento do “Anuário Espírita, no. 9”, isto em português, pois o primeiro “Anuário” escrito em Castelhano foi editado na cidade de Araras, pelo Grupo Espírita “Sayon”.
Este é uma entidade espírita de suma importância, que tem realizado obras de assistência social de grande vulto, como o Albergue Noturno, onde se alimentam quinhentas pessoas por dia e mantém ainda ambulatório dentário, etc.
Francisco Cândido Xavier compareceu em Araras quando o auditório do Grupo Espírita “Sayon” estava literalmente tomado.
Não só o auditório, como todas as dependências dessa entidade.
Grande número de pessoas das mais diferentes cidades ficou do lado de fora aguardando uma oportunidade de, pelo menos, ver o famoso médium.
Com muito esforço, sacrifício e astúcia, conseguimos realizar esta entrevista que, até aqui, se constituiu na mais difícil de toda nossa longa jornada, não por parte de Chico Xavier, que é uma pessoa boa, humilde e um autêntico homem que transmite amor e fraternidade. Mas conseguimos os nossos intento, e eis aqui a entrevista na ocasião em que o cumprimentamos, em nome dos ouvintes da Rádio Difusora e dos leitores do “Jornal de Piracicaba”.
Francisco Cândido Xavier
-Através da Rádio Difusora e do “Jornal de Piracicaba”, nós estamos enviando um abraço fraternal a todos os nossos companheiros da região, pedindo a Deus que nos abençoe e nos dê a todos amparo e recursos suficientes para que as nossas forças estejam ao nível de nossas tarefas.
Sem dúvida, eu não tenho o dom da oratória, como quer o nosso amigo entrevistador, mas deixamos consignado aqui o nosso abraço de fraternidade a todos os amigos ouvintes e leitores.
Nadir Roberto
-O Reverendo Cyrus Dawsey, Pastor da Igreja Metodista de Piracicaba, lhe faz esta pergunta, através do nosso programa:
-Se a reencarnação é tão evidente e de grande importância na vida do homem e do mundo, por que Jesus não deu maior importância ao assunto?
Francisco Cândido Xavier
-Cremos que o Divino Mestre deu importância fundamental à Vida Eterna. Cada existência nossa é naturalmente um passo para a conquista da imortalidade sublimada.
Imortais; somos todos, filhos de Deus, mas a sublimação é naturalmente aquele coroamento necessário que tão só ao nosso burilamento espiritual se pode atribuir.
Muitas vezes, autoridades religiosas atribuem outra interpretação às palavras do Senhor, quando Ele disse a Nicodemos:
-“Necessário vos é nascer de novo”.
Sim, nascer de novo todos os dias, nascer de novo todas as semanas, de ano para ano, de etapa para etapa, mas também de vida em vida, de berço em berço.
Nadir Roberto
-O Bispo Diocesano de Piracicaba, Dom Aniger Francisco de Maria Melilo, solicitou que fizéssemos esta pergunta:
-Como o senhor interpreta a carta de São Paulo aos Hebreus, que diz:
“-Os homens morrem uma só vez, e depois haverá um julgamento”.
(hebreus, Capítulo 9, Versículo 27).
Francisco Cândido Xavier
-Temos interpelado, com a devida reverência, a Benfeitores Espirituais sobre esta passagem da Epístola de Paulo aos Hebreus.
Eles afirmam que o Apóstolo se refere à morte da nossa personalidade inferior.
Nós todos temos conosco um conteúdo psicológico, que representa aquela sedimentação de qualidade primitiva de que nos desfaremos, um dia, através das reencarnações.
Então, realmente, morremos uma só vez, vamos deixar para sempre aquele homem velho a que se referem os nossos filósofos, querendo nos dizer que todos nós precisamos de renovação permanente para alcançar a sublimação na Vida Eterna.
Nadir Roberto
-Gostaríamos que fizesse duas perguntas, uma para o Pastor Cyrus Dawsey e outra para o Bispo Dom Aniger Francisco de Maria Melilo.
Francisco Cândido Xavier
-Sinceramente, com muito respeito ao pastor Cyrus Dawsey e ao estimado Bispo, Dom Aniger Francisco de Maria Melilo, devemos dizer que a nossa veneração por eles é total, porque se encontram na direção de rebanhos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e tão somente a nós competem o respeito e o acatamento à autoridade que o Senhor conferiu a eles, diante da comunidade cristã.
Não temos pergunta alguma, porque seria, de nossa parte, naturalmente, quase que um desrespeito, um desconhecimento da autoridade com que devemos reverenciar, tanto nos Pastores da Comunidade Evangélica, quanto nos Bispos e Arcebispos da Igreja Católica, que consideramos como sendo mãe da civilização do Ocidente.
Cabe a nós ouvi-los, respeita-los, informar o que nos é possível, dentro da nossa pequenez, em se referindo a mim, que me reconheço demasiadamente insignificante para tratar destes assuntos.
Nossos respeitos ao Pastor e ao Bispo, pedindo a ambos, se lhes forem possíveis, me auxiliarem com as bênçãos das suas orações, em meu favor.
Nadir Roberto
-O que acha, Chico Xavier, dos médicos que não acreditam na Espiritualidade.
Alguns neurologistas e psiquiatras acham, que o nosso cérebro é norteado por eletricidade, e que as emoções fracas ou fortes é que determinam o nosso comportamento.
Francisco Cândido Xavier
-São assuntos de Ciência que nós acatamos e que, naturalmente, terão resposta quando tivermos evoluído suficientemente para nos encontrar nas grandes definições da Vida Eterna, tanto a Ciência quanto a Religião.
Cada criatura, cada coletividade tem um fragmento da Verdade, uns mais, outros menos...
Um dia, chegaremos todas à meta; que é o nosso encontro com a Verdade Integral.
Nadir Roberto
-Por que hoje se fala pouco de Zé Arigó?
Qual a diferença do senhor como Zé Arigó, concernente à espiritualidade dotada a cada um?
Francisco Cândido Xavier
-Não posso saber, porque não me sinto digno de consideração alguma e respeito Arigó como sendo um grande medianeiro da Espiritualidade.
Nadir Roberto
Gostaríamos de dizer ao senhor que fazemos esta pergunta com o máximo respeito, para esclarecer certas pessoas mal informadas.
Os principais hospitais psiquiátricos são de origem espírita. Então, a grande pergunta é se o Espiritismo leva à loucura e se a loucura leva ao Espiritismo...
Francisco Cândido Xavier
-Não creio que a loucura leve alguém ao Espiritismo, nem que o Espiritismo leve alguém à loucura.
O desequilíbrio mental pode surgir em qualquer pessoa ou em qualquer grupo social.
Cremos que, em vista de a Psiquiatria ser uma Ciência nova, integrada no quadro da Medicina, que é uma Ciência antiga, naturalmente que os psiquiatras encontraram os espíritas muitos interessados em auxiliar aos irmãos portadores de processos obsessivos.
Mas, graças a Deus, temos hoje, em todos os países, grandes médicos psiquiatras que podem perfeitamente definir as fronteiras entre obsessão e enfermidade mental.
Esse serviço de regeneração da saúde humana e os cristãos, como quaisquer criaturas, quaisquer samaritanos da vontade, podem auxiliar nesse grande empreendimento de socorro aos que sofrem.
(A Flama Espírita – Uberaba, Minas, 19 de novembro de 1988).
Chico Xavier e o Ano Internacional da Criança
Chico Xavier/Emmanuel
Pedimos ao confrade Francisco Cândido Xavier uma declaração sobre o Ano Internacional da Criança.
Eis a mensagem que nos proporcionou:
- Acreditamos que esta legenda é um convite mais acentuado a nós todos que estamos encarnados no Planeta Terrestre, a que abramos os olhos para compreender a condição do Espírito que reinicia ou que inicia os seus passos na viagem da existência física.
Acreditamos que vamos, nós todos, com esta legenda – Ano Internacional da Criança – acordar o coração para o dever que nos cabe junto aos nossos pequeninos, especialmente quanto às mulheres, Às quais foi confiada a chave da vida.
Então, o espírito da maternidade, tão sublimado quanto possível, não do ponto de vista da santificação compulsória, mas de compromissos aos deveres assumidos, imaginemos, por exemplo, determinada mãe, muito jovem, com possibilidades de criar seu filho, com a robustez necessária, que peça os serviços de uma ama para acalentar ou nutrir a criança, subtraindo-se da presença da criança e fugindo ao diálogo com ela.
Não estamos julgando ninguém, mas acreditamos que nós todos, aqueles que nascemos de mães extremamente pobres no mundo material, tivemos o suficiente amor para crescer bendizendo o nome de Deus, e para não perdermos o nosso sentido de fé numa vida melhor, embora estejamos carregando, como sempre, muitas imperfeições.
Então, nossas irmãs de hoje, enriquecidas pela civilização, por patrimônios materiais, se pudessem fazer isto (não temos a menos idéia de desprestigiá-las), achamos que teríamos grandes vantagens em nos ajustar ao espírito de proteção à criança de que nós todos estamos necessitados, para não perder um fruto melhor. Porque Deus determina e cria, mas o homem e a mulher são cooperadores de Deus.
Quando se faz uma referência ao sexo, o confrade Francisco Cândido Xavier nos propiciou outra mensagem, dizendo:
- Acreditamos que o compromisso sexual entre duas pessoas dever ser profundamente respeitado. Uma terceira pessoa em qualquer compromisso sexual é uma dificuldade a superar, porque não podemos esquecer que a lesão sentimental é, talvez, mais importante que uma lesão física. E alguém que prometeu amor a alguém deve se desincumbir deste compromisso, com grandeza de pensamento e sem qualquer insegurança. Não compreendemos a promiscuidade. Mas entendemos perfeitamente o relacionamento de alma para alma, com o respeito que nós todos devemos uns aos outros.
Instado a manifestar-se também sobre os vícios, o confrade Francisco Cândido Xavier ensejou-nos nova e amorável mensagem:
- Não entendemos o vício como sendo m problema de criminalidade, mas como um problema de desequilíbrio nosso, diante das leis da vida.
E isto não apenas no terreno em que o vício é o mais claramente examinado.
Por exemplo: se falarmos demasiadamente, estamos viciados no verbalismo excessivo e infrutífero.
Se bebermos café excessivamente, estamos destruindo também as possibilidades do nosso corpo nos servir.
Quando falamos a palavra vício habitualmente logo nos recomendamos do sexo.
Mas do sexo herdamos nossa mãe, nosso pai, lar, irmãos, a bênção da família.
Tudo isso recebemos através do sexo. No entanto, quando falamos em vício, lembramo-nos logo do sexo e do tóxico...
Mas o tóxico é outro problema para nossos irmãos que se enfraqueceram diante da vida, que procuram uma fuga.
Não são criminosos. São criaturas carentes de mais proteção, de mais amor.
Porque, se os nossos companheiros enveredam pelo caminho do tóxico, eles procuram esquecer algo.
E esse algo; são eles mesmos.
Então, precisávamos, talvez, reformular nossas concepções sobre o vício.
Há pouco tempo perguntamos ao Espírito de Emmanuel como é que ele definia um criminoso.
Ele nos disse:
- “O criminoso é sempre um doente, mas se ele for culpado, só deve receber esse nome depois de examinado por três médicos e três juízes”.
Depois, a uma referência aos desequilíbrios políticos e sociais da Terra, o confrade Francisco Cândido Xavier fez este oportuno lembrete.
- Pensamos com aquela assertiva do nosso André Luiz, que é um Mentor que todos nós respeitamos:
“Se cada um de nós consertar por dentro tudo aquilo que está desajustado, tudo por fora estará certo”.
(Transcrito do SEI, no. 589 – “O Espírita Mineiro”, Belo Horizonte, Minas – julho/agosto/setembro – 1979).
Chico Xavier no Colégio Militar
Carlos A Baccelli
Em sua peregrinação de luz, espalhando as verdades da Doutrina Espírita, Chico já esteve, praticamente, em todos os Estados do Brasil. Como Allan Kardec, em suas célebres “Viagens espíritas”, Chico Xavier, quando a saúde lhe era favorável, viajava levando, com a sua presença, a mensagem viva do Evangelho.
Realmente, depois do Codificador, ninguém tem feito mais e melhor pela Causa Espírita do que ele!
No dia 28 de julho de 1972, Chico foi convidado pelos alunos do Colégio Militar do Estado da Guanabara para uma entrevista de que participaram altas patentes do Exército, assim evidenciando o prestígio do médium e do Espiritismo junto a todas as camadas sociais.
A seguir, reproduzimos apenas uma síntese da aludida entrevista, já que não nos foi possível consegui-la integralmente.
A FALA DE CHICO.
“Durante cerda de duas horas, Francisco Cândido Xavier respondeu, no auditório do CMRJ, às perguntas feitas pelos alunos, tendo ainda tomado assento a seu lado, no palco, os Coronéis Walter Scheafer e Ary Kremer, ambos professores do estabelecimento e membros da Cruzada dos Militares Espíritas do Brasil, inegavelmente magníficas figuras humanas, cujo trabalho para levar a mensagem da Doutrina Espírita aos quartéis, dentro do ecumenismo desejado pelo próprio Governo da Revolução, é digno dos maiores louvores”.
Chico Xavier, entre outros pontos, focalizou os seguintes, respondendo aos quesitos apresentados:
JUVENTUDE
As novas gerações se corporificam como sendo legiões de companheiros vindos para incentivar o progresso da Humanidade.
A juventude de hoje é a esperança para o futuro.
CRISTO
A personalidade divina de Jesus deve continuar no mais alto respeito de nossa parte.
A civilização, forrada no Evangelho, deve respeitar as diretrizes capazes de operar nossa libertação espiritual geral.
Devemos conservar, em nossos templos cristãos, a máxima veneração para com Aquele que nos deu a Paz, a Vida, o Amor e a Felicidade.
REBELDIA
Somos também povo e demos conversar de coração para coração.
No Brasil, estamos sob a legenda da Ordem que não podemos esquecer ou menosprezar.
O mundo de hoje traz em seu bojo problemas sociais absorventes.
A liberdade é sublime, mas não pode descambar para a desordem ou a devassidão.
Somos quase cem milhões de almas e, sem autoridade bastante, não saberíamos como nos entender com os outros e como sobrevivermos na condição de povo de grande futuro.
EDUCAÇÃO
Com todo o respeito aos psicólogos, somos os responsáveis pelos maus resultados com certos filhos, pois estes não podem ser deixados inteiramente à vontade.
Quando, depois dos doze e quatorze anos, os jovens demonstram tendências negativas, após educação de liberdade, os mesmos orientadores se contradizem e percebem que não poderíamos abandonar a criança aos próprios impulsos.
SEXO
É preciso ouvir os filhos com respeito.
O pai tem que atribuir a si próprio a tarefa a tarefa de dar aos filhos noções de dignidade do sexo, sem as idéias de devassidão ou de tabus.
O sexo é faculdade divina que não pode ser menosprezada ou corrompida.
Temos que entender os problemas dos filhos, antes de qualquer professor estranho à família.
É preciso construir o alicerce da compreensão humana do seco, pois da harmonia e da compreensão da vida sexual depende quase sempre a nossa harmonia com o mundo exterior.
ABORTO
Se terapêutica, é mais do que justo e indispensável. Mas, não dispomos, na Terra, de instrumentos necessários para entender as necessidades e problemas do nascituro, pois ele traz o resultado de ações em vidas anteriores.
Mas, para salvar a vida materna, um médico não deve hesitar.
Sempre, porém, deve pensar no prolongamento da vida.
(Jornal “A Flama Espírita” – Uberaba, Minas, 18 de novembro de 1989).
Chico Xavier – Uma lição de Amor
Lição de Humanidade
Enquanto a moderna civilização alcança o apogeu no campo da Ciência e da Tecnologia, o homem vive tempos sombrios.
Na procura obstinada de um universo fecundo e valores emocionais, éticos e morais tenta, avidamente, encontrar sua âncora-símbolo da esperança.
Nesse momento crucial, o perfil dos verdadeiros iluminados e profetas se destaca e ganha força – não pretendem recrutar adeptos nos grupos, cada vez maiores, de desesperados e desiludidos – seria fácil conquistar suas mentes. Nem pretendem utilizar, em benefício próprio, a candura dos que neles crêem, que redundaria num acréscimo incomensurável de poder.
O exemplo de suas vidas irreprocháveis é um raio fulgurante, cuja centelha penetra o âmago dos corações e desperta consciências, mantendo ardente a chama das virtudes teologais – fé, esperança e caridade – inerentes a todos os grandes espíritos ecumênicos.
Transcendendo sua obra densa e fértil, Francisco Cândido Xavier e, sem sombra de dúvida, uma destas insuperáveis lições de humanidade.
Desde o início, sua trajetória no Planeta Terra foi marcada por acontecimentos, na maioria; adversos e, ainda assim, aceitos com humilde devoção – Chico Xavier foi “escolhido” como o mensageiro do amor.
Cumpre sua missão com rigorosa e total dedicação.
Sobre sua imensa alma simples fluem, das mãos do Criador, a mais pura fragrância, a luz mais brilhante, a melodia de cânticos celestiais que, em magistral orquestração, estruturam e definem sua força, tão possante quanto harmônica, aparentemente difícil de caber em seu frágil corpo físico, através do qual, se consuma a Vontade Suprema do Construtor do Universo.
Chico Xavier une, no tempo e no espaço, a espécie humana e proporciona essa sutil comunicação com nossos irmãos e irmãs, com nossos ancestrais.
Devemos compreender como ele é, não como gostaríamos que fosse – para ele, o óbvio é, muitas vezes, falso enquanto que o inesperado é, muitas vezes, verdadeiro.
Nenhum sistema religioso, filosófico ou político, possui todas as respostas que justifiquem a existência, aqui ou além.
Chico Xavier preenche, em grande parte, esse vazio de autoconhecimento e toca nosso sentimento de admiração e respeito.
São muitas as etapas do desenvolvimento gradual da consciência.
Em eras remotas, discutia-se o fato de que a mulher, tal como o homem, também possuísse uma alma, ou se era uma simples borboleta que esvoaçava, apenas por um dia...
Perguntando sobre o assunto, Chico respondeu:
- “Homem nenhum na Terra, até agora, impediu que a mulher fosse detentora do privilégio e da glória de ser mãe e que, através dela, se gerasse a vida”.
Conhecemos santos, heróis, homens de grande inteligência, cujos nomes se projetaram na História.
Mas nenhum deles existiria se não fosse a mulher – é tão importante essa sublime tarefa feminina que, quando a Divina Providência, em seus Desígnios insondáveis e profundos, enviou Seu Filho à Terra, para resgatar a humanidade, não escolheu Tibério, Augusto ou outros Césares, nem os grandes filósofos gregos, ou os grandes conquistadores.
Escolheu uma jovem virtuosa, chamada Maria de Nazaré, em cuja personalidade todos nós reverenciamos aquela que foi Mãe de Jesus, que se transformou no símbolo da Mãe da Humanidade, para todos que se considerem cristãos, que abrangem milhões de criaturas – como poderia isso acontecer se todos os seres humanos, sem exceção, independente de sexo, raça, ou religião, são iguais perante Deus, que os fez à Sua Imagem e Semelhança?
Naturalmente, homens e mulheres abrigam em seus corpos aquele sopro Divino que denominamos “alma”.
- “Em algum lugar, entre a imensidão e a eternidade está o nosso lar – a Terra é um lugar, mas de maneira nenhuma o único lugar, intelectualmente, permanecemos numa ilhota dentro de um oceano ilimitado de inexplicabilidade”.
(T. S. Huxley, 1887)
“Por ventura compreendemos a expansão da Terra?
Onde é o caminho da Morada de Luz.
E onde é o local da escuridão “”.
(O Livro de Jó)
OBRA FECUNDA
As barreiras da mente são grossas muralhas, construídas pela razão e pela lógica objetiva, que funcionam como forças antagônicas, que se opõem à germinação e ao desenvolvimento das percepções extra-sensoriais. Mas, através de Chico Xavier, exemplo clamoroso da fenomenologia paranormal, emerge um mar desconhecido feito de energias e vibrações, espesso, subjetivo e poderoso, que pressiona e chega à tona, rompendo as barreiras da mente.
Mesmo para pessoas de crenças diferentes da sua, Chico Xavier não é um mortal comum – irradia luz e paz sem falar em seus incontestáveis dons de clarividência, telepatia e psicografia.
Talvez seja difícil separar o homem Chico, do médium vivo mais famoso do Brasil, que pode apresentar à posteridade uma obra rara – até outubro de 1982 produziu duzentos e vinte e um livros psicografados, já editados, num total de onze milhões de exemplares vendidos.
Seus livros compreendem gêneros literários os mais diversos e foram traduzidos para várias línguas entre as quais, Espanhol, Esperanto, Francês, Inglês, Grego e Checo.
Existem algumas obras publicadas em Braile.
Entretanto, a vultosa renda proveniente de direitos autorais, mais donativos e heranças que recebe, são integralmente dados a numerosas instituições de caridade, hospitais beneficentes ou centros de assistência social, no Brasil e no Exterior.
Chico Xavier vive, exclusivamente, de sua magra aposentadoria, referente a seu cargo de funcionário público do Ministério da Agricultura.
A cidade mineira de Uberaba, onde vive atualmente, tornou-se o maior centro de peregrinação espírita do Brasil.
Nas famosas noites de sexta-feira há seção de atendimento ao público, demonstrando um interesse permanente por seus semelhantes.
Chico recebe como se fosse imune ao cansaço, mantendo até o fim, a mesma brandura e o mesmo sorriso, milhares de pessoas que desejam vê-lo de perto ou consulta-lo.
Muitos vencem longas distâncias, outros chegam em caravanas e todos permanecem, por horas intermináveis, em filas quilométricas, esperando um número de chamada para o atendimento.
Ele atende todos, mostrando possuir quase ao infinito, uma das mais difíceis virtudes: a paciência.
Sua humildade transcende o humano – quando, ao completar setenta anos alguns amigos mais íntimos e nomes famosos das artes e da política quiseram sugerir seu nome ao Nobel da Paz, como presente de aniversário, com o endosso de dez milhões de brasileiros, Chico sorriu, desconversou e continuou entregue à sua missão de caridade e amor ao próximo.
“Oceano de Pura Consciência”
O reconhecimento do valor de Chico Xavier não reside apenas nos oitenta e três títulos de cidadania recebidos no Brasil – atuou junto às vítimas do fogo selvagem, contribuindo, com seu auxílio, à construção e na manutenção do Hospital do Pênfigo; merece especial atenção seu trabalho na Casa Transitória, da Federação Espírita do Estado de São Paulo, destinada a velhos desamparados, à recuperação de adultos e ao auxílio de crianças carentes.
São inúmeros os hospitais psiquiátricos e casas de saúde orientadas pelas obras de André Luiz, psicografadas por Chico.
Trabalhou intensamente na recuperação dos presidiários, organizando grupos de voluntários para orientar os detentos no regresso à sociedade; quase sempre relutantes.
Atende aos pobres distribuindo donativos que abrangem desde roupas e utilidades domésticas, até os gêneros de primeira necessidade.
Percorre as cruas de terra vermelha e barracos inacabados, distribuindo aos favelados bens materiais e conforto espiritual, entre centenas de outros gestos despojados e comoventes que possuem força suficiente para reanimar os mais aflitos.
Dimensionar a obra de Chico, através de sua longa jornada, seria pretender explicar os mundos insondáveis e profundos do médium.
A natureza, sinônimo de manifestação de Deus, não revela seus segredos de uma só vez.
A fama em nada mudou sua personalidade simples, nem alterou a magnitude de seus dons – Chico é a própria integração do homem na universalidade Cósmica e vive, simultaneamente, em duas dimensões – poderíamos dizer que Chico Xavier é um “oceano de pura consciência” e situa-se além do espaço e do tempo.
“Enquanto este Planeta gira, de acordo com alei imutável da gravidade, de um começo tão simples, formas infindáveis, as mais belas e perfeitas, evoluíram e ainda estão evoluindo”.
(Charles Darwin)
“Quanto mais vivermos; com mais experiências partimos”.
(Chico Xavier).
(Tribuna de Brasília – Brasília – DF, de 08 a 14 de janeiro de 1984).
Entrevista ao Jornal “O Espírita Mineiro”
Chico Xavier/Emmanuel
-Qual a opinião dos Benfeitores Espirituais sobre o chamado “bebê de proveta”, recentemente obtido na Inglaterra?
-Os Amigos da Espiritualidade consideram a realização com o melhor otimismo, desde que o óvulo fertilizado em proveta por autoridades competentes, para implantação no claustro feminino, revele sendo de maturidade espiritual na mulher que assume a maternidade consciente, em plenitude de responsabilidade ante a vida que possa acalentar no regaço próprio.
-Isso significará progresso na estrada humana?
-Sim, porque, enquanto o homem estiver socorrendo a mulher que aspira a ser mãe, aceitando voluntariamente os encargos decorrentes dessa tarefa, a Ciência terrestre estará colaborando com a natureza amparando-lhe os processos de autopreservação.
-O homem age corretamente entrando, qual vem fazendo, nesses problemas da genética?
-O homem cumpre um dever cooperando com a natureza nesse sentido, abstendo-se de experiências extravagantes que não teriam razão de ser.
Aliás, a Divina Sabedoria oferece ao homem determinados recursos de evolução que o próprio homem se vê impulsionado a aperfeiçoar.
Descoberto o fogo, a inteligência terrestre esmerou-se em aprender como aproveita-lo.
Conquistada a força elétrica, a Ciência, até agora, ainda lhe estuda os efeitos e aplicações.
-O Plano Espiritual possui razões específicas para apoiar a gestação da criança de proveta?
-Uma dessas razões, mais que justas, será observar na mulher a disposição à maternidade, atendendo mais à ação que ao instinto.
Outro motivo para desejarmos todos amplos sucessos nessas experiências, será a diminuição nos processos de abortos nos quais milhares de criaturas se empenham a débitos complicados, prejudicando amigos desencarnados em vias de novo nascimento no Plano Físico e prejudicando a si mesmas.
-A intervenção do homem na embriologia não trará ensanchas a experiências infelizes?
-Quando destacamos a excelência da colaboração humana na gênese do corpo, com a fertilização do óvulo feminino em proveta, a fim de que o ovo seja entregue a nidação no claustro materno, não nos reportamos aos experimentadores cruéis, capazes de provocar fenômenos teratológicos, de vez que semelhantes inteligências, conforme esperamos, serão controladas pelas autoridades chamadas a legislar no relacionamento entre as criaturas.
-Os Amigos Espirituais consideram a possibilidade da Ciência criar um aparelhamento especial que substitua o claustro materno em suas funções?
-A Ciência indiscutivelmente poderá chegar até lá, no entanto, por muito tempo ainda, será prudente permanecer o homem no aperfeiçoamento da fertilização do óvulo para a condução do ovo ao ninho maternal.
Nesse sentido é muito provável vejamos na Terra as amas de gestação, como já se conhecem as amas de leite ou as amas guardiãs da criança.
Observando-se o assunto, nas implicações remotas que ele envolve, as amas de gestação deverão ser, decerto, submetidas a testes de afinidade, saúde, empatia e resistência física, antes de se lhe contratarem os serviços atinentes à formação dos nascituros. Isso é mais que natural, sem que haja qualquer diminuição do amor entre pais e filhos.
(Jornal “O Espírita Mineiro”, Belo Horizonte, Minas, setembro / outubro / novembro / dezembro de 1978).
Entrevista ao Jornal “O Triângulo Espírita”
Chico Xavier/Emmanuel
Chico Xavier numa nova fase de sua existência: a vida pública, isto é, p maior contato com as massas, através do Rádio, da Televisão, da Imprensa, lançamento de livros, etc.
De algum tempo a esta parte, não têm sido outra a tônica da vida do nosso companheiro e médium Chico Xavier.
Dessa forma, se hoje ele recebe títulos de cidadão de várias cidades brasileiras, se comparece a Tardes de Autógrafos fazendo lançamento de novos livros mediúnicos, se concede entrevistas à imprensa, se participa de programas de Televisão, tudo isso, ele faz com vistas à maior difusão do Espiritismo, da mensagem dos Espíritos.
Sabemos que o Espiritismo não visa a massificação, todavia, o contato com o povo e, sobretudo, numa época em que a confusão é geral, as dores são imensas, constitui uma necessidade imperiosa.
Não se compreende um médium psicógrafo, principalmente, sem o contato com o povo atendendo-o em suas necessidades espirituais.
É claro que isto deve acontecer naturalmente.
Tudo deve ser natural, espontâneo, a fim de que os Desígnios da Providência se manifestem conforme as necessidades do momento.
Nesse sentido, o nosso Chico, desde o seu primeiro programa de Televisão, sempre foi procurado para conceder entrevistas naturalmente, nada acontecendo por solicitação sua, ou da Entidade aonde trabalha.
E sempre com um objetivo: esclarecer o povo, amenizando suas dores pelo consolo, através da difusão do Espiritismo libertador.
É por isso que “O TRIÂNGULO ESPÍRITA” destaca, nesta oportunidade, trechos de algumas ENTREVISTAS concedidas à nossa imprensa espírita e não espírita: “Diário do Povo”, de Campinas, do dia 29 de julho; “Folha Espírita”, de agosto, e “DN Cultura”, de agosto, todos deste ano.
A NECESSIDADE DA ESPECIALIZAÇÃO MEDIÚNICA
Na presente entrevista, nosso irmão-médium Chico Xavier, mais uma vez, volta a falar sobre a necessidade da especialização mediúnica como base de melhor rendimento doutrinário. E o faz, sem dúvida alguma, com base nos ensinos de seu Guia Espiritual Emmanuel, que, em “O CONSOLADOR” – FEB, assim aborda o assunto:
Pergunta 388 – Nos trabalhos mediúnicos temos de considerar, igualmente, os imperativos da especialização?
-O homem enciclopédico, em faculdade, ainda não aprendeu, senão em gérmen nas organizações geniais que raramente surgem na Terra, e temos de considerar que a mediunidade somente agora começa a aparecer no conjunto de atributos do homem transcendente.
A especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária e somente de sua compreensão poderá nascer a harmonia na grande obra de divulgação da verdade a realizar.
Esta é a resposta de Emmanuel.
Todavia, alguém poderia argumentar que o próprio Chico possui várias faculdades mediúnicas.
É certo que nosso irmão já demonstrou possuir outras faculdades, todavia, é justo considerar, igualmente, que a psicografia é a sua especialização e que as demais são a serviço da mensagem, coadjuvando-a, auxiliando-a, secundando-a.
Agora, vamos as respostas de nosso irmão.
ESPECIALIZAÇÃO MEDIÚNICA
-O Senhor teria a oportunidade de receber páginas musicais?
-Este assunto já foi abordado certa vez e o nosso Emmanuel nos disse que esta possibilidade existe.
Por uma questão de especialização, enquanto eu possa, devo me deter na psicografia, deixando a outros médiuns esta parte para que a mediunidade, no meu caso, dependendo de muito tempo, para render maior trabalho espiritual.
-Qual o futuro do Espiritismo Cristão no Brasil, ao seu ver?
-Os espíritos Amigos sempre nos dizem que o Brasil está destinado a grandes realizações na vivência do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Deste modo, é de esperar que tenhamos no Brasil a civilização cristã do futuro, sem qualquer menosprezo a outras nações igualmente cristãs.
Mas, sendo o Evangelho de Cristo, especialmente uma norma de vida, no Brasil esta norma vem sendo observada nos procedimentos de vida de seu povo, que procura cultuar a fraternidade cristã, com assistência recíproca, com a paz e com a segurança de rodos, cada vez mais.
-O senhor poderia tecer considerações sobre o chamado “baixo Espiritismo”, comparando-o com aquele que é um dos seguidores?
-Nós estamos ligados à interpretação Kardequiana do Evangelho e da Vida.
Dentro desta escola, nós nos sentimos na condição de alunos, matriculados numa faculdade de libertação espiritual, com a bênção de Jesus Cristo.
Não podemos julgar os nossos irmãos, de outros setores de atividades mediúnicas ou religiosas, porque compreendemos que a mediunidade é atributo de todos.
Muitas vezes, um companheiro doente, simplesmente doente, é um médium que se encontra psiquicamente enfermo, sem possibilidade de entendimento da sua própria situação.
Nós entendemos, também, que, na Vida Espiritual imediata, temos milhares de criaturas que, tanto quanto nós, não conseguem se alterar de um dia para outro.
Por isso mesmo, continuam com a vida espiritual que possuem aqui no Mundo Físico, diante de horizontes infinitos que se abrem para nós todos, no sentido de trabalhar pelo nosso próprio aperfeiçoamento.
Não compreendo, lugar algum, em religião alguma, que haja planos mais baixos ou mais altos.
Entendo que todos nós somos irmãos em humanidade, porque todos somos filhos de Deus, devendo ser respeitados nas idéias que tenhamos a respeito de Deus.
Se um irmão nosso adora determinada pedra como sendo um objeto divino, devo, pelo menos de minha parte, em meu setor pessoal de comportamento, respeitar este companheiro, porque ele está realizando, dentro dele mesmo a respeito de Deus, o que possui de melhor.
Mas isso não impede que tenhamos na Doutrina codificada por Allan Kardec, um campo imenso de iluminação espiritual que está aberto a nós todos e que nos convida à libertação espiritual através do cumprimento dos nossos deveres.
Ele ensina que a nossa liberdade tem o tamanho do nosso dever cumprido de uns para com os outros, sempre sob a Liz dos ensinamentos de Jesus Cristo e dos Evangelhos que Ele nos legou.
PSICANÁLISE E EVANGELHO
-Chico, a Psicanálise cura?
-Benfeitores espirituais comumente nos asseveram que a Psicanálise é uma Ciência das mais respeitáveis na orientação do comportamento humano, esperando-se, no entanto, que venha a se enriquecer de valores espirituais sempre mais altos para o estabelecimento de motivações nobilitantes para a vida, em favor de quantos lhe recorrem à intervenção e aos ensinos.
Afirmam, ainda, que aguardam isso, porque não será justo despir a nossa alma de todos os recursos do mundo externo, dos quais nos valemos para angariar os patrimônios da Vida Imortal do espírito.
Cremos que o espírito, analisado para deixar todas as crenças ou ideais que haja esposado, mesmo em caráter transitório na existência terrestre, precisa substituir esses mesmos ingredientes de que se vê desposado, por outros que lhe garantam a alegria e o interesse de viver.
Portanto, acreditamos que um tratamento de saúde, qualquer que seja, deve visar a nossa própria melhoria, no capítulo do bom, ânimo e da autoconfiança, a fim de que nossa vida alcance o máximo no rendimento do bem de todos. (Neste ponto ele relê em voz alta o que anotara, faz-me uma pergunta e em seguida acrescenta: - “A vida também precisa de ilusão. Se a tiramos de alguém, então temos que encontrar um substituto”).
-O Freudismo nega que haja correlação de causa e efeito entre o sofrimento mental e causas morais. Ocorrerá algum dia a esperada fusão entre Freudismo e Cristianismo?
-Estamos convencidos, com os ensinamentos dos Instrutores espirituais, que o sofrimento mental, decorrendo habitualmente do complexo culposo, remanesce de causas morais mantidas por nós mesmos na intimidade do próprio ser.
O Universo é regido por forças morais inderrogáveis.
Não posso decepar o meu próprio braço num momento de insânia sem sofrer as conseqüências de minha própria irreflexão.
Causas morais e sofrimentos mentais, criando provações no campo físico se interligam naturalmente em todos os fenômenos da vida, sem que possamos eleger esse assunto à conta de irresponsabilidade ou indiferença, o que seria subverter a ordem que preside a Vida Universal.
Cremos sinceramente que o Cristianismo, especialmente interpretado nas explicações simples e claras da Doutrina Espírita, iluminará todo o território do Freudismo, abrindo novos caminhos para a harmonia e felicidade na vida comunitária.
A MULHER E O SEXO
Chico Xavier relê em voz alta e pausada o que estava no papel. Indaga da minha opinião sobre cada uma das respostas e lhe respondo:
-Boa parte do que aí este é novidade para mim.
Chico retoma a palavra:
-“Peço licença aos presentes (éramos cinco ou seis pessoas presentes à entrevista, os de sua equipe e o repórter), para tocar num assunto muito debatido e causa de muito sofrimento no mundo de hoje: Os problemas do sexo com seu cortejo de desencontros, infidelidade, distorções e anomalias”.
Reproduzo a seguir, de memória, o que o inigualável médium afirmou com segurança e clareza nesta ocasião.
Se as palavras de que se valeu não foram exatamente estas, o sentido do que disse é absolutamente fiel, isto é, sem distorções.
Depois de indagar do repórter se eu era médico, (duas vezes Chico Xavier me endereçou a mesma pergunta), e diante de minha negativa, ele prossegue:
-O sexo foi criado por Deus para ser, além do ato procriativo, motivo de prazer e de alegria para os seres humanos.
Nada há nele de vergonhoso ou menos nobre.
... Sabemos o que aconteceu: durante séculos as manifestações sexuais estiveram refreadas dentro de um círculo muito restrito, por alguns que tinham interesse na repressão de suas expressões e anseios. Isto foi possível até certo tempo; passado este se deu a grande explosão.
Súbito, as antigas barreiras foram derrubadas, muitos tabus e proibições afundaram na avalanche e, então, o diâmetro do círculo aumentou largamente. (Neste ponto, Chico Xavier toma um lápis e desenha dois círculos: um com dois centímetros de diâmetro e outro, por fora deste, com seis centímetros de diâmetro).
Que aconteceu depois?
Séculos de repressão psicológica muito rígida redundaram numa libertação que ultrapassou os limites mesmo deste círculo mais amplo (Chico Xavier risca linhas paralelas que transpõem os limites do círculo maior) e atingiu o terreno dos extremismos sempre perigosos e potencialmente causadores de grandes males no futuro.
CASAMENTO E DISTROÇÕES
Alguém pergunta:
-E o sexo no casamento?
Chico Xavier retoma o lápis e desenha um retângulo irregular, cobre-o com lápis preto e prossegue:
-Que acontece em muitos casamentos?
Derivando para a disputa de muitas profissões que estão em desacordo com sua principal função, que é a maternidade, a mulher já não entrevê no lar o ponto mais alto de sua missão.
Ela passou a disputar com o homem o lugar deste em quase todas as profissões.
Conseguiu impor-se em igualdade de condições porque a mulher em nada é inferior ao seu companheiro masculino.
Muitas vezes, tem logrado mesmo sobrepujar a este.
Mas qual foi o resultado disto?
Regressando à noite para casa, o homem que trabalha encontra não a esposa que o acolhe e reconforta das canseiras, obstáculos e asperezas do dia, mas, sim, UM COMPANHEIRO CANSADO (o grifo é nosso), em nada disposto a integrar-se no papel de esposa e rainha do lar.
Então, o esposo, dependendo de suas inclinações ou receptividades, pode passar horas e horas bebericando num bar, ou procurando fora de casa o afeto e acolhimento que não encontra junto à companheira que Deus lhe deu.
Outras vezes, por obediência a princípios morais rígidos, recusa-se a buscar lenitivo na bebida ou em outras mulheres, mesmo porque em relação extraconjugais pode resultar agressões ao marido enganado, depois gastos com advogados, etc.
Vamos dizer que lá pelas tantas ele se depara com outro esposo com idêntico problema dentro do lar e se tornam amigos.
Passam a encontra-se amiúde, fazem passeios, caminham distâncias, podendo consolidar-se entre os dois um afeto que resulte inclusive em homossexualismo.
Chico ergue a cabeça, encara os presente e conclui:
-A culpa da situação, no caso, cabe à mulher que trocou a segurança do lar pelo sucesso profissional.
Tangida pelo exemplo de tantas outras que fazem o mesmo, o lar transformou-se para ela em lugar de descanso da luta que mantém lá fora para realizar-se, trocando o principal pelo secundário.
A permissividade e os excessos do sexo prosseguirão por um período de ainda duzentos anos.
RADIOGRAFIA DAS DOENÇAS MENTAIS
-Chico, a que se atribui na atualidade o crescente aumento das doenças mentais?
-Segundo nossos Benfeitores Espirituais, que se manifestam por nosso intermédio, estamos sofrendo na Terra grande conflito em razão de nossa inadaptação à era tecnológica que, nós mesmos, os habitantes do Planeta, criamos sob a inspiração da Vida Mais Alta.
Avançando a Ciência a passos largos e estando nosso sentimento na retaguarda do progresso intelectual, somos hoje intimados a trabalho imenso de aprimoramento tecnológico, com amor e compreensão de nossas responsabilidades e no respeito que devemos uns aos outros.
O DOENTE MENTAL NO LAR
-Qual seria o melhor comportamento da família com um dos seus integrantes que surja em desequilíbrio mental?
-Naturalmente, quando temos conosco no recinto doméstico alguém portando desequilíbrio mental, somos devedores a esse alguém do máximo de carinho na obra de assistência familiar.
Tanto quanto possível é importante conservarmos os nossos companheiros, portadores de doença mental, no campo da família, evitando a ausência deles, de vez que na base do tratamento das doenças mentais está o amor.
O amor que estabelece prodígios na vida de cada um de nós.
REVISÃO DA ROTULAGEM DAS DOENÇAS MENTAIS
-Os Benfeitores espirituais consideram plenamente aceitável o tratamento dispensado pela Psiquiatria aos doentes que a ela recorrem?
-Amigos nossos da Vida Maior expressam-se comumente sobre o assunto e asseveram que a Psiquiatria, tanto quanto a Psicologia e a Análise, são caminhos da Ciência que estão sendo proporcionados a nós outros na humanidade para a libertação dos desequilíbrios mentais, tanto quanto possível.
Afirmam que o progresso da Psiquiatria seja a criação de tensiolíticos ou neurolépticos ou para o alívio ou a cura mesmo das enfermidades mentais, é muito grande e devem prestigiar ao máximo os domínios da Psiquiatria, neste sentido, embora reconheçam amigos nossos, dentre os quais destacamos o nosso benfeitor, Dr. Bezerra de Menezes, que é de opinião que a rotulagem das doenças mentais deveria sofrer uma revisão da parte dos senhores médicos e cientistas, neste capítulo da Patologia, porque a maioria dos doentes mentais está lúcida.
O nosso irmão que sofre desequilíbrios mentais comprovados tem, por vezes, um teor muito grande de lucidez e conhecimento do diagnóstico com respeito à moléstia de que o doente é portador, pode criar uma fixação mental no próprio enfermo, inibindo o êxito do processo terapêutico. Nesse sentido, o Dr. Bezerra de Menezes acredita que a Ciência, no futuro, com o amparo da administração dispensará aos nossos irmãos que se encontram em segregação carcerária, determinados medicamentos que possam frenar neles os impulsos de agressividade exagerada, melhorando, mas de muito, o problema de contenção em nossos hospitais-do-espírito, que são as prisões.
A ESQUIZOFRENIA E SUA ORIGEM ESPIRITUAL
-Por que razão a esquizofrenia surge na idade infantil ou mesmo depois da puberdade, quando a vida da criança começa a desabrochar em plenitude de esperança doméstica?
- A esquizofrenia, na essência decorre de transformação de caráter negativo no quimismo da vida cerebral.
Esse problema, no entanto, procede da Vida Espiritual.
Antes do processo reencarnatório; transferimos conosco para o Mundo Espiritual o problema da culpa que tenhamos instalado dentro de nós.
Muitas vezes sofremos condições de vida que podemos chamar de vida purgatorial no Outro Mundo, mas somos devolvidos à Terra mesmo, aos núcleos habitacionais em que as nossas culpas foram adquiridas e muitas vezes trazemos conosco o problema da esquizofrenia.
Quando o processo de esquizofrenia está muito violento, ele se manifesta na própria criança, mas, na maioria dos casos, a esquizofrenia aparece depois da puberdade ou logo após a maioridade física da criatura.
É um problema decorrente de nossos débitos no campo espiritual de nossas vidas.
DIRRITMIA CEREBRAL: MEDIUNIDADE E OBSESSÃO
-Existiria na opinião dos Amigos Espirituais, alguma correlação entre disritmia cerebral e mediunidade?
-Estamos na certeza de que o futuro dirá, do ponto de vista científico, que sim.
A camada disritmia cerebral, na maioria dos casos, funciona como sendo um implemento de fixação de onda do espírito comunicante.
Muitas vezes também a mesma disritmia cerebral está no processo obsessivo.
São questões que o futuro nos mostrará em sua amplitude, com as chaves necessárias para a solução do problema.
(O Triângulo Espírita – Uberaba, Minas, 10 de setembro de 1974).
Fumo, Perispírito e Mediunidade
Chico Xavier/Emmanuel
(Entrevista com Fernando Worm).
-A ação negativa do cigarro sobre o perispírito do fumante prossegue após a morte do corpo físico? Até quando?
- O problema da dependência continua até que a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do corpo espiritual ceda lugar à normalidade do perispírito, o que, na maioria das vezes, tem a duração do tempo correspondente ao tempo em que o hábito perdurou na existência física do fumante.
Quando a vontade do interessado não está suficientemente desenvolvida para arredar de si o costume inconveniente, o tratamento dele, no Mundo Espiritual, ainda exige cotas diárias de sucedâneos dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos dos cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até que ele consiga viver sem qualquer dependência do fumo.
-Se o fumante não abandonar o cigarro durante o transcurso da Vida Física terá de faze-lo inarredavelmente, na Esfera Espiritual?
E quanto tempo exigirá tais tratamentos antibágicos para fumantes desencarnados?
Na Vida Extrafísica também ocorrem reincidências ou recaídas dos dependizados do fumo?
-Justo esclarecer que não apenas quanto ao fumo, mas igualmente quanto a outros hábitos prejudiciais, somos compelidos na Espiritualidade a esquece-los, se nos propomos seguir para diante, no capítulo da própria sublimação.
O tratamento da Vida Maior para que nos desvencilhemos de costumes nocivos perdura pelo tempo em que nossa vontade não se mostre tão ativa e decidida quanto necessária para a libertação precisa, de vez que nos Planos Extrafísicos, nas vizinhanças da Terra propriamente dita, as reincidências ocorrem com irmãos numerosos que ainda se acomodam com a indecisão e a insegurança.
-Pesquisas médicas revelam que a dependência física dos fumantes costuma ser mais compulsiva que a dependência orgânica dos viciados em narcóticos. Isto é certo se o enfoque for do Plano Espiritual para o Plano Físico?
-Acreditamos que ambos os tipos de dependência se equiparam na feição compulsiva com que se apresentam, cabendo-nos uma observação: é que o fumo prejudica, de modo especial, apenas ao seu consumidor, enquanto os narcóticos de variada natureza são suscetíveis de induzir seus usuários a perigosas alucinações que, por vezes, lhes situam a mente em graves delitos, comprometendo a vida comunitária.
-Você considera o hábito de fumar um suicídio em câmara lenta? Por que?
-Creio que o hábito de fumar não pode ser definido por suicídio conscientemente considerado.
Será um prejuízo que o fumante causa a si mesmo, sem a intenção de se destruir, mas prejuízo que se deve estudar com esclarecimento, sem condenação, para que a pessoa se conscientize quanto às conseqüências do fumo, no campo da vida, de maneira a fazer as suas próprias opções.
-Você teria alcançado condições de desempenho de seu mandato mediúnico, ao longo de mais de meio século de trabalho incessante, se fosse um dependente de nicotina?
-Creio que não, com referência ao tempo de trabalho, de vez que a ingestão de nicotina agravaria as doenças de que sou portador, mas não quanto a supostas qualidades espirituais para o mandato referido, de vez que considero o “hábito de cultivar pensamentos infelizes” uma condição pior que o uso ou abuso da nicotina e, sinceramente, do “hábito de cultivar pensamentos infelizes” ainda não me livrei.
(Trecho de entrevista extraído da Revista “Planeta” – Edição Especial do ano corrente de 1991).
Na Tarefa Mediúnica
(Entrevistando o médium Francisco Cândido Xavier – Geraldo Lemos Neto, União espírita Mineira).
-No seu primeiro encontro com Emmanuel, ele enfatizou muito a disciplina. Teria falado algo mais depois?
-Depois de haver salientado a disciplina como elemento indispensável a uma boa tarefa mediúnica, ele me disse:
-Temos algo a realizar.
Repliquei de minha parte qual seria esse algo e o Benfeitor esclareceu:
-Trinta livros para começar.
Considerei então de minha parte:
-Como avaliar está informação se somos uma família sem maiores recursos além do nosso próprio trabalho diário, e a publicação de um livro demanda muito dinheiro...
Já que meu pai lidava com bilhetes de loteria, eu acrescentei:
-Será que meu pai vai ganhar a sorte grande?
Emmanuel respondeu:
-Nada, nada disso, a maior sorte grande é o trabalho com a fé viva na Providência Divina. Os livros chegarão através de caminhos inesperados.
Algum tempo depois, enviando as poesias do “Parnaso de Além-Túmulo” para um dos diretores da Federação Espírita Brasileira, tive a grande surpresa de ver o livro aceito e publicado em 1932.
A este livro se seguiram outros e, em 1947, atingíamos os trinta livros.
Ficamos muito contentes e perguntei ao Amigo Espiritual se a tarefa estava terminada.
Ele então considerou, sorrindo:
-Agora começaremos uma nova série de trinta volumes.
Em 1958 indaguei-lhe novamente se o trabalho finalizara.
Os sessenta livros estavam publicados e eu me encontrava quase de mudança para a cidade de Uberaba, aonde cheguei a 5 de janeiro de 1959.
O grande Benfeitor explicou-me com paciência:
-Você perguntou em Pedro Leopoldo se a nossa tarefa estava completa e quero informar-lhe que os Mentores da Vida Maior, perante os quais devo também estar disciplinado, advertiram-me que nos cabe chegar ao limite de cem livros.
Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram.
Quando alcançamos o número de vem volumes publicados, voltei a consultá-lo sobre o termo de nossos compromissos.
Ele esclareceu, com bondade:
-Você não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa.
Agora estou na obrigação de dizer-lhe que os Mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram certa instrução que determina seja a sua atual reencarnação desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espíritas cristãos, permanecendo a sua existência, no ponto de vista físico, à disposição das Entidades Espirituais que possam colaborar na execução do programa das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre apto para as nossas atividades.
Muito desapontado, perguntei:
-Então devo trabalhar na recepção de mensagens de livros do Mundo Espiritual até o fim da minha vida atual?
-Emmanuel, acentuou:
-Sim, não temos outra alternativa.
Naturalmente, impressionado com o que ele dizia, voltei a interrogar:
-E se eu não quiser, já que a Doutrina Espírita nos ensina que somos portadores do livre-arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos?
Emmanuel fez então um sorriso de benevolência paternal e me cientificou:
-A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade da Terra.
Se você recusar o serviço a que me reporto, segundo creio, os Orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles, os Orientadores, terão autoridade bastante para retirar você do seu atual corpo físico.
Quando eu ouvi esta declaração dele silenciei para pensar na gravidade do assunto, e continuo trabalhando sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que passei a chamar por “Desígnios de Cima”.
(Espírito Mineiro – Belo Horizonte, Minas, abril/junho de 1988).
Perguntas e respostas de Chico Xavier
Morre-se antes da hora?
Indagado sobre as mortes repentinas e inesperadas, Chico explica:
-Os Espíritos se esmeram para que tenhamos na Terra o máximo de vida no corpo.
Nos casos de doenças prolongadas, há uma preparação do nosso espírito para uma Vida Maior.
As mortes súbitas são provações e, às vezes, ocorrências inevitáveis no mapa do trabalho trazido pelo espírito ao reencarnar.
Aspectos do Espiritismo
No entender de Chico Xavier, o aspecto religioso da Doutrina Espírita é mais importante que os aspectos científicos e filosóficos. Segundo o médium, é o mais expressivo por atribuir ao homem mais amplas responsabilidades de ordem moral, no trato com a vida.
-Emmanuel costuma afirmar-nos que, sem religião, seríamos na Terra viajores sem bússola, incapazes de orientarmo-nos no rumo da elevação real.
Insatisfação Hoje
A explicação de Chico a respeito das insatisfações do mundo de hoje está diretamente relacionada à ausência de Cristo nos corações humanos.
-“Quando nos adaptamos em definitivo ao espírito da Doutrina para vivência cristã, em nossas relações mútuas, toda insatisfação desaparecerá porque, estabelecida a paz em nossa consciência com nosso dever cumprido, as próprias doenças recuarão, pois muitas delas são conseqüências de nossos desajustes espirituais, em decorrência de nosso afastamento de Cristo, como Luz para os nossos corações”.
Considerando ainda o caso das insatisfações, o médium atribui o fator obsessão ao afastamento homem/Cristo,
-“Nós perdemos o contato com Cristo que é a Luz Divina para nossa consciência e, de imediato, criamos tomadas para o domínio das sombras”.
Aí a obsessão pode surgir.
Surgir como traumas psicológicos, doenças mentais, etc.
-Haveria alguma pista capaz de provar que existe realmente a reencarnação?
Chico Xavier responde a esta pergunta com outra:
-Por que é que uns nascem sofrendo sem condições muito mais difíceis que os outros?
-Não se pode admitir a injustiça Divina.
-Deus é a Justiça Suprema.
-Portanto, nós devemos a nós mesmos a consequência de nossos desajustes.
Se eu pratiquei um crime, se lesei alguém, é natural que não tendo pagado a minha dívida moral durante o espaço curto de uma existência, é justo que eu faça esse resgate em outras existências porque, de outro modo, compreenderíamos Deus como um ditador, distribuindo medalhas para uns e chagas para outros, o que é inadmissível.
Desenvolvimento da Mediunidade
- “A mediunidade é peculiar a toda criatura humana”.
Todas as pessoas são portadoras de valores mediúnicos que podem ser cultivados ao máximo, desde que a criatura se dedique a esse gênero de trabalho espiritual.
De um modo geral, a pessoa só se diz médium quando se sente vinculada a um processo obsessivo, quando sente arrepios, muita perturbação, muito assédio.
Esse é um médium doente.
A pessoa só pode perfeitamente estudar sua mediunidade e ver qual o caminho que suas faculdades mediúnicas podem tomar
Uma criatura que desenvolva sua própria mediunidade; desenvolve-a educando-se, procurando aprimorar sua capacidade cultural, os seus valores, o seu dom de servir.
O médium é um ser humano com as fraquezas e imperfeições potenciais de toda criatura terrestre.
A Desencarnação
Chico entende que as criaturas incrédulas na vida após a morte, ao desencarnarem, têm dificuldade de aceitar a realidade da Vida Maior.